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3.2. Disposições Relevantes na Legislação Laboral Ordinária

3.2.7. Parentalidade

3.2.7.1. Ausências justificadas ao trabalho

3.2.7.1.1. Licenças

• Licença parental inicial em qualquer das modalidades, cfr. art. 39.º.

o A licença parental inicial, como previsto no art. 40.º, n.º 1, proporciona tanto à mãe como ao pai trabalhadores, por nascimento de filho, o direito ao gozo de um período de 120 ou 150 dias consecutivos, que podem partilhar após o parto, salvaguardados os dias a serem gozados exclusivamente por cada um. O gozo desta licença pode ser usufruído em simultâneo pelos progenitores entre os 120 e os 150 dias (n.º 2). O n.º 3 refere que à licença em causa acrescem 30 dias no caso de cada um dos progenitores gozar, em exclusivo, um período de 30 dias consecutivos, ou dois períodos de 15 dias consecutivos, após o período de gozo obrigatório pela mãe. Procura-se por esta via o incentivo à partilha dos cuidados entre progenitores (Moreira, 2011).

Em caso de nascimentos múltiplos, são acrescidos 30 dias ao previsto nos números anteriores, por cada gémeo além do primeiro (n.º 4). Se for da vontade dos pais partilharem a licença, devem os mesmos informar os respetivos empregadores, até sete dias após o parto, sobre o início e termo dos períodos a gozar por cada um (n.º 5).

(26) Todos os direitos enunciados na tutela da parentalidade do art. 35.º do CT têm incidência no tempo de trabalho.

(27) De acordo com o art. 36.º do CT, entende-se por trabalhadora grávida aquela que se encontra em estado de gestação, puérpera

aquela que durante certo período deve ser controlada pelo seu médico e lactante a que se encontra em período de amamentação do seu filho.

53 Esta licença deve ser conjugada com o art. 12.º do Decreto-Lei n.º 91/2009, de 9 de abril.

o A licença parental inicial exclusiva da mãe, prevista no art. 41.º, n.º 1, permite à mãe gozar até 30 dias da licença parental inicial antes do parto, não obstante o gozo obrigatório de seis semanas de licença após o parto (n.º 2), de modo a permitir a sua plena recuperação e a promoção dos laços que a unem ao seu filho.

Como explica Dray (2016, p. 201), “sem prejuízo de a licença parental inicial pertencer, em conjunto, à mãe e ao pai, podendo até, (…) ser usufruída em simultâneo pelos progenitores, existem períodos exclusivos de licença destinados à mãe (o presente art. 41.º) e outros destinados ao pai (art. 43.º).”

Esta norma deve ser conjugada com o art. 13.º do Decreto-Lei n.º 91/2009, de 9 de abril.

o A licença parental inicial a gozar por um progenitor em caso de impossibilidade do outro, prevista no art. 42.º, n.º 1, possibilita que o pai ou a mãe gozem a licença, com a duração referida nos n.ºs 1, 2 ou 3 do art. 40.º, sendo que, em caso de

incapacidade ou morte da mãe, a licença parental exclusiva do pai tem a duração mínima de 30 dias (n.º 3, do mesmo art.). O que se pretende é que esta licença seja efetiva e integralmente gozada por um dos progenitores em caso de incapacidade ou morte do outro (Dray, 2016).

O preceito em causa deve ser conjugado com o art. 14.º do Decreto-Lei n.º 91/2009, de 9 de abril.

o A licença parental exclusiva do pai, prevista no art. 43.º, n.º 1, obriga o pai ao gozo de “15 dias úteis, seguidos ou interpolados, nos 30 dias seguintes ao nascimento do filho, cinco dos quais gozados de modo consecutivo imediatamente a seguir a este”. Após o gozo dos dias previsto no número anterior, desde que gozados em simultâneo com o gozo da licença parental inicial por parte da mãe, o pai tem ainda direito a mais 10 dias úteis de licença seguidos ou interpolados (n.º 2), acrescendo dois dias por cada gémeo além do primeiro (n.º 3). “Para efeitos do disposto nos números anteriores, o trabalhador deve avisar o empregador com antecedência possível que, no caso previsto no n.º 2, não deve ser inferior a cinco dias” (n.º 4).

Esta licença deve ser conjugada com o art. 15.º do Decreto-Lei n.º 91/2009, de 9 de abril.

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• A licença por adoção, de acordo com o art. 44.º, n.º 1, permite ao candidato a adotante de menor de 15 anos beneficiar do mesmo período de duração da licença parental, de acordo com os n.ºs 1 ou 2 do art. 40.º, acrescendo ao período de licença

referido no n.º 1, 30 dias por cada adoção além da primeira (n.º 2).

Este preceito deve ser conjugado com o art. 17.º do Decreto-Lei n.º 91/2009, de 9 de abril.

• A licença parental complementar, segundo o art. 51.º, n.º 1, é permitida ao pai e à mãe para assistência a filho ou adotado com idade não superior a seis anos, em qualquer das seguintes modalidades: licença parental alargada, por três meses; doze meses de trabalho a tempo parcial, com período normal de trabalho igual a metade do tempo completo; períodos interpolados e licença parental alargada e de trabalho a tempo parcial, cuja ausência e redução do tempo de trabalho seja igual aos períodos normais de trabalho de três meses; e ausências intercaladas com duração igual aos períodos normais de trabalho de três meses, previstas nas alíneas a), b), c) e d), que podem ser gozadas por aqueles de modo consecutivo ou até três períodos interpolados, não sendo permitida a cumulação por um dos progenitores do direito do outro (n.º 2).

Esta licença deve ser conjugada com o art. 16.º do Decreto-Lei n.º 91/2009, de 9 de abril.

(De acordo com o art. 65.º, n.º 1, as licenças acima referidas não determinam perda de direitos, salvo quanto à retribuição, e são consideradas prestação efetiva de trabalho).

• A licença para assistência a filho, prevista no art. 52.º, n.º 1, é dada depois de ambos os progenitores terem esgotado o direito referido no artigo anterior e pode ser gozada de modo consecutivo ou interpolado, até ao limite de dois anos, que aumenta para três anos em caso de terceiro ou mais filhos (n.º 2). Esta licença apenas é permitida se o outro progenitor não se puder ocupar dos filhos (n.º 3) e, no caso de dois titulares, pode ser gozada por qualquer deles ou por ambos em períodos sucessivos (n.º 4).

• A licença para assistência a filho com deficiência ou doença crónica, prevista no art. 53.º, n.º 1, dá aos progenitores o direito de beneficiarem de um período até seis meses, prorrogável até quatro anos, para assistência de filho com deficiência ou doença crónica. Caso o filho tenha 12 ou mais anos de idade, a necessidade de assistência é confirmada por atestado médico (n.º 2).

55 Esta norma deve ser conjugada com o art. 20.º do Decreto-Lei n.º 91/2009, de 9 de abril.

(As duas últimas licenças, de acordo com o n.º 6, do art. 65.º, suspendem os direitos, deveres e garantias das partes na medida em que pressuponham a efetiva prestação de trabalho, designadamente a retribuição, não prejudicando contudo os benefícios complementares de assistência médica e medicamentosa a que o trabalhador tenha direito).

3.2.7.1.2. Faltas para assistência a filho e a neto

• Falta para assistência a filho. Nos termos do art. 49.º, o “trabalhador pode faltar ao trabalho para prestar assistência inadiável e imprescindível, em caso de doença ou acidente, a filho menor de 12 anos ou, independentemente da idade, a filho com deficiência ou doença crónica, até 30 dias por ano ou durante todo o período de eventual hospitalização” (n.º 1); pode também faltar até 15 dias por ano para prestar assistência inadiável e imprescindível, em caso de doença ou acidente, a filho com idade igual ou superior a 12 anos que, sendo maior, faça parte do seu agregado familiar (n.º 2). Acresce a estes períodos um dia por cada filho além do primeiro (n.º 3), não podendo o pai e a mãe faltar em simultâneo (n.º 4).

Para efeitos de justificação de falta, pode o empregador exigir prova (n.º 5).

O presente preceito deve ser conjugado com o art. 19.º do Decreto-Lei n.º 91/2009, de 9 de abril.

• Falta para assistência a neto. Em conformidade o art. 50.º, n.º 1, “o trabalhador pode faltar até 30 dias consecutivos, a seguir ao nascimento de neto que consigo viva em comunhão de mesa e habitação e que seja filho de adolescente com idade inferior a 16 anos”, devendo tal situação ser informada ao empregador com a antecedência de cinco dias (n.º 4). “O trabalhador pode também faltar, em substituição dos progenitores, para prestar assistência inadiável e imprescindível, em caso de doença ou acidente, a neto menor ou, independentemente da idade, com deficiência ou doença crónica” (n.º 3).

Segundo Dray (2016, p. 211), a intervenção dos avós prevista no n.º 1 do art. 50. º é uma forma de colmatar as “ausências dos pais adolescentes na educação e acompanhamento do desenvolvimento físico e psíquico do menor”.

A presente norma deve ser conjugada com o art. 21.º do Decreto-Lei n.º 91/2009, de 9 de abril.

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(Ambas as faltas referidas são consideradas justificadas, não determinam perda de quaisquer direitos, salvo quanto à retribuição, e são equiparadas a prestação efetiva de trabalho, conforme disposto no art. 65.º, n.º 1).

3.2.7.1.3. Dispensas

• Dispensa para avaliação para adoção. O art. 45.º confere aos trabalhadores que queiram adotar uma criança o direito a três dispensa de trabalho para se deslocarem aos serviços de segurança social ou para receberem os técnicos em seu domicílio, mediante apresentação da devida justificação ao empregador.

• Dispensa para consulta pré-natal. Segundo o art. 46.º, a trabalhadora grávida tem direito a dispensa do trabalho para consultas pré-natais, pelo tempo e número de vezes necessários (n.º 1), mas sempre que possível deve comparecer às consultas fora do horário de trabalho (n.º 2). Tendo a consulta de se realizar durante o horário de trabalho, o empregador pode exigir àquela a apresentação de prova ou declaração dessa necessidade (n.º 3). O pai tem direito a três dispensas do trabalho para acompanhamento das consultas pré-natais (n.º 5).

O que se pretende com o acompanhamento da mãe pelo pai às consultas pré-natais é que desde uma fase inicial haja um incentivo à conciliação, à partilha e à participação na vida familiar, de modo a que as consequências da parentalidade não fiquem apenas a cargo da mãe, mas sejam assumidas por ambos os progénitos (Moreira, 2011).

• Dispensa para amamentação ou aleitação. Nos termos do art. 47.º, a mãe que amamente o filho tem direito a dispensa de trabalho pelo tempo que durar a amamentação (n.º 1) ou, tratando-se de aleitação, desde que ambos os progenitores exerçam atividade profissional, qualquer deles ou ambos têm direito a dispensa diária para o efeito até o filho perfazer um ano (n.º 2), gozada em dois períodos distintos, com duração máxima de uma hora cada (n.º 3). No caso de nascimentos múltiplos, acresce à dispensa 30 minutos por cada gémeo além do primeiro (n.º 4) e, caso algum dos progenitores trabalhe a tempo parcial, a dispensa diária é reduzida na proporção do respetivo período normal de trabalho, não podendo ser inferior a 30 minutos (n.º 5) e gozada em período não superior a uma hora (n.º 6).

(Conforme o art. 65.º, a dispensa para avaliação para adoção é considerada prestação efetiva de trabalho e não determina perda de quaisquer direitos, salvo para efeitos

57 retributivos (n.º 1); a dispensa para consulta pré-natal e a dispensa para amamentação ou aleitação não implicam sequer a perda retribuição (n.º 2)).