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2. REVISÃO DE LITERATURA

2.4. O Papel da Institucionalização no Desenvolvimento

2.4.4. Autoestima

A autoestima exprime o conceito que cada um tem de si mesmo e constrói-se através das experiências acumuladas ao longo do desenvolvimento, sendo os primeiros anos cruciais para a formação da autoestima inicial da criança e para a elaboração de um primeiro conceito de si mesma. A autoestima é, portanto, resultado da forma como o indivíduo se vê, se sente e se valoriza com base nas suas experiências, interações pessoais e qualidades positivas e negativas, subjetivas e suscetíveis de avaliação, pelas diferentes representações que o indivíduo tem de si mesmo em diferentes áreas (Quiles, & Espada, 2014; Mestre, & Frías, 1996).

A autoestima desempenha um papel muito importante no desenvolvimento global e na adaptação a todos os aspetos da vida (Quiles, & Espada, 2014) e é considerada um dos pilares mais importantes para o desenvolvimento da personalidade (Harter, 1999), sendo bem conhecida a sua importância para o desenvolvimento emocional e cognitivo, para o equilíbrio pessoal e bem-estar geral do indivíduo, para a saúde mental e para o estabelecimento de relações sociais satisfatórias (Quiles, & Espada, 2014).

A preocupação com a autoestima na adolescência é fundamental uma vez que nesta idade de mudanças e alterações físicas, cognitivas e psicológicas (Harter, 1999), são adquiridas novas responsabilidades e competências que podem gerar instabilidade emocional (Mestre, & Frías, 1996). Sendo por isso comum, na fase da adolescência, a diminuição da autoestima, principalmente no que diz respeito às competências físicas e académicas, e um aumento dos sintomas depressivos (Quiles, & Espada, 2014; Naranjo, & Gonzáles, 2012).

Adolescentes que apresentam uma boa autoestima, são mais capazes de enfrentar e resolver os seus problemas, medos e desafios. Enquanto aqueles que apresentam níveis baixos de autoestima, são tendencialmente mais ansiosos, inseguros e insatisfeitos consigo próprios, sendo considerada a baixa autoestima como um fator de risco para o desenvolvimento de problemas psicopatológicos, como perturbações alimentares, aos

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quais podem estar associadas alterações da perceção da imagem corporal, e sintomas internalizados, como ansiedade e depressão (APA, 2013; Fortes, Cipriani, Coelho, Paes, & Ferreira, 2014; Harter, 1999; Quiles, & Espada, 2014) e ainda problemas de comportamento (Donnellan, Trzesniewski, Robins, Moffitt, & Caspi, 2005; Juffer, & van IJzendoorn, 2007). O défice de autoestima é ainda considerado um fator de risco para o abuso de substâncias, comportamentos delinquentes e antissociais, suicídio, instabilidade emocional, isolamento, hipersensibilidade à critica, competitividade, destruição e baixo rendimento escolar (Quiles, & Espada, 2014).

Alguns investigadores defendem que as crianças e jovens apresentam problemas de comportamento, nomeadamente comportamentos agressivos e antissociais, devido aos sentimentos negativos que têm sobre si próprias e que por sua vez conduzem à passagem ao ato pois nada têm a perder (Pechorro, Silva, Marôco, Poiares, & Vieira, 2012). A baixa autoestima enfraquece os laços sociais e a aceitação e respeito pelas normas sociais o que leva a um aumento da delinquência. Estes acontecimentos podem despoletar desagrado nas pessoas que interagem com o adolescente, levando-os a reprovar as suas atitudes e incrementando ainda mais a diminuição da autoestima (Pechorro et al., 2012; Quiles, & Espada, 2014). Os adolescentes com baixa autoestima são frequentemente rejeitados pelos seus pares, o que os leva a relacionar-se com outros jovens com comportamentos antissociais uma vez que pelo processo de identificação estes tendem a satisfazer as suas necessidades afetivas em termos de amizade e de apoio afetivo (Pechorro et al., 2012).

A autoestima afeta o ajuste psicológico e social, pelo que níveis baixos de autoestima e autoconceito nos adolescentes estão relacionados com a presença de perturbações psicopatológicas (Naranjo, & Gonzáles, 2012), sendo uma característica comum em diversos diagnósticos do Manual de Diagnóstico das Perturbações Mentais da Associação Psiquiátrica Americana – DSM V, como é o caso das perturbações de ansiedade, perturbações sexuais e de identidade de género, perturbações de comportamento alimentar (bulimia nervosa e anorexia nervosa), de personalidade, e perturbações iniciais na infância ou adolescência, como os problemas de eliminação, problemas de aprendizagem e problemas da comunicação verbal (APA, 2013).

São vários os fatores de risco que contribuem para a ocorrência de alterações ao nível da autoestima, nomeadamente a capacidade de socialização, de resolução de problemas e fatores externos como o ambiente escolar e principalmente o ambiente familiar. Também na autoestima, o envolvimento e as relações familiares assumem um papel fundamental (Quiles, & Espada, 2012). A falta de estrutura no ambiente familiar

33 condiciona a autoestima da criança e do adolescente, comprometendo as suas competências sociais e, consequentemente, o saber relacionar-se com os outros (Veiga, 2012). De acordo com a teoria da vinculação, a autoestima tem sido sugerida como sendo resultado de uma vinculação segura (Ainsworth, 1989), pelo que uma relação próxima com um cuidador primário pode servir como um fator de proteção para a diminuição da autoestima. No mesmo sentido, dando importância ao cuidado familiar, a adoção pode também ser vista como um fator de proteção para o mantimento de uma autoestima saudável, uma vez que há evidências que adolescentes adotados apresentam níveis mais elevados de autoestima comparativamente aos adolescentes institucionalizados. O que significa que a adoção pode ser vista como uma intervenção efetiva, levando à autoestima normativa (Juffer, & van IJzendoorn, 2007).

A investigação da autoestima nesta população torna-se pertinente devido ao conhecimento da influência do ambiente familiar e dos laços vinculativos no desenvolvimento da autoestima, que se sabe que estão em défice na história de vida destes adolescentes (Quiles, & Espada, 2014; Veiga, 2012). Além disto, um dos pilares da autoestima é a sensação de competência, isto é, a perceção que o adolescente tem das suas competências físicas, sociais e académicas parece estar associado à baixa autoestima e aos problemas de comportamento (Pechorro et al., 2012; Quiles, & Espada, 2014). O que nos leva a questionar a relação desta variável com as competências motoras, emocionais e comportamentais e ainda com a satisfação que o adolescente tem face à imagem corporal, que serão avaliadas nesta investigação.

É de notar que existe uma ambivalência na dinâmica de causa-efeito da autoestima, no sentido em que a mesma parece predispor o adolescente ao surgimento de outros problemas na sua vida. E em sentido inverso, esses problemas parecem incrementar os problemas ao nível da autoestima (Quiles, & Espada, 2014).

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