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7 ANÁLISE DOS DADOS QUALITATIVOS CATEGORIZADOS

7.4 AUTONOMIA

Autonomia e conhecimento são conceitos que se reclamam reciprocamente (ASSMANN, 1998, p.133).

Somos seres em constante transformação em uma sociedade que transforma seu formato a cada dia, influenciando-nos interna e externamente com o aumento da expectativa de vida. As pessoas que estão envelhecendo vivem uma

situação ambígua, porque elas querem viver e participar mais, porém, ao mesmo tempo, as limitações da idade lhes causam muitos temores e desafios, pois a maioria não quer perder sua identidade por dependência tanto da família como de possíveis cuidadores.

A importância de continuar mantendo suas relações sociais e constituir novas relações é imprescindível para os idosos, porque na Terceira Idade seus papéis sociais são alterados, e uma estratégia de continuar se socializando é a inserção desses indivíduos no mundo digital, porque, através de diferentes aprendizagens, não transferindo conhecimentos mas sim instigando, desafiando e questionando e, assim sendo, possibilitando que continuem sendo autônomos e gestores de suas próprias vidas.

Delors enfatiza que esta

[...] “alfabetização informática” é cada vez mais necessária para se chegar a uma verdadeira compreensão do real. Ela constitui, assim, uma via privilegiada de acesso à autonomia, levando cada um a comportar-se em sociedade como um indivíduo livre e esclarecido (2004, p. 192).

Mas o que é autonomia?. Podemos entender autonomia como a capacidade que o indivíduo tem de gerir seus próprios atos e de comandar sua vida, segundo o Dicionário Aurélio, tem origem no grego ‘autonomía’ e significa “a faculdade de se governar por si mesmo, liberdade ou independência moral ou intelectual”. E manter a autonomia e a independência durante o processo de envelhecimento é uma preocupação tanto para os governantes como para os indivíduos que estão ou vão passar por esta fase, mesmo porque o envelhecimento é um processo que envolve muitas pessoas como familiares, amigos, colegas de trabalho, vizinhos e entidades sociais que o indivíduo freqüenta, como igrejas, associações, clubes, etc.

De acordo com Moraes e Souza

[...] a autonomia e a independência são dois indicadores de qualidade de vida para a população idosa. Todos os indivíduos, querem ser donos de sua própria vida, ter a capacidade de decidir e escolher caminhos, mesmo para ações cotidianas, como a escolha da marca do produto a ser adquirido. (2003, p. 63-64).

É essencial para a evolução de qualquer ser humano a aquisição de cultura, capacitação pessoal e profissional, autonomia diante das situações da vida e sabemos que as tecnologias de informação e comunicação potencializam esses

fatores em nossas vidas. E a Internet, entre as tantas tecnologias, pode ser definida como a ferramenta que proporciona maior autonomia, pois, diante de tantas escolhas que podemos fazer e de informações que acessamos, podemos adquirir variados conhecimentos: acadêmicos, profissionais, assuntos referentes à saúde, informações sobre doenças de amigos e parentes ou simplesmente fazer pesquisas sobre produtos que queiramos adquirir.

Visto o avanço da tecnologia ser atualmente um instrumento de trabalho, diversão e variados tipos de relacionamentos usados por grande parte da população, devemos proporcionar acesso a todos, promovendo a autonomia diante dessas tecnologias, por conseguinte os menos favorecidos, como os idosos, terão a chance de participar do mundo digital através da aprendizagem virtual.

Souza corrobora com esta idéia quando afirma:

Programas educativos poderão se dedicar à reestruturação de atividades educativas para idosos com o suporte de novas tecnologias, convocando, para uma interação pedagógica motivacional diferente, recursos como os da informática, o vídeo e a telecomunicação, pois são instrumentos que podem transformar a natureza dos processos educativos realizados com idosos pelas suas funções inovadora e motivadora, colaborando para a diversidade e a criatividade na educação de idosos (2003, p. 39).

Os sujeitos que estão na Terceira Idade querem continuar tendo autonomia, e para eles a aprendizagem digital é sinônimo de independência e necessidade, pois trabalha instigando o sujeito ao uso do computador com interesses e prazeres e sendo autônomos. Nesse processo, eles continuam tomando decisões em relação a si próprios, como enfatiza o S54 “a liberdade de pesquisar, buscar novos horizontes, sem depender de outras pessoas”. Ter autonomia no processo de aprendizagem faz com que os sujeitos que estão na Terceira Idade tenham maior auto-estima e prazer em aprender a aprender diferentes tipos de tecnologias como é enfatizado na fala do E04:

A informática representa ter maior autonomia e ficar mais atualizada; sem informática, as pessoas não conseguem nada, tudo agora é informatizado; a pessoa tem de se atualizar; eu, por exemplo, não sei nem ligar o computador, não quero ficar dependendo dos outros. Agora vindo aqui neste curso, eu vou aprender pelo menos a ligar o computador e continuar aprendendo. A gente vai aprender.

No mundo digital, o significado de ter autonomia diante das tecnologias é poder utilizar tais recursos, tanto para beneficio próprio como para a comunidade a que pertence; conseqüentemente aprender a lidar com as diferentes tecnologias gera uma necessidade nesta fase, como enfatiza o S30 o que significa aprender informática “veio me dar mais ‘vida’, vontade de continuar crescendo porque tinha necessidade de ser útil ao maior número de pessoas possível”; e o S33 “necessidade de aprender a me comunicar com diferentes pessoas em diferentes lugares, conhecer todos esses lugares através do meu computador”. E deve ser incentivada tanto pela família como por cuidadores, acrescendo, se possível, as atividades externas, para que os idosos ocupem o tempo livre tornando os anos tardios de suas vidas satisfatórios e produtivos, como comenta o S23 “vejo como a abertura de ‘muitas portas’ para o mundo. Portas estas impossíveis de vivermos sem, porque nos proporcionam a independência”. E o E05 “Para mim, atualmente é uma das coisas mais importantes que existem, porque tu não fazes mais nada sem informática. Tudo tu podes fazer: banco, supermercado, compra, vende tudo através da Internet. Em casa também. Não precisa de ninguém”.

Souza, Massaia e Marques corroboram afirmando que

O mundo da informação, hoje, também está acessível ao idoso. Portanto, o idoso precisa não apenas “assistir” televisão, ler jornais, revistas e materiais à disposição na Internet, precisa refletir e falar sobre o que está vendo, lendo e ouvindo, surpreendendo seus familiares com novas aprendizagens, novas atitudes e novos hábitos, alterando rotinas desinteressantes (2003, p. 117).

O envelhecer com autonomia depende de vários fatores determinantes que envolvem os indivíduos e a sociedade como um todo, portanto entendemos que principalmente a sociedade, juntamente com políticas públicas, através de seus governantes engajados e comprometidos, deva incentivar programas para a Terceira Idade, como uma necessidade que os idosos têm em se manterem ativos e autônomos por mais tempo possível, com cuidados de si, preparando-se e planejando uma boa velhice através de ambientes acolhedores, motivadores e de apoios para que as aprendizagens ao longo de suas vidas se tornem mais fáceis, pois é uma questão de economia para o próprio país, com menos pessoas dependentes do sistema público de saúde.

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