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3.3.1 Autonomia em Kant e Adorno

No documento 2012MariadeLourdesSecorunInacio (páginas 62-66)

Autonomia para Kant se caracteriza pela capacidade humana de determinar sua vontade. Para ele o indivíduo deve ter a coragem de superar a preguiça para sair do seu estado de heteronomia. A capacidade de se auto-determinar é comum a todos os indivíduos, basta que haja um processo pedagógico educativo que permeie esse caminho.

O termo autonomia em Kant é usado para designar a independência da vontade em relação a qualquer desejo ou objeto de desejo e a sua capacidade de se determinar com uma lei própria, que é a da razão. Para ele o princípio da autonomia é escolher sempre e de tal modo que as máximas da escolha estejam compreendidas, ao mesmo tempo como leis universais no ato do querer.

Adorno vê a conquista da autonomia como um processo que além da educação sofre influência da sociedade na qual o indivíduo está inserido. Pois esta sociedade administrada impõe comportamentos e nega ao indivíduo a possibilidade do exercício da autoconsciência crítica e da formação cultural. Diante disso, ele considera que o esclarecimento ainda é

possível, que o homem precisa ter a coragem de fazer uso de seu próprio entendimento, pensando por si próprio.

A categoria autonomia indica a forte influência de Kant sob Adorno por legitimar a Educação como o único meio que poderia prevenir o princípio de Auschwitz, sob a perspectiva da autonomia. Para tanto, faz-se necessário o poder da reflexão, da autodeterminação, da não participação, e a partir daí dá-se o processo que Kant denomina de passagem do estado de tutela para a autonomia. Ocorrendo esse processo seria possível pensar em uma desbarbarização da sociedade que é a meta de Adorno, tendo por base o esclarecimento.

A superação da menoridade na concepção kantiana é através da experiência e a reflexão onde a primeira é a condição da segunda. A experiência nos transporta ao empirismo, ao contato com o objeto e sua historicidade. É um processo formativo, onde o indivíduo se torna experiente pelo acúmulo de resultados dos processos anteriores e seu próprio processo, proporcionando a capacidade da reflexão.

Cabe à educação além de ser um instrumento de prevenção contra a barbárie fornecer condições para a formação de um caráter autônomo segundo Adorno. Somente quando os indivíduos forem capazes de refletir criticamente sobre as condições dadas, estarão aptos a participar de uma sociedade baseada em princípios democráticos, pois como ser social e partícipe da construção de um mundo melhor faz-se premente que ele seja capaz de tomar suas próprias decisões.

A sociedade como está organizada dificulta nas pessoas a capacidade de decidir, pois os meios de comunicação (rádio, televisão, jornais) influenciam suas decisões e a capacidade de discernimento é afetada, fazendo com que “ter” o objeto divulgado seja mais valioso que se opor ao apelo comercial, problema este que se estende também as instituições educacionais que não cumprem seu papel de promover e estimular os alunos a desenvolver a consciência crítica através da análise de filmes exibidos, de leituras, músicas para poder analisar o que há por detrás desses artefatos e comparar com a autêntica arte e, assim, torná-los capazes de discernir, refletir e agir de forma autônoma diante dos apelos comerciais.

A educação tem um duplo papel para Adorno: adaptar o indivíduo à sociedade e também que ele oponha resistência à sociedade que se apresenta. Essa concepção dialética da educação é que desperta no indivíduo a consciência reflexiva, crítica. O indivíduo não deve aceitar as verdades prontas e impostas a ele e sim ajudar na construção delas. Discutir, dialogar, argumentar são atos que se deve cultivar na escola, para que na sociedade ele seja um ser atuante e contribua na construção da democracia. Citando Adorno:

A democracia repousa na formação da vontade de cada um em particular, tal como ela se sintetiza na instituição das eleições representativas. Para evitar um resultado irracional é preciso pressupor a aptidão e a coragem de cada um em se servir de seu próprio entendimento. (ADORNO, 1995, p.169).

Isso significa que a educação, em seu duplo papel de adaptação à sociedade e de resistência a ela, deve formar indivíduos que tenham coragem de expor seus pensamentos com argumentação racional para contribuir na consolidação da democracia.

Para Kant uma sociedade justa depende de seres morais, autônomos e a educação para a autonomia desenvolve as capacidade individuais, para formar indivíduos racionais, conscientes, conhecedores de si e capazes de agir livremente. O indivíduo livre e autônomo formado através do processo educacional, segundo Kant, primeiro educou-se para si e depois para o outro. Nesse sentido forma-se o cidadão para o mundo.

Outro aspecto em relação à autoridade presente no processo de conquista da autonomia constatado em pesquisas empíricas realizadas nos Estados Unidos por Else F. Brunswik, segundo Adorno, demonstrou que crianças comportadas tornaram-se autônomas antes das crianças desobedientes. Isso significa que a autoridade presente na vida dessas crianças exerceu seu papel com legitimidade e que no desenvolvimento da personalidade da criança se diluiu e tornou-a um adulto autônomo, diferente das crianças desobedientes que criaram vínculos de dependência com pais ou professores.

Nos diálogos radiofônicos, Adorno concorda com Becker quando este afirma que: O processo de rompimento com a autoridade é necessário, porém que a descoberta da identidade, por sua vez, não é possível sem o rompimento com a autoridade. (ADORNO, 1995, p.177)

Constamos que o processo educacional iniciado na primeira infância tem em seu decorrer necessidade do uso da disciplina, do exercício da autoridade legitimada, pois assim as crianças compreenderam a razão de obedecer regras e ter limites de uma forma racional e dessa forma alcançam a autonomia mais cedo que as crianças indisciplinadas, rebeldes, que podem permanecer nesse estado indefinidamente sem ao menos se dar conta do fato.

Kant afirma que: Na educação tudo depende de uma coisa: que sejam estabelecidos bons princípios e que sejam compreendidos e aceitos pelas crianças. (KANT, 1999, p.96)

Quando as crianças compreendem porque devem obedecer às regras e respeitar os princípios, elas passam a dominar suas vontades e agir de forma que respeite a si e aos outros.

No documento 2012MariadeLourdesSecorunInacio (páginas 62-66)

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