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AUTORES E AUTORIA

No documento elisamariarodriguesbarboza (páginas 66-69)

2 VIDEOCLIPE INTERATIVO E SUAS RELAÇÕES COM AS NARRATIVAS

3.6 AUTORES E AUTORIA

Por se tratar de um tipo de produção em que os autores fornecem comandos para que os interatores possam modificar o resultado de seus trabalhos, uma questão que se faz pertinente é pensar na autoria, no que se refere aos vídeos interativos. Por mais que esse tipo de obra forneça frestas de entradas para os espectadores, sua participação é sempre limitada por comandos previstos ou estipulados por seus autores. Portanto, não se pode falar propriamente de uma co- autoria, uma vez que o modo com que os espectadores “jogam” com a obra não constitui um

69 Disponível em: http://nouvellesecritures.org/index_en.html Acesso em março de 2014.

70 Entrevista concedida por Vincent Morisset em Montreal, em 2014. Verificar Anexo. Tradução livre de: It will take a while but it is really important that… Institution, the public and everyone change how they look at this. It’s not just geek techno stuff. It’s just another way to connect with people and tell stories and mainly these days we just consume everything through this platform, so… They give you opportunities, new possibilities, we can take advantage of it or not, but it is just there.

sistema aberto, mas sim um sistema de aparente abertura, que se dá por meio das ramificações previamente roteirizadas pelos diretores. Nesse sentido, a real abertura na participação das obras interativas está tão inserida no campo da cognição tal como acontece no cinema ou no vídeo. Ou seja, a possibilidade de modificar a obra interativa, por meio dessas ramificações, não interfere no papel do diretor enquanto autor da obra. Morisset (2014) coloca sua visão como autoria da seguinte forma:

Eu não os considero como co-autores [os espectadores] do que eu faço. Existe uma premissa, existe uma tipo de progressão, sabe... É um pouco como dançar ou jogar com o Kite (surfe), o vento sopra e você se equilibra com ele. Então, para mim, tal como a proposição, a autoria é minha - nós e as pessoas entramos nela, nessa experiência, e é algo que eu tenho que estar pressionando e lutando para ter reconhecimento. Também, essa noção de autoria, eu é que fui um dos primeiros a dizer 'Oh, projeto por Vincent Morisset', mas isso não era algo muito comum em meados de 2000, era mais como anônimo ou assinado por um estúdio ou empresas, mas algo feito por um indivíduo, como 'dirigido por', era algo bastante incomum. (MORISSET, 2014, tradução da autora71)

A ideia da existência de premissas (essas criadas pelo autor), com as quais os interatores devem jogar, é um tópico crucial quando o assunto é autoria de histórias audiovisuais interativas. Murray (2003), nomeia esse tipo de autoria, em que o autor é responsável pelas proposições com as quais o espectador vai interagir, de autoria procedimental, que ela define como:

Autoria procedimental significa escrever as regras pelas quais os textos aparecem tanto quanto escrever os próprios textos. Significa escrever as regras para o envolvimento do interator, isto é, as condições sob as quais as coisas acontecerão em resposta às ações dos participantes. Significa estabelecer as propriedades dos objetos e dos potenciais objetos no mudo virtual, bem como as fórmulas de como eles se relacionarão uns com os outros. O autor procedimental não cria simplesmente um conjunto de cenas, mas um mundo de possibilidades narrativas. (MURRAY, 2003, p.149)

Especificamente quanto aos interatores de obras interativas, tanto Murray (2003) quanto Broeckmann (2005) discutem a ideia de que eles assumem um papel participativo no trabalho e que está em contraste com as estruturas limitadas pela programação proposta por seus autores. Enquanto Murray (2003) trata esses interatores como sujeitos que encenam um papel criativo, em

71 Entrevista concedida por Vincent Morisset em Montreal, em 2014. Verificar Anexo. Tradução livre de: I don’t consider them as co-author in what I do. There is a premise, there is kind of a progression in it and they, you know… It’s a bit like dancing or playing with the Kite (surf), the wind blows and you kind of gauge with it, so, for me, how the proposition and how it’s authored by me - us, and the people get into that, on that experience, and it is something that I’ve been pushing and fighting to acknowledge, also, this notion of authorship and that I was one of the first person to say ‘Oh, project BY Vincent Morisset’, but that was not something really common in mid 2000, it was more kind of anonymous or signed by a studio or companies, but something by an individual, as ‘directed by’, something quite uncommon.

que eles “podem apenas atuar dentro das possibilidades estabelecidas quando da escritura e da programação de tais meios” (Murray, 2003, p.149), Broeckmann (2005) evoca a ideia da performance para fazer essa comparação e defende que:

Diferente de uma performance, onde a execução é realizada por um ator principal, em sistemas interativos, a pessoa que interage não está na maioria das vezes executando um programa mais ou menos aberto, mas sim está incluído no sistema técnico como um fator secundário, ou como um gatilho, que pode observar passivamente os resultados programados de sua ação. (BROECKMANN, 2005, s.p., tradução da autora72)

Mais a seguir, em seu texto, Murray (2003, 2003, p. 150) completa ao propor que “talvez se possa dizer que o interator é o autor de uma performance em particular dentro de um sistema de história eletrônico, ou um arquiteto de uma parte específica do mundo virtual, mas precisamos distinguir essa autoria derivativa da autoria original do próprio sistema”, e encerra salientando a existência da clara distinção entre autoria, que é o que o diretor (no caso dos videoclipes interativos assume), e a agência, ou seja, a capacidade que o interator tem de modificar e ver o resultado de suas modificações dentro daquele sistema.

Analisando particularmente o papel do autor-diretor, Gosciola (2003) traz uma abordagem da autoria no contexto da realização hipermídia como uma atividade profissional, tal como se tem um roteirista no cinema, e que no caso da produção digital, ele nomeia como authoring, que traduzido para o português seria “autoração”. Inicialmente, um profissional de autoração era o responsável por construir menus e links em DVDs ou CDs room, mas tendo em vista as atuais possibilidades dos sistemas informacionais, o seu papel estaria principalmente na criação desses arranjos interativos, seja em narrativas, conteúdos digitais, softwares ou sistemas.

Portanto, pensando essencialmente nas narrativas digitais e nos videoclipes interativos, por mais que os espectadores-interatores possam ter diferentes experiências a cada nova visualização, elas ainda não escapam de um processo de respostas previstas e criadas por seus autores. O que faz com que exista uma clara distinção de onde termina o trabalho do autor e onde começa a interação dos espectadores.

72 Tradução livre de: Unlike in a performance, where the execution is conduced by a main actor, in interactive systems the interacting person is mostly not executing a more or less open programme, but is included in the thecnical system as a secondary fator, or as a trigger, who can than observe passively the programmed results of his or her action.

4 APROFUNDANDO AS RELAÇÕES DO VIDEOCLIPE INTERATIVO E O ARCADE

No documento elisamariarodriguesbarboza (páginas 66-69)