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Autoridades governamentais e organizações sociais

No documento Relatório de Pesquisa (páginas 33-35)

3.2 Inserção laboral

3.2.2 Autoridades governamentais e organizações sociais

O processo de levantamento de informações incorporou como atores-chave as autoridades locais, representantes de órgãos federais nas cidades visitadas e representantes de ONGs que atendem aos imigrantes.

Em se tratando de questões relacionadas ao trabalho, na maioria dos municípios as autoridades locais estavam bem sensibilizadas com relação aos problemas dos imigrantes. No caso de São Paulo, por exemplo, o Centro de Atendimento ao Trabalhador – CAT recebe os imigrantes em estrutura especialmente preparada para atendê-los e faz a emissão das carteiras de trabalho para os estrangeiros seguindo as normas do Ministério do Trabalho, o que, em um primeiro momento, era facultado somente aos haitianos. Ainda, tratando de estruturas governamentais, o Sine de Chapecó, ligado ao governo estadual, além do atendimento aos imigrantes no que tange aos encaminhamentos às empresas, reserva um dia por semana no serviço de atendimento psicossocial para o atendimento a imigrantes, buscando assim oferecer um acompanhamento mais próximo e direto ao trabalhador estrangeiro.

Em relação às representações de órgãos da administração federal, principalmente o Ministério do Trabalho, há uma postura ambígua das gerências regionais, que são as responsáveis únicas pela emissão da carteira de trabalho para os estrangeiros, quando não há um serviço prestado por outro órgão da administração pública. Enquanto em algumas se observa uma nítida postura favorável ao imigrante, buscando proporcionar um atendimento rápido e trabalhar em sintonia com outros órgãos da administração pública e ONGs, em outras a visão não é favorável aos estrangeiros. Nesses casos, ele é percebido pelos responsáveis do

órgão como um concorrente à mão de obra local no mercado de trabalho. Nessa mesma localidade, denúncias já registradas no Ministério Público do Trabalho relatando flagrantes desrespeitos à legislação trabalhista no momento da entrevista não haviam sido captadas pelo serviço de fiscalização do trabalho do Ministério do Trabalho. Essas diferenças de postura assinalam a necessidade de sensibilização dos responsáveis dos órgãos para a importância da incorporação da mão de obra imigrante no mercado de trabalho local e para a sua vulnerabilidade nesse processo de inserção.

As organizações não governamentais que tratam do atendimento aos imigrantes buscam, na medida do possível, auxiliar na sua inserção laboral. Nos levantamentos foi possível observar situações diversas conforme a localidade pesquisada. Naquelas onde há maior cooperação entre as diversas entidades locais, o trabalho dessas organizações é mais eficaz, em outras, onde as instituições não conseguem avançar na construção de rede com as entidades públicas, o trabalho fica restrito a algumas atividades. Foram encontradas ONGs com estruturas mais avançadas do que aquela disponibilizada pelo poder público, como no caso da Missão Paz, de São Paulo, mas também situações nas quais a instituição só tinha condições de auxiliar na obtenção da documentação necessária para a inserção no mercado de trabalho e a contratações aconteciam por meio de redes sociais ou de contatos pessoais dos técnicos da organização.

No caso da Missão Paz, há toda uma metodologia preparada para se fazer a intermediação entre trabalhadores e empresários, como relatado no Anexo I. Esse processo, que foi construído contando com a participação de imigrantes, chegou mesmo a definir um “salário mínimo”20

que deveria ser o piso a se considerar nas conversas entre imigrante e empresário interessado na sua contratação. Como a Missão Paz tem uma ampla estrutura de acolhimento, que envolve não só o apoio a questões do trabalho, mas também o abrigamento e o auxílio a diversas demandas de imigrantes, a criação do serviço de mediação da inserção no mercado de trabalho, eixo trabalho, foi um desdobramento natural dessas atividades, e passou a ser incorporado aos serviços prestados pela entidade em São Paulo, espelhando o leque de atividades da ordem dos padres scalabrinianos em outras partes do mundo.

Como alternativas aos problemas percebidos, as autoridades locais e representantes de organizações sociais apresentaram algumas propostas de ação ao governo para combater parte dos obstáculos à inserção laboral dos imigrantes, com destaque para a intensificação das fiscalizações trabalhistas em empresas que empregam muitos imigrantes, a tradução de

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documentos e procedimentos trabalhistas, assim como a disponibilização de cursos de português para estrangeiros nas regiões que contam com grande quantidade de imigrantes.

“[...] Talvez alguma coisa, ou um rigor maior por parte do governo em relação a quem emprega, porque aí salvaguarda a questão da exploração, o fato deles dizerem que trabalham de cabeça baixa, tudo isso é uma imagem de explorado, de dominação, isso tudo é muito triste. Então eu acho que tem que ter um rigor um pouco maior por parte do empregador. A gente precisa ter um ambiente que faça um pouco essa triagem de pessoas para o trabalho, o que eu acho que Caxias já tem. Não sei se é só a casa de passagem, também não sei se ele teria que ficar ligado somente a um órgão público que faz um pouco essa checagem de gente que chega. Por exemplo, um campo de trabalho dos frigoríficos, está um pouco fora da realidade física deles. Eu lembro que a maioria deles aqui no inverno estava se estreitando de frio e eu fico imaginando eles em um frigorífico. A gente entra em um supermercado e quase morre de frio perto dos congelados, e agora imagina pra eles que vivem em países quentes. Eu acho que a gente deveria ter um espaço ou um órgão que ficasse responsável por isso no município, que olhasse de onde ele vem pra encaminhar” (Representante da Cáritas, Criciúma, SC).

“[...] O desenvolvimento de um projeto que dê uma nivelada na acessibilidade da comunicação, seja para eles o português, seja para os atendentes outra língua que também possa facilitar a comunicação. Com o francês nós podemos chegar mais próximo de mais grupos” (Representante do Centro de Referência dos Direitos Humanos, Chapecó, SC).

As falas das autoridades locais e de representantes de organizações sociais no que concerne à inserção laboral dos imigrantes demonstraram de forma geral, mais desafios do que oportunidades. Os desafios indicam caminhos de ação para as autoridades públicas e agentes sociais no sentido de eliminar as vulnerabilidades, de fortalecer a inserção e de garantir a manutenção dos imigrantes no mercado de trabalho brasileiro. Nesse contexto, o aproveitamento dos diferenciais positivos oferecidos pelos imigrantes e mencionados pelos entrevistados se transforma em elementos-chave para uma inserção efetiva dos imigrantes no mercado de trabalho.

No documento Relatório de Pesquisa (páginas 33-35)