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4.4 Regulação governamental com subsídios exógenos e as formas de

4.4.4 Autorregulação

A autorregulação seria a última alternativa ao modelo tradicional de agência reguladora e ocorre quando ao ente privado é permitido normatizar, e ao mesmo tempo, para executar as regras criadas. Neste modelo, manifestam- se os problemas de custos de transação, presentes, tanto no modelo regulatório de execução contratual, quanto no de normatização contratual de regulação. Porém, os custos de transação para a agência são maiores do que se a agência atuasse em qualquer dos modelos separadamente, tendo em vista que os custos são majorados em razão das fragilidades de cada modelo.

Conforme dito, no modelo de execução contratual e de normatização contratual, os custos de transação na autorregulação apresentam uma perigosa junção de comportamentos oportunistas, inadimplemento contratual e problemas de ação coletiva. Na maioria dessas situações, os custos de transação associados com essas características tendem a exceder qualquer

redução de custos de transação direto que a agência teria se empregasse a autorregulação. Este modelo tende a refletir o poder político da indústria regulada mais que o resultado da racionalidade do processo decisório de uma agência reguladora eficiente.

Para Fiani204, a primeira dificuldade é que o ente privado será

influenciado pelo próprio interesse ao normatizar e ao executar o modelo regulatório. O problema se agrava nesse contexto porque o ente autorregulador terá a possibilidade de atuar de forma oportunista em ambas facetas da regulação. Assim, confundem-se os objetivos da regulação com os da empresa responsável pela autorregulação, independentemente quando sejam empresas com fins lucrativos, ou quando são influenciadas por elas.

Quando as organizações de normatização são dominadas por interesses corporativos produzem o mais baixo parâmetro de normatização regulatória, posto refletirem os interesses da indústria regulada.

No que concerne ao comportamento oportunista, uma atuação autorregulatória será influenciada pelo próprio interesse na feitura da normatização regulatória e sua execução. Para Fiane205, o problema é mais acentuado nesse contexto que no modelo de normatização contratual de regulação e do que o modelo regulatório de execução contratual porque a entidade autorregulatória tem a possibilidade de atuar de forma oportunista em ambos os aspectos, tanto na elaboração da normatização regulatória, como na execução do mesmo. Essa situação aumenta os custos de transação da agência reguladora se comparado a forma de regulação que se baseia na delegação de apenas um dos aspectos.

Para Britto, os custos de transação da agência remetem a “uma função diretamente relacionada a saber quando os participantes da autorregulação atuam de forma consistente com os interesses da agência reguladora”206.

Acontece que, na maioria dos casos, entes privados têm interesses distintos dos da agência, particularmente quando aqueles são instituições que se pautam na maximização de lucro ou são influenciadas por empresas reguladas dessa natureza.

204 FIANI, op. cit. n. 58, p. 47. 205

FIANI, op. cit. n. 58, p. 49.

Nessa situação, a normatização regulatória produzida pelo ente autorregulador tende a refletir os interesses da indústria regulada. A menos que esses interesses sejam congruentes com os objetivos da agência, a autorregulação não produzirá normatização regulatória consistente.

Em síntese, a entidade de autorregulação tem a chance de atuar de forma oportunista no que concerne tanto a normatização quanto a execução regulatória. Isso faz com que a escolha por essa forma de regulação seja, no mínimo, moralmente questionável. A menos que a indústria regulada tenha grande incentivo para atuar de forma consistente com os interesses da agência.

Outro aspecto a ser abordado é a análise da hipótese de inadimplemento contratual. A agência tende a ter maiores custos de transação associados a essa forma de atuação regulatória. Nessa forma de atuação, assume-se que a agência revisou cuidadosamente a normatização regulatória que o ente autorregulador produz. Se não o fizer, a agência reguladora, muito provavelmente, falhará nos seus objetivos.

É inegável que a agência deve ser muito cautelosa na escolha pela autorregulação, tal decisão tende a aumentar, significativamente, os custos de transação se comparado a forma de regulação tradicional. Além de problemas decorrentes do comportamento oportunista e do inadimplemento contratual, existem problemas de ação coletiva. Esses problemas num cenário de autorregulação, como destaca Shapiro207, tendem a ser similares aos que

ocorrem no modelo de normatização contratual de regulação. Ainda que o problema seja ainda mais grave no contexto da autorregulação.

Como se destacou anteriormente, tende a ser mais difícil para uma agência modificar ou rejeitar normatização gerada por entes privados do que produzir internamente a normatização (modelo tradicional). Quanto mais financeiramente valioso for para a agência adotar normatização escrita pelos entes privados, mais recursos serão destinados pela empresas reguladas a ações políticas para se alcançar esse resultado. Quando uma agência se encontra nesse cenário, é recomendável o desenvolvimento da normatização de forma interna (modelo tradicional).

207 SHAPIRO, op. cit. n., 139, p. 431.

5 Estrutura regulatória e agência multissetorial

Na regulação econômica, é importante o estudo do arranjo estrutural das agências reguladoras que juntamente com as formas de atuação regulatória completam o ciclo de análise dos principais elementos teórico-econômicos relacionados às agências reguladoras. Ao longo do presente capítulo, serão discutidas as vantagens estratégicas dos modelos unissetoriais e multissetorias diante dos comportamentos empresariais, com destaque para a internacionalização e especialização horizontal empresarial. Essas práticas empresariais dos últimos anos proporcionam desafios para a atuação regulatória o que influencia tanto as formas de atuação como o arranjo estrutural das agências reguladoras.