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2.1 Benefícios previdenciários por dependência

2.1.2 Auxílio-reclusão

A primeira Constituição Federal brasileira que veio a tratar do benefício de auxílio- reclusão foi a de 1988, que, em seu artigo 201, inciso I, prevê a cobertura dos eventos decorrentes de reclusão.

O auxílio-reclusão, de acordo com Horvath Júnior (2011, p. 109), é a “prestação previdenciária, na modalidade benefício previdenciário, paga exclusivamente aos dependentes do segurado de baixa renda que esteja preso em regime fechado ou semiaberto.”

Assim como o benefício de pensão por morte, o auxílio-reclusão é um benefício destinado unicamente aos dependentes do segurado, que, nesse caso, é o preso. Ou seja, não é o segurado recluso que recebe o benefício, mas, sim, sua família. Dessa forma, ele é devido praticamente nos mesmos parâmetros que a pensão por morte.

Um dos requisitos para sua concessão é de que o segurado recluso deve ter baixa renda, e o parâmetro para verificação de tal quesito é o último salário de contribuição antes de o recluso ingressar no estabelecimento prisional.

Ibrahim (2015, p. 682) destaca que, como o conceito de baixa renda não foi definido pelo INSS, prevalece o entendimento de que o último salário de contribuição do segurado não deve ser superior a R$ 1.364,43, considerando-se que este valor é atualizado anualmente.

Segundo o mesmo autor, há um fundamento de proteção que dá ensejo à concessão de tal benefício: a prisão do segurado de baixa renda que acarreta na perda da remuneração ou dos meios de subsistência dos dependentes, ou seja, a necessidade social dos dependentes do segurado recluso.

Os tipos de pena que ensejam a concessão desse benefício estão elencados na instrução normativa nº 77 de 2015 do INSS:

Art. 382. Considera-se pena privativa de liberdade, para fins de reconhecimento do direito ao benefício de auxílio-reclusão, aquela cumprida em regime fechado ou semiaberto, sendo:

I – regime fechado, aquele sujeito à execução da pena em estabelecimento de segurança máxima ou média; e

II – regime semiaberto, aquele sujeito à execução da pena em colônia agrícola, industrial ou estabelecimento similar.

§ 1º Não cabe a concessão de auxílio-reclusão aos dependentes do segurado que esteja em livramento condicional ou que cumpra pena em regime aberto (SISLEX, 2015).

O disposto no artigo supracitado, entretanto, foi alterado pela medida provisória nº 871/2019, uma vez que a mesma dispôs que o benefício de auxílio-reclusão somente será cabível nos casos em que o segurado está cumprindo pena em regime fechado, não sendo mais concedido aos segurados que estão em regime semiaberto.

Assim, não cabe o referido benefício em caso de o segurado estar cumprindo pena em regime semiaberto e aberto, sendo este último entendido por Castro e Lazzari (2012) como o regime cuja execução da pena esteja sendo realizada em casa de albergado ou outro estabelecimento prisional adequado, e nem se estiver em livramento condicional.

Cabe ressaltar que Castro e Lazzari (2012, p. 694) equiparam à condição de recolhido à prisão o segurado do RGPS “maior de 16 anos e menor de 18 anos de idade que se encontre internado em estabelecimento educacional ou congênere, sob custódia do Juizado da Infância e da Juventude.”

No entendimento de Tavares (2012), o presente benefício não é compatível com a prisão civil por dívida de alimentos, tendo em vista que, como essa decorre do não cumprimento de obrigação alimentar, não teria sentido manter o pagamento de benefício aos dependentes, uma vez que a prisão perderia seu caráter coercitivo. Ademais, poderia até servir de incentivo por parte do segurado para que a obrigação não fosse cumprida.

Quanto ao período de carência, antes da entrada em vigor da medida provisória supracitada não era necessário que o segurado o tivesse, bastando que estivesse recluso e que possuísse qualidade de segurado para que houvesse direito ao benefício. Agora, todavia, exige-se que o segurado recluso comprove, ao menos, 24 meses de carência.

A data de início do benefício se dá a partir do efetivo recolhimento à prisão se for requerido em até 30 dias após esta, ou desde a data de entrada do requerimento, se posterior ao referido prazo.

Do mesmo modo, se o preso se evade do estabelecimento prisional o benefício é automaticamente suspenso. Se, entretanto, o segurado for capturado, ele será restabelecido a contar da data em que a captura ocorrer, desde que o mesmo ainda possua qualidade de segurado. Nesse sentido, entendem Castro e Lazzari (2012) que a qualidade será verificada por intermédio da informação de o preso ter realizado atividade laborativa durante o período de fuga.

A existência deste benefício previdenciário é objeto de críticas diante de alguns doutrinadores, que entendem que a responsabilidade pelas consequências advindas da reclusão não deveria ser da Previdência Social, uma vez que se dá por um ato praticado de forma consciente pelo segurado. Assim,

A cobertura previdenciária do auxílio reclusão pode ser objeto de crítica, tendo em vista que permite o seguro baseado no cometimento de ato atípico, antijurídico e culpável, isto é, a escolha de risco social com déficit ético, em relação a fato que

merece reprimenda social. Não se sustenta aqui que a família pobre do preso não mereça atenção do Estado. Não é isso. É uma obrigação estatal protegê-la, mas o enquadramento correto da proteção social deveria ser feito na assistência social. O auxílio-reclusão, como benefício assistencial que deveria ser, atenderia melhor ao postulado que não permite que passe do preso a aplicação de qualquer sanção penal, mas sem criar a situação constrangedora de o Estado, no Regime Geral da Previdência, permitir o seguro do ato injusto (TAVARES, 2012, p. 189-190).

A crítica realizada pelo autor supracitado é no sentido de que o auxílio-reclusão deveria ser um benefício assistencial, ou seja, uma prestação paga pela assistência social e não pela previdência, como é atualmente. Nesse mesmo viés, a opinião de Martins (2002, p. 405) é:

Eis um benefício que deveria ser extinto, pois não é possível que a pessoa fique presa e ainda a sociedade como um todo tenha de pagar um benefício à família do preso, como se este tivesse falecido. De certa forma, o preso é que deveria pagar por se encontrar nessa condição, principalmente por roubo, furto, tráfico, estupro, homicídio, etc.

Na verdade, vem a ser um benefício de contingência provocada, razão pela qual não deveria ser pago, pois o preso dá causa, com seu ato, em estar nessa condição. Logo, não deveria a Previdência Social ter de pagar tal benefício. Lembre-se que, se o acidente de trabalho é provocado pelo trabalhador, este não faz jus ao benefício. O mesmo deveria ocorrer aqui.

Dessa forma, verifica-se que a crítica feita pelos doutrinadores é de que o benefício de auxílio-reclusão se constitui em um benefício de contingência provocada, ou seja, não se trata de um acidente ou algo que não poderia ser previsto pelo segurado ou seus dependentes, e sim de um fato provocado de forma direta e consciente pelo segurado, que pratica ato ilícito tendo conhecimento de suas consequências.

Quanto à cessação do benefício, essa ocorrerá no momento em que o segurado detido deixa o estabelecimento prisional, ou, no caso de falecimento do mesmo, da data de óbito. Nesse último caso, entretanto, será convertido automaticamente em pensão por morte, sendo que o dependente tem direito a receber 100% do salário-de-benefício (MARTINS, 2002).

É importante destacar, quanto à última colocação do parágrafo anterior, que a conversão do auxílio-reclusão em pensão por morte se dá de forma automática porque, conforme visto anteriormente, os requisitos de concessão de ambos os benefícios são praticamente os mesmos.

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