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JABOTICABAL EM 1920

N

Fonte: Arte feita a partir de Almeida ([198?]).

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Situação sem escala

Matriz 1925 Foto: Gentileza de C. Capalbo

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O estado da igreja matriz durante a década de 1910 não foi diferente da situação deixada por Vaz de Sampaio. Todavia, a estrutura social da cidade mudara com o aumento de capital em circulação e o afluxo de profissionais que exerciam relações próximas aos modelos burgueses, que se reproduziam desde a Europa até espalharem-se pelo interior paulista. Aos poucos, a cidade começava a abrigar uma vida pública em harmonia com os padrões modernos de comportamento, a ditar formas de fruição e uso dos espaços urbanos.

Não é de estranhar, portanto, a quantidade de críticas veiculadas pela imprensa, mesmo já distante o anticlericalismo praticado pelo O Atalaya e algumas vezes ressuscitado pelos textos do jornal O Democrata como nas linhas que seguem selecionadas do artigo “As decisões da Egreja Romana”:

Fatalmente todas as decisões da Egreja de Roma têm sempre um QUÊ de comico e risível, quando sobre ellas se applica um exame da Razão. Ellas ou são dogmas ou nascem delles, e só podem ser aceitas pela fé cega, isto é, a fé ou crença de quem não raciocina, de quem não pensa para crer, de quem não examina para acceitar. Só assim é possível que se creia na infallibilidade do Papa, no sacramento da Eucharistia, ou presença real de Jesus Christo numa hóstia que se transforma nas immundicias do estomago e intestino; no milagre, ou derrogação de immutaveis leis da natureza, como da concepção por obra e graça de Espírito Santo; nos mysterios inextricaveis da Trindade [...]

Quem ler com meditação a decisão da Egreja, a respeito destas indulgencias, logo vê que as graças e favores espirituaes são concedidos pelo papa Pio X, e não por Deus. Ora, só um individuo ignorante, ou em principio de desequillibrio mental, póde crer que um Papa tenha poder para conceder graças e favores espirituais, ou que Deus sanccione decisões desses seres, pecadores como quaesquer outros homens [...] (VELLOSO, 1916, grifos do original).

No contexto local, a oposição travada entre os periódicos tornou o jornal O Combate um aliado dos representantes do clero. O artigo elogioso à palestra “Igreja e Civilização” (PADRE..., 1910), proferida na cidade pelo padre João Gualberto, dá conta de um ajuste de posições. O tom conciliador do discurso advoga o concurso da Igreja para o progresso da sociedade. A situação próxima não evitou a divulgação de críticas na imprensa local, mas esta se centrava em nome de um público, ou de uma vida pública, infalivelmente orientada pelo progresso e pelo desdobramento dos signos materiais deste, na cidade. Assim, a censura justificava-se pela necessidade de plasmar no horizonte urbano os símbolos do desenvolvimento material condizentes a uma cidade produtora da riqueza que alçava o estado de São Paulo à liderança econômica do país.

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Figura 168

Nota do O Combate exaltando a disposição do vigário para construção da nova Matriz Fonte: Nova... (1910)

No artigo “Nova Matriz”, O Combate louva a boa vontade do padre João Carelli em retomar o projeto de reconstruir a igreja matriz de Jaboticabal. A condenação do antigo edifício é incansavelmente repetida nos artigos similares, “é um inesthetico casarão que nem margem offerece a reparos de embellesamento” (NOVA..., 1910).

Em 1913, outro artigo de mesmo título informa que caminham positivamente as negociações para retirada da Praça da República da “Matriz avelhantada e inesthetica que alli se acha desde talvez, que Judas andou pelo mundo e teve sarampo” (NOVA..., 1913a).

Ainda em 1913, próxima a ocasião de lançamento da pedra fundamental, O Combate, reforça que o prédio da Matriz, no centro da Praça da República, impede seu embelezamento (NOVA..., 1913c).

No artigo que informa a estadia na cidade de D. José Marcondes Homem de Mello, arcebispo e bispo da Diocese de São Carlos, O Combate enfatiza a situação, talvez, para engajar o prelado na empreitada que se propunha:

De há muito, o nosso povo vem alimentando o carinhoso desejo de possuir no seu seio um templo sagrado que bem condiga com o seu elevado espirito religioso e seu devotado interesse pelo embellezamento da cidade.

A actual Matriz, avelhantada, inesthetica, colocada no centro da praça da República, em forma de um barracão, roubando a esse logradouro publico as vantagens do seu embellezamento, servindo de mofa, mal apresentando-se às vistas dos que diariamente nos visitam acompanhando os nossos passos na estrada do progresso, não poderia por mais tempo continar naquelle estado desolador, mal aquilatando o sentimento religioso do nosso povo (HOSPEDE..., 1913).

Figura 169

O Combate anuncia que em dois meses o prédio da velha matriz será demolido

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Figura 170

Artigo anuncia para breve a construção do novo templo no terreno feito “presente” pela Câmara Mostra ansiedade para que o velho

“barracão” seja derribado Fonte: A Matriz (1913)

Figura 171

Instiga que a construção da matriz aconteça o mais breve possível Menciona que apesar da separação entre Estado e Igreja o poder público

muito concorreu para o empreendimento. Fonte: Nova... (1913b)

Figura 172

Aproveita a presença do Bispo na cidade para conclamar a necessidade de uma nova igreja

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O prédio da Matriz exaustivamente criticado como sendo um barracão inestético remontava à ocupação do território paulista, principalmente em sua divisa com o estado de Minas Gerais. Enquanto a historiografia tradicional credita esse processo ao declínio da atividade mineradora, outros estudos buscam entender a migração mineira de forma mais dinâmica. Vale (1998) apóia-se em Prado Jr. para evidenciar que a região ao sul de Minas serviu como meio de produção de alimentos para centros mineradores. No século XIX, após a exaustão das minas, esse cinturão produtivo voltou-se para as regiões exteriores que se engajavam na monocultura canavieira e seqüentemente cafeeira. O avanço pela porção norte do estado de São Paulo significaria então a expansão dessa atividade de abastecimento que acabou por gerar um adensamento populacional e a formação de núcleos urbanos nas áreas circunvizinhas ao Rio Grande e seus afluentes, tanto em sua margem norte (Sertão da Farinha Podre — Minas Gerais) quanto ao sul (norte de São Paulo).

Norte do Estado de São Paulo

Figura 173

Igreja Matriz de Jaboticabal Fonte: Em Homenagem... (1913)

Figura 174 Igreja Matriz de Bebedouro

Fonte: Izidoro Filho (1991)

Sul e Oeste de Minas Gerais

Figura 175

Capela N.S.Rosário Araguari Fonte: Vale (1998)

Figura 176 Igreja Matriz de Frutal

193 No que tange à ação construtiva, temos que a influência da mão-de-obra mineira foi determinante no primeiro momento desses assentamentos do norte paulista. As primeiras capelas e matrizes de cidades como Ribeirão Preto, Batatais, Franca, assim como as do maciço esquerdo do Mogi-Guaçu — Araraquara, Jaboticabal, Bebedouro, entre outras —, apresentam as mesmas características construtivas das igrejas erigidas ao sul e a oeste de Minas Gerais. Trata-se de edifícios de uma única nave, ligada à capela-mor pelo arco cruzeiro e sacristia lateral. A concepção arquitetônica, marcada pela homogeneidade das soluções, foge à escala monumental, são composições sóbrias e despojadas, estruturadas em madeira e vedadas com barro. A decoração interna, pautada pela simplicidade de materiais e pelos poucos recursos disponíveis, não esconde o desejo de uma realização artística. A ornamentação concentra-se no altar-mor e o recurso de pintura, certamente mais econômico, substitui o entalhe em madeira (VALE, 1998).

Posteriormente, as cidades regulamentadas por todo um conjunto de posturas acabaram por incorporar os materiais construtivos industrializados em lugar da taipa de mão e outros procedimentos tradicionais de edificação. A situação foi tal, que o edifício mais significativo da cidade, a igreja Matriz, datada de 1857, acabou por destoar na paisagem dos primeiros anos do século XX. Representava, isolado, um período findo, ultrapassado pelo progresso da economia cafeeira, pela dinâmica que acelerava a circulação do capital, pela incorporação do ideal burguês de sociabilidade e pela modernidade entendida pelas administrações republicanas como empreendimentos de modernização, melhoramentos materiais da trama urbana. Estas são características da região e da situação de reconstrução do edifício da Matriz em Jaboticabal, dado de forma similar em outras cidades da atual Diocese de Nossa Senhora do Carmo, desmembrada da Diocese de São Carlos no ano de 1929, conforme exposto no quadro abaixo.

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