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CAPITULO I EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA E TECNOLOGIAS DIGITAIS

3. O Moodle enquanto Ambiente Virtual de Aprendizagem

3.2. AVA/CESAD/UFS: uma customização do Moodle

A Universidade Federal de Sergipe (UFS) segundo Sobral (2010), criou o Centro de Educação Superior a Distância (CESAD) em 2006, trazendo novos desafios e concepções para as práticas educativas em AVA, como também para o processo de aprendizagem na formação de professores no ciberespaço, sendo mais uma instituição a adotar o Moodle para mediação do processo ensino-aprendizagem no modelo semi-presencial adotado. “Hoje predomina em EaD o conceito de aprendizagem flexível, o que envolve além de autonomia do aluno, também novos conceitos de currículo: um aluno não teria necessariamente, que ter o mesmo currículo do colega. É então essencial unir projetos pedagógicos inovadores com a EaD” (VALENTE; MATTAR, 2007, p.66).

O sistema semi-presencial adotado pela UFS, segundo Sobral (2010), tinha como colaboradores os municípios sergipanos, atualmente contando com 14 polos de apoio presencial, dotados de uma pequena estrutura administrativa e pedagógica para a realização de atividades, com a instalação de laboratórios, sobretudo de informática, secretaria e bibliotecas

setoriais, sendo o polo da cidades de São domingos o primeiro a ser inaugurado em 11 de novembro de 2007, no qual “já dimensionávamos as dificuldades que teríamos para instalar o programa, especialmente em relação às condições das infovias no Estado e dificuldade de acesso à internet, exigindo medidas diferenciadas para cada polo. O receio de que os alunos de EaD não tivessem acesso ao AVA fez parte do conjunto dessas dificuldades iniciais” (SOBRAL, 2010, p.40).

Na fase inicial do CESAD, continua Sobral (2010), houve uma descentralização das atividades didático-pedagógicas com a criação da direção e coordenadorias, conforme descrevemos a seguir com as palavras da pesquisadora:

A direção geral e várias coordenadorias: a de mídias, responsável pela produção dos objetos virtuais de aprendizagem; a coordenação de tecnologias, pela instalação, manutenção dos laboratórios de informática; de polos, que fazia a articulação política e pedagógica entre o Centro e os polos; a de tutoria, incumbida de lidar com os tutores a distância e presenciais; a de material impresso, cuja função era a organização e produção dos Cadernos CESAD; coordenação gráfica, que gerenciava o processo de impressão e distribuição do material impresso e a coordenadoria pedagógica, responsável pela organização e oferta dos cursos. Além dessas coordenadorias, o CESAD contava com os coordenadores de curso, ligados a cada um dos Departamentos que oferecia a licenciatura a distância e com uma Assessoria de Comunicação. Faziam parte dessa estrutura didática os professores coordenadores de disciplinas, docentes vinculados aos departamentos da UFS, os tutores presenciais e os tutores a distância. Com essa estrutura administrativa todo o processo de organização e oferta de curso se deu, entre os anos 2006/2007 até quase final de 2008, quando sofreu profunda reforma, pautando-se em uma centralização maior das atividades em poucas coordenações (SOBRAL, 2010, p.41).

Com base na descrição de Sobral (2010), o planejamento do CESAD/UFS estaria tentando se adaptar às novas demandas de formação de professores ofertando cursos de licenciatura em convênio com o programa da UAB, aderindo ao modelo semi-presencial com ênfase inicialmente nos recursos didáticos impressos. Esta ênfase apresenta uma tendência de reproduzir práticas educacionais com base na pedagogia da transmissão, metodologia que desfavorece a tutoria e aprendizagem ativa e dificulta a contextualização da EaD.

Portanto, “a realidade é não apenas observada, mas dividida e construída de maneira distinta por cada indivíduo. Assim os seres humanos constroem também o conhecimento e o aprendizado de uma maneira individual. Somos polos ativos no processo do conhecimento” (VALENTE; MATTAR, 2007, p.66).

Sobral (2010) ao discorrer sobre a forma de ensinar e aprender dos agentes no CESAD/UFS, relata que:

atividades. Quanto tinha dúvidas ou precisava de alguma orientação a respeito do conteúdo buscava auxílio junto aos tutores a distância. Estes eram preparados para auxiliá-los na aprendizagem dos conteúdos de cada disciplina, auxiliando-os na realização de atividades. Os tutores presenciais eram preparados para ajudá-los tanto a acessar e postar as atividades nos polos, como para orientá-los em questões relativas às pesquisas, elaboração de textos e funcionamento do próprio curso. Os tutores a distância eram preparados para auxiliá-los na aprendizagem dos conteúdos de cada disciplina: tirando dúvidas, auxiliando na realização das atividades e aplicando e acompanhando o processo de sua avaliação. Além dos tutores presenciais, o polo contava com um coordenador responsável pelo seu funcionamento e pela comunicação e interação com CESAD/UFS, além de um técnico em informática, se bem que, naquela fase inicial, nem todos os polos estavam equipados, o que só veio a ocorrer posteriormente. Esse fato levava o aluno à busca de alternativas, acessando em lan house da cidade onde residia, na empresa em que trabalhava, ou em espaços apontados pela coordenação do polo (SOBRAL, 2010, p.52).

Apesar de sua pesquisa estar centrada no curso de licenciatura em Matemática, acreditamos que o modus operandi dos sujeitos descritos no relato de Sobral (2010) pode ser estendido para os demais cursos oferecidos pelo CESAD/UFS. No entanto, nossa experiência enquanto tutor a distância nos permite questionar esta prática para a mediação da aprendizagem, que também deve considerar as implicações para a interação entre quatro agentes (aprendiz, professor, tutor a distância e tutor presencial), pois acreditamos que os três destacados em negrito seriam suficientes para conduzir o processo de ensino e de aprendizagem na Educação Online.

Esta forma de operacionalizar a mediação do processo ensino-aprendizagem adotada pelo CESAD/UFS (talvez imposta pela estrutura do programa UAB) a nosso ver, aumenta a complexidade ao incluir mais agentes no processo de interação e sobretudo, deve afetar ainda mais as tensões na mediação do processo ensino-aprendizagem entre os sujeitos que aprendem online.

Estas tensões emergentes no modelo de EaD do CESAD podem ser minimizadas na medida que as práticas de ensinar e de aprender do ensino presencial ainda cristalizadas nas mentes dos sujeitos são preteridas em favor de novas práticas possíveis com as interfaces educacionais presentes no ambiente virtual, pois:

A utilização das TIC como ferramentas fundamentais no processo de mediação entre os alunos e os tutores tem provocado inúmeros desafios, dentre eles, a formação docente, os cuidados com os textos produzidos e postados no AVA, sempre tendo como foco, articulação entre os conteúdos, a didática e os processos de comunicação que fundamentam a aprendizagem e a avaliação. Questões como essas se tornaram momentos singulares de constituição de novos discursos pedagógicos em EaD, particularmente em relação ao ensino da Matemática e na constituição de uma nova cultura de formação docente em AVA. Esse conflito

contínuo e permanente entre a modalidade de ensino a distância e presencial, foi-se arrefecendo aos poucos, na medida em que as particularidades iam se estabelecendo no próprio movimento dos envolvidos, tentando acertar os passos no âmbito desse ensino. As referências presenciais foram de grande valia, porém nem sempre deram conta, especialmente quando o tema era AVA, e todo o processo de mediatização pedagógica através das TIC (SOBRAL, 2010, p.53).

Não obstante, apesar de escolher o Moodle como ambiente virtual para mediação do processo ensino-aprendizagem, o CESAD/UFS parece encontrar dificuldade em manter e consolidar em sua estrutura para a Educação Online, o modelo denominado por Valente e Mattar (2007) de EaD 2.0, (apresentado no Quadro 07) provavelmente pela falta de investimentos específicos em TIC estruturantes, capacitação de tutores, professores e técnicos de TI, fatores importantes para garantir a evolução do ambiente virtual, para alcançar uma efetiva mediação da aprendizagem e contribuir com a motivação dos aprendizes no modelo semi-presencial adotado pela instituição de ensino superior.

Quadro 07. Características evolutivas da EaD

EaD 1.0 EaD 2.0 EaD 3.0

Comunicação Unidirecional Comunicação Bidirecional (Interação+Interatividade)

Comunicação Bidirecional (Interação+Interatividade+Afetivida

de) Material Impresso Sistemas Gerenciadores de Cursos:

Moodle

Sistemas Gerenciadores de Cursos: Sloodle (Second Life + Moodle) Fordismo (Transmissão) Pós-fordismo (Construtivismo) Neofordismo (Construtivismo + Inteligência Artificial)

TIC (Correio + Rádio + Televisão)

TIC (Interfaces Digitais + Objetos de Aprendizagem)

TIC (Interfaces Digitais + Objetos de Aprendizagem + Agentes

Inteligentes)

Web 1.0 Web 2.0 Web 3.0 (Web Semântica)

Fonte: Adaptado de Valente e Mattar (2007)

A partir das características de evolução da EaD apresentadas, o CESAD/UFS provavelmente vai precisar acelerar seus processos de estruturação de “EaD 2.0” ainda incipientes, pois o contexto atual indica uma tendência para a “EaD 3.0”. Segundo Valente e Mattar (2007) esta integra as inovações nos processos de EaD que considera a afetividade, agentes inteligentes e utilizam o Second Life aliado às potencialidades do AVA Moodle, resultando no Sloodle27 que pode responder às necessidades dos designs de interfaces e

instrucional a partir da perspectiva do design de games em AVA.

Apresentaremos a seguir, uma experiência de sucesso na utilização da plataforma Moodle,

pois sabemos que existe a tendência de alguns indivíduos atribuir exclusivamente à tecnologia a responsabilidade por problemas operacionais ou por não alcançar determinados objetivos. Sendo assim, Valente e Mattar (2007) relatam o sucesso da experiência do SENAI/BA na customização do Moodle para um curso de Manutenção em Computadores, com duração de aproximadamente 7 meses (10/2006 a 05/2007) na qual os pesquisadores destacaram que:

A interface do Moodle que eles desenvolveram ficou inacreditável, muito diferente das caras que costumamos observar nos LMS28. O projeto, extremamente criativo,

utilizou videoconferência, programa de televisão (Cai TV) e jogo eletrônico (a turma do Claudinho, desenvolvido em Flash29, com os mesmos personagens do

vídeo). Foi montada uma equipe com programadores PHP30 (para alterar parte do

código fonte do Moodle) e Flash, professores conteudistas, roteiristas, designers, pedagogos monitores e tutores on-line. Dentre as atividades, foi criada uma gincana: os grupos das cidades que acertavam mais ganhavam mais pontos. Enfim, um trabalho muito bem desenvolvido, que utiliza o Moodle como agregador de diversas ferramentas e mídias, apesar do seu custo de produção elevado (VALENTE; MATTAR, 2007, p.56).

Pode-se perceber, no caso descrito pelos pesquisadores, a necessidade de engajamento e competência da equipe multidisciplinar envolvida no projeto dos designs de interfaces e instrucional, integrando jogos, TIC e mídias em interfaces educacionais no ambiente virtual com uma perspectiva de cooperação e colaboração, fato que confirma os custos elevados para proporcionar uma efetiva aprendizagem com maior satisfação dos aprendizes, como também, construir os designs de AVA para aperfeiçoar a usabilidade técnica e pedagógica com ênfase no estilo de aprendizagem dos alunos. Nesta perspectiva, apresentamos no próximo capitulo os elementos teóricos que podem ser traduzidos em potência para a o projeto de ambientes virtuais centrado no aprendiz.

28 Iniciais de para Learning Management System ou Sistema de Gestão da Aprendizagem (SGA).

29 Tecnologia utilizada para criar animações e gráficos vetoriais de propriedade da empresa Macromedia. Amplamente utilizada em aplicações e sistemas para internet (Web).

30 Linguagem de programação de computadores interpretada, livre e muito utilizada para gerar conteúdo dinâmico na World Wide Web. O PHP é uma poderosa linguagem orientada a objetos.

CAPITULO II