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Um projeto não é um fim, é um percurso, pois “projetar” vem do latim projectum que significa “algo lançado à frente”. Bonvalot & Courtis (1984) citados por Ferrito (2010) entendem projeto com “a passagem do desejo á intenção e da intenção ao acto” (p. 36). Foi este percurso de concretização da temática que se tentou demonstrar no capítulo anterior, no entanto, não pode ser dado por terminado sem se proceder á sua avaliação, pois, como defende a mesma autora, a avaliação, nesta metodologia de aprendizagem, não é estanque e decorre em vários momentos, nas várias fases, podendo conduzir á readequação do PF (Ferrito, 2010).

O primeiro local de estágio tinha como objetivo a implementação do cerne do projeto, pois seria o contexto onde poderia contactar com utentes sob ventilação mecânica invasiva em processo de desmame ventilatório. Apesar de ter sido feita uma entrevista preparatória durante a realização do PF, algumas das condições verificadas nessa altura, sofreram alterações que inicialmente me causaram algumas dificuldades. Uma das alterações encontrada estava relacionada com a disponibilidade da EEER que tutorou este estágio para a prestação exclusiva de cuidados de reabilitação aos utentes internados, já que, por questões organizacionais, ela não prestava apenas cuidados de reabilitação, mas era enfermeira responsável pelos cuidados gerais de pelo menos dois utentes da UCI.

Conciliar os cuidados globais ao utente em situação crítica, e os cuidados de reabilitação aos restantes utentes da UCI, não era fácil, pelo que, numa fase inicial prestei cuidados a um menor número de utentes, aproveitando um menor número de aprendizagens dentro das que me pareciam possíveis. Á medida que ganhava destreza na avaliação das necessidades de cuidados e na sua implementação, procurava, autonomamente, mais oportunidades de aprendizagem. A EEER orientadora fomentou sempre este crescimento, supervisionando a intervenção e mostrando disponibilidade para esclarecimento de dúvidas.

Por outro lado, o número de utentes submetidos a ventilação mecânica foi mais reduzido do que estava á espera pelo que tinha indagado na entrevista preparatória. Este fator limitou as oportunidades de implementação de planos de intervenção conforme a pesquisa efetuada, bem como a avaliação dos resultados que possam

advir dessa intervenção. Surgiram-me algumas preocupações referentes ao conteúdo necessário para realização deste relatório e dúvidas acerca da escolha do local de estágio. Na impossibilidade de alterar o local da sua realização, a única solução foi aproveitar todas as oportunidades que o local de estágio poderia provir. Desta forma foi possível contactar com situações clinicas diferentes, alargando o leque de aprendizagens.

A minha postura, aquando do inicio do estágio também terá condicionado a sua implementação. Numa fase inicial, o enfoque da minha atenção era a temática do PF. Os fatores do contexto que já referi, começaram a desmotivar-me, pois surgiam dúvidas sobre como conseguiria operacionalizar o projeto e o relatório sem dados. Só mais tarde percebi que o Estágio foi muito mais que a implementação da temática do PF e que as vivências paralelas a este desenvolveram competências de enfermeira especialista de uma forma que não tinha equacionado.

Em contexto de cuidados comunitários, as dificuldades que advieram do contexto de cuidados, acentuaram-se. Não estava familiarizada com a realidade dos cuidados domiciliários, nem com a relação estreita que se estabelece quando entramos na casa de quem cuidamos. Senti-me frágil, sem recursos e sem apoios, mas consegui reconhecer uma realidade plena de potencial onde a ER pode e deve ganhar terreno, evidenciando o seu papel de capacitação para o autocuidado.

Em ambos os contextos de estágio me pareceu relevante o papel que o EEER pode desenvolver junto das pessoas de quem cuida, mas também junto das organizações em que se integra. No entanto, nem sempre estão reunidas as condições para a sua operacionalização. Será que as competências reconhecidas aos EEER pela OE, são também reconhecidas pelas organizações empregadoras?

Na UCI, a intervenção de reabilitação fica condicionada pela distribuição de recursos de enfermagem. Desta forma, será que ganha ênfase a intervenção dos EEER das Unidades de Reabilitação Respiratória, cujo foco é apenas o cuidado de reabilitação? Ou será que, mesmo limitado aos utentes por quem é responsável, o EEER, pode prestar cuidados de reabilitação de qualidade inseridos no plano de cuidados gerais? Não consegui tirar daqui conclusões, apenas interrogações sobre o futuro.

Em ambos os locais de estágio tive dificuldade em que os profissionais do contexto identificassem temáticas a carecer de exploração para formação interpares, pelo que

as intervenções de formação se direcionaram mais para a educação para a saúde dos utentes. Por vezes, as situações clínicas dos utentes que justificavam a intervenção de reabilitação serviram de mote á construção de documentos complementares á abordagem de reabilitação. Estes foram sempre construídos de forma a serem utilizados com outros utentes, pelo que foram compilados e fornecidos ás equipas dos locais de estádio, promovendo novas formas de intervir em situações semelhantes. Também em ambos os locais encontrei EEER desmotivados pelas as condições de trabalho atuais. Encontrei EEER incorporados na carreira de enfermagem que não vendo progressão, se desmotivam. Encontrei EEER descontentes por não verem reconhecida a sua competência de especialista pela organização, mantendo apenas cuidados generalistas, se desmotivam. Encontrei EEER que gostariam de transferência para outros contextos de trabalho que, na sua impossibilidade, se desmotivam. Encontrei ainda, jovens EEER a quem, não sendo reconhecida a especialidade para efeito de carreira, lhe são solicitadas intervenções do âmbito de especialista, desmotivando-se. Talvez fosse pertinente acionar a investigação em enfermagem e perspetivar o percurso que têm desenvolvido os EEER em Portugal e indagar acerca da sua motivação e perspetivas futuras, tendo em conta a situação profissional e socioeconómica atual.

O facto de o estágio que deu origem a este Relatório, permitir experiências tão diversificadas, no que se refere aos contextos de cuidados e á tipologia de utentes cuidados, enriquece a experiência e reveste este percurso de aprendizagens pessoais e profissionais, que se irão estender ao meu contexto de trabalho, já assimiladas á identidade profissional.

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