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A avaliação em saúde é um procedimento quase tão antigo quanto a própria atividade dos serviços. Já a avaliação sistematizada das práticas e dos serviços de saúde e saúde mental é um procedimento relativamente recente.

Os primeiros estudos no campo da saúde envolvendo avaliação dos serviços de saúde ocorreram por volta de 1910 e foram direcionadas às práticas médicas e ao controle do exercício profissional. Os estudos de avaliação se desenvolveram lentamente, de forma fragmentada, já que não eram considerados como essenciais ao funcionamento dos serviços. A expansão da avaliação dos serviços de saúde ocorreu somente após a Segunda Guerra Mundial, em virtude da necessidade de monitorar a eficácia dos recursos e da tecnologia investidos na área de saúde pelo Estado. É nessa época que se iniciam as auditorias hospitalares com o intuito de avaliar o processo assistencial (Reis et al., 1990; Adami, Maranhão, 1995 ).

Atualmente a busca pela qualidade é de vital importância no mundo globalizado, competitivo e capitalista que vivemos, uma vez que a qualidade dos serviços e produtos é avaliada por meio da satisfação dos usuários, fator fundamental na sobrevivência das organizações. Nos serviços de saúde não é diferente, a qualidade é um elemento diferenciador na prestação de serviços, sendo decisivo o momento em que o usuário recebe a assistência do profissional de saúde, pois este é um dos balizadores para que o usuário defina como percebe e avalia a qualidade do serviço prestado.

A consolidação da avaliação em saúde enquanto objeto de investigação científica, dentro do movimento que estabeleceu as intervenções em saúde como campo científico, teve seu marco inicial na década de 50, do século passado (Nemes, 2001).

Este campo de estudo teve um grande avanço nos anos 60 e 70, do século passado. A avaliação de qualidade dos serviços de saúde se sistematiza, nos anos de 1960, nos Estados Unidos, com finalidade quase exclusivamente econômica nos campos médico sanitário, de desenvolver modos de otimizar o enfrentamento de problemas de saúde, com os recursos científicos disponíveis e os recursos efetivamente utilizáveis (Akerman, Nadanovsky, 1985).

A avaliação dos serviços está estreitamente vinculada ao financiamento, à atribuição de recursos e à garantia da qualidade. A avaliação do funcionamento e a eficácia do sistema de saúde tornaram-se relevantes na obtenção de informações que garantissem a qualidade dos serviços (Reis et al., 1990).

O campo da avaliação em saúde pode ser delimitado em três grandes grupos: a avaliação tecnológica que esta ligada na segurança, efetividade e custo de tecnologias de produto ou de processos, a avaliação de programas que está ligada em conjuntos articulados de atividades voltados para uma população alvo, e a avaliação de qualidade que está ligada em serviços assistenciais de saúde (Nemes, 2001).

Há uma diferenciação entre avaliação e pesquisa avaliativa. Avaliar consiste em fazer um julgamento a respeito de uma intervenção ou sobre qualquer um de seus componentes, tendo como meta o auxílio na tomada de decisões em relação aos serviços. Tal julgamento pode ser resultado da aplicação de critérios e normas, tratando-se de uma avaliação normativa, ou construído com base nos procedimentos científicos, caracterizando uma pesquisa avaliativa (Contandriopoulos, 2006).

A avaliação é um julgamento de valor, em que se parte do bom, do esperado de um serviço ou programa em relação a um contexto cultural e político específico. Esse julgamento de valor não apresenta neutralidade técnica, pois sofre a influência da visão de mundo dos que exercem essa ação. Quando olhamos pesquisas avaliativas de cunho médico, são utilizados indicadores diretos de

qualidade como, por exemplo, taxa de mortalidade ou remissão dos sintomas. (Adami, Maranhão, 1995; Schmidt, 2007).

O julgamento acontecerá a partir da confrontação entre o objeto da avaliação e um referencial que poderá ser os objetivos iniciais do projeto, as normas profissionais, o desempenho de um programa similar ou outros referenciais não explicitadas por diferentes motivos. As normas e critérios a serem utilizados para conferir um julgamento ao final da avaliação serão influenciados pelos grupos que o definem, sejam, usuários, familiares, profissionais ou gerentes, entre outros (Furtado, 2001).

Um dos grandes desafios da estratégia da avaliação é conseguir incorporar os pontos de vista de atores em diferentes posições, com a intenção de proporcionar às instâncias de decisão as informações de que precisam para fazer um julgamento mais amplo possível (Contandriopoulos, 2006).

O sistema de saúde apresenta atualmente alta complexidade, com isso torna-se importante que qualquer decisão deve ser acompanhada de avaliações sistemáticas. Isso inclui um ciclo de planejar, executar, avaliar e agir, no sentido de readequar os conhecimentos em função dos dados produzidos pela avaliação. Isto deve fazer parte da rotina dos serviços (Contandriopoulos, 2006; Silva, 2011).

Segundo esta lógica, é necessário implantar e institucionalizar as avaliações e que ocorram em todos os níveis do sistema de saúde. E que isto se gere uma verdadeira cultura de avaliação na intenção de verificações continuas da qualidade dos serviços (Contandriopoulos, 2006). Esta prática torna-se importante para melhorar os sistemas de atenção à saúde.

A avaliação no campo da saúde é um instrumento adequado para a crítica das práticas em saúde, um caminho que apresenta a realidade da assistência com o que é proposto pela política de saúde. Tal avaliação possui enfoque especifico, é sempre

pragmática e são desenvolvidos em contextos históricos particulares (Furtado, 2001; Nemes, 2001).

Com as mudanças ocorridas com a reforma psiquiátrica, surge a necessidade de serviços extrahospitalares no cenário das novas práticas em saúde mental no país, configurando-se como dispositivo estratégico para a reversão do modelo hospitalar. Tendo como dispositivo primordial o Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) que tem como uma de suas metas a inserção social do doente mental, a mudança deve englobar a relação que se estabelece com o usuário, equipe e família, e entre esses e a comunidade. E devem responder aos diferentes momentos e necessidades do indivíduo.

Por isso, torna-se importante ter um processo avaliativo de CAPS que monitore as ações e acompanhe a construção de um serviço que se proponha a atender a inserção do usuário, com maior resolubilidade, com uma intervenção pautada na diversidade de saberes de uma equipe multiprofissional e na utilização de recursos múltiplos.

Acompanhar esse processo possibilitará uma interpretação de como este serviço está funcionando e realizando com o que é proposto para tal. Este olhar crítico da prática nestes serviços auxiliará em apontamentos de fragilidades e potencialidades, trazendo reflexão para compreensão e transformações dos mesmos.

1.4 QUALIDADE E AVALIAÇÃO DE SERVIÇOS DE SAÚDE: O