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Avaliação da capacidade de resistência à interferência – PASAT:

Avaliação do foco de atenção e/ou velocidade psicomotora Digit Symbol

7.5.5 Avaliação da capacidade de resistência à interferência – PASAT:

CTA≥10 apresentaram maior capacidade de resistência à interferência (12,25 ± 0,87), quando comparados aos operadores AIS≥10, CONTROLE 1 (8,88 ± 1,57, p<0,05*) e aos operadores AIS<10, CONTROLE 2 (8,14 ± 0,74, p<0,05*). Entretanto, em relação aos CTA<10 (13,38 ± 0,44) não houve diferença estatística significativa (p>0,05). CTA<10 apresentaram maior capacidade de resistência à interferência (13,38 ± 0,44), quando comparados aos operadores AIS≥10, CONTROLE 1 (8,88 ± 1,57, p<0,05#) e aos operadores AIS<10, CONTROLE 2 (8,14 ± 0,74, p<0,05#) (Figura 21).

Resistência à interferência - PASAT

8,86 8,88 13,38 12,25 0 2 4 6 8 10 12 14 16 AIS<10, CONTROLE 2 AIS≥10, CONTROLE 1 CTA<10 CTA≥10 Grupos E sc o re s

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Figura 21. Medida da capacidade de resistência à interferência, avaliada pelo teste PASAT em controladores de tráfego aéreos Brasileiros com dez anos ou mais na profissão (CTA≥10, n = 15) e com menos de dez anos na profissão (CTA<10, n = 15), comparados a operadores AIS com dez anos ou mais na profissão (AIS≥10, CONTROLE 1, n = 8 ) e operadores AIS com menos de dez anos na profissão (AIS<10, CONTROLE 2, n = 7). Dados representados como x ± EP no teste t- student, p<0,05* para CTA≥10 e p<0,05# para CTA<10.

8 DISCUSSÃO

Este trabalho constatou que os controladores de tráfego aéreo do centro de controle de área do Recife (ACC Recife), com mais de dez anos na profissão apresentam estresse com predominância de sintomas psicológicos na fase de resistência. Foi observado também aumento de cortisol e redução da taxa de fagocitose de monócitos, do nível de óxido nítrico, de plaquetas, do número total de leucócitos, basófilos e hemoglobina somente em controladores com mais de dez anos na profissão. Encontrou-se ainda maior incidência de ansiedade e a inversão de turnos afetou a qualidade do sono, ocasionando uma redução significativa da latência de sono. Em relação à avaliação cognitiva, observou-se aumento dos níveis de atenção desses profissionais quando comparados aos respectivos controles.

Este resultado, possivelmente, advém de uma soma de fatores que envolvem a vida social, perfil profissional e a interação entre o modelo de administração dessa profissão no Brasil com o modo que esses controladores reagem diante da exposição às suas normas (PAFARO & MARTINO, 2004). Essa reação, por sua vez, depende ainda de variáveis pessoais como personalidade, temperamento e experiências vivenciadas anteriormente que influenciam na interpretação que o profissional, neste caso, controlador de tráfego aéreo, faz dos fatos (GUERRA-RIBAS, 2009).

A evidência da interpretação desses resultados mencionados acima apresenta indicação de bom senso quando faz referências, sobretudo, aos aspectos personalidade e temperamento, à medida que os resultados encontrados não constituem a totalidade de profissionais avaliados, porque se o estresse fosse resultado apenas das características ambientais ou funcionais, certamente, haveria maior número de controladores nesta situação, já que todos executam suas funções nas mesmas condições.

Há trabalhos na literatura que reforçam mais ainda estes fenômenos psicológicos. Souza & Morais (2007), por exemplo, estabelecem que o relacionamento entre as pessoas, a falta de identificação do profissional com o modelo administrativo da instituição em que trabalha e fatores relacionados ao desenvolvimento de carreira, entre outros, são possíveis agentes estressores ou preditores de estresse e as respostas a estes estressores podem ser irritabilidade, raiva, pensar em um só assunto, ansiedade, depressão, insatisfação no trabalho, desinteresse, falta de motivação, vontade súbita de iniciar novos projetos, tensão muscular, entre outros.

Ressalta-se, a propósito, que as reações descritas pelos autores no parágrafo anterior coadunam-se com os indicadores de estresse mais relatados pelos sujeitos que apresentaram sintomas significativos de estresse na atividade de controle de tráfego aéreo, especificamente, neste trabalho (Figura 16).

Romani (2001) acrescenta que conflitos estabelecidos em grandes instituições provenientes de impasses entre as formas de organização do trabalho e as necessidades de bem-estar vislumbradas pelos trabalhadores parece contribuir na instalação de doenças geradas especificamente no âmbito de trabalho.

Parece haver coerência entre os resultados desta pesquisa e o relato advindo do estudo de Romani, sobretudo, porque os sujeitos mais afetados pelo estresse foram pessoas mais experientes na profissão, portanto, menos entusiasmadas com as belezas do cenário e mais voltadas suas necessidades.

Do ponto vista psicológico, parece existir, neste caso, um fenômeno gerado pela dialética entre chefe e subordinado ou patrão e empregado, que se chama clima organizacional (FLEURY & SAMPAIO, 2002).

O clima organizacional reflete as normas, os valores do sistema formal da organização, bem como sua análise traz à tona as disputas internas e externas dos tipos de pessoas que a organização atrai, de seus processos de trabalho, das modalidades de comunicação e do exercício da autoridade na organização, dentre outras variáveis (CHIAVENATO, 1993).

Este clima não é necessariamente percebido da mesma forma por todos os seus membros, em razão das diferenças de personalidades, do tipo de atividade, do cargo exercido, do gênero, das formas de organização do trabalho; perfil da liderança; oportunidades e do tempo de serviço (SOUZA & MORAIS, 2007).

Dessa forma, os conflitos entre o sujeito e sua realidade de trabalho podem desencadear processos de sofrimento e adoecimento. Entre os principais problemas relacionados a estas doenças encontra-se o estresse (Id., 2007), que pode afetar ainda diversos sistemas, tais como: o sistema nervoso e o sistema imunológico (BORGES & DELL’AGLIO, 2008).

O estresse, seja provocado por fatores psicológicos, como fixações em mono- idéias que gerem aborrecimentos e irritações constantes, ou provocado por fatores ambientais, como a exposição a temperaturas extremas, traumas ou infecções, parece suprimir o sistema imunológico (NASCIMENTO et. al., 2004).

Composto por numerosos tipos celulares e mediadores solúveis, agindo sob a influência da regulação neuroendócrina e outros fatores, o sistema imunológico (SI) responde diferentemente a cada estímulo (KIM et. al., 2003). A comunicação entre o sistema nervoso central e o sistema imunológico se dá por meio do eixo hipotálamo- pituitária adrenal (HPA). Os componentes deste eixo são: o núcleo hipotalâmico paraventricular secretor do hormônio liberador de corticotrofina (CRH); a hipófise anterior-secretora do hormônio adrenocorticotrófico (ACTH); e as glândulas adrenais- secretoras de glicocorticóides. Paralelamente ao eixo HPA, está o complexo lócus cerúleos-noradrenalina-sistema nervoso simpático (LC-NA-simpático), ambos agindo de forma reverberante e sinérgica (LIPP, 2003).

O eixo HPA, em situações de estresse, é estimulado no hipotálamo, dentro de limites fisiológicos, pela serotonina (5-HT), acetilcolina (Ach), arginina-vasopressina (AVP) e as citocinas inflamatórias (TNF-a, IL-1 e IL-6) produzidas nos locais onde ocorrem inflamações. A ativação do eixo resulta na produção de CRH e aumenta a secreção de AVP, que contribui com o próprio CRH para ativar a liberação hipofisária de ACTH. Este, por sua vez, estimula a produção de cortisol pelas adrenais (MONTORO et. al., 2009).

A inibição do eixo HPA é provocada pela substância P, pelo ácido g- aminobutírico (GABA), pela proopiomelanocortina (POMC), pelas dinorfinas e as b- endorfinas, mas, sobretudo, pelos produtos de sua própria ativação, ou seja, CRH, ACTH e cortisol. Assim, o eixo HPA promove um sistema autolimitado que o matem ativo somente pelo tempo e intensidade necessários para a resolução do stress (quer físico ou psicológico). A preocupação começa a surgir quando o indivíduo se insere em cenários que gerem constantes reações fisiológicas de estresse, repetidamente e, principalmente, durante anos (O’CONNOR et. al., 2000).

O aumento de cortisol neste trabalho foi observado apenas em CTA≥10 ao término de 7 (sete) horas de trabalho, quando comparados aos CTA<10 e aos operadores AIS≥10 e aos AIS<10.

Este achado demonstra congruência com o resultado encontrado no inventário de stress para adultos de Lipp (ISSL), principalmente, no que diz respeito ao maior percentual de sujeitos com estresse que foi de CTA≥10 e a predominância que foi psicológica. Esta, por sua vez, reforça a idéia de que, neste caso, a maturidade profissional ou a consciência de responsabilidade parece estar relacionada com o estresse psicológico.

A presença do cortisol em longo prazo pode causar desequilíbrio no eixo HPA, como hiperfuncionamento ou hipofuncionamento do eixo HPA ou ainda um desequilíbrio em nível molecular, ou seja, nos próprios receptores para glicocorticóides (TEIXEIRA, 2003).

Quando um desequilíbrio ocorre por um hipofuncionamento significa que o sujeito já está na fase de exaustão e o risco de um aumento patológico aumenta, tanto na intensidade quanto na duração da resposta inflamatória, levando até desenvolver doenças auto-imunes e quando é em nível molecular, pode resultar respostas insuficientes aos glicocorticóides endógenos ou exógenos (corticóides sintéticos como a dexametazona). Esta resistência aos glicocorticóides pode aparecer como um mecanismo adaptativo frente à liberação crônica e alta de cortisol, como ocorre na doença de Cushing ou no Lúpus (LIPP, 2003).

Os sujeitos deste trabalho, entretanto, apresentaram-se na fase de resistência. Este resultado atrelado ao aumento de cortisol parece ser uma forte evidência de que esses sujeitos foram responsivos aos estímulos estressantes da profissão, mas, estando na fase de resistência, significa que há hiperfuncionamento do eixo HPA e conseqüente repressão, mas não necessariamente supressão do sistema imunológico. Neste caso, o risco de se contrair infecções aumenta consideravelmente (TEIXEIRA, 2003).

Diversos tipos celulares (Monócitos, linfócitos, células natural killer e granulócitos) reagem de forma diferenciada aos estímulos estressantes. Os monócitos, por exemplo, em forma de macrófagos, parecem ser sensíveis aos efeitos do estresse por meio dos receptores para glicocorticóides (WOODS et. al., 2000).

A forma que os monócitos agem para debelar a infecção é por meio de fagocitose. Em relação à atividade fagocítica de monócitos, parece haver ainda poucos trabalhos na literatura pesquisando o efeito do estresse em seres humanos. Entretanto, da mesma forma que são testados muitos medicamentos, há estudos, com modelos experimentais de animais, apontando esta relação direta entre o estresse e a taxa de fagocitose de monócitos em forma de macrófagos (NASCIMENTO et. al., 2004; LEANDRO et. al., 2006). Neste trabalho, observou-se baixa taxa de fagocitose de monócitos em CTA≥10 comparados aos CTA<10 e aos controles (AIS≥10 e AIS<10).

Os monócitos, assim como todas as células do sistema imunológico, originam-se de células indiferenciadas presentes na medula óssea. Além de exercerem atividade fagocítica intensa, secretam enzimas, proteínas plasmáticas, prostaglandinas, citocinas e Espécies Reativas de Oxigênio - EROs (superóxido, radical hidroxila, ácido hipoclorito)

e de Nitrogênio (Óxido Nítrico - NO) (PEREIRA, 1996). Neste trabalho, observou-se redução do nível de óxido nítrico em CTA≥10 quando comparados aos CTA<10 e aos controles (AIS≥10 e AIS<10).

O óxido nítrico é uma espécie reativa de nitrogênio importante para debelar patógenos microbiais e células tumorais (HIBBS et. al., 1988; MacMICKING et. al., 1997). Alguns patógenos são extremamente sensíveis a exposição de óxido nítrico produzido por monócitos em forma de macrófagos (NUNOSHIBA et. al., 1993).

Há estudos demonstrando que as funções antimicrobianas e antitumorais de macrófagos/monócitos por meio de óxido nítrico diminuem diante de estímulos indutores de estresse (BARROS et. al., 2009). A diminuição dessas funções tem sido associada a uma maior incidência de infecções e ao alastramento de tumores em animais submetidos a condições de estresse prolongado (HEATH et. al., 1991; KEW et. al., 1999).

Observou-se também redução significativa do nível de hemoglobina e na concentração de hemoglobina corpuscular média (CHCM) em CTA≥10 quando comparados aos CTA<10 e aos controles (AIS≥10 e AIS<10).

A hemoglobina é uma proteína presente nos eritrócitos (hemácias), constituindo aproximadamente 35% de seu peso. É um pigmento presente no sangue responsável por transportar o oxigênio, levando-o dos pulmões aos tecidos de todo o corpo. Além de transportar oxigênio, a hemoglobina também participa do processo de transporte de nutrientes a todas as células do corpo, processo este, no qual o sangue leva os nutrientes e recolhe as substâncias secretadas pelas células, conduzindo-as, posteriormente, para fora do organismo. Para se combinarem com o oxigênio, os eritrócitos precisam contê- lo em quantidade suficiente e isto depende dos níveis de ferro presentes no organismo. A deficiência de ferro no organismo leva a um quadro conhecido como anemia.

Embora este estudo de caso tenha apontado redução de óxido nítrico e hemoglobina em CTA≥10 parece haver necessidade de investigações mais aprofundadas, como por exemplo, dos hábitos alimentares desses profissionais, já que o aspecto nutricional é extremamente relevante no quesito equilíbrio dos níveis da homeostase.

A ingestão, por exemplo, de substâncias antioxidantes, constituídas por ácidos graxos poliinsaturados de cadeia longa, hidrossolúveis, derivadas da dieta, como vitamina E, C, beta caroteno e dos elementos-traços zinco, cobre e selênio possibilita a remoção do excesso de espécies reativas de oxigênio e espécies reativas de nitrogênio,

evitando, assim o estresse oxidativo que afetaria também o sistema imunológico, porque a carência de substâncias antioxidantes permite que os oxidantes inibam a liberação de citocinas pró-inflamatórias (Fator de Necrose Tumoral; interleucina – 1 / 2 / 6 e 8; fatores de crescimento hematopoiéticos, moléculas de adesão celular e Óxido Nítrico Sintase – NOS) (LEITE & SARNI, 2003).

Da mesma forma, os baixos níveis de hemoglobina podem ser alterados por fatores exógenos, como a ingestão de alimentos com baixo teor de ferro.

Observou-se ainda neste trabalho redução significativa do total de leucócitos em CTA≥10 quando comparados aos CTA<10 e aos controles (AIS≥10 e AIS<10).

A linha de defesa imunológica sangüínea é chamada de leucócitos ou glóbulos brancos. O valor total de leucócitos equivale à soma dos cinco tipos de células brancas presentes no hemograma, que são: basófilos, eosinófilos, neutrófilos, linfócitos e monócitos (VULCZAK & MONTEIRO, 2008).

Diversos são os fatores endógenos e exógenos que influenciam na contagem total de leucócitos de animais e humanos: a variação da temperatura, o estresse, a realização de atividades físicas extenuantes, choques elétricos ou até mesmo um banho frio podem provocar modificações (BARRETO-MEDEIROS et. al., 2005).

Há diversos estudos com animais e humanos demonstrando que o estresse reduz a contagem total de leucócitos corroborando nossos achados (DHABHAR et. al., 1994; DHABHAR et. al., 1995).

Em relação à contagem diferencial de leucócitos, observou-se ainda neste trabalho redução significativa do nível de basófilos em CTA≥10 e CTA<10, quando comparados aos controles (AIS≥10 e AIS<10).

Os basófilos possivelmente participam de processos alérgicos, pois contém em suas granulações histamina, heparina, sulfato de condroitina, calicreina, tripsina e quimiotripsina. A resposta dos basófilos traduz-se em dois processos complementares: desgranulação e libertação de histamina; síntese e libertação de derivados do ácido araquidônico (leucotrienios, tromboxanos e prostaglandinas) (SOUZA, 2007). Na vigência de processo asmático, anafiláticos e na urticária, os basófilos liberam histamina, sendo esta histamina liberada, um fator quimiotático para atrair eosinófilos aos focos inflamatórios (CARVALHO, 1999). As alterações dos seus valores podem ajudar a diagnosticar algumas doenças. O número de basófilos estará aumentado (basofilia), quando o paciente apresentar colite ulcerativa, sinusite crônica, nefrose, anemia hemolítica, doença de Hodgking ou pós-esplenectomia, já a basopenia ocorre

nos casos de hipertireoidismo, na gestação, infecção aguda, síndrome de Cushing e em períodos de estresse (SOUZA, 2007).

As plaquetas, neste trabalho, apresentaram redução significativa do ponto de vista estatístico, mas não caracterizada como trombocitopenia (Quantidade de plaquetas no sangue é inferior a 150.000/mm³) em CTA≥10, quando comparados aos CTA<10 e aos controles (AIS≥10 e AIS<10). Entretanto, devido a redução ter sido significativa comparada aos outros grupos, este resultado pode advir da atividade estressante ou talvez, de hábitos alimentares como a ingestão de alimentos com deficiência de ferro, ácido fólico e vitamina B12 ou ainda pelo uso contínuo de sedativos, conforme observado no questionário contido na ficha de identificação deste trabalho. A explicação da redução de plaquetas atrelada ao estresse parece fundamentar-se na própria redução de NO encontrada neste trabalho, já que vários trabalhos demonstraram que a geração de NO é dependente do transporte de L-arginina em plaquetas e células endoteliais (BRUNINI et. al., 2003).

O estresse psicológico surge em decorrência de condições variadas, como as exigências do trabalho, tensões familiares, preocupações financeiras, entre outras, indo além da capacidade pessoal em lidar com estes desafios. Estas condições variadas, se associadas à instabilidade emocional, depressão, falta de concentração, dificuldade de julgamento, queda da imunidade com conseqüências nefastas, podem interferir na vida daqueles que operam os sistemas de controle do tráfego aéreo do nosso País (DELL’ERBA, 1994).

Neste trabalho, observou-se também que controladores de tráfego aéreo (CTA≥10 e CTA<10) apresentaram aumento subjetivo de sonolência expressa na escala numérica de sonolência de Epworth (ESE) e também, numa avaliação objetiva, por meio do teste de manutenção de vigília, maior percentual de latência de sono abaixo de 20 minutos, quando comparados aos operadores de informações aeronáuticas (AIS≥10 e AIS<10).

A sonolência é uma função biológica, definida como uma probabilidade aumentada para dormir. Já a sonolência excessiva (SE) ou hipersonia, refere-se a uma propensão aumentada ao sono com uma compulsão subjetiva para dormir, tirar cochilos involuntários e ataques de sono, sobretudo, quando o sono é inapropriado (BITTENCOURT et. al., 2005).

Há vários estudos desde a década de 90, enfatizando algumas conseqüências da SE e outros impedimentos de julgamento e desempenho relacionados à fadiga, dentre elas, acidentes de automóveis causados por cochilos no volante e grandes desastres como o do Exxon Valdez, Bhopal, Challenger, Chernobyl e Three Mile Island (NCSDR

apud BITTENCOURT et. al., 2005).

Neste trabalho, os resultados encontrados referem-se a SE. Entretanto, é relevante saber que, embora, muitas vezes, coexistam num mesmo sujeito, deve-se distinguir a SE da sonolência presente na fadiga, apatia e de doenças médicas e psiquiátricas, como: esclerose múltipla, lúpus, câncer, infecções, doença de Parkinson, acidentes vasculares cerebrais, síndrome da fadiga crônica, fibromialgia, depressão, entre outras. A fadiga é referida como cansaço e exaustão, que é induzida pelo excesso de atividades, mas pode ser aliviada facilmente pelo repouso. Entretanto, a SE possui, muitas vezes, alívio incompleto com o repouso ou sono e está geralmente associada a distúrbio de sono (BAKSHI, 2003).

Este trabalho corrobora o Manual Estatístico de Diagnóstico de Distúrbios

Mentais - IV (DSM – IV) que refere a profissões de turnos como geradoras de

dificuldades na latência e na qualidade do sono e também a efeitos como deterioração da vigilância e sonolência excessiva (ÅKERSTEDT, 2006).

As principais causas de SE são a privação crônica de sono (sono insuficiente), a Síndrome da Apnéia e Hipopnéia Obstrutiva do Sono (SAHOS), a narcolepsia, a Síndromes das Pernas Inquietas/ Movimentos Periódicos de Membros (SPI/ MPM), Distúrbios do Ritmo Circadiano, uso de drogas e medicações e a hipersonia idiopática (OLEJNICZAK & FISH, 2003).

Nossos resultados corroboram os achados de Åkerstedt (2003) que apresenta vários trabalhos em escalas com turnos alternados, interferindo no sono noturno, causando distúrbios de sono e sonolência. Parece ainda que os hábitos relacionados à higiene de sono, principalmente, não usar óculos escuros ao sair do serviço noturno, dormir de luz acesa, usar estimulantes antes de dormir e usar sedativos para dormir, contribuem mais ainda no processo de SE, conforme os resultados desse trabalho (Fig. 10).

No contexto neuropsiquiátrico de ansiedade e depressão, este trabalho encontrou maior predominância de ansiedade em CTA≥10 (40% apresentaram ansiedade moderada e 13% ansiedade leve) comparado aos demais grupos CTA<10 (7% moderada

e 20% leve), AIS≥10 (não apresentou ansiedade) e os AIS<10 (apenas 29% apresentaram ansiedade leve) e não encontrou diferença estatística significativa entre os grupos quanto ao aspecto depressão.

Estes achados são bastante congruentes com os resultados encontrados neste trabalho relacionado ao estresse (Tabela 2), o que hipoteticamente, já se esperava, tendo em vista que, do ponto de vista psíquico o estresse se traduz na ansiedade. A ansiedade é, assim, uma atitude fisiológica (normal) responsável pela adaptação do organismo às situações de perigo, como: as mudanças acontecidas em nosso desempenho físico quando um cachorro feroz tenta nos atacar, quando fugimos de um incêndio, quando passamos apuros no trânsito, quando tentam nos agredir e assim por diante.

Embora a ansiedade favoreça o desempenho físico e a adaptação. Isto só acontece somente até que o organismo atinja um máximo de eficiência. A partir de um ponto excedente ao invés de contribuir para a adaptação, ocorrerá exatamente o contrário, ou seja, a falência da capacidade adaptativa. Nesse ponto crítico, onde a ansiedade foi tanta que já não favorece a adaptação, ocorre o esgotamento da capacidade adaptativa. É nesse momento que o corpo está pré-disposto às enfermidades.

Os resultados deste trabalho também corroboram os achados de Araújo (2000). Mesmo havendo concordância nos resultados destes trabalhos quanto ao aspecto ansiedade, parece relevante explicitar suas diferenças metodológicas. Enquanto, este estudo mensurou a quantidade de sintomas ansiosos em controladores de tráfego aéreo do ACC Recife por meio do inventário de Beck, Araújo (2000) utilizou como forma de coleta de dados a entrevista e realizou análise de discurso em controladores de tráfego aéreo do APP São Paulo.

Embora os resultados acima se coadunem, seria interessante que, em pesquisas futuras, houvesse uma investigação dos hábitos alimentares na vida social e laboral

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