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Avaliação da Capacidade Funcional dos Idosos

PARTE II – ESTUDO EMPÍRICO

7. Análise dos resultados

7.2 Avaliação da Capacidade Funcional dos Idosos

A noção de funcionalidade, ou capacidade funcional, está diretamente relacionada com a autonomia na execução das tarefas indispensáveis ao dia-a-dia (ABVD e AIVD). Assim, garantir ao idoso, uma capacidade funcional que lhe permita independência nestas actividades, é essencial para se manter no seu meio habitual com qualidade, envelhecendo de forma autónoma e saudável (Novo et al, 2011).

O aumento crescente da população mais idosa desencadeia consequentemente, um aumento de situações de dependência, sobretudo devido à redução da capacidade funcional. Neste sentido, o SAD tem um contributo essencial intervindo ao nível da minimização das situações de incapacidade funcional, que na maioria das vezes são o fator determinante para a institucionalização do idoso.

Em termos de capacidade funcional, os 48 idosos que compõem a amostra evidenciam alguns níveis de dependência, contudo em alguns grupos de atividades de vida diária, os idosos apresentam níveis elevados de independência, muitas das vezes justificados pelo apoio do SAD. Assim, aferindo os níveis de dependência na realização de atividades relacionadas com os “cuidados pessoais”, percebe-se que os idosos desta amostra apresentam alguma dependência nomeadamente em atividades que requerem uma maior capacidade funcional como o “banho” e o “vestir”. Contudo na tarefa banho uma elevada percentagem de idosos (43,8%; N=21) afirmam-se independentes, podendo isto ser explicado por sentimentos de timidez em assumir necessidade de apoio, visto que os idosos são, na sua generalidade, muito reservados quanto à sua intimidade.

No que concerne aos “cuidados domésticos”, verifica-se que a maioria dos idosos não realiza este tipo de tarefas, nomeadamente trabalhos domésticos, tarefas domésticas e tratamento da roupa, apresentando estas tarefas uma média próxima de “3”, ou seja, aproxima-se da dependência total. Este nível de dependência/absentismo na maioria das tarefas relacionadas com os cuidados domésticos, deve-se em muitos dos casos, ao facto de terem apoio do SAD e de familiares na execução destas tarefas. Contudo, em tarefas como a

122 preparação de refeições e arrumação da mesa verifica-se uma menor dependência (µ=2,25 e 1,15, respetivamente), ainda que a reparação da refeição seja feita com menor regularidade e com menos variedade. Esta necessidade de cozinhar, é na maioria das vezes justificada pelo facto de existir ainda um elevado número de SAD que não disponibiliza serviço de refeição 7 dias por semana.

Analisando desta feita, as atividades relacionadas com “trabalho, recreação/lazer”, percebe-se um elevado nível de dependência particularmente no que diz respeito ao “trabalho”, “recreação” e “organizações”, com uma média de 2.77, 2.96 e 2.23 respetivamente, ou seja, muito próxima do nível “3”, o que significa que a maioria dos idosos não trabalha (77,1%; N=37), não participa em atividades recreativas (97,9%; N=47) e não comparece a encontros (39,6%; N=19), ou comparece apenas ocasionalmente (45,8%; N=22). Esta inatividade está certamente relacionada com a média de idades da amostra que ronda os 80 anos de idade e com a menor capacidade funcional, caraterística das idades mais avançadas.

Em termos de “viagens”, verifica-se uma menor dependência na medida em que estas são normalmente pouco frequentes e de curta distância.

Relativamente à “locomoção”, os idosos da amostra, evidenciam também um nível intermédio de dependência, ou seja, as diferentes tarefas que compõem este item apresentam uma média próxima de “3”, designadamente no que diz respeito à utilização de transportes públicos (µ=2,58) e condução de veículos (µ=2,60). Isto significa que a maioria dos idosos não utiliza transportes públicos (81,3%; N=39), nem conduz veículos (81,3%; N=39), referindo dificuldades de mobilidade, receio de quedas e também porque preferem estar em casa do que dar passeios de longas distâncias. Em situações que necessitam efetivamente de sair, os idosos referem ter o apoio da família ou do próprio SAD.

Apesar da média de idades da amostra ser elevada, e de se verificar alguma dependência na realização de determinadas tarefas, existem outros grupos de atividades em que estes se mostram mais autónomos e independentes. Assim, no que diz respeito às “compras e gestão do dinheiro”, os idosos evidenciam-se mais autónomos essencialmente na gestão do dinheiro, que segundo os próprios não é difícil pois auferem baixos rendimentos. Nas compras e administração de finanças (pagamento de contas), os idosos referem ter apoio de terceiros, nomeadamente da família, contudo o facto de a maioria dos idosos (54,2%; N=26) afirmar não fazer compras, não se deve diretamente a níveis de dependência mas ao facto de serem beneficiários do serviço de refeição através do SAD, não

123 necessitando de comprar alimentos (consideradas as compras essenciais) ou por usufruírem de apoio da família nesta tarefa.

No que concerne à interacção com o meio envolvente, os resultados obtidos nas variáveis relativas à comunicação indicam uma maior independência, comparativamente com os restantes grupos de atividades. Assim em termos de capacidade de comunicação, verifica- se uma média inferior a “1” em domínios como utilização de telefone (µ= 0,96), conversas (µ=0,35) e compreensão (µ=0,71), o que significa que a maioria destes idosos utiliza o telefone, comunica e compreende os outros com normalidade. Contudo, uma percentagem considerável de idosos (22,9%; N=11) não utiliza o telefone, alguns destes porque não têm mesmo este aparelho em casa, o que no século XXI é um dado curioso, face ao crescente desenvolvimento tecnológico. Os baixos rendimentos dos idosos, podem também ser um factor justificativo da decisão de não ter telefone. Pontualmente, alguns idosos referem também dificuldade em compreender palavras ou assuntos mais específicos, demonstrando também poucos hábitos de escrita e leitura, podendo esta situação ser explicada pelo baixo nível de escolaridade apresentado, associado à elevada média de idades da amostra.

Em termos de “relações sociais”, conclui-se que a nível familiar estas são normais (média muito próxima de "0" - 0,27), apesar de alguns idosos referirem passar pouco tempo com a família mais próxima (filhos e netos), embora compreendam a sua falta de disponibilidade, muitas vezes relacionada com questões profissionais. A família, apesar das transformações estruturais que tem sofrido, ao longo dos anos, continua a ser o suporte fundamental para os idosos e a principal fonte de manutenção da dignidade destas pessoas. As amizades, são nesta fase da vida, mais distantes, e os encontros entre amigos menos frequentes, como refletem os dados apresentados no estudo, em que 36 dos 48 idosos da amostra (75,0%) afirmam encontrar os amigos com menos frequência. Esta tendência leva a sentimentos de solidão e isolamento caraterísticos da população idosa, os quais o SAD pretende contrariar e/ou minimizar, com uma intervenção próxima e direccionada às necessidades específicas de cada idoso.

Pode então concluir-se, não só com os dados obtidos neste estudo, mas também em estudos realizados por outros autores (Imaginário, 2004, Amaral e Vicente, 2001 cit. in Andrade, 2009), que os grupos etários mais velhos, nomeadamente a partir dos 75 anos, são mais dependentes que os mais jovens. Esta dependência resulta muitas vezes de doenças crónicas, associadas ao fenómeno natural do envelhecimento que diminui a capacidade funcional dos diferentes sistemas do organismo, afetando a realização das tarefas diárias de vida. Contudo, em determinadas atividades, nomeadamente AIVD, verifica-se alguma

124 autonomia na realização destas tarefas, ainda que de forma mais lenta e com menos frequência. Ao estudarem a capacidade funcional dos idosos relativamente a AIVD, Sousa e Figueiredo, (2002) e Franco e Costa (2001 cit. in Andrade, 2009), verificaram que a maioria dos idosos era independente na realização de tarefas domésticas, preparação de refeições, compras, gestão do dinheiro, entre outras.

Comparando o nível de funcionalidade de idosos institucionalizados e não institucionalizados, aferiu-se que existem diferenças ao nível da capacidade funcional de ambos, verificando-se um maior défice de funcionalidade nos idosos institucionalizados (Mincato & Freitas, 2007 cit. in Reis, 2011). Estes dados constatam o exposto na literatura consultada, ou seja, a manutenção do idoso no seu meio habitual de vida, durante o maior tempo possível, fomenta o seu bem estar e autonomia, contribuindo para elevados níveis de capacidade funcional.

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