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Avaliação da constituição e funcionamento dos agrupamentos de tecnologias

No documento PROJETO DE COMUNICAÇÃO DA COMISSÃO (páginas 71-75)

IV. APLICAÇÃO DO ARTIGO 101.º, N.os 1 E 3, FORA DO ÂMBITO DE

4. Agrupamento de tecnologias

4.1. Avaliação da constituição e funcionamento dos agrupamentos de tecnologias

(232) A forma como um agrupamento de tecnologias é criado, organizado e funciona pode

reduzir o risco de que este tenha por objeto ou por efeito a restrição da concorrência e

dá garantias de que é pró-concorrencial. Ao avaliar os eventuais riscos

concorrenciais e ganhos de eficiência, a Comissão deverá, nomeadamente, ter em

conta: a transparência do processo de criação do agrupamento; a seleção e a natureza

das tecnologias agrupadas, incluindo-a participação dos peritos independentes na

criação e no funcionamento do agrupamento; e a existência ou não de salvaguardas

contra o intercâmbio de informações sensíveis, e de mecanismos independentes de

resolução de litígios.

Participação aberta

(233) Quando a participação no processo de criação de uma norma ou de um agrupamento

é aberta a todas as partes interessadas que representam diversos interesses, é mais

provável que as tecnologias integradas no agrupamento sejam selecionadas com base

em considerações de preço/qualidade do que quando o agrupamento é criado por um

conjunto limitado de proprietários de tecnologia. Do mesmo modo, quando as partes

no agrupamento se compõem de pessoas que representam diferentes interesses, é

mais provável que as condições de concessão de licenças, incluindo as royalties,

sejam oferecidas a todos os potenciais licenciados, não discriminatórias e reflitam o

valor da tecnologia licenciada do que quando o agrupamento é controlado apenas por

representantes dos licenciantes.

Seleção e natureza das tecnologias agrupadas

(234) Os riscos dos agrupamentos de tecnologia colocarem problemas a nível da

concorrência, bem como as suas perspetivas de aumentarem os ganhos de eficiência,

dependem em grande medida da relação entre as tecnologias agrupadas e da relação

entre as tecnologias agrupadas e as tecnologias exteriores ao agrupamento. É

conveniente estabelecer duas distinções fundamentais entre a) os complementos

tecnológicos e os substitutos tecnológicos, por um lado, e b) as tecnologias essenciais

e as tecnologias não essenciais, por outro.

(235) Duas tecnologias constituem complementos, mas não substitutos, quando são ambas

são necessárias para fabricar o produto ou realizar o processo a que se aplicam.

Inversamente, duas tecnologias constituem substitutos quando qualquer uma delas

permite ao licenciado fabricar o produto ou realizar o processo a que se aplicam.

(236) Uma tecnologia pode ser essencial para: a) fabricar um determinado produto ou

realizar um determinado processo a que as tecnologias agrupadas digam respeito, ou

b) fabricar esse produto ou realizar esse processo em conformidade com uma norma

que inclua as tecnologias agrupadas. No primeiro caso, uma tecnologia é considerada

essencial por oposição a não-essencial, se não existir qualquer substituto viável,

comercial ou tecnicamente, para esta tecnologia entre as tecnologias agrupadas e

entre as outras e se a tecnologia em questão constituir uma parte necessária do

conjunto das tecnologias agrupadas para fabricar o ou os produtos ou realizar o ou os

processos a que o agrupamento se aplica. No segundo caso, uma tecnologia é

essencial se constituir uma parte necessária (ou seja, quando não existem substitutos

viáveis) das tecnologias agrupadas necessárias para cumprir a norma abrangida pelo

agrupamento (tecnologias essenciais para a norma). As tecnologias essenciais são

também necessariamente complementos.

(237) Quando as tecnologias agrupadas são substitutos, as royalties são provavelmente

mais elevadas, uma vez que a ausência de concorrência entre as tecnologias em

questão não constitui uma vantagem para os licenciados. Quando as tecnologias

agrupadas são complementos, o agrupamento de patentes reduz os custos de

transação e pode dar origem a royalties globalmente mais reduzidas, uma vez que as

partes estão em condições de fixar as royalties comuns para o conjunto das

tecnologias, em vez de fixar cada uma das royalties não tendo em conta a royalty

fixada por terceiros. Para a avaliação de produtos de substituição fora do

agrupamento, ver o ponto (245).

(238) A distinção entre tecnologias complementares e tecnologias substitutas nem sempre é

bem definida em todos os casos, uma vez que as tecnologias podem ser em parte

substitutos e em parte complementos. Quando, devido a ganhos de eficiência que

resultarão da integração de duas tecnologias, os licenciados podem pretender

utilizá-las ambas, as tecnologias são tratadas como complementos, mesmo que sejam

parcialmente substituíveis entre si. Em tais casos, é provável que, na ausência do

agrupamento de tecnologias, os licenciados procurassem obter licenças para as duas

tecnologias devido às vantagens económicas suplementares decorrentes da utilização

de ambas, por oposição à utilização de apenas uma delas.

(239) A inclusão de tecnologias substitutivas no acordo de agrupamento, em geral,

restringe a concorrência intertecnologias, uma vez que pode levar a um agrupamento

coletivo e determinar um acordo de fixação de preços entre concorrentes. De uma

forma geral, a Comissão considera que a inclusão de substitutos significativos em

tecnologias agrupadas constitui uma infração ao artigo 101.º, n.º 1 e que é pouco

provável que as condições enunciadas no artigo 101.º, n.º 3, sejam preenchidas no

caso de agrupamentos que incluem tecnologias substitutas numa medida

significativa. Dado que as tecnologias em questão se podem substituir entre si, a

inclusão de ambas não dá origem a qualquer redução dos custos da operação. Na

ausência do agrupamento, os licenciados não teriam solicitado as duas tecnologias.

Para atenuar as preocupações de concorrência, não basta que as partes continuem a

poder conceder licenças de forma independente. Tal deve-se ao facto de as partes

terem provavelmente poucos incentivos para conceder licenças de forma

independente a fim de não prejudicar os efeitos da atividade de concessão de licenças

do agrupamento, que lhes permite exercer conjuntamente o seu poder de mercado.

Seleção e funções dos peritos independentes

(240) Um outro fator relevante para avaliar os riscos em matéria de concorrência e os

ganhos de eficiência do agrupamento de tecnologias é a participação dos peritos

independentes na criação e no funcionamento do agrupamento. Por exemplo,

determinar se a tecnologia é ou não essencial para uma norma abrangida por um

acordo de agrupamento constitui frequentemente uma questão complexa, que exige

uma experiência específica. O envolvimento de peritos independentes no processo de

seleção pode contribuir de forma significativa para garantir a aplicação efetiva do

compromisso de incluir apenas tecnologias essenciais. Quando a seleção de

tecnologias a incluir no agrupamento é realizada por um perito independente, a

concorrência entre soluções tecnológicas disponíveis também pode ser reforçada.

(241) A Comissão tomará em consideração a forma como os peritos são selecionados, bem

como a natureza exata das suas funções. Os peritos devem ser independentes das

empresas que constituíram o agrupamento. Se os peritos estiverem ligados aos

licenciantes ou de qualquer modo deles dependentes, a sua participação terá menos

peso. Os peritos devem também ter a experiência técnica necessária para

desempenhar as funções que lhes foram confiadas. As funções de peritos

independentes podem envolver, nomeadamente, a apreciação da validade das

tecnologias que se propõe sejam integradas no agrupamento e do seu caráter

essencial ou não.

(242) Por fim, importa considerar qualquer mecanismo de resolução de litígios previsto nos

instrumentos de criação do agrupamento. Quanto mais a resolução de litígios for

confiada a entidades ou a pessoas independentes do agrupamento ou dos seus

membros, mais provável é que a resolução dos litígios se processe de forma neutra.

Salvaguardas contra o intercâmbio de informações sensíveis

(243) Importa igualmente tomar em consideração as disposições relativas ao intercâmbio

de informações sensíveis entre as partes. Em mercados oligopolistas, o intercâmbio

de informações sensíveis, tais como os dados relativos à fixação de preços e à

produção, podem facilitar a colusão

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. Em tais casos, a Comissão tomará em

consideração se foram criadas salvaguardas para garantir que não foram trocadas

quaisquer informações sensíveis. Um perito independente ou a entidade que concede

licenças pode desempenhar um papel importante relativamente a este aspeto,

garantindo que os dados relativos à produção e às vendas, que podem ser necessários

para efeitos de cálculo e de verificação das royalties, não são divulgados a empresas

que estejam em concorrência nos mercados relevantes. Precauções especiais devem

ser tomadas para pôr em prática essas medidas de salvaguarda quando as partes

interessadas participem simultaneamente nos esforços para formação de conjuntos de

normas concorrentes, sempre que tal possa conduzir a intercâmbio de informações

sensíveis entre os agrupamentos concorrentes.

Zona de segurança

(244) A criação e o funcionamento do agrupamento, regra geral, não são abrangidos pelo

âmbito de aplicação do artigo 101.º, n.º 1, independentemente da posição das partes

no mercado se estiverem preenchidas todas as condições seguintes:

(a) Abertura da participação no processo de criação da norma e do agrupamento a

todas as partes interessadas;

(b) Adoção de salvaguardas suficientes para garantir que apenas tecnologias

essenciais (por conseguinte, também necessariamente complementares) são

agrupadas;

(c) Adoção de salvaguardas suficientes para garantir que o intercâmbio de

informações sensíveis é limitado ao necessário para a criação e funcionamento

do agrupamento;

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(d) Concessão de licenças relativas a tecnologias agrupadas numa base

não-exclusiva;

(e) Concessão de licenças relativas a tecnologias agrupadas a todos os licenciados

potenciais em condições leais, razoáveis e não discriminatórias (condições

FRAND);

(f) Faculdade de as partes que contribuem com tecnologia para o agrupamento e

de os licenciados contestarem a validade e o caráter essencial das tecnologias

agrupadas, e

(g) Possibilidade de as partes que contribuem com tecnologia para o agrupamento

e de os licenciados desenvolverem produtos e tecnologias concorrentes.

Fora da zona de segurança

(245) Quando o agrupamento diz respeito a patentes complementares significativas, mas

não essenciais, existe um risco de exclusão da tecnologia de terceiros. Por

conseguinte, quando uma tecnologia é abrangida pelo agrupamento e licenciada

enquanto parte do conjunto das tecnologias agrupadas, os licenciados terão

provavelmente poucos incentivos para adquirir a licença de uma tecnologia

concorrente, uma vez que a royalty paga pelas tecnologias agrupadas abrange já um

substituto. Além disso, a inclusão de tecnologias desnecessárias para fabricar o(s)

produto(s), realizar o(s) processo(s) a que se aplicam as tecnologias agrupadas ou

para respeitar a norma que inclui a tecnologia agrupada obriga igualmente os

licenciados a pagar tecnologias de que provavelmente não têm necessidade. A

inclusão de tecnologia complementar equivale por conseguinte ao agrupamento

coletivo. Quando o agrupamento inclui tecnologias não essenciais, o acordo pode ser

abrangido pelo artigo 101.º, n.º 1, na medida em que o agrupamento tenha uma

posição significativa em qualquer mercado relevante.

(246) Uma vez que podem ser desenvolvidas tecnologias complementares e de substituição

após a criação do agrupamento, a apreciação do caráter essencial é um processo

contínuo. Uma tecnologia pode, por conseguinte, tornar-se não essencial após a

criação do agrupamento devido ao aparecimento de novas tecnologias de terceiros.

Uma forma de garantir que essas tecnologias de terceiros não são excluídas é

suprimir do agrupamento tecnologias que se tornaram não essenciais. Contudo,

podem existir outros meios para garantir que as tecnologias de terceiros não são

excluídas.

(247) Na apreciação de agrupamentos de tecnologias que incluem tecnologias não

essenciais, a Comissão irá, na sua avaliação global, nomeadamente, ter em conta os

seguintes fatores:

(a) Se existem razões pró-concorrenciais para incluir as tecnologias não essenciais

no agrupamento, por exemplo devido aos custos para avaliar se todas as

tecnologias são essenciais, tendo em conta o elevado número de tecnologias;

(b) O facto de os licenciantes manterem a liberdade de conceder licenças

relativamente às tecnologias respetivas de forma independente. Quando o

acordo inclui um número limitado de tecnologias e existem tecnologias de

substituição fora do agrupamento, os licenciados podem desejar constituir o

seu próprio pacote tecnológico composto em parte por tecnologias que fazem

parte do agrupamento e em parte por tecnologias detidas por terceiros;

(c) O facto de, nos casos em que as tecnologias agrupadas têm diferentes

aplicações, algumas das quais não exigem a utilização de todas as tecnologias

agrupadas, o acordo de agrupamento oferecer as tecnologias apenas enquanto

pacote único ou oferecer pacotes separados para aplicações distintas, cada um

deles contendo apenas as tecnologias pertinentes para o pedido em causa. Neste

último caso, as tecnologias não essenciais para um determinado produto ou

processo não estão associadas a tecnologias essenciais;

(d) O facto de as tecnologias agrupadas estarem apenas disponíveis num pacote

único ou de os licenciados poderem obter uma licença para apenas uma parte

do pacote com uma redução correspondente das royalties. A possibilidade de

obter uma licença para apenas parte do pacote pode reduzir o risco de exclusão

do mercado de tecnologias pertencentes a terceiros e que não são abrangidas

pelo agrupamento, em especial se o licenciado obtiver uma redução

correspondente das royalties, o que exige que uma parte das royalties globais

tenha sido afetada a cada uma das tecnologias abrangidas pelo acordo de

agrupamento. Se os acordos de licença celebrados entre o agrupamento e os

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