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Avaliação da educação superior brasileira: conceitos e características

CAPÍTULO 1 AVALIAÇÃO DA EDUCAÇÃO SUPERIROR: EXPANDIR

1.2 Avaliação da educação superior brasileira: conceitos e características

Entende-se que conceituar a avaliação é algo complexo. Ristoff (2003) faz uma análise aprofundada sobre conceitos importantes que foram utilizados a partir da década de 1980. A primeira delas é a apresentada por Joint Committe (1981), que defende a ideia de que “a avaliação é a investigação sistemática do valor e do mérito de um objeto” (p. 53). Em contradição a essa definição, Ristoff (2003) apresenta o conceito de que “o avaliador é antes de tudo um educador cujo sucesso se mede pelo que os outros aprendem. Sendo a avaliação apenas o ato de conduzir um estudo sistemático” (p. 21).

Na concepção de Dias Sobrinho (2003), a avaliação institucional é “um empreendimento sistemático que busca a compreensão global de uma IES, pelo reconhecimento e pela integração de suas diversas dimensões” (p. 27). A definição apresentada por Dias Sobrinho apresenta a ideia de que a avaliação, pelas suas dimensões, não é apenas mais um estudo sistemático, mas um empreendimento, ou seja, algo prestimoso e complexo, algo que necessita de vontade política para que seja realizada. Isso tudo indica é que esses olhares, voltados para as diversas dimensões, serviram de base para a concepção do Sinaes, considerando que o modo de operacionalização da avaliação da educação superior é constituído pela análise de dez dimensões, como apontado na introdução desta pesquisa.

Na definição apresentada por Belloni (1980), “a avaliação institucional é um empreendimento que busca a promoção da tomada de consciência sobre a instituição.” (p. 90). Para a autora, a autoconsciência, o caráter formativo e a participação coletiva em todo processo avaliativo são de suma importância na avaliação institucional.

As definições aqui postas vão de encontro aos princípios estabelecidos no Sinaes. Quando analisada a estrutura dos critérios avaliativos que são utilizados para se avaliar a educação superior, identificamos os seguintes elementos: i) as IES são avaliadas considerando algumas dimensões; ii) existe uma necessidade de conscientização e vontade política para que a autoavaliação ocorra; e iii) a autoavaliação (o conhecer a si) é considerada como uma ação importante à avaliação institucional.

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Segundo Cotta (2001), durante décadas a avaliação no Brasil foi considerada pela comunidade acadêmica como algo duvidoso, pois não se aceitava a legitimidade e validade da avaliação em larga escala. Avaliações educacionais em larga escala são realizadas no Brasil para subsidiar o Estado na formulação de políticas educacionais e instituições de ensino no aprimoramento de práticas pedagógicas e de gestão. Contudo, observam-se dificuldades por parte de gestores e profissionais da educação em compreender os resultados dessas avaliações e utilizá- los para subsidiar a ação educacional. Frequentemente a avaliação é considerada como uma tentativa de controle. É a partir dos anos de 1980 que cresce a preocupação dos organismos internacionais com a questão da qualidade do ensino e a implantação de sistemas de avaliação em larga escala em diversos países latino-americanos. E o Brasil seguiu esse movimento.

No Brasil, anterior aos anos de 1980, houve tentativas de se implantar uma política avaliativa para educação superior, com propósitos variados. Mas foi na necessidade de modernização da gestão pública e na tentativa de se buscar uma maior dinamização e legitimação da função estatal que a avaliação se justificou (DIAS SOBRINHO, 2003). A avaliação é um processo sistemático e contínuo que envolve um esforço coletivo, buscando informações sobre o objeto avaliado e proporcionando melhorias, além de ocasionar alternativas para tomada de decisões, mediante a sua observação e seus resultados. Ainda, destaca-se como de suma importância, o papel da instituição ao avaliar constantemente os discentes e docentes de modo amplo e inclusivo, levando em consideração todos os elementos que permanecem no seu cotidiano; por exemplo, a comunicação, a relação entre os objetos, as mudanças e situações contingenciais.

Quando ela é de forma construtiva, mediadora, participativa, dialógica e democrática, seus resultados são mais favoráveis, uma vez que se considera todos os elementos que compõem a vida universitária. Ela é capaz de avaliar com um olhar diferenciado, agregando melhorias no decorrer dos acontecimentos, gerando informações e condições para novas avaliações, ou seja, avaliação continuada.

De contraponto, tem-se a avaliação controladora, autoritária, reguladora, voltada para os resultados. Ela não permite a participação voluntária do objeto ou, por exemplo, do educando, o que impede a construção do conhecimento de forma contínua. Para uma avaliação assertiva deve se observar todos os processos, seus participantes e os resultados obtidos. Consequentemente, permite-se a comparação das informações e compreensão como um todo. Ademais, é preciso ainda se atentar ao cenário histórico, político, econômico e pedagógico da instituição em questão, grandes fatores que influenciam os resultados de uma avaliação.

Um ponto crucial e altamente relevante é sua caracterização em não premiação e não punição, uma vez que ela tem como foco principal atuar de forma educativa, corrigindo tais ações.

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A premiação nos norteia à indução de resultados e a punição inibe a participação voluntária dos sujeitos. O mais comum nas instituições é a utilização da avaliação como meritocracia através de exames gerais e nacionais, de forma a classificar os sujeitos, remetendo-se ao controle e à comparação de forma classificatória.

Ainda é importante enfatizar que tais resultados servem de apontamentos para com relação à qualidade educacional em âmbito governamental, o que força as instituições a buscar classificações cada vez maiores e se distanciar de uma avaliação formativa.

É necessário que a avaliação passe a ser inserida nas instituições e em sua cultura, devendo atuar de forma integradora, adaptativa, legitimadora, motivadora e simbológica; é importante que ela seja desejada pelo sujeito, ocasionando a autoavaliação, que por sua vez proporciona a participação ativa do mesmo.