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Avaliação da Personalidade: 16PF-5/Questionário Factorial de Personalidade de Cattell

No documento Personalidade, liderança e poder (páginas 58-60)

Diagrama I – Dimensões de Eysenck

A.2. Avaliação da Personalidade: 16PF-5/Questionário Factorial de Personalidade de Cattell

O 16PF-5 é um questionário de personalidade criado por Raymond, Karen e Heather Cattell em

194958, com o objectivo de avaliar 16 traços específicos e cinco dimensões globais da

personalidade (cinco “grandes” traços), incluindo ainda três medidas do estilo de resposta do sujeito. Este instrumento proporciona uma medida de largo espectro da personalidade normal, não constituindo por isso uma forma de avaliar perturbações de personalidade, mas apenas desvios face à norma, no que concerne aos traços e dimensões aferidos (Russel & Karol, 1999). O questionário tem sido aplicado a diferentes contextos da Psicologia (Escolar, Clínica, Orientação Vocacional, Organizacional), mas também à área da investigação, destacando-se a sua aplicabilidade a estudos em que se pretenda estabelecer uma “relação entre traços de personalidade e outras variáveis que caracterizam o comportamento dos indivíduos” (ibidem: 13), tal como acontece com a presente investigação, cujo objectivo passa pela análise da relação entre a estrutura de personalidade do indivíduo e a sua capacidade de liderança. Como vimos no Capítulo II, Cattell criou uma medida de avaliação da Personalidade partindo dos estudos de Allport («pai» da Teoria dos Traços), através da aplicação da análise factorial a uma listagem de 18.000 adjectivos que pretendiam descrever o comportamento humano, de forma a obter um conjunto mais restrito de variáveis que explicassem o conjunto mais vasto (Allport & Odbert, 1936). O conjunto de adjectivos obtidos foi convertido numa série de questões de escolha múltipla, cujas respostas, decorrentes da aplicação sucessiva a diferentes grupos, foi alvo de tratamento com recurso à técnica da análise factorial, obtendo-se assim os 16 factores de primeira ordem ou escalas primárias. Esta metodologia difere da que subjaz à generalidade dos questionários de personalidade existentes, que normalmente partem de itens que traduzem os constructos-base de uma determinada teoria de personalidade ou cuja construção pretende evidenciar as diferenças existentes entre grupos distintos da população (Russell & Karol, 1999).

Vimos igualmente, no Capítulo II, que Cattell distinguiu entre factores de primeira e de segunda ordem, fazendo corresponder aos primeiros os 16 traços primários/básicos e aos factores de segunda ordem as cinco dimensões globais da personalidade. Estas últimas foram obtidas pela análise factorial dos 16 factores primários, resumindo por isso o padrão de inter- relações entre estes e permitindo uma leitura mais genérica da personalidade do sujeito. Conforme já enunciado, o 16 PF-5 apresenta também uma medida dos estilos de resposta dos sujeitos, nomeadamente ao nível da manipulação de imagem (medida da tendência para o sujeito emitir a resposta que considera ser a mais desejável), infrequência (detecção das respostas ao acaso, pela relação entre a resposta dada e a frequência com que essa mesma resposta surge na amostra normativa59) e aquiescência (medida da tendência para o sujeito responder afirmativamente aos diferentes itens, independentemente do seu conteúdo) (Russel & Karol, 1999: 9).

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A versão utilizada neste estudo corresponde à revisão mais recente do instrumento, datada de 1993; o número 5 na designação do questionário deve-se ao facto de esta ser a sua quinta edição.

O Quadro 3.9 enuncia as 16 escalas primárias do 16PF-5 e apresenta uma breve descrição de cada um dos pólos que resultam da interpretação possível dessas escalas; as letras entre parênteses correspondem à designação abreviada de cada uma das escalas:

Quadro 3.9 – Escalas primárias do 16PF-5 e sua interpretação sucinta. Escala/Factor Primário Interpretação

AFABILIDADE (A) Baixa: frio, impessoal, distante e reservado.

Alta: caloroso, afável, generoso e atento aos outros.

RACIOCÍNIO (B) Baixa: de pensamento concreto.

Alta: de pensamento abstracto.

ESTABILIDADE (C) Baixa: reactivo e emocionalmente instável.

Alta: emocionalmente estável, adaptado e maduro.

DOMINÂNCIA (E) Baixa: deferente, cooperante, evita os conflitos.

Alta: dominante, assertivo e competitivo.

ANIMAÇÃO (F) Baixa: sério, reprimido e cuidadoso.

Alta: alegre, espontâneo, activo e entusiasta.

ATENÇÃO ÀS NORMAS (G) Baixa: inconformista, pouco cumpridor e indulgente.

Alta: atento às normas, cumpridor e formal.

ATREVIMENTO (H) Baixa: tímido, temeroso e coibido.

Alta: atrevido/seguro socialmente e empreendedor.

SENSIBILIDADE (I) Baixa: objectivo, nada sentimental e calculista.

Alta: sensível, esteta e sentimental.

VIGILÂNCIA (L) Baixa: confiante, sem suspeitas e adaptável.

Alta: vigilante, desconfiado, céptico e prudente.

ABSTRACÇÃO (M) Baixa: prático, terra-a-terra, realista e pragmático.

Alta: distraído, imaginativo e idealista.

PRIVACIDADE (N) Baixa: aberto, genuíno, simples e natural.

Alta: fechado, calculista e discreto.

APREENSÃO (O) Baixa: seguro, despreocupado e satisfeito.

Alta: apreensivo, inseguro e preocupado.

ABERTURA À MUDANÇA (Q1) Baixa: tradicional e preso ao que lhe é familiar.

Alta: aberto à mudança, experimental e analítico.

AUTO-SUFICIÊNCIA (Q2) Baixa: seguidor, integra-se em grupos.

Alta: auto-suficiente, individualista e solitário.

PERFECCIONISMO (Q3) Baixa: flexível e tolerante com a desordem ou com as faltas.

Alta: perfeccionista, organizado e disciplinado.

TENSÃO (Q4) Baixa: relaxado, calmo e paciente.

Alta: tenso, enérgico, impaciente e intranquilo. Fonte: Adaptado de Russell & Karol, 1999: 10.

A conjugação do resultado do sujeito nas diferentes escalas primárias permite situá-lo no conjunto das cinco dimensões globais que o caracterizam de forma mais genérica. O Quadro 3.10 apresenta a correspondência entre cada dimensão/escala e a interpretação passível de

ser efectuada em função do seu resultado. Abaixo de cada dimensão, pode observar-se a “chave” que concorre para valores mais elevados nessa mesma escala, consoante o sujeito pontua mais ou menos em cada uma das escalas primárias, conforme sinalizado com os indicadores matemáticos “+” e “-“:

Quadro 3.10 – Dimensões globais (“grandes traços”) do 16PF-5 e sua interpretação sucinta. Dimensões

(Escalas associadas)60 Interpretação EXTROVERSÃO

(A+ F+ H+ N- Q2-)

Baixa: introvertido, socialmente inibido. Alta: extrovertido, sociável e participativo.

ANSIEDADE (C- L+ O+ Q4+)

Baixa: imperturbável, pouco ansioso. Alta: perturbável, muito ansioso.

DUREZA (A- I- M- Q1-)

Baixa: receptivo, de mente aberta, intuitivo. Alta: duro, firme, inflexível, frio, objectivo.

INDEPENDÊNCIA (E+ H+ L+ Q1+)

Baixa: submisso, aceita acordos, cede rapidamente. Alta: independente, crítico, aprecia a polémica.

AUTO-CONTROLO

No documento Personalidade, liderança e poder (páginas 58-60)