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2 OBJETIVOS

3.5 AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DA ASSISTÊNCIA À SAÚDE

Os resultados de levantamentos bibliográficos demonstram que sempre existiu a avaliação da qualidade da prática médica e dos serviços de saúde. Com os crescentes custos da atenção médica e o aumento da complexidade da atenção, surge um impulso objetivo para a expansão de trabalhos e pesquisas de avaliação da qualidade e dos custos da atenção médica (FRANCO; CAMPOS, 1998; AZEVEDO, 1991; REIS et al., 1990).

Para Conill (2004), avaliar significa a realização de um julgamento de valor, o que implica o reconhecimento da existência de diferentes olhares sobre uma mesma realidade. Avaliar varia desde um julgamento subjetivo do desenvolvimento de determinada prática social até a chamada pesquisa avaliativa, na qual se recorre a métodos e técnicas possuidores de maior subjetividade. As práticas de saúde, que são sociais, abrangem níveis de complexidade diversos, variando do cuidado individual (relação usuário/profissional) aos sistemas distritais, municipais, estaduais e nacionais de saúde.

A avaliação em saúde pode desdobrar-se em tantas quantas forem as concepções sobre saúde e práticas de saúde. Pode-se avaliar em saúde com o enfoque direcionado ao indivíduo ou direcionado ao sistema de saúde, em que se devem concentrar esforços nos aspectos de acessibilidade, cobertura e eqüidade (SILVA; FORMIGLI, 1994).

No Brasil, avaliações em saúde não é atividade rotineira e, quando realizada, encontra dificuldades metodológicas e operacionais. Apresenta-se em um contexto em que os processos ainda são incipientes, pouco incorporados às práticas e possuem caráter mais prescritivo, burocrático e punitivo que subsidiário do planejamento e da gestão. Além disso, os instrumentos existentes ainda não se

constituem ferramentas de suporte ao processo decisório nem de formação das pessoas nele envolvidas (BRASIL, 2004).

Esta prática, todavia, deve ser estimulada, uma vez que a avaliação “contribui para a compreensão dos impactos porventura existentes, em decorrência das atividades desenvolvidas, permitindo corrigir distorções e alterar o rumo da programação, visando o alcance dos objetivos” (FEKETE, 2006).

O Ministério da Saúde, em seu Programa Nacional de Avaliação de Serviços de Saúde descreve:

A avaliação em saúde tem como pressuposto a avaliação da eficiência, eficácia e efetividade das estruturas, processos e resultados relacionados ao risco, acesso e satisfação dos cidadãos frente aos serviços públicos de saúde na busca da resolubilidade e qualidade. A avaliação é, em especial, parte fundamental no planejamento e na gestão do sistema de saúde. Um sistema de avaliação efetivo deve reordenar a execução das ações e serviços, redimensionando-os de forma a contemplar as necessidades de seu público, dando maior racionalidade ao uso dos recursos” (BRASIL, 2004, p. 3).

Avaliar a qualidade da assistência é um procedimento complexo, pois demanda conhecimentos, por vezes, ainda não disponíveis e que precisam ser desenvolvidos (RATTNER, 1996). Trata-se de “exame sistemático para determinar até que ponto uma entidade é capaz de atender aos requisitos especificados” (BRASIL, 2002a, p.16).

Para a avaliação de qualidade em saúde, o autor mais importante é Avedis Donabedian, cujos trabalhos datam dos anos 60, ganhando importância mundial no final dos anos 80. Desenvolveu um quadro conceitual fundamental para o entendimento da avaliação de qualidade em saúde, a partir dos conceitos de estrutura, processo e resultado, classicamente considerados uma tríade, que corresponde às noções da Teoria Geral de Sistemas (NOVAES, 2000; FRANCO; CAMPOS, 1998; AZEVEDO, 1991).

Segundo Donabedian (1992; 1980), a estrutura relacionar-se-ia com as características estáveis de seus provedores, com os instrumentos e recursos e com as condições físicas e organizacionais, sendo importante para o desenvolvimento dos processos e seus conseqüentes resultados; o processo corresponderia ao conjunto de atividades desenvolvidas na relação entre profissionais e pacientes; e os resultados seriam as mudanças verificadas no estado de saúde dos pacientes que

pudessem ser atribuídas a um cuidado prévio, bem como a satisfação.

O estudo da estrutura avalia, fundamentalmente, as características dos recursos que se empregam na atenção médica e considera os seguintes componentes: medidas que se referem à organização administrativa da atenção médica; descrição das características das instalações, da equipe médica disponível, em relação à sua adequação com as normas vigentes; perfil dos profissionais empregados, seu tipo, preparação e existência (DONABEDIAN apud REIS et al., 1990).

Estrutura corresponde às características mais estáveis da assistência médica ou de saúde: recursos físicos, humanos, materiais e financeiros. Influencia e contribui na qualidade final da assistência, porém numa forma de difícil quantificação. Pode-se falar em termos de tendências: quando a estrutura está mais adequada, a probabilidade de a assistência prestada ser de melhor qualidade aumenta (MALIK; SCHIESARI, 1998).

Pereira apud Kluthcovsky (2005) refere-se à estrutura como todos os atributos materiais e organizacionais, relativamente estáveis aos espaços que se proporciona à atenção à saúde. Determina, em parte, o potencial do sistema.

A avaliação do processo, a qual pode ser dividida na observação da prática e nos estudos baseados nos registros médicos, descreve as atividades do serviço de atenção médica, analisando a competência médica no tratamento dos problemas de saúde e comparando os procedimentos empregados com os estabelecimentos como normas pelos próprios profissionais de saúde (DONABEDIAN, 1978).

O processo abrange todas as atividades desenvolvidas entre os profissionais de saúde e os pacientes, bem como a habilidade que realizam as tarefas. Ou seja, tudo que se relaciona diretamente com o tratamento e no momento em que ele está ocorrendo pode ser considerado como processo (MALIK; SCHIESARI, 1998; DONABEDIAN, 1980).

A avaliação dos resultados descreve a satisfação do usuário e o estado de saúde do indivíduo ou da população como resultado da interação ou não com os serviços de saúde (DONABEDIAN, 1978).

Corroborando com a idéia, Pereira (1995) salienta a identificação da satisfação do usuário e dos níveis de saúde e doença das pessoas da coletividade como as duas principais formas de mensuração de resultados.

mais direto para o exame da qualidade do cuidado. Já os resultados refletiriam os efeitos de todos os insumos do cuidado, servindo como indicador para a avaliação indireta da qualidade, tanto da estrutura quanto do processo. E a importância da estrutura estaria no desenvolvimento dos processos e seus conseqüentes resultados.

Assim, Donabedian (1992) relata que a melhor estratégia para avaliação da qualidade requer a seleção de um conjunto de indicadores representativos das três abordagens e reconhece que a relação causal entre estrutura, processo e resultados é de probabilidade e não de certeza.

Avaliar, portanto, é um passo necessário quando se estabelece a meta de buscar a qualidade na atenção à saúde (FRANCO; CAMPOS, 1998).

Os serviços de saúde devem estar voltados para o usuário, os sistemas devem ser re-orientados nessa perspectiva. Assim, a avaliação de desempenho dos sistemas de saúde é desejável e promissora (VIACAVA et al., 2004).

4 METODOLOGIA