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4. Caracterização da Quinta do Monte Sobral

4.4. Avaliação das disponibilidades hídricas

A exploração é dotada de água proveniente de um furo artesiano (Figura 33) com uma profundidade de 150 m. Após elevação por uma electrobomba, a água fica armazenada num depósito circular (Figura 34), que se situa no ponto mais elevado da exploração. Este depósito apresenta 3 m de altura e de diâmetro, com uma capacidade de armazenamento de 21 m3 de água. A água é depois distribuída às culturas através de 3 válvulas e respectivas condutas.

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4.4.1. Avaliação quantitativa das disponibilidades hídricas

Partindo do princípio que na exploração se cultiva, tomate, meloa, melancia, feijão- verde, pepino, pimento e alface, pretende-se verificar qual a área máxima que se pode regar com o caudal existente. Portanto, a fim de facilitar cálculos, consideramos apenas a cultura do tomate ao ar livre (por ser a cultura mais exigente em água) realizada na exploração, no mês de Agosto (evaporação máxima), no estado de desenvolvimento mais exigente (Kc máximo), com cobertura de plástico e com sistema gota-a-gota.

Portanto, a necessidade em água do tomateiro pede ser determinado mediante a seguinte fórmula:

Etc = Epan × KP × Kc × P

Segundo Rosa (1995), estudos realizados no Centro de Experimentação Horto- Frutícola do Patacão, determinaram valores médios de evaporação numa tina de classe A (Epan), que para a região do Algarve (Faro) em Agosto (evaporação máxima) é de 8,7 mm/dia. Este valor apenas reflecte dados de 4 anos, logo importa ter em atenção que poderá haver anos em que a evaporação seja superior. O coeficiente da tina (Kp) nos mês de Verão em condições algarvias (Faro) apresenta um valor de 0,85.

Como em todo o cultivo é utilizado o sistema gota-a-gota com colocação de plástico preto, isto faz com que exista uma economia em termos da água de rega, o coeficiente de redução de água (p) toma assim um valor de 0,7. Segundo dados tabelados da FAO (referidos por Alen et al., 1998), consideramos um Kc de 1,15, que representa o coeficiente cultura relativo ao desenvolvimento máximo do tomateiro. Perante os dados descritos consegue-se obter o valor da evapotranspiração cultural do tomateiro (ETc), que é de 5,95 l/m2/dia (8,7 mm × 0,85 × 1,15 × 0,7). Através de medição do caudal, verificou-se que a bomba debita um caudal de 2,5 l/s ou 9.000 l/h, ou 216.000 l/dia (24 h). Para aumentar a fiabilidade

70 dos cálculos, assume-se uma margem de segurança de 30% para eventuais oscilações (extracção continua), considerando-se apenas um caudal de 151.200 l/dia (216.000 l × 0,7). Deste modo, constata-se que o caudal permite regar um total de 2,54 ha (151.200/5,95) durante o mês de Agosto, sendo a água extraída em contínuo (24 h). Este valor reflecte alguma margem de segurança, uma vez que algumas das culturas (melão, pepino, etc.) apresentam Kc máximo ligeiramente mais baixos do considerado, e que nem todas as culturas estão efectivamente no desenvolvimento de maior exigência hídrica. Na realidade a água disponível permitirá regar uma área substancialmente superior à área determinada.

Actualmente, nos meses de Julho e Agosto em que as exigências hídricas são maiores a área total regada ronda os 1,15 ha.

4.4.2. Avaliação qualitativa da água de rega

A qualidade da água existente na exploração para o fim de rega é determinada segundo uma análise de água para rega. Após recolha cuidada da água e análise no laboratório químico da Escola Superior Agrária de Elvas, obtiveram-se os resultados expressos no Quadro 24.

Quadro 24 - Resultados da análise de água de rega da Quinta do Monte sobral

Parâmetro Unidade Resultado VMR* VMA**

pH Esc. Sôrens. 6,9 6,5 - 8,4 4,5 - 9,0 Condutividade ds/m 1,5 1 - Cálcio mg/l Ca 129,0 - - Magnésio mg/l Mg 46,0 - - Cloretos mg/l Cl 195,0 70 - Bicarbonatos mg/l HCO3 427,0 - - Sódio mg/l Na 116,0 - - Nitratos mg/l NO3 - 25,0 50 - Boro mg/l B 0,6 0,3 3,75

Razão de adsorção de Sódio 2,2 8

Dureza mg/l 512,0 - -

Fonte: Laboratório químico da Escola Superior Agrária de Elvas *VMR - valor máximo recomendável; **VMA - valor máximo admisível

71 Pela análise do Quadro 24, verifica-se que a água apresenta valores de condutividade, cloretos e boro acima do valor máximo recomendado. A dureza também apresenta um valor considerável. Quanto aos nitratos presentes na água, não oferecem qualquer restrição relativamente ao uso desta água para a rega.

Perante os parâmetros analisados, e segundo a legislação em vigor (Decreto-Lei n.º 236/98, de 1 de Agosto) a água é quimicamente própria para o fim a que se destina (rega).

Como se pode constatar a condutividade da água de rega presente na exploração apresenta um valor acima do valor máximo recomendável, o que demonstra que a água apresenta um teor em sais considerável.

Pelo facto da salinidade influênciar os níveis de produção dependendo da tolerância de cada cultura, parece-me claramente importante verificar a tolerância das culturas e produção potencial para cada cultura realizada na exploração (Quadro 25)

Quadro 25 - Tolerância das culturas e produção potencial influenciada pela salinidade da água de rega

Culturas

Produção potencial

100% 90% 75% 50% 0%

ECw(ds/m) ECw (ds/m) ECw (ds/m) ECw (ds/m) ECw (ds/m)

Alface 0,9 1,4 2,1 3,4 5,9 Brócolo 1,9 2,6 3,7 5,5 8,4 Couve-flor 1,2 1,9 2,9 4,6 8,1 Feijão-verde 0,7 1,0 1,5 2,4 4,2 Melancia (a) 1,7 2,2 2,9 4,2 6,8 Meloa (a) 1,7 2,2 2,9 4,2 6,8 Pepino 1,7 2,2 2,9 4,2 6,8 Pimento 1,0 1,5 2,2 3,4 5,8 Tomate 1,7 2,3 3,4 5,0 8,4

Fonte: Adaptado de Ayers e Westcot, 1985

(a) -Pela inexistência de dados se consideraram-se valores semelhantes ao pepino por pertencerem à mesma família (curcubitáceas)

72 Pela análise do Quadro 25, verifica-se que as culturas de brócolo, melancia, meloa, pepino e tomate não serão afectadas pela salinidade da água de rega uma vez que suportam valores de condutividade (entre 1,7 e 1,9 ds/m) superiores ao valor de condutividade da água de rega (1,5 ds/m), e a cultura de couve-flor apenas será afectada até 10% do potencial produtivo. A cultura de alface e feijão-verde são as culturas realizadas na exploração mais susceptíveis à salinidade, podendo ocorrer redução de produção potencial entre os 10 a 25% na cultura de alface e de 25% na cultura de feijão-verde.

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