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CAPÍTULO 4 AH:: ENTENDI – PODE FALAR QUE EU ESTOU OUVINDO

4.3 Avaliação de aspectos inerentes ao contexto online de aprendizagem de LE

Considerando que o processo de ensino-avaliação-aprendizagem-avaliação analisado nesta tese fez parte de um primeiro momento do Projeto TTB, e a incipiência de pesquisas com foco na aprendizagem e na avaliação de LE em contexto online no Brasil, entendemos ser pertinente analisar os aspectos que seguem com o intuito de oferecer contribuições para melhorias e avanços com vista à aprendizagem, à avaliação e à pesquisa.

Ao responder à questão 8 (Apêndice 4) e 9 (Apêndice 3), “Conte como foi para você o período em que interagiu com sua parceira de teletandem, destacando aspectos que chamaram sua atenção em relação ao contexto online de ensino-avaliação-aprendizagem- avaliação de línguas, negociações para realização das sessões, dentre outros que você considera importantes”, as participantes apontaram problemas e encaminhamentos para as sessões de teletandem.

O primeiro aspecto está diretamente relacionado à questão da tecnologia, conforme registros a seguir.

Foi um período muito interessante. Com dias extremamente felizes e outros nem tanto, pois tivemos que enfrentar vários problemas com a ‘tecnologia’. Mais de uma vez marcamos de nos encontrar e algo aconteceu ou na minha conexão ou na dela que fez com que não conseguíssemos nem falar por texto no Skype. Aquelas vezes, porém, que o computador colaborou tivemos sessões alegres e divertidas. (PB1)

Problema do contexto virtual: problemas técnicos que aconteceram algumas vezes. (PE2)

Ratificada por vários outros momentos em que trouxemos a voz de alunos do laboratório de teletandem da Unesp-Assis neste estudo, a fala das participantes reforçam a importância de se manterem os computadores sempre revisados e uma pessoa da área de tecnologia disponível para ajudar, pelo menos nos laboratórios de teletandem. Outro fato que reforça tal necessidade pode ser constatado pelo número de sessões que conseguimos gravar para a coleta de dados desta pesquisa, sendo que estávamos presente no laboratório de teletandem da UNESP – Assis, onde gravávamos as sessões, ou com a parceira estrangeira, na UEL. Mesmo assim, em vários momentos foi preciso deixar a gravação de lado para que as sessões fossem realizadas, sem comprometer o processo de aprendizagem de LE.

Embora os problemas tecnológicos, muitas vezes, superem o conhecimento e o alcance humano, muitas questões recorrentes poderiam ser minimizadas, tanto na ajuda

presencial com os parceiros brasileiros, como orientando os parceiros estrangeiros a distância. Pensando no ideal, vislumbramos a presença constante de um técnico nos laboratórios de teletandem para auxiliar nos momentos de dificuldades encontradas, além da importância da utilização de aplicativos mais apropriados que permitam boa gravação da tela, conforme apontado por Garcia (2010).

Outra questão que merece nossa atenção é a potencialidade do teletandem em complementar as aulas presencias. Esta possibilidade precisa ser melhor explorada nos contextos que têm procurado colocar seus alunos em contato com estrangeiros para aprimoramento da proficiência em uma LE.

A autonomia do teletandem é o que mais me chama a atenção, devido ao meu problema com o método tradicional. Quer dizer, em sala de aula o aluno aprende toda a estrutura da língua, mas dificilmente põe em prática, o que torna o aprendizado quase nulo. Vejo o teletandem como um complemento dessa atividade em sala de aula, e o contexto virtual não prejudica de nenhuma maneira o ensino-aprendizagem. Ao contrário, o uso da tecnologia dá uma dimensão maior sobre a cultura do país, o que reflete diretamente no aprendizado da língua estrangeira. No que diz respeito às negociações com o parceiro, ou seja, temas, feedback, uso de outros instrumentos, etc, não vejo nenhum problema quando as duas pessoas estão dispostas a aprender e a ensinar. (PB2)

Se pensarmos ainda nos aspectos culturais, tema bastante investigado no contexto presencial de ensino-aprendizadem de LE, pudemos observar o quanto as sessões de teletandem oferecem um contexto real de uso da língua-cultura alvo.

A troca cultural também foi muito rica, pois ambas tinham extremo interesse nas culturas até então desconhecidas. (PB1)

Segundo Garcia (2010),

As práticas de LEs precisam transcender as paredes da sala de aula. Conceitos como globalização, tecnologias e comunicação devem se constituir importantes viezes na aprendizagem de línguas autêntica, no contato com os povos e no intercâmbio cultural, tornando o aprendizado de línguas estrangeiras uma atividade significativa, com uma visão de instrumento de comunicação para a transformação social. É óbvio que a sala de aula não precisa ser abandonada. No entanto, ela pode ser complementada e enriquecida pela telecolaboração, pela autenticidade das oportunidades de comunicação entre os povos que se encontram disponíveis por meio dos recursos de comunicação síncrona e assíncrona online. (GARCIA, 2010, p. 263)

Um terceiro e último ponto a ser discutido é a escolha das parcerias. Como a lista de espera de brasileiros é maior que a de estrangeiros que aguardam um parceiro para começar as

sessões de teletandem, não temos usado como critério o perfil dos parceiros, a não ser o mais geral que é ser aluno universitário. Dentre as parcerias formadas para este estudo, pudemos observar que este critério foi muito bom e a parceria “surpresa” deu certo neste sentido.

Minha parceira foi sempre simpática e paciente em todos os sentidos. Exigia sempre que dividíssemos corretamente o tempo de metade português e metade alemão, o que foi essencial para a minha evolução no aprendizado da língua estrangeira. (PB1)

Atribuímos o êxito ao fato de serem duas jovens universitárias, além da simetria no que diz respeito ao interesse pela aprendizagem da língua-alvo. O fato de ambas as parceiras terem visto a prática de teletandem como uma forma de complementar as aulas presenciais, também pode ter contribuído para o êxito da interação.

Outros requisitos podem aproximar ou afastar os parceiros, como aconteceu no caso da parceria “promessa”, formada para este estudo.

Bom, não tive muito contato com minha parceira, mas o que posso destacar é que gostei de ter uma professora como parceira, a forma como ela me ajudava era muito legal e bem proveitosa. (PB3)

A assimetria em relação à formação entre a estudante de Letras e a professora de inglês, talvez inicialmente problemática, não foi verificada nas informações coletadas. No entanto, a incompatibilidade de agendas, problema que impediu a parceria de avançar, pode ter sido provocada pelas diferentes funções, e suas demandas específicas, que cada parceira desempenha.

Já na parceria “superação”, a assimetria parece ter sido a causadora da desmotivação. Primeiramente, a assimetria em relação ao interesse pela aprendizagem da língua-alvo, como podemos observar no e-mail enviado por PB2 à pesquisadora.

Assunto: Re: De: viviane@uel.br

Data: Ter, Novembro 10, 2009 9:49 pm Para: PB2

--- Oi PB2

Fico muito orgulhosa de estar em contato com uma pessoa tão responsável e sincera como você, acho que essas virtudes são muito importantes na vida pessoal e profissional. No entanto, acho que você tem que se sentir à vontade para tomar sua decisão pensando sempre no seu processo de aprendizagem e de sua parceira de teletandem. A coleta de dados para pesquisa não deve ser o objetivo principal de uma interação e por isso quero que você pense o que é

melhor prá você neste momento e se disser que não vai continuar, eu entenderei perfeitamente.

Aguardo um retorno seu antes de fazer contato com a PE2, ok? Um grande abraço

Viviane

Viviane,

Apesar de termos acordado em falar com a PE2 a respeito da flexibilização de horário, devo dizer que a minha intenção primeira era me desligar da pesquisa em virtude dos meus problemas de saúde. Voltei atrás na minha intenção por achar que não é a atitude mais correta com relação a você/sua pesquisa e com PE2. Quando assumi o compromisso pensei que talvez eu não estivesse preparada para a realização do tandem, no sentido de que o meu francês não estava (e não está) suficientemente bom. No entanto, tendo visto a disposição da PE2 em ajudar na minha aprendizagem, passei a considerar que a sessão era possível, mesmo sabendo de minhas dificuldades. Eu não tenho nenhum problema em admitir que o meu interesse, neste momento, em aprender francês é menor do que o interesse dela em português. No limite, eu tento ser honesta com os meus verdadeiros interesses e com os interesses do outro, neste caso, da minha parceira. Aliás, a minha "ligação" com o Teletandem Brasil se dá justamente para que eu quebre essa "barreira", ou seja, para que eu supere essa minha dificuldade e colha bons frutos se por ventura eu decidir seguir com essa linha de pesquisa.

Espero que nossos próximos contatos ocorram num tom mais harmonioso,

PB2.

E, depois, a assimetria em relação às negociações durante o processo, conforme registrado por PE2 no questionário e por e-mail.

Problemas de compreensão mútua: minha parceira mudou algumas vezes os horários e para mim foi chato: achei e disse que os horários de aulas na universidade não podem mudar então seria melhor não mudar os horários das sessões. Daí a nossa relação arruinou. (PE2)

Assunto: Bonjour De: PE2

Data: Seg, Novembro 30, 2009 11:13 am Para: viviane@uel.br

Prioridade: Normal Opções:

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Oi Viviane, Todo bem?

Eu esqueci a ultima sessão de tamdem e acho que a PB2 também porque ela não me mandou email (antes o depois), eu também não.

Eu penso que perdemos a confiança recíproca e a vontade de seguir juntas. Para este tipo de intercambio precisamos de bastante motivação, e se acontece um problema mesmo menor, o uma incompreensão entre as duas pessoas; não pode dar mais. Isso é meu sentimento: eu não fiz nenhum esforço para “dinamizar” depois do problema que tivemos.

Podemos falar a manha na UEL se você quiser. Um abraço,

PE2

A falta de reciprocidade, implícita na colaboração, foi apontada por PE2 como definitiva para o fim da interação com PB2. Assim como as negociações no contato inicial entre os parceiros de teletandem têm impacto no desenrolar do processo (GARCIA, 2010), as negociações durante o processo também podem ter impacto, positivo ou negativo, sobre a manutenção das interações e por isso precisam ser incorporadas no processo avaliativo. Esse pode ser considerado um exemplo dos aspectos que uma avaliação da interação em um nível macro, para além da conversa, pode contemplar.

4.4 Sintetizando a análise e a discussão dos dados

Tendo como ponto de partida a divisão das fases da sessão de teletandem inicialmente propostas no TTB, conversação, insumo linguístico e avaliação da sessão (TELLES; VASSALLO, 2006), observamos que a própria prática de teletandem tem provocado mudanças na ordem das atividades, de modo que o feedback linguístico-cultural ocorra com mais frequência durante a conversa e não ao término, conforme previsto inicialmente. A presença de momentos de comunicação assíncrona entre os parceiros de teletandem, seja para um feedback mais detalhado, seja para negociação, também revelou a possibilidade de otimizar aprendizagem e avaliação por meio de outros recursos disponíveis na internet, como os serviços de podcasting, que oferecem contribuições para o desenvolvimento da oralidade.

No que diz respeito à construção do texto falado no contexto online, a análise e discussão dos dados apresentadas neste capítulo mostram a importância de inserções parentéticas para esclarecimentos de forma, com ênfase no léxico, e de conteúdo, com ênfase nos aspectos culturais, o que ratifica a importância do feedback durante a conversa. Tanto para o esclarecimento do léxico quanto do conteúdo, os recursos de acesso compartilhado pelos parceiros, disponibilizados principalmente na internet, otimizam a contextualização da aprendizagem de modo que a mesma se torne mais significativa para os envolvidos no processo, além de apontar a potencialidade de serviços de comunicação assíncrona na promoção da interação entre os pares em complemento à conversa potencializada pelos serviços de áudio e videoconferência.

Ainda com foco no feedback, verificamos que os parênteses durante as conversas também servem para contextualizar situações de imprevistos que venham a ocorrer no local físico onde os parceiros de teletandem se encontram. Com isso, os dados analisados apontam para ampliação dos tipos de esclarecimentos que a conversa em contexto online demanda, para além daqueles já observados no contexto presencial para a construção do texto falado.

No que diz respeito à fase de autoavaliação, observamos que há sobreposição com a fase de feedback linguístico, com ênfase na correção de desvios linguísticos ocorridos durante a conversa e pouco espaço para a avaliação do processo interacional e suas implicações para a própria aprendizagem e a do outro.

Seguindo as ideias desenvolvidas neste capítulo, discutimos a autoavaliação e a avaliação por pares como estratégias de aprendizagem de LE e, ao mesmo tempo, de preparação para o contexto de ensino de LE, mais especificamente de PFOL. Os resultados mostram que a prática de avaliação de compreensão e produção oral em LE precisa ser discutida e entendida para que o uso da ficha de acompanhamento de teletandem seja otimizada, servindo como estratégia de ensino e de aprendizagem de LE, além de ser uma forma de registro da presença do aluno no laboratório na sessão programada, sua função primeira quando implementada.

A falta de familiaridade com os conceitos da área de avaliação de proficiência linguística impõe algumas barreiras para a realização de um processo avaliativo informado e diminui a possibilidade de causar impacto positivo sobre a aprendizagem.

Quanto aos critérios de avaliação, observamos que a comunicação síncrona viabilizada pelo Skype aproxima o processo de construção do texto falado no contexto online daquele produzido no contexto presencial, merecendo atenção em alguns aspectos específicos, dentre os quais destacamos a compreensão oral, a fluência e a competência interacional. A análise dos dados desta pesquisa apontou que os parceiros de teletandem recorreram aos recursos verbais para substituir, complementar e/ou ratificar recursos não-verbais com mais frequência na construção do texto falado no contexto online. A inserção de marcadores voltados para o ouvinte com mais frequência pode caracterizar o texto falado no contexto online por falas mais curtas, dependentes da intervenção do interlocutor, o que, por sua vez, pode alterar o fluxo da fala. Assim, o conceito de fluxo natural da fala, encontrado em escalas de avaliação de proficiência oral em contexto presencial, pode sofrer alterações e passar a ter outras características no contexto online de comunicação síncrona. O que é natural no contexto online pode se distanciar do que seja natural no contexto presencial.

Para finalizar o capítulo, analisamos e discutimos três aspectos que merecem atenção em contexto online que objetiva promover a aprendizagem de LE e a pesquisa nesta área, como o TTB. O primeiro deles é o apoio às questões de ordem tecnológica, cujos resultados da coleta e da análise de dados desta tese apontam para a importância de se ter um acompanhamento especializado para minimizar os problemas tecnológicos. Em um segundo momento, apresentamos dados que ratificam resultados de outros estudos no âmbito do TTB que dizem respeito às potencialidades do teletandem como complemento à aprendizagem de LE em contextos presenciais. E, por último, analisamos e discutimos os dados referentes às escolhas das parcerias, o que nos levou a concluir que as negociações durante a interação entre os parceiros para aprender línguas, assim como as negociações durante as conversas iniciais, exercem influências sobre todo o processo e contribuem para o sucesso ou não da parceria de teletandem, necessitando, por isso, serem co-avaliadas.

Com o objetivo de sistematizar os resultados deste estudo, retomamos inicialmente as perguntas de pesquisa neste capítulo para, em seguida, apresentar duas propostas de otimização da aprendizagem e da avaliação de LE no e a partir do teletandem.

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