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QUADRO TEÓRICO

3. INSTRUMENTOS CONCEPTUAIS

3.4. Avaliação de desempenho docente

O conceito de avaliação, tem tido, desde o início do século XX, diferentes definições, associadas, quer à medição dos resultados escolares, aos programas e objectivos de estudo, quer à formulação de juízos de valor, quer ainda aos valores dos diferentes intervenientes no processo avaliativo, contribuindo assim para a construção de uma realidade, influenciada por elementos contextuais variados. (adapt. de Guba e Lincoln, 1989)

A polissemia deste conceito e a expansão da sua acção são consequência de um processo de desenvolvimento, de construção e reconstrução de várias influências, assentando em paradigmas distintos que possibilitam uma visão e leitura próprias do mundo e do real. Assim, o paradigma positivista considera a realidade única, objectiva, tangível e fragmentada em factos passíveis de serem estudados e explicados, encarando a avaliação como algo de neutro, objectivo e imparcial. Já o paradigma construtivista pressupõe a existência de múltiplas realidades, específicas a cada indivíduo, onde se assume a subjectividade e se procura a compreensão e a reconstrução de alguns dos seus sentidos, sendo o avaliador considerado parcial por interagir com o objecto avaliado. (adapt. de Guba e Lincoln, 1994).

Também Nevo (1990) constata a pluralidade de definições de avaliação, organizando-as em três categorias. Na primeira, a avaliação é o processo de determinação da consecução de determinados objectivos; na segunda a avaliação caracteriza-se por funções descritivas e não judicativas, onde o acto de avaliar consiste em recolher e examinar informação; na terceira categoria defendida por este autor a avaliação é caracterizada pela sua natureza judicativa: estamos, deste modo perante a avaliação do mérito (value) ou do valor (worth).

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O conceito de avaliação foi retomado pelo Joint Committee on Standards for Educacional Evaluation,1

“ a avaliação sistemática do desempenho do professor e/ou das qualificações relacionadas com a precisa função profissional do professor e a missão da área escolar”

que concebe a avaliação de professores como:

(Joint Committee, 1988,p. 23)

Baseando-se nesta linha de pensamento, Nevo (1995) associa na definição deste conceito a descrição e o julgamento, contemplando, não só as competências e os desempenhos, mas também a eficácia. Para este autor a avaliação de professores é: “ o processo de descrever e julgar o mérito e o valor dos professores, tendo por base o seu conhecimento, competências, comportamentos e os resultados do seu ensino” (Nevo, 1995,p. 135)

O conceito de avaliação também pode ser analisado quanto à proximidade ou distanciamento do avaliador com o objecto avaliado. Assim, consideraremos a avaliação interna - a que é feita por membros da equipa pertencentes à organização objecto de estudo, neste estudo concreto a avaliação interna é da responsabilidade da escola e dos professores; e a avaliação externa -aquela que é conduzida por um avaliador que não pertence à organização que está a ser estudada, ou seja de uma entidade exterior à escola.

Existem sempre vantagens e inconvenientes relacionadas com qualquer um destes tipos de avaliação. Se, por um lado, o avaliador interno é mais conhecedor do objecto avaliado (porque mais próximo) por outro lado, essa proximidade e familiaridade põem em causa a objectividade da avaliação.

Se nos debruçarmos sobre os conceitos de avaliação formativa e sumativa, constatamos que a primeira é utilizada para melhorar um objecto, principalmente durante o tempo que decorre o processo; a segunda diz respeito à avaliação concebida para apresentar conclusões sobre o mérito ou sobre o valor de um objecto e sobre as recomendações acerca do que deve ser mantido, alterado ou mesmo eliminado. (adapt. do Joint Committee, 1994)

1 O Joint Committee on Standards for Educational Evaluation consiste numa aliança entre as principais

associações profissionais preocupadas com a qualidade da avaliação. Está sedeado no Centro de Avaliação da Universidade de Michigan e é acreditado pelo Instituto dos Padrões Nacionais Americanos(American National Standards Institut- ANSI).

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Também para Worthen et al (1997) a avaliação pode assumir quatro funções distintas: avaliação interna, avaliação externa, avaliação formativa e avaliação sumativa. A maior parte das vezes, a avaliação formativa está intimamente ligada à avaliação interna, visto ser frequentemente conduzida por um avaliador interno e onde a eventual falta de objectividade não constitui problema; a avaliação sumativa está estritamente ligada à avaliação externa e é conduzida por avaliadores externos de modo a garantir alguma credibilidade. ( in Cristelo, 2006, p. 18)

Contudo, a pluralidade de pontos de vista acerca desta matéria, a falta de consenso e a ambiguidade da definição do próprio objecto da avaliação, dificulta a clarificação deste conceito e o desenvolvimento e impacto da avaliação de professores.

Para Hadji,

“ a dificuldade de avaliar os professores deriva muito mais da incerteza que sobreleva a própria essência do ensino e da ausência de consensos a esse respeito, do que de problemas técnicos, sempre subalternos, para não dizer secundário. (…) O objecto da avaliação dos professores é difícil de estabelecer, porque difícil de definir” ( Hadji, 1995,p.32).

O conceito de avaliação não se pode dissociar do objecto a que se refere e a diversidade de concepções acerca da natureza do trabalho do professor implica distintos objectos a avaliar e valida enfoques diferenciados. Pode-se avaliar:

. a qualidade do professor – a competência do professor (teacher competency) . a qualidade do ensino – o desempenho do professor ( teacher performance) . o professor e o seu ensino, tendo com referência os resultados dos alunos – a eficácia do professor ( teacher effectiveness)

O desempenho do professor pode, pois, avaliar-se tendo em conta o seu comportamento, em contexto de trabalho, bem como a sua capacidade de pôr em prática as suas competências em proveito dos ganhos da aprendizagem dos alunos.

Um dos objectivos capitais da avaliação deverá ser a promoção da melhoria do ensino, tentando encontrar um design que garanta que as actividades desenvolvidas pelo professor são analisadas de forma ética e de acordo com o seu desenvolvimento profissional.

Neste estudo concreto, e dada a dificuldade consentânea que ladeia esta questão, considerou-se pertinente a utilização deste conceito, uma vez que tem como objectivo

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apurar as representações que os professores têm acerca da avaliação e o modo como estas estão associadas ao seu desempenho dentro da organização.