A avaliação da confiabilidade de um sistema de potência pode ser realizada em dois domínios: adequação e segurança. A forma como é feita a avaliação do desempenho do sis tema depende do domínio abordado.
A adequação do sistema é definida como a habilidade do sistema em suprir sua carga levando em consideração restrições e desligamentos programados e não-programados dos recursos de geração e transmissão [23]. Portanto, a avaliação da adequação do sistema é es sencialmente uma análise em regime permanente pós-falta.
A segurança do sistema, por sua vez, é definida como a habilidade do sistema de po tência em suportar perturbações advindas de faltas ou remoções não-programadas dos equipamentos do sistema de potência [32]. Uma avaliação da segurança dinâmica conside ra as condições pré-falta e o desempenho transitório do sistema pós-falta. Neste caso, a avaliação do desempenho deve utilizar modelos no domínio do tempo [33], como estudos de estabilidade transitória.
Como este trabalho não considera avaliações de segurança dinâmica, a avaliação de desempenho realizada consiste, apenas, em análises de regime permanente pós-falta. A fer ramenta básica para esse tipo de análise é o estudo de fluxo de potência [1]. Se, como re sultado da análise anterior, forem detectadas violações operativas, medidas corretivas pre cisam ser acionadas e um problema de otimização precisa ser solucionado para determinar mudanças nos controles e ajustar o ponto de operação do sistema de potência minimizando uma função objetivo. Isso é feito através de estudos de fluxo de potência ótimo. Em linhas gerais, a avaliação do desempenho é feita da forma mostrada na Figura 2.9, onde cada eta pa é explicada abaixo:
● Configuração da contingência: realiza a contingência tirando de operação os
elementos (unidades geradores ou linhas de transmissão) selecionados no passo an terior da análise de confiabilidade;
● Análise da contingência: realiza um estudo de fluxo de potência, como deta
lhado na seção 2.3.1;
● Monitoração: verifica o ponto de operação do sistema, observando se existem
violações dos limites operativos de tensões e geração reativa nas barras de geração e fluxos nas linhas de transmissão
● Medidas corretivas: realiza um estudo de fluxo de potência ótimo, como de
Figura 2.9: Algoritmo da Análise de Contingência
2.3.1 Análise do Sistema em Contingência
O objetivo da análise de contingências é determinar se o sistema elétrico, quando submetido a determinada contingência, é capaz de atender à demanda sem violar restrições operativas. Como já foi mencionado, a ferramenta básica para esse tipo de análise é o estu do de fluxo de potência.
O problema do fluxo de potência ou fluxo de carga consiste na solução de regime permanente de uma rede elétrica para uma dada condição de geração e carga [34]. Essa condição de carga e geração é caracterizada pela definição da carga ativa e reativa em to dos os nós ou barras da rede e correspondentes valores de geração ativa e reativa naqueles nós onde estão disponíveis equipamentos geradores com exceção de, no mínimo, um ao qual são alocadas as perdas na transmissão. Limites na capacidade de componentes do sis tema e no valor de algumas variáveis são também representados, assim como certos dispo sitivos de controle dos fluxos de potência ativa e reativa do sistema.
Para a solução do problema de fluxo de potência, existem vários métodos, dentre os quais podem ser destacados o método de Gauss-Seidel, o método de Newton-Raphson, o
Configure a contingência Analise a contingência Monitore as violações Há violações operativas? Aplique medidas corretivas Fim não sim
método desacoplado rápido e o método linearizado. Neste trabalho, foi considerado o mé todo de Newton-Raphson para solução do problema não-linear em coordenadas polares, brevemente descrito a seguir.
O problema de fluxo de potência não-linear é formulado como um sistema de equa ções algébricas não-lineares, que correspondem às primeira e segunda leis de Kirchhoff [34]. No método de Newton-Raphson, o sistema de equações a ser resolvido é dado por (2.10).
{
Pk=Pkesp− gpk , V =0 , k ∈PQ∪PV
Qk=Qkesp−gqk , V =0 , k ∈PQ
}
(2.10)
Que é resolvido pelo processo iterativo de solução do sistema linearizado (2.11), a cada iteração i, seguido da atualização dos valores dos módulos e ângulos das tensões nas barras através da equação (2.12). Quando os resíduos de potência são suficientemente bai xos, o processo é encerrado.
[
Pi Qi]
=[
∂ gpki, Vi ∂ ∂ gpki, Vi ∂V ∂ gqk i, Vi ∂ ∂ gqk i, Vi ∂V][
i Vi]
(2.11)[
i1 Vi1]
=[
i Vi]
[
i1 Vi1]
(2.12) ondek índice das barras do sistema
i iteração atual do processo de solução Pk resíduo de potência ativa na barra k Qk resíduo de potência reativa na barra k
Pk potência ativa líquida injetada na barra k
Qk potência reativa líquida injetada na barra k
gpk função para cálculo da injeção de potência ativa na barra k
vetor dos ângulos de fase das tensões nas barras V vetor dos módulos das tensões nas barras PQ conjunto das barras de carga
PV conjunto das barras de geração ou nas quais existe algum dispositivo de controle de tensão
2.3.2 Medidas Corretivas
Se, como resultado da análise da contingência, forem detectadas violações operati vas, um problema de otimização precisa ser solucionado para determinar mudanças no ponto de operação do sistema. Essas mudanças consistem em atuações nos controles, tais como redespacho de potência ativa e reativa, alteração das tensões dos geradores e taps dos transformadores etc. Se, ainda assim, um ponto de operação sem violações não for atingi do, o programa de otimização deve calcular o valor do corte de carga mínimo capaz de re conduzir o sistema a uma condição aceitável. Na avaliação tradicional de confiabilidade, apenas os estados em que há corte de carga são considerados no cálculo dos índices de confiabilidade.
No presente trabalho, considerou-se a solução do problema de fluxo de potência óti mo não linear pelo método de pontos interiores [35]. O enunciado desse problema é dado pela equação (2.13). min z fz s.a. gz=0 lzu (2.13) onde
z vetor contendo as variáveis de estado e de controle do sistema (módulo e ângulo das tensões nas barras, geração ativa e reativa injetada, etc.)
g z=0 restrições de igualdade (basicamente, as mesmas equações do fluxo de potência como mostrado anteriormente)
l e u limites inferior e superior das variáveis de estado
f z função objetivo a ser minimizada. Neste trabalho considerou-se o mínimo corte de carga.
Fugiria ao escopo deste trabalho detalhar o método dos pontos interiores primal-dual com barreira logarítmica que é descrito na referência [35].