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Pode-se considerar na literatura, quatro tipos usuais de abordagem: normativista, descritivista, prescritivista e construtivista, sendo que as duas primeiras por suas similitudes foram denominadas por Roy (1993) como realistas. (ROY, 1993; KEENEY, 1996; DIAS; TSOUKIÀS, 2003; ENSSLIN et al., 2017).

Os modelos de tomada de decisão geralmente se utilizam de metodologias de abordagem normativista ou descritivista, com denominação realista. Em contrapartida, os modelos de apoio à decisão se utilizam de abordagem prescritivista ou construtivista (ROY, 1993).

A abordagem normativista se baseia no racionalismo. Nela, o pesquisador é quem seleciona o modelo. A literatura disponível sobre o tema e/ou os conhecimentos de especialistas são utilizadas para definir suas variáveis. O tomador de decisão, em função das soluções ótimas geradas pelo modelo, é levado a sentir-se na obrigação de aceitar os resultados gerados e pôr

em operação o modelo. Em situação contrária, além de poder ser tido como ilógico, o tomador de decisão pode ser questionado em suas decisões (TASCA, 2013).

Do mesmo modo, a abordagem descritivista também se baseia no racionalismo, embora procure as variáveis para construção do modelo no contexto físico a ser avaliado. Ao tomador de decisão não existe a imposição de participar da definição das variáveis, ainda que possa fazê- lo. Mas do mesmo modo, bem como na abordagem normativista, se põe na incumbência de aceitar tanto o modelo como seus resultados (TASCA, 2013).

Destaca-se que um pressuposto essencial dentro do paradigma racionalista (normativista e descritivista) concerne à condição de que os decisores sejam racionais. Geralmente chama-se de analista o praticante deste paradigma, que procura ter a decisão mais “neutra” possível. Assim, depreende-se que os tomadores de decisão dispõem de igual nível e tipo de conhecimento, tem o mesmo raciocínio lógico, possuem percepção das mesmas informações e procuram alcançar os mesmos objetivos racionais, os quais abrangem minimização de custos e maximização de resultados (ENSSLIN; MONTIBELLER; NORONHA, 2001). Em outras palavras, omite-se o caráter único e individual de cada ser humano. Este paradigma respalda-se em modelos de avaliação de desempenho realistas presentes na literatura, suscetíveis de serem generalizados, cujos propósitos seriam ‘soluções ótimas’ (LACERDA et al., 2014), e, cujas variáveis são determinadas segundo a literatura já existente, e de conhecimento de especialistas (ENSSLIN et al., 2010).

O objetivo da abordagem prescritivista visa identificação dos valores e preferências do tomador de decisão para construir o modelo, partindo do discurso desse ator e utilizando lógicas dedutivas. O componente indispensável a ser apreciado é a percepção do tomador de decisão sobre o contexto físico. Assim as soluções prescritas devem ser acolhidas pelos atores, em função da construção do modelo evidenciar o sistema de valores e preferências do tomador de decisão a partir da sua manifestação oral, contrastando aos modelos racionalistas (LACERDA, 2012).

Do mesmo modo que a abordagem prescritivista, identifica-se pela abordagem construtivista, que o modelo de decisão deve emergir com base no discurso do tomador de decisão (MONTIBELLER et al., 2007; TASCA, 2013). Compreende-se que cada tomador de decisão tem a percepção de uma situação do seu próprio modo, baseado em seus valores, crenças, objetivos e visão de mundo. Um dos pressupostos elementares do construtivismo, portanto, é que as pessoas constroem representações mentais de forma continuada partindo de sua percepção da realidade (LANDRY, 1995). Assim neste cenário, temos que cada tomador

de decisão constrói seu respectivo problema (ENSSLIN; MONTIBELLER; NORONHA, 2001, p. 24).

No construtivismo, a figura do facilitador reconhece que o tomador de decisão não tem pleno conhecimento em relação ao seu problema, necessitando então de suporte para construção deste entendimento. É neste aspecto que reside a diferença principal do construtivismo para o prescritivismo. Assim durante o processo de construção do modelo o conhecimento é construído no tomador de decisão (TASCA, 2013), permitindo a ele compreender as eventuais consequências de suas decisões, em seus valores, preferências, preocupações e motivações e assim agir proativamente para identificar oportunidades para aperfeiçoar.

Crenças pessoais, preconceitos, valores e objetivos distintos caracterizam cada indivíduo. Isto é reconhecido pelo paradigma construtivista, que também leva em conta os aspectos subjetivos do tomador de decisão (ENSSLIN; MONTIBELLER; NORONHA, 2001). Igualmente, leva em consideração as percepções de outros atores, que influenciam no ambiente decisional, uma vez que geram ou sofrem influência pelas atitudes do decisor (LANDRY, 1995).

Por conseguinte, o modelo construído com base no paradigma construtivista para apoio à decisão é considerado próprio para aquele contexto físico e tomador de decisão abrangidos. Em razão disso, oferece condições mais favoráveis para desenvolver modelos que sejam reconhecidos pelo decisor como legítimo. O Quadro 3 apresenta um comparativo entre os dois paradigmas e suas características : o paradigma realista (ou racionalista) e o construtivista:

Quadro 3 - Características dos paradigmas Racionalista e Construtivista

Características Paradigma Racionalista Paradigma Construtivista Tomada de decisão Momento em que ocorre a

escolha da solução ótima

Processo ao longo do tempo envolvendo interação entre os atores

Decisor Totalmente racional Dotado de sistema de valores próprios Problema a ser resolvido Problema real Problema construído (cada decisor constrói

seu próprio problema) Os modelos representam

a realidade objetiva

Representam a realidade objetiva

São ferramentas aceitas pelos decisores como úteis ao apoio à decisão

Os resultados dos modelos

Soluções ótimas Recomendações que visam atender aos valores dos decisores

O objetivo da modelagem

Encontrar a solução ótima Gerar conhecimento aos decisores sobre seu problema

A validade do modelo Modelo é válido quando representa a realidade objetivamente

Modelo é válido quando serve como ferramenta de apoio à decisão

Preferência dos decisores São extraídas pelo analista São construídas com o facilitador Forma de atuação Tomada de decisão Apoio à decisão

Ao examinar a literatura a respeito de avaliação de desempenho segundo este cenário, constata-se que a maioria dos modelos se propõe a atender a necessidades pontuais das organizações em um contexto onde a predominância é normativista (DUTRA, 2005).

É afirmado que as instituições contemporâneas requerem um novo sistema de mensuração com a finalidade de apoiar a gestão do desempenho sob a ótica holística (KRISTENSEN; WESTLUND, 2004; BITITCI et al., 2012). Para que ocorra essa afirmação, avaliação de desempenho deve estar capacitada a auxiliar o gestor na avaliação, controle, gestão do orçamento, motivação, promoção da instituição junto aos demais stakeholders, comemoração de resultados, e a aprender e aperfeiçoar o desempenho (BEHN, 2003).

Para efeito deste trabalho tendo em conta que seu propósito é o de construção de um modelo que assegure que as singularidades do contexto e os valores, preferências e motivações dos gestores sejam levadas em conta foi utilizada a abordagem construtivista para apoiar a gestão da qualidade de um produto, manufaturado por uma empresa fabricante de quadros de distribuição de energia elétrica para um gestor especifico, pelo que será adotado o entendimento de avaliação de desempenho na perspectiva construtivista como proposto por o Ensslin et al. (2010, p.62):

“Processo, com abordagem em harmonia com seu uso, para construir conhecimento no decisor, no contexto específico que se propõe avaliar, a partir da percepção do próprio decisor por meio de atividades para identificar, organizar e mensurar, ordinal e cardinalmente, os aspectos reconhecidos como necessários e suficientes para a gestão do contexto, além de permitir visualizar gráfica e numericamente o impacto das ações e seu gerenciamento”.

O conceito de avaliação de desempenho citado aparece a partir da compreensão de que a decisão é efetuada através de um processo ao longo do tempo (ROY, 1994; ENSSLIN; MONTIBELLER; NORONHA, 2001) e não realizada em um dado momento específico. Esta concepção estará presente ao longo de toda a pesquisa, influenciando de maneira direta nas ferramentas e métodos adotados para a construção do modelo.