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Avaliação Diagnóstica, Desenvolvimentista e Classificatória

3 AVALIAÇÃO NA EDUCAÇÃO INFANTIL: DEFINIÇÕES

3.2 CLASSIFICAÇÕES TEÓRICAS DA AVALIAÇÃO NA EDUCAÇÃO

3.2.1 Avaliação Diagnóstica, Desenvolvimentista e Classificatória

tenha registros históricos já nos séculos II e III a.C., é com o desenvolvimento das ciências, principalmente da psicologia, que ela passa a ganhar força. É a psicologia também que garante a evolução de concepções de avaliação como a desenvolvimentista e a diagnóstica. Portanto, as avaliações, diagnóstica, classificatória e desenvolvimentista, no meu entendimento, são concepções coirmãs e que justificam suas existências e presenças no espaço da educação infantil nos referenciais teóricos sistematizados pelos psicólogos. Aponto também os Testes ABC, organizados em 1928 por Lourenço Filho como um dos exemplos

mais claros da presença destas três concepções numa única proposta de avaliação.

Ao falar sobre a avaliação diagnóstica proposta por Bloom e seu colaboradores no ano de 1971, Ramires (2008, p.60) demonstrou o entendimento de que o referido pesquisador, ao propor o agrupamento dos estudantes por aproximação de saberes, acabou contribuindo ainda mais com a organização e o conceito de turmas homogêneas nos espaços educativos.

Há que se considerar, do mesmo modo, nessa reflexão, a presença marcante dessas três concepções de avaliação diagnóstica, desenvolvimentista e classificatória na organização didática e curricular do ensino fundamental e o quanto este, por sua vez, serviu de base ao modelo de educação infantil que foi sistematizado e que até hoje ainda busca demarcar suas especificidades. Em sua tese de doutoramento, ao relembrar sua pesquisa de mestrado numa turma de pré-escola Godói (2006, p.1) denunciava: “Analisei naquele momento que a pré-escola, ao incorporar o modelo de trabalho da escola, também incorporava seu modelo de avaliação – uma avaliação classificatória e reguladora.”

Se isso não bastasse, a própria organização da educação infantil, na medida em que procurou qualificar-se como um espaço educativo, apoiou-se na psicologia e na biologia para fundamentar seus referenciais, fortalecendo ainda mais as concepções diagnóstica, desenvolvimentista e classificatória de avaliação.

Para Ramires (2008, p.33) a compreensão do desenvolvimento das crianças como finalidade da educação infantil perpassa, necessariamente, pela observação de como este conceito se constituí nas discussões em torno da infância. Entretanto, faz pouco tempo que a educação infantil vem estabelecendo trocas com outras áreas do conhecimento como a sociologia, a antropologia e a história, na perspectiva de ampliar o entendimento de infância a partir dos diversos olhares das ciências.

Pelo que percebi nas leituras feitas durante a pesquisa, há uma ênfase muito grande na importância do acompanhamento do desenvolvimento das crianças e essa evidência pode ser percebida, também, nos textos legais como leis, propostas curriculares e documentos orientadores. Ciasca e Mendes, (2009, p. 301) consideram ser “[...] relevante que a avaliação se apresente de forma significativa e permanente, valorizando todos os aspectos do desenvolvimento da criança, em especial na ‘educação infantil’.”

Entre os principais teóricos que servem de referência quando a discussão envolve o desenvolvimento infantil, Ramires (2008),

Hoffmann (2007) e (Colasanto, 2007) citam Piaget que, em sua teoria, aponta os estágios de desenvolvimento infantil (sensório-motor, pré- operacional, operacional concreto, operacional-abstrato) e Vygotsky com os conceitos de zona de desenvolvimento (proximal e real). De acordo com Ramires (2008, p.39),

[...] parece possível afirmar que o nível de desenvolvimento real é determinado pela verificação dos conhecimentos já construídos pela criança, enquanto a zona de desenvolvimento proximal aponta para o potencial de desenvolvimento e, assim, seu reconhecimento pelo educador através da observação e das produções da criança pode favorecer a avaliação com sentido prospectivo, que contribui para que o educador desafie a criança para a construção de novas hipóteses as quais, por sua vez, irão conduzir à construção de novas aprendizagens e desenvolvimento.

Neste sentido, parece que a autora consegue estabelecer um vínculo entre os aspectos desenvolvimentistas da teoria de Vygotsky com a ideia de avaliação processual, contínua e formativa.

Já para Colasanto (2007, p. 19), “embora Jean Piaget não estivesse preocupado com as implicações educacionais de seus estudos, suas pesquisas repercutiram nas escolas pela concepção construtivista. [...]”. No meu entendimento, as teorias de Piaget foram transplantadas com equívocos, também para o espaço da educação infantil, contribuindo para a perspectiva de avaliação diagnóstica e classificatória desde a concepção das proposições feita às crianças até a realização de suas avaliações, na medida em que houve por parte das profissionais da educação um engessamento dos estágios de desenvolvimento infantil apontados pelo pesquisador.

O modelo de avaliação classificatória se faz presente nas instituições de educação infantil quando, para elas, avaliar é registrar ao final de um semestre (periodicidade mais freqüente na pré- escola) os "comportamentos que a criança apresentou", utilizando-se, para isso, de listagens uniformes de comportamentos a serem classificados a partir de escalas comparativas tais como: atingiu, atingiu parcialmente, não atingiu;

muitas vezes, poucas vezes, não apresentou; muito bom, bom, fraco e; outras. [...] (HOFFMANN, 2007, p.11).

No meu entendimento, a concepção classificatória não deveria ter espaço em nenhum nível de ensino, muito menos no segmento da educação infantil e sua permanência neste campo tem contribuído para a implantação das políticas de ranqueamento, atrapalhando, inclusive, a possibilidade de avançarmos em termos de uma avaliação que favoreça a qualificação do trabalho pedagógico.

Por outro lado, não dá para “jogar o bebê fora com a água do banho” e, neste sentido, penso que as concepções diagnósticas e desenvolvimentistas de avaliação, por sua vez, feitas as devidas ressalvas, podem contribuir na qualificação em ampliação dos processos avaliativos das crianças, também na educação infantil. Ciasca e Mendes (2009, p. 302) parecem compartilhar deste meu ponto de vista:

[...] repensar novas práticas de se conceber a avaliação propicia a tomada de consciência de certas inadequações que se registram, desencadeando a busca de alternativas melhores, sem deixar de valorizar e respeitar diferenças de desenvolvimento e de conhecimento, em processo criativo, associado ao prazer pela descoberta da construção de significados.

Para finalizar este tópico da discussão, parece pertinente destacar outra questão presente na concepção de avaliação classificatória e que ficou evidente em Godói (2006), quando esta pesquisadora, no resumo de sua tese, descreveu o espaço onde sua pesquisa seria realizada e percebeu o uso da avaliação como uma das ferramentas de controle dos adultos sobre as crianças. Segundo essa autora:

A avaliação presente neste espaço comparava, rotulava, classificava, ora reprovava, ora aprovava a criança. Uma avaliação baseada na vigia e no controle constante (na observação se a criança obedecia ou não às regras que eram determinadas), que disciplinava o corpo e determinava as formas das crianças se portarem, como: a maneira que deveriam se sentar, comer, dormir, brincar, entre outras. [...] (GODÓI, 2006, p. ix)

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