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Avaliação do acabamento superficial para os traços definidos

A partir dos painéis de parede concretados, foram realizadas análises do acabamento superficial do concreto. A análise foi viabilizada por meio do uso de software de análise e tratamento de imagem ImageJ9 e seguiu como base um dos métodos de análise

propostos por Benito et al. (2015). A escolha desse software para a análise do acabamento superficial no presente trabalho foi feita por se tratar de um programa de processamento de imagem de código aberto, permitindo sua utilização de forma gratuita.

O método consiste em importar as imagens da superfície do concreto para o programa ImageJ e na sequência ajustá-las para 8 bits, nas cores preta e branca, destacando as imperfeições da superfície. A imagem deve então ser corrigida com balanço de cores de maneira a definir as regiões de falhas na cor preta e as regiões íntegras com a cor branca (BENITO et al., 2015). Vale destacar que esse procedimento é um pouco subjetivo, sendo necessária a comparação com a imagem original para que a imagem processada represente as falhas superficiais e não manchas ou diferenças de tonalidade ao longo da superfície do concreto. A Figura 3.36 exemplifica as variações observadas com a utilização dos filtros.

Benito et al. (2015) destacam que o processamento e análise digital de imagens está intimamente ligado à qualidade da imagem usada. No trabalho apresentado pelos autores, foi utilizada uma câmera digital Canon de 10 Megapixels, posicionada perpendicularmente à

9 IMAGEJ. An open platform for scientific image analysis. Disponível em < https://imagej.net/Welcome> acesso em: 07 de março de 2019.

amostra e a 2 metros de distância desta. As fotografias foram tiradas sob luz ambiente indireta para que não houvesse interferências nas sombras dentro dos poros.

No presente trabalho, as fotografias foram tiradas com câmera digital Canon XS510 HS de 12.1 Megapixels. Foi posicionada luminária a cerca de 4 metros de distância das paredes pois a luz ambiente do interior do galpão do laboratório não era suficiente para iluminar adequadamente o ambiente. Os resultados foram processados seguindo o procedimento de correção de imagem apresentado anteriormente.

Figura 3.36 – Exemplos de diferenças no ajuste do balanço de cores que afetam os resultados.

Fonte: Benito et al. (2015).

Uma peculiaridade do tratamento das imagens consistiu na correção de alguns vazios. Isso aconteceu porque, com o uso da luminária, a região interna de alguns defeitos superficiais ficou iluminada, de forma que a correção de cores excluía parte das falhas observadas. Utilizou-se, então, uma ferramenta do software que permite a exclusão de determinadas áreas por meio de seleção manual. Assim, os defeitos aparentes em cores claras foram marcados manualmente.

Para a análise das paredes, foram consideradas regiões com 0,45 m x 0,45 m nos oito quadrantes de cada parede, sendo 4 em cada face principal. Cada um desses quadrantes foi fotografado com uma trena posicionada ao lado, de maneira que fosse possível separar as regiões sem maiores dificuldades no software de processamento. Essa seleção é feita ao correlacionar uma distância conhecida na imagem com o número de pixels que ela possui, procedimento realizado com ferramenta no mesmo software.

Neste trabalho, o acabamento superficial foi relacionado apenas com a porcentagem de falhas superficiais (representadas pela cor preta) em relação à área total da amostra analisada. O software ImageJ possui uma função que indica essa porcentagem. Dessa forma, quanto maior for a região total em preto na imagem, pior será o acabamento superficial. Porém, o valor da área com defeitos em si não é suficiente para se estabelecer uma base de comparação com outros métodos de avaliação.

Assim, se propõe aqui uma correlação da falha superficial com outro método utilizado para avaliação do acabamento superficial de concretos: o relatório apresentado pela International Council for Research and Innovation in Building and Construction (CIB W29, 1973) que, como afirmam Almeida e Carretero (2016), é uma das primeiras classificações utilizadas para esta finalidade. Nesse relatório, são apresentadas sete diferentes classes de acabamento por meio de imagens e, a partir delas, a superfície de determinado concreto pode receber uma nota que vai de 1 até 7, sendo 1 referente ao melhor acabamento, e 7, ao pior.

Apesar de ser um relatório antigo, ele ainda é utilizado como critério de avaliação nos dias atuais. Exemplo recente disso se deu por parte do Instituto Brasileiro do Concreto (IBRACON) que utilizou o relatório como critério de classificação pelo nível de incidência de bolhas superficiais em corpos de prova apresentados no concurso “QUEM SABE, FAZ AO VIVO” realizado durante o 60° Congresso Brasileiro do Concreto10, em setembro de 2018.

Na sequência (Figura 3.37) estão apresentadas as 7 imagens definidas no CIB W29 (1973), seguidas das imagens processadas com o software ImageJ seguindo o procedimento de tratamento de imagens apresentado anteriormente.

10 IBRACON. Regulamento do 2° Concurso. Concreto: QUEM SABE, FAZ AO VIVO. 2018. Disponível em <http://www.ibracon.org.br/eventos/60cbc/Regulamento_QuemSabeVivo2018.pdf> acesso em: 08 de março de 2019.

Figura 3.37 – Acima, imagens dos acabamentos superficiais de concretos e respectivas notas conforme apresentado no CIB W29 1973, e abaixo imagens processadas com ImageJ.

Fonte: Adaptado de CIB W29 (1973).

Com as imagens processadas, foi possível determinar qual a porcentagem de falha superficial referente a cada nota proposta no CIB W29 (1973), conforme apresentado na Tabela 3.13.

Tabela 3.13 – Correlação entre nota de acabamento e região de falha superficial.

Nota CIB W29 (1973) 1 2 3 4 5 6 7

Região de falha superficial (%) 0,058 0,199 0,450 2,410 2,975 3,457 9,895 A partir dessas correlações, montou-se um gráfico com interpolações lineares entre as notas, de maneira que, a partir da porcentagem de falha superficial obtida com o software ImageJ, é possível determinar a nota de acabamento com as equações definidas (Figura 3.38).

Figura 3.38 – Correlação entre nota de acabamento e região de falha superficial.

Deve-se ressaltar aqui que a escala utilizada como base apresenta valores inferior e superior de 1 e 7, respectivamente. Portanto, o valor de y deve ser considerado dentro desse intervalo.

Feita a correlação entre as notas do CIB W29 (1973) e as imagens processadas pelo software ImageJ, pode-se então definir notas para o acabamento superficial das paredes concretadas.