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Avaliação do ambiente de prática de enfermagem em Portugal

PARTE I- ESTUDO TEÓRICO

Capítulo 1 O percurso teórico

1.1. Ambiente de prática de enfermagem

1.1.5. Avaliação do ambiente de prática de enfermagem em Portugal

Face aos dados que conseguimos reunir, a avaliação do ambiente de prática de enfermagem em Portugal foi realizada, pela primeira vez, em 2011 e utilizou-se neste, e nos estudos subsequentes, o instrumento: Practice Environment Scale of the NWI (Lake, 2002), apesar das diferentes traduções e integração dos itens pelas subescalas.

A primeira publicação encontrada pelos autores do presente estudo, associada à avaliação do ambiente de prática de enfermagem em Portugal, foi em 2012, desenvolvida por Amaral, et al.. Os autores tiveram como objetivo traduzir e validar a

Practice Environment Scale of the NWI (Lake, 2002) para a produção da versão

portuguesa, da referida escala. Os dados foram recolhidos entre 11 e 30 de Outubro de 2011, através de uma versão eletrónica enviada via e-mail, a uma amostra de membros da Ordem dos Enfermeiros (OE).

40 Segundo os autores a tradução foi levada a cabo por dois tradutores independentes que posteriormente desenvolveram uma versão consensual, tendo por base a análise individualizada de cada item por um grupo de enfermeiros e professores de enfermagem. Foram tidas em conta algumas adaptações culturais, como por exemplo a modificação da expressão Chief Nursing Officer para Enfermeiro Diretor. Foi ainda realizada a tradução reversa, por um tradutor de inglês profissional, comparadas as duas versões (original e resultado da tradução reversa) e enviado o resultado à autora da escala, que concordou com o resultado obtido.

No que concerne às propriedades psicométricas, a fidelidade foi analisada recorrendo ao alpha de cronbach e a validade de construto usando uma análise fatorial exploratória, com método das componentes principais e rotação varimax. Para verificar a correlação entre as variáveis e se os dados se adequavam à análise fatorial usaram o teste de esfericidade de Bartlett e Kaiser-Meyer-Olkin (KMO). O número de fatores a reter foi considerado pelo scree plot e eigenvalues superiores a 1, tal como valores de coeficientes superiores a 0,35 para os itens de cada fator. A análise conceptual dos itens também foi elaborada, para que a organização dos fatores fizesse sentido.

Foram obtidas 418 respostas não sendo a amostra representativa da população portuguesa relativamente aos grupos etários, mas sendo-o relativa ao sexo. Numa primeira análise extraíram-se oito fatores que explicavam 60 % da variância, sendo os itens que integravam o fator 2 e o 4, idênticos aos da escala original, pelo que puderam ser nomeados da mesma forma (Adequação de Recursos Humanos e Materiais; Relação entre Médicos e Enfermeiros). Relativamente aos restantes fatores, os autores, verificaram que os mesmos estavam subdivididos e alguns itens deviam estar agrupados tendo em conta a perspetiva conceptual, pelo que uma análise detalhada de cada fator e item foi realizada. No final dos ajustes, quer de caráter semântico, quer de decisão de pesos maiores de 0,30 em diferentes fatores, obtiveram um fator com 2 itens, que atendendo a Waltz et al. (2005) citado por Amaral et al. (2012) não seria um fator estável, pelo que os autores optaram por integra-los numa subescala, resultando deste modo a versão portuguesa com sete fatores (subdomínios), que pelos aspetos conceptuais podem ser incluídos nas cinco subescalas da versão original de Lake (2002).

O alpha de cronbach da escala foi de 0,892 não aumentando com a eliminação de nenhum dos itens, sendo os alphas de cronbach para cada subescala, das cinco da

41 versão original sempre superior a 0,70. A correlação entre as diferentes subescalas e o compósito variou de 0,509 a 0,768.

Também em 2012, Cardoso na sua tese de Mestrado encetou um estudo que utilizou como instrumento de recolha de dados a versão Portuguesa da Practice

Environment Scale of the NWI (Amaral et al., 2012). Numa população restrita, cerca de

60 enfermeiros, ao integrarem a pesquisa que visava determinar de que forma o ambiente de trabalho do enfermeiro influenciava os resultados dos cuidados de enfermagem ao utente internado, e cuja recolha de dados decorreu entre Fevereiro e Março de 2012 no Centro Hospitalar do Baixo Vouga, o ambiente de prática de enfermagem foi percecionado por estes como desfavorável (2,4).

Em 2013, Amaral e Ferreira, publicam um estudo, também utilizando a versão portuguesa da escala, que decorreu em 4 hospitais da região centro de Portugal, num total de 26 serviços de medicina e cirurgia, sendo a recolha de dados efetuada entre julho e agosto de 2012. O objetivo do estudo era verificar se o ambiente da prática influenciava os resultados dos cuidados ao nível da funcionalidade das pessoas. Dos 365 enfermeiros que participaram constata-se uma perceção favorável do ambiente de prática de enfermagem (2,57). As características psicométricas não foram apresentadas em nenhum dos trabalhos/artigos.

Em 2014, Ferreira e Amendoeira, por desconhecerem versão validada para os cuidados de enfermagem em Portugal da Practice Environment Scale of the NWI procedem à adaptação transcultural e validação das propriedades psicométricas do instrumento, não sendo a data de recolha de dados conhecida. Após o consentimento dos autores para o efeito, procederam à semelhança de Amaral et al. (2012) à tradução e retrotradução. Foi realizado pré-teste seguido de entrevista para confirmar a compreensão do significado das questões e resposta adequada. Participaram no estudo final 236 enfermeiros de serviços de agudos do Centro Hospitalar de Lisboa Ocidental e o Centro Hospitalar Médio Tejo.

Os pressupostos para a análise das propriedades psicométricas, foram idênticos aos adotados por Amaral et al. (2012), não sendo todavia referido o valor mínimo dos pesos aceites nos fatores, porém referem que só integraram itens cujos valores de comunalidade extraída fossem superiores a 0,40.

Obtiveram inicialmente sete fatores que explicavam 63,83% da variância. No sentido de ir de encontro com teoria subjacente à escala forçaram a análise a cinco fatores, obtendo uma variância explicada de 56,1%, todavia comunalidades baixas

42 foram encontrados em dois itens tendo sido retiradas e procedido a nova análise. O valor do alpha de cronbach do compósito foi 0,92, variando nas subescalas de 0,71 a 0,89, a variância explicada foi de 59,53%. Comparando com a escala original, os itens não foram coincidentes entre os diferentes fatores, porém Ferreira e Amendoeira (2014) mantiveram estes pela maior carga, pois obtiveram pesos fatoriais superiores, na sua maioria, bem como os valores de consistência interna. A correlação entre as diferentes subescalas e o compósito variou de 0,36 a 0,91. Neste estudo, o ambiente foi considerado favorável (3,16).

Utilizando também a versão portuguesa da Practice Environment Scale of the

NWI (Amaral et al., 2012), Jesus, Roque e Amaral (2015) numa amostra bem mais

abrangente (2235) com o objetivo de descrever a perceção dos enfermeiros de serviços médico-cirúrgicos dos hospitais portugueses relativamente aos ambientes de prática de enfermagem e sua relação com algumas variáveis sociodemográficas e profissionais, concluem que os ambientes de prática são percecionados pelos enfermeiros como desfavoráveis usando a classificação de Lake (2002), ou mistos, usando a classificação de Lake e Friese (2006). A consistência interna da escala foi classificada como muito boa (0,90), segundo Pestana e Gageiro (2014). A associação destes dados com a intenção de deixar a profissão foi ainda explorada por Leone, Bruyneel, Anderson, Murrells, Dussault, Jesus, et al. (2015).

Descrito o que é o ambiente de prática de enfermagem, como se mede e as associações deste com algumas variáveis, importa circunscrever o nosso estudo teórico à problematica em análise, facto corporizador do próximo subcapítulo.