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Avaliação do conhecimento dos pais e das mães, acerca do

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CAPITULO III AVALIAÇÃO DO CONHECIMENTO DOS PAIS E DAS MÃES, ACERCA DO DESENVOLVIMENTO DAS CRIANÇAS – DISCUSSÃO DOS RESULTADOS E CONCLUSÃO

36 3. Discussão dos resultados

No âmbito deste estudo foi aplicado um questionário de avaliação do conhecimento parental, tanto quanto sabemos nunca antes utilizado em Portugal. Com a sua aplicação, foi possível avaliar o conhecimento acerca do desenvolvimento infantil, em pais de crianças de idade pré-escolar, verificando- se a relação entre este e as variáveis sexo, idade e escolaridade dos progenitores. Este é um útil contributo para a realização de mais estudos acerca do conhecimento parental em língua portuguesa. Este instrumento poderá também ser utilizado na avaliação de programas de educação parental (Hammond-Ratzlaff & Fulton, 2001; MacPhee, 1981/2002).

A revisão bibliográfica efetuada permite concluir que o estudo do conhecimento parental é de extrema relevância. A compreensão desta cognição parental é fundamental, para que seja possível trabalhar outros domínios da parentalidade, nomeadamente o comportamento parental. Para além disso, percebeu-se que o conhecimento parental se encontra associado ao desenvolvimento das crianças, sendo este um outro motivo que enaltece a relevância deste estudo. Afinal, se dotarmos os pais de mais conhecimento é possível torná-los mais capazes ao nível do seu comportamento, da mesma forma que um maior conhecimento possibilitará às crianças um melhor desenvolvimento.

A utilização deste questionário é, por isso, bastante importante, já que os psicólogos e os educadores em geral poderão aplicá-lo no sentido de perceberem a acuidade do conhecimento que os pais possuem acerca do desenvolvimento das crianças e colmatar as lacunas que estes demonstram, através da aplicação de programas de educação parental. Para tal começou-se por analisar a consistência interna do questionário. A conselho do autor consideraram-se apenas as cotações “concordo”, “discordo”, “mais velho” e “mais novo” no cálculo do Alpha de Cronbach, eliminando a opção “não tenho a certeza”. Neste sentido, a consistência interna foi calculada separadamente para a primeira parte (escala dicotómica) e para a segunda parte (escala de três pontos). Os resultados obtidos não podem ser considerados

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completamente satisfatórios (α=.70 e α=.59, respetivamente). Contudo, em comparação com outros estudos, em que a consistência interna foi calculada para a escala total, verificámos que os valores encontrados são próximos dos do presente estudo. Por exemplo, α=.80 (Bornstein et al., 2007); α=.67 (Bornstein et al., 2010); α=.65 (Hess et al., 2004); α=.70 (Huang et al., 2004); α=.70 (Ribas et al., 2004).

Pode ainda estabelecer-se uma comparação entre os resultados descritivos obtidos neste estudo (M=.67; M=.13; M=.11, respetivamente para total de corretos, subestimação, sobrestimação) e os resultados dos estudos analisados anteriormente. Por exemplo, relativamente à média do total de corretos observou-se nas culturas individualistas M=.72, e nas culturas coletivistas M=.67 (Bornstein et al., 2007); outros estudos apontam ainda para M=.81 (Bornstein et al., 2010); M=.56 (Huang et al., 2004) e M=.64 (Ribas et al., 2004). Por outro lado, relativamente à subestimação (M=.13) e sobrestimação (M=.11) foi encontrado apenas um estudo em que os valores são de M=.09 e M=.11, respetivamente (Huang et al., 2004). Desta forma conclui-se genericamente, que os valores obtidos neste estudo e os valores encontrados nos estudos referidos são da mesma ordem de grandeza, apontando para níveis semelhantes de acuidade do conhecimento parental.

No que concerne aos resultados relativos às categorias do questionário, não foram encontrados estudos que permitissem a comparação dos resultados obtidos.

Em relação à associação entre o sexo, a escolaridade e a idade dos pais e o conhecimento destes acerca das crianças percebemos, pelos estudos analisados, que estas variáveis aparecem relacionadas com as ideias parentais. Contudo, neste estudo, não foram encontrados resultados que apoiem claramente as fontes analisadas. De facto, verificou-se que as variáveis sexo, idade e escolaridade dos progenitores não estavam associadas com o nível de conhecimento que os pais possuíam acerca do desenvolvimento das crianças. Tal situação também se verificou, quando se analisou a relação entre estas variáveis e os resultados das respostas dos participantes em cada uma das categorias do questionário. Todavia, quando se considerou a subamostra

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de mães e a subamostra de pais, separadamente, os valores de algumas correlações sofreram alterações

Uma possível justificação para estas situações prende-se com a discussão já analisada na revisão bibliográfica. O conhecimento parental pode ser adquirido de duas formas: por um lado, pode ser recebido através do contato com o grupo social de pertença e, por outro, construído pelo próprio indivíduo. O conhecimento recebido é, como já vimos, obtido através de um conjunto de conceitos pré-construídos, que provêm da cultura em que o indivíduo se insere, não sendo o recetor capaz de manipular ou modificar a informação recebida, identificando-se sempre com ela (Bond & Burns, 2006), o que leva a que os resultados das correlações da amostra geral com as variáveis idade e escolaridade sejam semelhantes. O conhecimento construído resulta, por sua vez, de um conjunto de constructos que provêm da experiência pessoal vivida por cada um. Aqui, o indivíduo tem um papel ativo na construção do seu próprio conhecimento, sendo a experiência pessoal a base deste processo (Bonds & Burns, 2006), o que leva a que os resultados das correlações da subamostra mães e da subamostra pais, com as variáveis idade e escolaridade sejam diferentes.

Assim sendo e verificando que a população em estudo, apesar de heterogénea em relação ao sexo, idade e escolaridade dos progenitores, apresentou, na generalidade resultados semelhantes, surge a seguinte questão: Será que o facto de os participantes terem os seus filhos a frequentar a mesma escola, as famílias não apresentarem fatores de risco, residirem todas no mesmo meio social e vivenciarem experiências semelhantes, está associado à homogeneidade dos resultados obtidos? Isto é, será que neste contexto a aquisição do conhecimento é realizada predominantemente pela receção social, ao invés da construção pessoal? Esta é uma questão relevante, para ser analisada em estudos posteriores, que deverão incidir sobre amostras mais diversificadas do ponto de vista da comunidade a que pertencem.

Por outro lado, será também interessante analisar com mais profundidade, em estudos posteriores, os diferentes resultados obtidos em pais e mães, aquando da associação entre as variáveis idade, escolaridade eo

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conhecimento parental. De facto, o conhecimento construído poderá ser uma justificação para esta situação, uma vez que estará na base das diferenças existentes intra-casal, as quais resultam da vivência de experiências individuais. Pode ser que ao longo da idade, pais e mães construam diferentes aspetos do conhecimento parental e, ainda, que a escolaridade possa ser importante como determinante deste conhecimento para uns e não para outros.

A investigação revela que aquilo que os pais conhecem acerca do desenvolvimento dos seus filhos associa-se às suas práticas educativas, assim como aos comportamentos adotados pelas crianças. Se assim é, a educação parental, ao nível das cognições, assume um papel de elevada importância, já que “educando” os pais, o educador terá mais sucesso na educação das suas crianças. Neste sentido, surge mais uma proposta interessante para um estudo posterior. Sendo a criança elemento de uma comunidade, na qual se incluem os pais e os educadores, então é importante que todos estejam em sintonia, promovendo aquele que é o seu objetivo comum - o desenvolvimento da criança. Assim, seria interessante avaliar o nível de conhecimento dos pais e compará-lo com o dos educadores.

A aplicação do KIDI suscitou diversas questões. O seu preenchimento, apesar de não ser muito complicado, exige alguma reflexão, podendo este aspeto estar na origem dos valores de consistência interna tendencialmente baixos que encontramos. Outro aspeto que pode contribuir para estes valores será o facto de os itens da primeira parte do KIDI terem uma escala de resposta dicotómica (concordo, discordo) e os itens da segunda parte terem uma escala de resposta com três valores (concordo, mais novo, mais velho).

Relativamente ao cálculo das variáveis, surgiram diversas dúvidas relacionadas com as instruções do manual. Realmente, a sintaxe e as fórmulas fornecidas não eram imediatamente interpretáveis, tendo sido esta situação resolvida com a ajuda do autor do questionário. Uma vez calculadas, as variáveis exigem um esforço suplementar de compreensão, por comparação com os questionários que avaliam dimensões através de escalas tipo Likert. Este aspeto pode prejudicar a disseminação da utilização do KIDI.

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Chegada ao final desta dissertação, cumpre realizar uma reflexão pessoal. Enquanto educadora, tomar consciência de que o conhecimento parental é uma cognição muito mais complexa, do que aquilo que o senso comum me permitia conhecer, foi o primeiro passo para o desenvolvimento de todo este processo. De facto, a motivação que tive para estudar as ideias dos pais, surgiu no sentido de dar respostas mais eficazes às incertezas, ou certezas quase absolutas, que estes diariamente demonstravam possuir. Ao perceber conceitos como subestimação e sobrestimação, por exemplo, dei nome a formas de conhecimento parental, com que frequentemente me deparava no meu dia-a-dia, mas para as quais não tinha designação. Para além disso, compreender a associação que estes conceitos têm com o desenvolvimento da criança, por via das práticas educativas que os pais desenvolvem foi mais uma das vantagens desta análise.

Claro que não tendo formação inicial na área da psicologia, a assimilação e articulação dos conceitos aqui apresentados, com a realidade vivida numa instituição de ensino foi realizada com um esforço redobrado. Porém, esta foi uma das partes mais interessantes de todo o estudo, sendo possível organizar os conceitos acerca do conhecimento parental, os quais se revelaram fulcrais posteriormente.

A título de conclusão pode dizer-se que o estudo do conhecimento parental é de elevada importância, quer para os psicólogos, quer para os profissionais de educação que diretamente trabalham com os pais. Com este estudo empírico esperamos ter contribuído para a disseminação do KIDI, como instrumento de avaliação, e para o desenvolvimento da investigação acerca do conhecimento parental em Portugal.

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