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2.5 ANÁLISE DOS DADOS

4.3 Avaliação do inventário

Dentre as espécies de peixes inventariadas nos ribeirões afluentes do rio Mogi Guaçu e no rio Corumbataí, predominaram grupos de espécies pertencentes às ordens Characiformes e Siluriformes, além da presença de Gymnotiformes, Perciformes e Synbranchiformes, refletindo o que têm sido registrado em comunidades de peixes de água doce neotropicais. A fauna de peixes da América do Sul é, predominantemente, composta por espécies da superordem Ostariophysi, da qual as ordens Characiformes e Siluriformes exibem maior diversidade, além da ordem Gymnotiformes.

O número de espécies inventariadas para a área de estudo é significativo, pois num diagnóstico da diversidade de peixes do Estado de São Paulo, Castro & Menezes (1998) estimaram em 166 o número de espécies de peixes existentes na bacia do alto rio Paraná (no Estado de São Paulo). Segundo os autores este número é inexato em virtude do incipiente conhecimento taxonômico de alguns grupos. De fato, após a publicação desta estimativa, novas espécies foram descritas, principalmente encontradas em riachos e rios de pequeno porte, e este número é atualmente mais elevado. Entretanto, é importante notar que o inventário realizado por este estudo evidenciou que, cerca de 63% do número estimado de espécies de peixes encontradas na porção paulista drenada por rios da bacia do alto Paraná, puderam ser assinaladas para uma área relativamente pequena, que inclui cinco rios de pequeno porte, quatro do rio Mogi Guaçu e um da bacia do rio Tietê.

Numa análise sobre as famílias de peixes registradas temos a seguinte situação. Oito famílias relacionadas por Britski (1972b) para a bacia do alto rio Paraná não foram assinaladas no inventário. Algumas dessas ausências são justificadas pelo habitat preferencialmente ocupado pelas espécies. As espécies das famílias Cynodontidae, Ageneiosidae, Hypophthalmidae, Doradidae, Rhamphichthyidae e Apteronotidae, por exemplo, são encontradas em ambientes maiores, dos grandes rios pertencentes à bacia. Já as espécies da família Lebiasinidae e Rivulidae ocorrem em rios menores e podem vir a ser registradas nas bacias dos ribeirões das Cabaceiras e Araras ou dos rios Quilombo, Pântano e Corumbataí, já que existem registros de sua ocorrência na bacia do rio Jacaré Guaçu, afluente do rio Tietê (Albino, 1987), e na planície de inundação do rio Mogi Guaçu (Marçal- Simabuku, 2005).

Uma comparação do inventário com estudos desenvolvidos em rios de pequeno porte na bacia do alto rio Paraná se torna interessante para uma avaliação mais consistente.

Uieda (1984) registrou 18 espécies de peixes no ribeirão do Tabajara, pertencente à bacia do rio Tietê, das quais apenas Rhamdella minuta não foi registrada nos afluentes do rio Mogi Guaçu ou no rio Corumbataí. Garutti (1988) em estudo realizado no córrego da Barra Funda, bacia do rio Grande, relacionou 40 espécies, sendo sua composição também semelhante a que encontramos no presente estudo, a maioria representada por espécies de pequeno porte amplamente distribuídas, que ocorreram nas duas vertentes estudadas.

Castro et al. (2004) registraram 64 espécies de peixes em 18 trechos de riachos da bacia do rio Grande, da qual o rio Mogi Guaçu é afluente. Dessas, 45 seguramente foram registradas em nossa área de estudo, e todas, exceto Planaltina britskii, ocorreram nas vertentes do rio Mogi Guaçu e do Corumbataí.

Castro et al. (2003) registraram 52 espécies de peixes em 17 trechos de riachos pertencentes à bacia do rio Paranapanema, sendo pelo menos 34 comuns ao presente estudo. Das dezoito espécies restantes, Astyanax biotae, Oligosarcus paranensis, Trichomycterus

diabolus, Rineloricaria pentamaculata, Eremophilus sp., Sternopygus macrurus, Cichlasoma paranaense e Crenicichla britskii, não foram registradas por nós. As demais dez, Astyanax sp.

1, Bryconamericus sp., Serrapinnus sp., Pimelodella sp., Hisonotus sp. 1 e sp. 2, Gymnotus cf. carapo, G. cf. inaequilabiatus, G. cf. sylvius e Gymnotus sp., refletem o grau de desconhecimento taxonômico da ictiofauna e talvez tenhamos registrado uma ou mais delas para as bacias dos rios Mogi Guaçu e Corumbataí.

Ainda na bacia do rio Paranapanema, Shibatta & Cheida (2003) reportaram 43 espécies em ribeirões afluentes da bacia do rio Tibagi, sendo 30 também registradas neste estudo. Dessas trinta, nove não foram registradas no estudo de Castro et al. (2003). Portanto, das 104 espécies registradas por nós, pelo menos 43 (aproximadamente 41%) ocorrem também em rios de pequeno porte da bacia do rio Paranapanema. Dessas, Astyanax

eigenmanniorum (referida nesta tese como Astyanax sp.), Bryconamericus cf. iheringi

(referida nesta tese como Bryconamericus sp.), Imparfinis mirini e Tatia neivai ocorreram apenas na bacia do rio Corumbataí e todas as demais estiveram presentes nas vertentes das duas bacias (Tietê e Mogi Guaçu). Tatia neivai também ocorre no rio Mogi Guaçu, embora não tenha sido registrada nos rios estudados.

Em dois afluentes diretos do rio Paraná, Pavanelli & Caramaschi (1997) registraram 71 espécies, sendo pelo menos 34 delas comuns e ocorrentes nas duas vertentes estudadas. Castro et al. (2005) estudaram os riachos e ribeirões das bacias de quatro tributários do rio

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Paraná (rios São José dos Dourados, baixo Tietê, Aguapeí e do Peixe), e registraram 56 espécies de peixes. Pelo menos 39 dessas espécies estiveram presentes no inventário realizado nos afluentes do Mogi e no Corumbataí, sendo que Bryconamericus cf. iheringi, Planaltina

britskii, Cyphocharax vanderi e Imparfinis mirini ocorreram apenas na vertente do rio

Corumbataí e as demais 35 ocorreram em ambas vertentes.

Nos diversos estudos realizados nos ambientes lênticos da bacia do rio Mogi Guaçu foram registradas 58 espécies de peixes, sendo grande parte comuns aos trechos inferiores dos rios do Quilombo, do Pântano, Araras, Cabaceiras e Corumbataí. A maioria das espécies registradas nos ambientes de cabeceiras desses rios estão ausentes nestes ambientes marginais à calha do rio Mogi Guaçu.

Os estudos realizados na bacia do rio Tietê também mostram elencos de espécies similares ao obtido por nós, principalmente em relação à composição de espécies da bacia do rio Corumbataí. Albino (1987) registrou 77 espécies de peixes na bacia do rio Jacaré Guaçu, incluindo algumas que atingem maior porte e não registradas neste estudo, como o pimelodídeo Hemisorubim platyrhynchus e o loricarídeo Rhinelepis aspera. Caramaschi (1986) estudando os riachos que drenam a região das Cuestas Basálticas em Botucatu, SP, identificou 53 espécies na bacia do rio Tietê, quase todas registradas no inventário.

Também, o exame de lotes de peixes de áreas adjacentes, muito próximas as localidades investigadas neste estudo evidenciam um número ainda maior de espécies que podem ser eventualmente encontradas nos rios estudados, principalmente em seus trechos inferiores, como por exemplo: Pyrrhulina australis Eigenmann & Kennedy, 1903, Metynnis sp., Prochilodus vimboides Kner, 1859, Bunocephalus larai Ihering, 1930, Trachelyopterus

coriaceus (Valenciennes, 1840), Rhinodoras dorbignyi (Kner, 1855), Hypostomus cf. margaritifer (Regan, 1908), Hypostomus cf. variipictus (Ihering, 1911), Rhinelepis aspera

Agassiz, 1829, Iheringichthys labrosus (Lütken, 1874), Pimelodus cf. fur (Lütken, 1874),

Apteronotus brasiliensis (Reinhardt, 1852), Sternarchella curvioperculata (Godoy, 1968), Sternopygus macrurus (Bloch & Schneider, 1801), Crenicichla britskii Kullander, 1982.

A partir da comparação com os estudos realizados nas adjacências de nossa área de estudo e em outra áreas do alto rio Paraná, concluímos que o inventário representou satisfatoriamente o que pode ser encontrado nesses pequenos afluentes de rios maiores. O inventário incluiu a maioria das espécies ocorrentes em pequenos rios da bacia do alto rio Paraná e indicou a ocorrência de particularidades na distribuição das espécies, nas bacias e entre as bacias estudadas, provavelmente em função das características do relevo da área de transição entre as províncias geomorfológicas Cuestas Basálticas e Depressão Periférica.

5 – CONCLUSÕES

A ictiofauna dos afluentes do rio Mogi Guaçu e do rio Corumbataí, bacia do rio Tietê, na região do município de São Carlos é composta por pelo menos 104 espécies, sendo 81 ocorrentes nos afluentes do rio Mogi Guaçu e 88 na bacia do rio Corumbataí.

As espécies Bunocephalus sp., Corydoras difluviatilis, Loricaria lentiginosa e

Brachyhypopomus aff. pinnicaudatus estiveram restritas a vertente do rio Mogi Guaçu.

Destas, Loricaria lentiginosa também ocorre na bacia do rio Grande, Bunocephalus sp. é restrita ao rio Mogi Guaçu, Corydoras difluviatilis também ocorre nas cabeceiras do rio Grande, rio São Francisco e rio Paranaíba e, Brachyhypopomus aff. pinnicaudatus é de ampla distribuição nas drenagens brasileiras.

As espécies Astyanax sp., Bryconamericus sp., Bryconamericus turiuba, Planaltina

britskii, Planaltina glandipedis, Schizodon intermedius, Cyphocharax vanderi, Corydoras flaveolus, Harttia sp., Loricaria piracicabae, Loricaria prolixa, Corumbataia cuestae,

Hypoptopomatinae gen. sp. e Trichomycterus sp. ocorreram apenas na vertente do rio Corumbataí (bacia do rio Tietê).

Algumas das espécies restritas à vertente do rio Tietê neste estudo também ocorrem na bacia do rio Paranapanema, como Astyanax sp., Bryconamericus sp., Schizodon intermedius e

Loricaria prolixa. Outras são de distribuição restrita à bacia do Tietê, como Cyphocharax vanderi, Corydoras flaveolus, Harttia sp., Corumbataia cuestae, Hypoptopomatinae gen. sp.

e Trichomycterus sp. Outras também ocorrem em afluentes da calha principal do rio Paraná superior ou bacia do rio Paranaíba, como Loricaria piracicabae e Bryconamericus turiuba.

Estas ocorrências de espécies comuns entre as bacias dos rios Tietê e Paranapanema levantam a hipótese de que estas duas bacias compartilham mais espécies entre si do que em relação às bacias dos rios Mogi Guaçu e Grande. A existência de espécies com distribuição restrita a alguns afluentes do alto rio Paraná sugerem que esta bacia apresenta compartimentos e que sua consideração como uma grande área de endemismo pode ser reavaliada.

As características do relevo, principalmente a declividade, nas drenagens dos rios Mogi Guaçu e Tietê e os processos geológicos e geomorfológicos que influenciaram e influenciam o desenho de ambas bacias são considerados importantes fatores na ocorrência e distribuição de espécies restritas a uma ou outra vertente e dentro de cada bacia estudada. Embora estes processos históricos também possam ser responsáveis pela mistura da ictiofauna e ocorrência de similaridades.

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Algumas das espécies que ocorreram em trechos de cabeceiras isolados por cachoeiras na área de Cuestas Basálticas são exclusivas desses locais, como Corydoras difluviatilis e

Neoplecostomus paranensis, outras têm distribuição mais ampla nas bacias estudadas, como Astyanax paranae, Corydoras aeneus e Hypostomus ancistroides.

Os trechos inferiores das duas drenagens apresentaram elencos de espécies similares entre si e compostos por espécies amplamente distribuídas pela bacia do alto rio Paraná, principalmente nos rios que drenam as províncias geomorfológicas Depressão Periférica e Planalto Ocidental.

Das espécies inventariadas, Astyanax sp., Bryconamericus sp., Odontostilbe sp.,

Bunocephalus sp., Harttia sp., Trichomycterus sp. e Laetacara sp. são possivelmente novas

para a ciência, além de Hypoptopomatinae gen. sp., que aparentemente constitui um novo gênero.

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