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Avaliação dos resultados da pesquisa e comparação com demais federações

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4 MODELOS TEÓRICOS E OS RESULTADOS DA PESQUISA

4.4 Avaliação dos resultados da pesquisa e comparação com demais federações

A maior parte dos trabalhos sobre voto subnacional nos Estados Unidos (PELTZMAN, 1987; CHUBB, 1988, STEIN, R. 1990; ABROMOWITZ; SEGAL, 1986; SIMON; MARRA; STROM, 1991; PIERESON; 1975; RODDEN; WIBBELS, 2005; e EBEID; RODDEN, 2001, 2006), acompanhados pelos trabalhos sobre Canadá e Argentina (REMMER; GÉLINEAU, 2003, 2005; GÉLINEAU e BÉLANGER, 2003, 2005) encontrou no voto de referendo o principal mecanismo de responsabilização de políticos subnacionais. Entretanto, diferentemente do que ocorre nessas federações, não se encontrou nenhum indício de que as variáveis econômicas nacionais tenham algum impacto sobre as candidaturas a governador no Brasil recente.

Na pesquisa, as hipóteses H2 e H3 foram rejeitadas em todos os testes estatísticos e não há evidências de que as eleições estaduais brasileiras sirvam como referendo da performance do governo nacional. Tampouco há evidências de que a economia nacional afete todas as tentativas de reeleição, ou seja, que os fatores nacionais tenham impacto independentemente da filiação partidária comum ao presidente da república. A ligação dos candidatos a governador com o candidato vitorioso em eleições presidenciais simultâneas também não se mostrou um fator relevante. Contrariando a maior parte da literatura sobre voto de referendo, ao que parece, os eleitores brasileiros dão maior importância a fatores estaduais na hora de decidir o voto para governador.

Um resultado esperado e pouco surpreendente que foi confirmado pela pesquisa é que o governador é um ator político de grande peso nas eleições estaduais e que suas chances eleitorais são maiores do que as dos demais candidatos. Quase três quartos dos governadores que se recandidataram foram reeleitos. Em pesquisas futuras, seria interessante observar os fatores que levam alguns governadores a não se recandidatarem tendo em vista que aparentemente há vantagens inerentes ao governador na disputa das eleições estaduais.

Dentre os fatores estaduais que importam para explicar a reeleição para governador, o desempenho fiscal aparece como um dos mais importantes. Em praticamente todos os modelos estatísticos a variável de desempenho fiscal teve significância estatística. Se dos eleitores de novas democracias é esperado um comportamento que incentive os políticos a aumentarem os gastos públicos com finalidades eleitorais (BRENDER; DRAZEN, 2005;

JONES; MELONI; TOMMASI, 2007), o Brasil aparece como uma exceção. De acordo com os resultados desta pesquisa, quando as despesas correntes superam as receitas correntes, as chances de reeleição diminuem. Uma das possíveis interpretações é a de que os eleitores brasileiros são “fiscalmente conservadores”, seguindo o raciocínio de Peltzman (1992) e confirmando os resultados da pesquisa de Arvate, Avelino e Tavares (2008). Segundo Peltzman, eleitores são avessos ao aumento de impostos e preferem governantes que mantenham controlados os gastos públicos.

Uma outra possível interpretação é a de que a variável de desempenho fiscal está captando aspectos ignorados na pesquisa. Não há nos testes estatísticos nenhuma variável sobre qualquer outro tipo de política pública. Se considerarmos que os eleitores se orientam não apenas por temas econômicos, pode ter ocorrido da variável de desempenho fiscal ter funcionado como uma proxy de (ou mesmo um fator que resuma) algo que se poderia chamar de “boas políticas públicas”. É razoável crer que governadores que tenham as despesas do governo sob controle sejam mais eficientes na elaboração e implementação de políticas e apresentem resultado operacional melhor. Em pesquisas futuras, seria interessante incluir indicadores sobre aspectos não econômicos relacionados à performance do governador para obervar se os níveis de significância da variável de desempenho fiscal são mantidos. Trata-se, porém, apenas de uma suspeita a ser investigada futuramente.

O crescimento da renda estadual não apareceu em momento algum como uma variável relevante para determinar as chances de reeleição de um candidato, exceto nas variações do teste estatístico comentadas acima. Assim, quando é o desempenho do PIB estadual que está em jogo, não é possível afirmar consistentemente que exista o voto econômico subnacional, concordando, portanto, com a literatura que afirma que o desempenho econômico estadual não influencia a eleição para governador. Pesquisas futuras com maior número de casos talvez sejam capazes de refutar este resultado.

Em contraste com o crescimento da renda, o desemprego estadual é, de acordo com os resultados desta pesquisa, uma variável importante na avaliação que os eleitores fazem dos governantes no final dos mandatos. Eleitores brasileiros são capazes de atribuir corretamente ao governador a responsabilidade sobre a economia estadual, resultado semelhante ao de Atkeson e Partin (1995) para os Estados Unidos. Mais ainda, o desemprego é a medida relevante para os eleitores avaliarem o governador, confirmando o que afirmou Gélineau

(2002) sobre o Brasil. É importante observar que as medidas de desemprego que tiveram significância estatística foram as medidas relativas. Nos termos de Leigh e McLeish (2008), que estudaram os estados e territórios australianos, os governadores são avaliados pela parcela da economia de sua “competência” e não pela parcela da economia correspondente à “sorte”.

Entretanto, o impacto do desemprego não é homogêneo em todo o país. Como foi possível verificar, o federalismo brasileiro de fato produz diferenças relevantes entre os estados quanto ao funcionamento da política estadual. Em estados nos quais as receitas tributárias têm pouca participação nas receitas estaduais, a proporção do emprego público sobre o total de trabalhadores é maior. Justamente nestes estados, o aumento do desemprego diminui as chances do candidato à reeleição. A suspeita é de que o governador seja responsabilizado pelo desemprego onde há proporcionalmente mais empregos públicos. Para parte dos estados brasileiros, portanto, existe evidências de um comportamento retrospectivo dos eleitores na avaliação do governador quando o tema em questão é desemprego. Dito de outra maneira, há

voto econômico subnacional referente a desemprego em estados mais dependentes do governo