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Avaliação dos sintomas de Stress Pós-Traumático

PARTE II – ESTUDO EMPÍRICO

5.7 Avaliação dos sintomas de Stress Pós-Traumático

Uma vez que não utilizamos qualquer questionário específico para avaliar a perturbação aguda de stress, e dado que a Escala de Resposta ao Acontecimento Traumático avalia sintomas de PTSD que por definição só pode ser diagnosticado quatro semanas após o acontecimento, o que está em causa neste estudo é o número de sintomas de PTSD no primeiro e segundo momentos de avaliação.

O estudo global da distribuição da totalidade das respostas pelos diferentes itens que compõem a Escala de Avaliação de Resposta ao Acontecimento Traumático (EARAT) permite-nos perceber os diferentes sintomas de stress pós- traumáticos experimentados pelos participantes em ambos os momentos da avaliação, após terem estado expostos a um acidente rodoviário.

A observação do gráfico 1 sugere-nos uma distribuição bastante heterogénea das respostas no seu conjunto em ambos os momentos da avaliação. Encontramos itens com uma taxa de frequência bastante baixa, sobretudo nos dados referentes à segunda avaliação efectuada.

Para que a análise seja facilitada, podemos estabalecer três grupos de análise, considerando os que têm uma frequência de resposta acima dos 60% (grupo 1), os

0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 Pbl S onho Pens am. D esag radáv el Acont ecer outras vez Ner voso / Es tran ho Tran spira r / T rem er Não t er p ensam . Não faze r coisa s Não me lem brar Muda nça Rela ções Relaç ões dife rente s Trist eza Pens am. F utur o Dific . So no Raiva / Irr itabili dad e Pbl A tenç ão Smp A lerta Medo Bar ulhos % d e S u je it o s avaliação 1 avaliação 2

que apresentam uma resposta com frequência intermédia, entre 30 e 59% (grupo 2), e aqueles cuja frequência de resposta é menor, entre de 0 a 29% de respostas (grupo 3). No primeiro grupo e por ordem decrescente de frequência, encontramos os seguintes itens: “Por vezes, sinto-me triste que não consigo falar nem chorar” (item 11), “tenho tido pensamentos desagradáveis acerca dessa experiência mesmo

quando não os quero ter” (item 2), “tenho tido dificuldade em adormecer ou manter-me a dormir” (item 13), “estou sempre alerta com medo que aconteça alguma coisa” (item 16), “tenho tentado não ter pensamentos ou sentir coisas dessa experiência” (item 6) e “sinto-me nervoso ou fico assustado com barulhos fortes e inesperados” (item 17). Na segunda avaliação apenas o item 16 tem uma frequência

de resposta superior a 60% (“estou sempre alerta com medo que aconteça alguma

coisa”).

Gráfico 1

Distribuição das respostas pela totalidade dos itens da EARAT em ambos os momentos da avaliação (EARAT) (n=42)

Da primeira avaliação, e quanto aos tens que incluímos no segundo grupo (cuja percentagem de respostas se situa entre os 30 e 59%) podemos encontrar respostas como: “às vezes sinto que essa experiência vai acontecer outras vez” (item 3), “o meu corpo começa a transpirar e a tremer, e o meu coração bate mais

depressa quando tenho uma experiência parecida com o acidente” (item 5) “fico muito nervoso ou estranho quando vejo ou ouço alguma coisa parecida com essa experiência ou me faz lembrar dela” (item 4) e “sinto irritabilidade ou sentimentos de raiva que não consigo controlar” (item 14).

Neste grupo também se encontram respostas da segunda avaliação, que passamos a enumerar por ordem decrescente de frequência: “sinto-me muito nervoso

ou fico assustado com barulhos fortes e inesperados” (item 17), “o meu corpo começa a transpirar e a tremer, e o meu coração bate mais depressa quando tenho uma experiência parecida com o acidente” (item 5), “fico nervoso ou estranho quando vejo ou ouço alguma coisa parecida com essa experiência ou que me faz lembrar dela” (item 4), “tenho tido pensamentos desagradáveis acerca dessa experiência mesmo quando não os quero ter” (item 2), “tenho tentado não ter pensamentos ou sentir coisas dessa experiência” (item 6), “tenho tentado não fazer coisas que me fazem lembrar essa experiência” (item 7), “às vezes sinto que essa experiência vai acontecer outra vez” (item 3) e “tenho dificuldade em adormecer ou mater-me a dormir” (item 13).

Por fim, relativamente à taxa de frequência dos sintomas avaliados pela EARAT, no grupo de sintomas referidos por menos de 29% encontramos os seguintes: “tenho tido muitos sonhos maus ou pesadelos repetidos acerca dessa

experiência” (item 1), “ não consigo lembrar-me de coisas importantes dessa experiência” (item 8), “tenho-me sentido incapaz de pensar no futuro” (item 12),

“desde essa experiência tenho-me sentido estranho e diferente com os meus amigos, como se não me importasse com eles” (item 10), “não consigo prestar atenção, distraio-me com facilidade” (item 15) e “desde que tive essa experiência tenho sentido menos vontade de estar com os amigos, jogar ou fazer coisas que gostava de fazer anteriormente” (item 9).

Neste grupo 3, mas na segunda avaliação também encontramos como respostas com menor taxa de frequência os itens 8, 12, 1, 14, 10 e 9.

Se fizermos a análise tendo em conta as diferentes sub-escalas do EARAT, podemos observar a distribuição dos sintomas com maior e menor frequência em cada uma delas em ambas as avaliações efectuadas.

Na sub-escala Revivência do Acontecimento (Gráfico 2) no primeiro momento de avaliação destacam-se particularmente a seguinte resposta instrusiva:”tenho tido pensamentos desagradáveis acerca dessa experiência mesmo

quando não os quero ter (contra a minha vontade) ” (item 2). Nesta primeira

avaliação o item 1 foi o que denotou menos frequência nas respostas (“tenho tido

sonhos maus ou pesadelos repetidos acerca dessa experiência”).

No segundo momento de avaliação destaca-se a frequência de respostas ao item 4 (“fico nervoso ou estranho quando vejo ou oiço alguma coisa parecida com

essa experiência ou que me faz lembrar dela”), e o primeiro item que alude à

0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 Pbl Sonho

Pensam. Desagradável Acontecer outras vez Nervoso / Estranho Transpirar / Tremer

% de sujeitos avaliação 1 avaliação 2 Gráfico 2

Distribuição das respostas na sub-escala “Revivência doAcontecimento”(n=42)

Na sub-escala de entorpecimento (Gráfico 3), na primeira avaliação destacam-se pela elevada frequências os seguintes itens: “por vezes, sinto-me tão

triste que não consigo falar nem chorar” (item 11) e “tenho tentado não ter pensamentos ou sentir coisas dessa experiência” (item 6).

No segundo momento de avaliação, as respostas de entorpecimento mais frequentemente referidas são: “tenho tentado não ter pensamentos ou sentir coisas

dessa experiência” (item 6), “tenho tentado não fazer coisas que me fazem lembrar essa experiência” (item 7) e ““por vezes, sinto-me tão triste que não consigo falar nem chorar” (item 11).

Em ambas as avaliações, as respostas de entorpecimento com menor taxa de frequência são sobretudo as que apelam ao relacionamento interpessoal, nomeadamente “desde que tive essa experiência tenho tido menos vontade de estar

0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 Não ter pensam.

Não fazer coisas Não me lembrar Mudança Relações Relações diferentes Tristeza Pensam. Futuro % de Sujeitos avaliação 1 avaliação 2

com os amigos, jogar ou fazer coisas que gostava de fazer anteriormente” (item 9) e “desde essa experiência tenho-me sentido estranho e diferente dosmeus amigos, como se não me importasse com eles” (item 10).

Gráfico 3

Distribuição das respostas na sub-escala “Entorpecimento”(n=42)

Relativamente à sub-escala que avalia a hipervigilância, verificamos que em ambos os momentos da avaliação se destacam os itens “estou sempre alerta com

medo que aconteça alguma coisa” (item16) e “sinto-me muito nervoso ou fico assustado com barulhos fortes ou inesperados” (item 17), como mostra o gráfico 4.

Para além deste, na primeira avaliação destaca-se ainda o item “tenho

0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 Dific. Sono Raiva / Irritabilidade Pbl Atenção Smp Alerta Medo Barulhos % de Sujeitos avaliação 1 avaliação 2 Gráfico 4

Distribuição das respostas na sub-escala “Hipervigilância”(n=42)

O item com menor frequência de resposta pelos 42 participantes neste estudo na primeira avaliação é o que apela aos problemas e dificuldades de atenção (“não

consigo prestar atenção, distraio-me com facilidade”, item 15) enquanto no segundo

momento de avaliação são os sinais relacionados com a raiva e irritabilidade (“sinto

irritabilidade ou sentimentos de raiva que não consigo controlar”, item 14).

Para além desta análise de frequência, verificamos através dos testes t para amostras emparelhadas se existem diferenças significativas nas diferentes sub- escalas da EARAT e no total da escala.

Os resultados, permitem-nos verificar que há uma diminuição significativa nos sintomas de entorpecimento do primeiro momento da avaliação (M=2.81, DP= 1.49) para o segundo (M=1.93, DP=1.85), t (41) =3.09, p <. 005.

Também os sintomas de hipervigilância apresentam uma diminuição significativa do primeiro (M=2.60, DP= 1.21) para o segundo momento da avaliação (M=1.95, DP=1.23), t (41) =3.39, p <. 005.

Não encontramos diferenças significativas nos sintomas de revivência do acontecimento do momento 1 (M=2.74, DP= 1.61) e o momento 2 da avaliação (M=2.07, DP=1.73), t (41) =2.89, n.s.

Relativamente ao valor total obtido na Escala de Avaliação de Resposta ao Acontecimento Traumático (EARAT), podemos assistir a uma diminuição significativa na sintomatologia de PTSD do primeiro momento da avaliação (M=8.14, DP=3.44) para o segundo (M=5.95, DP=4.26), t (41) =4.06, p <. 001.

Quanto aos sintomas que compõe e integram o diagnóstico de PTSD, constatamos que na primeira avaliação 92 % dos participantes (n=39) apresentam um ou mais sintomas de revivência do acontecimento, 59.5% (n=25) apresentam três ou mais sintomas de entorpecimento e 83.4% (n=39) dois ou mais sintomas de hipervigilância, tal como ilustra o quadro 21.

Numa análise semelhante relativamente ao segundo momento da avaliação, verificamos que 73.7% (n= 31) relatam um ou mais sintomas de revivência do acontecimento, 33.3% (n=14) apresentam três ou mais sintomas de entorpecimento e 64.3% (n=27) dois ou mais sintomas de hipervigilância.

Quadro 21

Sintomas de PTSD em ambos os momentos de avaliação

Dos 42 sujeitos avaliados no primeiro momento constatamos que 54.8% (n = 23) preencheriam os critérios de PTSD no primeiro momento da avaliação. Na segunda avaliação, verificamos que 30.9% (n = 13) apresentam os sintomas necessários ao diagnóstico de PTSD (Quadro 22).

Avaliação 1 Avaliação 2

(N=42) (N=42) N (Sim) % (Sim) N (Sim) % (Sim)

Revivência acontecimento Revivência acontecimento

0 sintomas 3 7.1 0 sintomas 11 26.3 1 sintoma 9 21.5 1 sintoma 8 19.0 2 sintomas 7 16.7 2 sintomas 4 9.5 3 sintomas 8 19.0 3 sintomas 10 23.8 4 sintomas 7 16.7 4 sintomas 4 9.5 5 sintomas 8 19.0 5 sintomas 5 11.9

N/% de sujeitos com mais

de 1 sintoma 39 92.9 N/% de sujeitos com mais de 1 sintoma 31 73.7

M (DP) 2.74 (1.61) M (DP) 2.07 (1.73) Entorpecimento Entorpecimento 0 sintomas 2 4.8 0 sintomas 13 31.0 1 sintoma 8 19.0 1 sintoma 8 19.0 2 sintomas 7 16.7 2 sintomas 7 16.7 3 sintomas 10 23.8 3 sintomas 4 9.5 4 sintomas 10 23.8 4 sintomas 4 9.5 5 sintomas 4 9.5 5 sintomas 5 11.9 6 sintomas 1 2.4 6 sintomas 1 2.4

N/% de sujeitos com mais

de 3 sintoma 25 59.5 N/% de sujeitos com mais de 3 sintoma 14 33.3

M (DP) 2.81 (1.49) M (DP) 1.93 (1.85) Hipervigilância Hipervigilância 0 sintomas 3 7.1 0 sintomas 6 14.3 1 sintoma 4 9.5 1 sintoma 9 21.4 2 sintomas 11 26.3 2 sintomas 13 31.0 3 sintomas 14 33.3 3 sintomas 9 21.4 4 sintomas 9 21.4 4 sintomas 5 11.9 5 sintomas 1 2.4 5 sintomas 0 0

N/% de sujeitos com mais

de 2 sintoma 35 83.4 N/% de sujeitos com mais de 2 sintoma 27 64.3

Quadro 22

Número e percentagem de sujeitos com PTSD na primeira e segunda avaliação (n=42)

Avaliação 1 Avaliação 2 Sujeitos com PTSD Sujeitos com PTSD

N % N % 23 54.8 13 30.9

Ao analisarmos a evolução da sintomatologia da primeira avaliação para a segunda avaliação (quadro 23), verifica-se que houve remissão da sintomatologia da primeira para a segunda avaliação em 30.9% dos sujeitos (n=13). Para além desses, mantiveram os sintomas de PTSD 23.8% (n=10) dos participantes e passaram a apresentam a sintomatologia de PTSD 7.1% (n=3) das vítimas de acidente.

Quadro 23

Evolução dos sintomas de PTSD da primeira para a segunda avaliação (n=42)

Avaliação 1 Avaliação 2

N=42 N=42

N % N %

13 31.0 Deixaram de ter PTSD (Remissão) 10 23.8 Continuaram com PTSD (Manutenção) Sujeitos com PTSD 23 54.8

3 7.1 Passaram a ter PTSD (Evolução para PTSD) 16 38.1 Mantiveram-se sem PTSD Sujeitos Sem PTSD 19 45.2

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