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CAPÍTULO 5: ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

5.1 Sentidos e significados declarados sobre as reuniões de construção coletiva

5.1.2 Avaliação e interpretação dos significados declarados sobre os

Nesta seção, faço uma retomada de cada elemento da atividade, conforme quadro apresentado por Liberali (2009), bem como minha interpretação dos dados obtidos nas respostas dos sujeitos participantes da pesquisa e os significados

compartilhados dos elementos da atividade de reunião de construção coletiva de pauta cheia.

Segundo Liberali (2009), o componente objeto é aquilo que satisfará a necessidade, o objeto desejado. Tem caráter dinâmico, transformando-se com o desenvolvimento da atividade; trata-se da articulação entre o idealizado, o sonhado, o desejado que se transforma no objeto final ou no produto.

Por meio dos dados obtidos, notam-se dois sentidos sobre o elemento objeto da atividade focal. O primeiro é que o objeto das reuniões é realmente a construção da pauta, ou seja, o planejamento da formação dos PCs. O segundo significado, conforme as respostas dos PCNPs 4, 5, 7, 8 e 12 e da SUP 13, é a formação dos próprios sujeitos da reunião.

Duas respostas que apontam para outro tipo de análise dos dados são as do PCNP 8, que diz: “Geralmente meus objetivos são compartilhar ideias, opiniões, experiências a fim de contribuir na construção da pauta” e da SUP 13, que afirma que o objeto é, “promover formação continuada dos PCNP”; ”Identificar necessidades de autoformação dos PCNP” e “Construir uma equipe com uma identidade de formação de formadores”.

O termo “meu” aponta que a PCNP 8 compreende que os objetivos apontados por ela podem não ser o objetivo de todo o grupo. As escrita da Sup 13 demonstram objetivos diferentes dos demais sujeitos da pesquisa e também mais sistematizados em relação ao grupo. As afirmações “Identificar necessidades de auto formação dos PCNP” e “Construir uma equipe com uma identidade de formação de formadores” apontam que sua preocupação com a reunião está também na responsabilidade de formar o grupo e de construir uma equipe com identidade de formadores.

É de fundamental importância que todos compreendam o espaço/tempo da reunião como um momento potencializador de novas aprendizagens e de crescimento do individual e coletivo, uma vez que essa compreensão pode nos levar a assumir papéis que dialoguem com esses espaços, ou seja, papéis em que estejamos dispostos a ouvir, falar e refletir .

Termos um significado compartilhado sobre as reuniões como espaço de troca de experiência e aprendizagem amplia a possibilidade de uma tomada de consciência de uma coerência entre o que dizemos e o que fazemos.

Segundo Liberali (2009), os sujeitos da atividade são aqueles que agem em relação ao motivo e realizam a atividade. Em relação a esse componente, os dados demonstraram existir um significado compartilhado sobre quem são os sujeitos participantes das reuniões. O NP, conforme já citado no capítulo sobre a historicidade da criação do NP e da função do PCNP, é composto por PCNPs dos anos iniciais e finais do Ensino Fundamental, do Ensino Médio, da área de Tecnologia Educacional e também de Projetos Especiais.

Os dados nos mostram que os participantes declarados dessas reuniões são os PCNPs dos anos finais do Ensino Fundamental e do Ensino Médio e a Supervisora de Ensino do NP.

O componente instrumento é o meio de modificar a natureza para alcançar o objeto idealizado. São passíveis de serem controlados pelo seu usuário, revelam a decisão tomada pelo sujeito e são usados para o alcance de fim predefinido (instrumento para o resultado) ou constituído no processo da atividade (instrumento e resultado) (LIBERALI, 2009).

A definição de um plano para PC, o agendamento e a rotina nas reuniões são instrumentos dessa atividade, uma vez que a construção desse plano teve seu início em janeiro. Percebe-se que ele é um plano em movimento, em constantes mudanças.

Podemos considerar que essa frase aponta que esse plano possui um caráter hibrido, ou seja,, é ao mesmo tempo um instrumento para resultado e um instrumento e resultado, pois ele é instrumento, quando os sujeitos partem dele para discussão nas reuniões como o tema etc. e também objeto, uma vez que ele está em constante construção e as pautas são uma das materializações do plano.

Outros instrumentos para o resultado como cadeiras, sala, data show, flipchart e computador com acesso a internet são citados.

A escrita da Sup 13: “[...] apresentam ideias, proposituras e encaminhamentos para a pauta cheia. [...]”, demonstra que os saberes dos integrantes da reunião, materializados por meio da fala, ou seja, o conhecimento de cada é um também um instrumento nas reuniões.

Segundo Liberali (2011), o sujeito individual atribui vários sentidos para o que está vivendo. O fato de os PCNPs apresentarem ideias, proposituras e

encaminhamentos para a construção do objeto (pauta) nas reuniões demonstra que os participantes externalizam seus sentidos sobre as discussões e escolhem em sua consciência, fazendo um recorte de tudo o que pensaram e o que está relacionado ao interesse da reunião. Assim, materializam por meio da fala o significado que atribuíram para todo aquele processo.

Pensar em conhecimento como instrumento significa compreender que a negociação de sentidos é de fundamental importância para a construção de significados compartilhados. Partindo desse princípio e pensando no conceito da coerência na formação de formadores, ao vivenciar a negociação de sentidos e tendo consciência desse processo, os integrantes do grupo podem proporcionar aos seus formandos esse mesmo movimento.

De acordo com Liberali (2009), as regras são normas explicitas ou implícitas na comunidade. Elas regulam ações e interações dos sujeitos no decorrer da atividade e podem ser implícitas ou explícitas. São procedimentos que ajudam na intermediação entre o objeto e os sujeitos. Muitas delas constituem-se na própria atividade, geradas a partir de seu desenvolvimento.

As escritas do PCNP 8: “cada PCNP conta sua ideia [...]” e “Todos os PCNP precisam participar [...]”; as do PCNP 12: “a maioria dos PCNP busca respeitar o pedido de fala do outro” e “[...] espaço para que todos possam se colocar” e a da Sup 13: “Escutar uns aos outros” apontam que o espaço das reuniões é marcado pelo diálogo. Os trechos “respeitar o pedido de fala do outro”, “todos possam se colocar”, “cada PCNP conta sua ideia” e “escutar uns aos outros” demonstram que escutar e falar são regras valorizadas pelo grupo. A fala de PCNP 4: “Discutir ideias não pessoas” mostra que o diálogo é valorizado naquele espaço/tempo.

Considero que o significado compartilhado sobre o elemento regras, que busca desvendar normas explicitas ou implícitas na comunidade, é que nessa atividade as regras são dialogar, ou seja, escutar e se posicionar perante os diálogos, estar presente nas reuniões e preparar-se previamente para os encontros.

A divisão de trabalho é constituída de ações intermediárias realizadas pela participação individual na atividade, mas que não alcançaram independentemente a satisfação da necessidade dos participantes. São tarefas e funções de cada um dos sujeitos. Segundo Liberali (2009), refere-se à distribuição de responsabilidades e

papéis na atividade, tanto em relação à divisão horizontal de tarefas quanto vertical, relacionadas a poder e status dos sujeitos.

Podemos perceber que existe uma divisão de trabalho nessas reuniões e os papéis mais importantes são: um líder apontado pelo grupo. O papel de apresentar ideias e melhorar as ideias de colegas é assumida por todos. Apenas alguns assumem a preocupação com o tempo, o registro, a qualidade das discussões e os avanços nas discussões, conforme o que é declarado.

O trecho “Dependeu muito também da determinação da Sup 13, no estabelecimento de agendas conforme a disponibilidade dos PCNP” demonstra que no grupo a supervisora possui importante papel nas reuniões e, provavelmente, corrobora com a articulação do NP com outros departamentos da Diretoria de Ensino como, por exemplo, a Dirigente de Ensino.

A Sup 13, ao escrever os verbos no gerúndio, “problematizando as falas, ideias e proposituras dos PCNP [...] fazendo proposituras para a formação dos professores coordenadores [...] explicando conceitos que fazem parte do conteúdo [...] trazendo referenciais teóricos para formação dos PCNP e mediando as discussões” demonstra sua ação nas reuniões, apontando um papel social diferente dos demais.

Os diferentes papéis assumidos e atribuídos pelos integrantes são de fundamental importância no desenvolvimento da atividade. Segundo Leontiev (1977, p. 62-63), “para entender porque ações separadas são significativas, é preciso compreender o motivo por trás da atividade como um todo”, ou seja, a atividade é guiada por um motivo. Conforme o que é declarado pelos sujeitos, podemos perceber que diferentes ações e papéis assumidos nessas reuniões potencializam o desenvolvimento da atividade.

Segundo Engeström (1999), uma atividade é constituída por uma comunidade com múltiplos pontos de vista, interesses e papéis. De acordo com Liberali (2013), tal modo de organizar a atividade, ou seja, esses diferentes pontos de vista e papéis assumidos, em forma de elos encadeados, proporciona aos sujeitos em formação tratar dos problemas e conflitos encontrados na atividade, na responsabilização de todos, na sensação de coletividade, no cuidado com o outro e na construção de algo “nosso”. Esses pontos são fundamentais para um grupo de formadores que busca a

transformação do meio social em que vive e também da comunidade beneficiada pela atividade.

Segundo Liberali (2009), o elemento comunidade refere-se a aqueles que compartilham o objeto da atividade por meio da divisão de trabalho e das regras. Sobre esse elemento, podemos constatar nas escritas dos PCNPs 7, 8, 12 e da Sup 13 que a comunidade que se beneficia dessa Atividade são os próprios sujeitos, os PCs.

A escrita dos PCNPs 5, 8 e 12 se diferem dos demais quando eles citam professores e alunos, aproximando-se assim da rede de atividades apresentada por Engeström (1987).

Os termos “DER”, “Diretoria” e “Escolas” nos leva a interpretar que os beneficiados são as instituições escolares, que alunos, professores, diretores etc. frequentam ou toda a diretoria.

Segundo Liberali (2008), compreender as necessidades da comunidade, que se beneficia da atividade realizada, possui grande relevância ao pensarmos em formação. A autora afirma que conhecer melhor a comunidade em que se inserem os formandos e seus valores colabora para que no futuro os formadores confrontem as práticas e entendam as principais característica do contexto.

5.2 Sentidos e significados vividos nas reuniões de construção coletiva de

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