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4 APRENDIZAGEM ESCOLAR E DESENVOLVIMENTO: UMA EQUAÇÃO

5.2 CARACTERIZANDO OS GRUPOS EM QUE ESTÃO INSERIDOS: OS SUJEITOS DA

5.2.1.3 Avaliação da escrita do grupo

Esse momento previa a leitura de palavras e frases para que, em folhas numeradas, as crianças escrevessem. Líamos as palavras sem fazer pausas, mas repetíamos quantas vezes pedissem.

Ao analisar as produções da escrita de palavras e frases, vimos que 31% das crianças produziram escrita não identificada, 42% produziram escrita silábico alfabética e 27% escreveram alfabeticamente com erros ortográficos.

GRÁFICO 1: Escrita de lista de palavras e frases (Escola Mauricio de Sousa) Fonte: Dados obtidos da pesquisa (2008).

O gráfico aponta para a participação de todos os sujeitos do grupo, apresentando que o menor índice encontrado é o de crianças que escrevem alfabeticamente.

27% 31% 42% 0% 10% 20% 30% 40% 50% Escreveram alfabeticamente com erros ortográficos

Produziram escrita não identificada

Produziram escrita silábico/alfabética

Escola Mauricio de Sousa Avaliação da Escrita Escrita de lista de palavras e frases

No segundo momento, lemos um texto curto e solicitamos que as crianças escrevessem a história que havia sido lida pela pesquisadora. Nessa fase, algumas crianças recusaram-se a tentar escrever, e justificavam que não sabiam. Após nosso carinhoso convencimento, conseguimos colher as escritas e, assim, pudemos verificar que 32% produziram o texto com escrita não identificada, 22% produziram o texto com escrita pré- silábica, 14% produziram o texto com escrita silábico-alfabética, 4% repetiram palavras que sabiam de cor e apenas 23% escreveram alfabeticamente com erros ortográficos. As convenções ortográficas só aparecem, ainda que parcialmente, em 5% das crianças e nenhuma utiliza adequadamente letras maiúsculas e minúsculas.

GRÁFICO 2: Produção escrita / Reprodução do conto (Escola Mauricio de Sousa) Fonte: Dados obtidos da pesquisa (2008).

Considerando o período letivo em que foi aplicado o instrumento, é muito alto e preocupante o índice que reflete o texto produzido com escrita não identificada. Vale salientar que encontramos textos em que o aluno, sequer, fazia a diferenciação entre a representação icônica e não icônica, fase inicial para o desenvolvimento da escrita. Também surpreende o baixo número de alunos que escrevem alfabeticamente.

Reproduzir através da escrita algo que foi transmitido pela voz, requer mais que uma transcrição, exige interação com a mensagem. Nesse caso, apenas 22% das crianças mantêm parcialmente o enredo do texto, reproduzindo personagens, enquanto 78% não estabelecem nem mesmo a sequência mais básica de acontecimentos.

32% 23% 22% 14% 5% 4% 0% 5% 10% 15% 20% 25% 30% 35% Produziram o texto com escrita

não identificada Escreveram alfabeticamente com erros ortográficos Produziram texto com escrita pré- silábica Produziram texto com escrita silábico-alfabética Uso adequado de letras maiúsculas e minúculas Escreveram palavras que sabiam de cor

Escola Mauricio de Sousa Avaliação da escrita

GRÁFICO 3: Elemen Fonte: Dados obtidos Seria de esperar, co manter a sequência de ac registro insistiam para qu operações complementares adquire a escrita, e através seu repertório linguístico, o A situação específic às poucas experiências de l – escrevem textos muito c somente 9% escrevem acim

GRÁFICO 4: Extensã Fonte: Dados obtidos

81% 0% 20% 40% 60% 80% 100% De 6 a 15 palavras Extensã

entos do texto (Escola Mauricio de Sousa). os da pesquisa (2008).

com base nos dados anteriores, que os alun acontecimentos do texto. Nesta fase, aqueles que ditássemos o que deveriam escrever. Le es, por isso estão inteiramente relacionadas. és da escrita a criança percebe as regularidade , o que favorece a leitura.

fica denota limitações, quanto à produção text e leitura em sala de aula e fora desta. A maiori curtos com 6 a 15 palavras, 10% escreve en ima de 25 palavras e nenhuma com menos de 5

são do texto em número de palavras (Escola Mauri os da pesquisa (2008).

10% 9%

ras De 11 e 15 palavras Acima de 25 palavras

Escola Mauricio de Sousa Avaliação da escrita

ensão do texto em número de palavras

unos não conseguissem les que sabiam fazer o Ler e escrever exigem . Através da leitura se des da língua e constrói

xtual, que relacionamos oria das crianças, – 81% entre 11 e 15 palavras, 5 palavras.

Desse modo, podemos inferir que há dificuldades no processo de alfabetização desta turma, explicitada no grande número de alunos, que demonstram limitações desde a escrita de palavras à capacidade de expressarem a mensagem do texto, consequentemente, não têm como manter a sequência de acontecimentos. Além disso, os textos de grande parte da turma são muito pequenos, com poucas exceções. Julgamos que uma das hipóteses para este resultado, seja o fato de o contexto escolar não estar sendo alfabetizador, com poucos momentos de interação das crianças com a leitura e a escrita, o que deve ter interferido nos dados que apresentamos e que expomos também nos gráficos, para melhor apreciação.

Nesses casos, preocupa-nos ainda o imobilismo motivado pela sociedade, as condições sociais e escolares que ocasionam a falta de iniciativa em algumas crianças, especificamente as que demonstram mais dificuldade para tentarem escrever, como se a escrita espontânea não tivesse validade na rotina escolar, demonstrando, com suas hesitações na realização das tarefas propostas, a falta de confiança em si mesmas. Para Gallart (2004, p. 46), “os meninos e as meninas vão construindo a percepção sobre suas próprias capacidades, a partir da interação com as pessoas com as quais se relacionam.” Desse modo, sabemos que os alunos percebem as expectativas dos docentes, da pesquisadora e dos que estão ao seu redor. Nesse sentido, foi preciso insistir diversas vezes com as crianças para que participassem, cada uma do seu modo particular. Essa era, então, a expectativa da pesquisadora, que somente quando foi assim interpretada pelos alunos, conseguiu a participação de todos.

5.2.2 Escola Monteiro Lobato

5.2.2.1 A professora

A professora é estatutária, não exercendo outra atividade remunerada além da docência. É pós-graduada em educação, tem formação específica em alfabetização de crianças, uma vez que participou do Programa de Formação Pró-letramento; no entanto, não soube responder qual metodologia predomina em sua prática de professor alfabetizador. Sente-se, em parte, satisfeita com a sua profissão, pois percebe que está influenciando positivamente a vida de outras pessoas, embora o salário não a satisfaça plenamente. Entende que as possíveis dificuldades de aprendizagens dos alunos são devidas principalmente às

poucas oportunidades de desenvolvimento das suas capacidades intelectuais, indisciplina e falta de assistência e acompanhamento das tarefas de casa.

5.2.2.2. Os alunos

Os gestos, o olhar, a expressão dos rostos das crianças demonstravam a alegria que sentiam por terem a oportunidade de ser protagonistas do trabalho que seria desenvolvido. Ali, pareciam comuns a troca de ideias, a participação dos alunos na sala de aula, o estímulo às diversas linguagens para comunicação. Muitos questionamentos foram feitos, relacionados ao objetivo da atividade que seria desenvolvida. As crianças demonstravam refletir sobre aquele momento e as perguntas eram muito coerentes. Para Vygotsky (2005, p. 62):

[...] o desenvolvimento do pensamento é determinado pela linguagem, isto é, pelos instrumentos linguísticos do pensamento e pela experiência sócio- cultural da criança [...] O crescimento intelectual da criança depende dos meios sociais do pensamento, isto é, da linguagem.

Aquelas crianças participavam frequentemente de atividades que as faziam pensar e expressar sua opinião. Sendo assim, tínhamos o desafio de responder as perguntas de forma que as convencessem da significação daqueles procedimentos para suas vidas. Perguntas do tipo: isso só serve para você? (Emília, 9 anos) como se estivessem interessados em saber a razão da minha presença. Tivemos que minuciosamente explicar a importância de um trabalho acadêmico, como também demonstrar que aquelas atividades eram produtivas para suas aprendizagens.

5.2.2.3 Avaliação da escrita do grupo

Os procedimentos seguiram a mesma condução e os mesmos critérios da escola anterior, no entanto, o resultado dos mesmos instrumentos aplicados na Escola Monteiro Lobato foi bem diferente. Os instrumentos foram aplicados seguindo a mesma sequência: leitura de texto, leitura de palavras, escrita do texto pelo aluno. Na leitura de palavras, 42% das crianças já escrevem, com ortografia praticamente convencional, enquanto 32% escrevem alfabeticamente, embora ainda apresentem erros ortográficos. Através da análise das escritas,

verificamos que 5% produzem escrita pré-silábica, 10% escrevem baseados na hipótese silábico-alfabética e apenas 11% das crianças produziram escrita não identificada; mesmo assim, produzem suas escritas com muita tranquilidade, o que nos leva a concluir que na prática pedagógica há incentivo à expressão pessoal dos alunos.

[

GRÁFICO 5: Escrita de lista de palavras e frases (Escola Monteiro Lobato). Fonte: Dados obtidos da pesquisa (2008).

Escrever algo lido pela professora implica interpretar para recompor o texto. Essa capacidade foi verificada na reprodução do conto, em que 61% das crianças produziram seu texto com escrita alfabética, apresentando poucos erros ortográficos. As demais estão divididas em: 21% escrevem com algumas convenções ortográficas, incluindo o uso adequado de letras maiúsculas e minúsculas, 5% encontram-se apoiadas na hipótese pré-silábica, 8% escrevem palavras que sabem de cor, 5% produziram texto com escrita não identificada. É bem satisfatório o resultado obtido nessa escola; os textos são escritos com diversidade de palavras, indicando um adequado repertório linguístico, destacando-se que muitas crianças demonstraram ainda a preocupação com os detalhes, como a pontuação correta e início dos parágrafos. 61% 21% 20% 30% 40% 50% 60% 70%

Escola Monteiro Lobato Avaliação da escrita

Produção de escrita / Reprodução de conto 42% 32% 11% 10% 5% 0% 10% 20% 30% 40% 50% Escreveram com ortografia convencional Escreveram alfabeticamente com erros ortográficos

Produziram escrita não identificada

Produziram escrita silábico-alfabética

Produziram escrita pré-silábica

Escola Monteiro Lobato Avaliação da escrita Escrita de lista de palavras e frases

GRÁFICO 6: Produção de escrita – Reprodução de conto (Escola Monteiro Lobato) Fonte: Dados obtidos da pesquisa (2008).

Não temos dúvida de que a prática da leitura favorece a habilidade da escrita. Essa relação pode ser percebida em mais da metade da turma, em que 61% mantiveram elementos do enredo do texto, reproduzindo personagens e 13% o fizeram parcialmente. As demais – 26% – não conseguiram expressar a ideia central do texto, embora conste na maioria, trechos ou palavras que tinham alguma relação com o texto lido. É provável que este resultado tenha relação com os estímulos que comumente recebiam para expressarem graficamente as ideias que já possuíam, através das oportunidades oferecidas, como por exemplo quando a professora solicitava para que os alunos apresentassem a escrita tal como a concebiam naquele momento.

GRÁFICO 7: Elementos do texto (Escola Monteiro Lobato) Fonte: Dados obtidos da pesquisa (2008).

71% 29% 0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% Mantêm parcialmente o enredo do texto reproduzindo personagens Não estabelecem a sequencia básica de acontecimentos

Escola Monteiro Lobato Avaliação da escrita Elementos do texto

Para reproduzir um texto, é preciso organizar os dados em ordem das situações narradas. Vimos que a maioria das crianças consegue manter claramente a sequência de acontecimentos do texto, totalizando 71%. 29% das crianças não conseguiram expressar claramente a ideia central do texto, não estabelecendo sequer a sequência mais básica de acontecimentos.

GRÁFICO 8: Extensão do texto em números de palavras (Escola Monteiro Lobato) Fonte: Dados obtidos da pesquisa (2008).

A maioria das crianças escreveu acima de 25 palavras, totalizando 41,6%. As demais dividem-se em: 25% de 16 a 25 palavras; 15% de 11 a 15 palavras; 16% de 6 a 10; 2,4% escreveram até 5 palavras. Observamos que a maioria das crianças sente prazer em reproduzir o texto, interpretando e mantendo o enredo, tendo repertório composto por muitas palavras, o que colabora para a quantidade observada em suas produções de textos mais longos, havendo, em muitas situações, preocupação com a estética do texto. Aspectos discursivos são evidenciados nos textos, que, além dos signos alfabéticos, inclui sinais como espaços para separar palavras e para evidenciar o início de parágrafo.

Através da leitura dos dados, explicitados anteriormente, podemos constatar que os alunos das duas escolas constituem dois grupos com muitas diferenças, especialmente, no que se refere às aquisições escolares. Os alunos da Escola Mauricio de Sousa temem arriscar-se a escrever como sabem, esse foi o primeiro desafio da pesquisa. Além disso, somente 26% escrevem alfabeticamente, enquanto na Escola Monteiro Lobato, no mesmo período letivo, se somarmos os que se encontram na fase alfabética/ortográfica e alfabética, totalizam 74% do

41,6% 25% 16% 15% 2,4% 0,0% 10,0% 20,0% 30,0% 40,0% 50,0%

Acima de 25 palavras De 16 a 25 palavras De 6 a 10 palavras De 11 a 15 palavras Escreveram até 5

palavras

Escola Monteiro Lobato Avaliação da escrita

grupo. A mesma distância dos dados acontece na reprodução do conto, indicando que o trabalho desenvolvido na Escola Monteiro Lobato favorece a alfabetização das crianças, enquanto na Escola Mauricio de Sousa o trabalho voltado para a alfabetização precisa ser repensado. Do mesmo modo, verificamos a diferença no tamanho do texto, enquanto na Escola Mauricio de Sousa, a maioria dos alunos escreve seu texto com, no máximo, 15 palavras, na escola Monteiro Lobato, a maioria escreve até 25 palavras, ou seja, produz textos mais longos, provavelmente porque tem maior repertório linguístico. Diante desses dados, questionamos a relação entre os resultados e a atuação docente nas duas Escolas. Sabemos que,

Tarefa complexa requer preparo e compromisso; envolvimento e responsabilidade. É algo que se define pelo engajamento do educador com a causa democrática e se expressa pelo seu desejo de instrumentalizar política e tecnicamente o seu aluno, ajudando-o a construir-se como sujeito social. (MOYSÉS, 1995. p. 14).

Os resultados precários na Escola Mauricio de Sousa não são mera coincidência. A professora arrependeu-se de ingressar no magistério, não faz nenhum curso de capacitação, sentindo-se desmotivada no desenvolvimento do seu trabalho.

É óbvio que ele, o professor, por si só, não é capaz de transformar a realidade que extrapola a própria escola e tem suas raízes no econômico e no sociopolítico. Mas sua competência, como profissional da educação, é, sem dúvida, um dos fatores de maior peso quando se pensa na melhoria da qualidade de ensino. (MOYSÉS, 1995, p. 14).

É só observar os dados e relacioná-los às respectivas docentes para que fortaleçamos a convicção de que a formação do professor tem influência direta nos resultados da aprendizagem, pois é uma atividade profissional que necessita de saberes específicos para atuação.

Os resultados da Escola Mauricio de Sousa apontam para a necessidade de serem revistas práticas pedagógicas calcadas na memorização excessiva e de se trabalhar com as potencialidades dos alunos, numa perspectiva de letramento, de forma que os usos e funções da leitura e da escrita favoreçam o significado das atividades alfabetizadoras. Exemplo disso, pode ser verificado nos sujeitos da pesquisa, que demonstravam indisposição para as tarefas

em sala de aula, quando, ao mesmo tempo, mostravam, nas situações significativas de alfabetização propostas pela pesquisadora, interesse em aprender.

As duas escolas tinham muitas limitações em relação às condições materiais e estruturais; no entanto, entendemos que as diferenças nos dados apresentados estão relacionadas às questões peculiares, à relação pedagógica que, indiscutivelmente, pode ser tão estimulante e desafiadora, quanto bastante nociva para a aprendizagem dos alunos. As experiências em duas escolas nos deixaram cada vez mais convicta de que o essencial para atingir o principal objetivo escolar – aproximação com o conhecimento sistematizado – são as pessoas, pois a Escola é, prioritariamente, resultante das pessoas que ali passaram e que estão no momento.

Os dois grupos observados também diferenciam-se quanto à conduta e reação às explicações da professora. Enquanto na Escola Monteiro Lobato eram poucos os momentos em que a professora precisou chamar atenção dos alunos, pois a maioria mantinha-se concentrada nas atividades propostas, na Escola Mauricio de Sousa, limitados eram os momentos de concentração nas atividades. Nos intervalos, o cenário era parecido: a energia infantil expressa em corridas, gritos e brincadeiras era comum nas duas escolas.

Assim, há de se questionar a estrutura política e social que sustenta e alimenta estas práticas, incluindo as condições de trabalho dos profissionais e suas motivações pessoais. Desse modo, há muito a avançar na democratização do ensino brasileiro.