3.2 Métodos de Avaliação de IHC
3.2.1 Avaliação Heurística
A avaliação heurística é um método de avaliação de IHC desenvolvido para en- contrar problemas de usabilidade durante o processo de design (Nielsen, 1994). Este é um método de inspeção, onde os avaliadores analisam a interface em busca de pro- blemas de usabilidade de acordo com um conjunto de heurísticas. Nielsen propôs um conjunto de 10 heurísticas:
Visibilidade do status do sistema - O sistema deve sempre manter os usuários informados sobre o que está acontecendo, através de feedback apropriado em tempo razoável.
32 Correspondência do sistema com o mundo real - O sistema deve falar a lingua-
gem dos usuários, com palavras, frases e conceitos familiares ao usuário, ao in- vés de termos orientados ao sistema.
Controle e liberdade do usuário - Usuários frequentemente escolhem funções do sistema por engano e vão precisar de uma "saída de emergência" claramen- te marcada para sair do estado indesejado sem ter que passar por uma extensa interação.
Consistência e padronização - Os usuários não precisam adivinhar que diferen- tes palavras, situações ou ações significam a mesma coisa. Siga as convenções da plataforma.
Ajude os usuários a reconhecerem, diagnosticarem e se recuperarem de erros - Mensagens de erro devem ser expressas em linguagem clara (sem códigos), indicar com precisão o problema e construtivamente sugerir uma solução. Prevenção de erros - Ainda melhor do que boas mensagens de erro é um proje-
to cuidadoso que impede que um problema ocorra em primeiro lugar. Evitar si- tuações em que o usuário cometa erros, por exemplo, informando e pedindo confirmação antes de executar a ação.
Reconhecimento em vez de memorização - tornar objetos, ações e opções vi- síveis. O usuário não deve ter que lembrar informação importante. Instruções para uso do sistema devem estar visíveis e facilmente acessíveis, quando ne- cessário.
Flexibilidade e eficiência no uso – aceleradores ou teclas de atalho, invisíveis para o usuário novato, podem acelerar a interação para o usuário experiente. Assim, o sistema pode atender bem aos usuários com e sem experiência. Per- mitir aos usuários personalizar ações frequentes.
Projeto estético e minimalista - A interface não devem conter informação irre- levante ou raramente necessária. Cada unidade extra de informação em um di- álogo compete com as unidades relevantes de informação e diminuir sua visibi- lidade relativa.
Ajuda e documentação – Mesmo sendo melhor que o sistema possa ser utili- zado sem documentação, é necessário oferecer ajuda e documentação para
33 quando o usuário se deparar com alguma dificuldade. Esse tipo de informação deve ser fácil de pesquisar, focada na tarefa do usuário, listar os passos concre- tos a serem realizados e não ser muito grande.
Seguindo esses princípios, os avaliadores inspecionam a interface como se fos- sem usuários, anotando os problemas encontrados. Nielsen (1994) sugere que de três a cinco avaliadores inspecionem a interface para aumentar a quantidade e diversidade de problemas encontrados. A avaliação heurística propõe atividades onde o avaliador trabalha individualmente e outras em grupo (Tabela 1).
Tabela 1 - Atividades do método de avaliação heurística (Barbosa e Silva, 2010)
Avaliação heurística Atividade Tarefa
Preparação Todos os avaliadores:
Aprendem sobre a situação atual: usuários, domínio etc. Selecionam as partes da interface que devem ser avaliadas
Coleta de dados Cada avaliador, individualmente:
Inspeciona a interface para identificar violações das heurísticas Lista os problemas encontrados pela inspeção, indicando local, gravi-
dade, justificativa e recomendações de solução Interpretação
Consolidação dos resultados
Todos os avaliadores:
Revisam os problemas encontrados, julgando sua relevância, gravida- de, justificativa e recomendações de solução
Geram um relatório consolidado Relato dos resul-
tados
Na fase de preparação, os especialistas aprendem sobre o sistema (usuários, domínio etc.) e selecionam a porção da interface que será avaliada. A avaliação pode ser realizada no sistema pronto (avaliação somativa), assim como em protótipos exe- cutáveis e não executáveis (avaliação formativa). Por isso, a avaliação pode ser execu- tada ao decorrer de todo o projeto, basta ter uma interface proposta.
Na coleta, cada avaliador inspeciona a interface para identificar se as heurísticas foram violadas ou respeitadas. Se forem violadas, é considerado como problema de usabilidade. O avaliador pode adotar duas estratégias: selecionar uma heurística e ve- rificar se ela foi violada em toda a interface avaliada, ou verificar todas as heurísticas por cada parte da interface (tela, página, etc.).
34 Para cada heurística violada, o avaliador deve registrar: o problema de usabilida- de encontrado, a heurística violada, local, gravidade e justificativa. O local pode ser pontual, encontrado em um único local na interface; ocasional, dois ou mais locais da interface; ou sistemático, em toda a interface. Também pode ser causado pela ausên- cia de algum elemento na interface. O avaliador deve atribuir uma gravidade para cada problema identificado, afim de priorizar a correção dos problemas. Nielsen (1994) clas- sifica a gravidade em:
1: problema cosmético – não precisa ser consertado a menos que sobre tempo; 2: problema pequeno – conserto de baixa prioridade;
3: problema grande – alta prioridade e importante ser consertado, prejudica a usabilidade das principais partes do sistema;
4: problema catastrófico – precisa ser consertado, pois impede o usuário de rea- lizar suas tarefas e alcance seus objetivos;
Após a realização das avaliações individuais, os avaliadores se reúnem para dis- cutir cada problema identificado, revisando sua definição, gravidade e soluções pro- postas. Nessa reunião os avaliadores elaboram um relatório consolidado com os pro- blemas de usabilidade encontrados. O relato dos resultados de uma avaliação heurísti- ca geralmente contém (Barbosa e Silva, 2010 p. 320):
os objetivos da avaliação; o escopo da avaliação;
uma breve descrição do método de avaliação heurística; o conjunto de diretrizes utilizado;
o número e o perfil dos avaliadores;
lista de problemas encontrados, indicando, para cada um: o local onde ocorre;
o descrição do problema; o diretriz(es) violada(s); o gravidade do problema; o sugestões de solução.
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