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UNIVERSITÁRIOS

Defendemos a avaliação institucional participativa como um mecanismo que produz espaços sociais emancipatórios e contribui para a construção de novas subjetividades/intersubjetividades, o que possibilita mudanças de concepções, de atitudes, das práticas e constrói sujeitos capazes de contribuir com a transformação social. Nesse sentido, para definir a avaliação institucional participativa, será necessário discutir alguns conceitos básicos como o conceito de espaço social entendido como local de lutas entre posições diferentes o que gera conflitos necessários para que haja mudanças de atitudes, questão que analisaremos melhor nesse capítulo.

O segundo conceito é entender a emancipação como um conceito construído na modernidade e que foi-se perdendo no decorrer da história à medida que os princípios da regulação dominaram a sociedade e, portanto, é necessário reinventar a emancipação.

O terceiro conceito necessário para compreendermos avaliação participativa é o conceito de participação como resultante da democracia participativa e não da democracia representativa. A partir desses pressupostos teóricos, discutiremos a avaliação institucional participativa como caminho para a reconstrução da emancipação.

3.1 – Espaço Social na perspectiva de Bourdieu como um campo de Relações Complexas necessário ao processo de avaliação participativa

Tomamos o conceito de espaço social de Bourdieu para entendermos o campo da avaliação. Esse conceito representa contribuições importantes desse autor para o campo da avaliação na medida em que concebe o sujeito em movimento. Entendemos esse movimento a partir do habitus que são estruturas adquiridas desde os primeiros contatos familiares que vão modificando-se nas relações sociais. O sujeito é considerado um ser ativo no espaço social e está constantemente interagindo com o outro. Dessa forma, o espaço social é o local da discussão e, portanto, de lutas, com forças diferentes interagindo. Essas forças que se interagem geram conflitos que possibilitam a reflexão. Acreditamos ser esse o caminho para a construção de

mudanças significativas. Nesse contexto, a avaliação participativa será analisada como um campo tensionante de lutas e disputas.

Para Bourdieu, o espaço social é o local onde as relações entre os sujeitos se dão a partir de propriedades e posições diferentes. Nas palavras de Bourdieu, espaço social apresenta-se:

(...) sob a forma de agentes dotados de propriedades diferentes e sistematicamente ligadas entre si: quem bebe champanha opõe-se a quem bebe uísque, mas estes também se opõem, diferentemente, a quem bebe vinho tinto; mas quem bebe champanha tem muito mais chances do que quem bebe uísque, e infinitamente mais do que quem bebe vinho tinto, de ter móveis antigos, praticar golfe (...). Tais propriedades (...) é “coisa” de grande burguês tradicional – funcionam na própria realidade da vida social como signos: as diferenças funcionam como signos distintivos. (...) Em outros termos, através da distribuição das propriedades, o mundo social apresenta-se, objetivamente, como um sistema simbólico que é organizado segundo a lógica da diferença, do desvio diferencial. O espaço social tende a funcionar como um espaço simbólico, um espaço de estilos de vida e de grupos de estatuto, caracterizados por diferentes estilos de vida. (grifo nosso). (BOURDIEU, 2004b, p. 160)

Essas posições e propriedades diferentes são definidas de acordo com o capital cultural que cada um detém e que foi sendo construído histórica e culturalmente. Bourdieu define capital, sustentado nas idéias de Marx, como poder e para ele poder é dominação, portanto, quanto mais capital maior será a capacidade de dominação. Nesse caso, no espaço social estão presentes vários capitais simbólicos o que leva à relação de dominação e conflitos. Bourdieu define o campo social como:

Espaço multidimensional de posições tal que qualquer posição atual pode ser definida em função de um sistema multidimensional de coordenadas cujos valores correspondem aos valores das diferentes variáveis pertinentes: os agentes distribuem-se assim nele, na primeira dimensão, segundo o volume global do capital que possuem e, na segunda dimensão, segundo a composição do seu capital – quer dizer, segundo o peso relativo das diferentes espécies no conjunto das suas posses. (BOURDIEU, 2004a, p. 135). O espaço social é organizado segundo a distribuição dos sujeitos em posições diferentes e essas posições são definidas de acordo com a quantidade de capital. O capital pode estar distribuído em capital econômico, cultural e simbólico. O espaço social traduz essas relações que se estabelecem entre as pessoas que detêm diferentes capitais e essas relações são permeadas por confrontos e tensões.

A idéia de espaço social foi fundamental quando Bourdieu estudou o conceito de campo. Vamos explicar o conceito de campo para entendermos melhor a dinâmica que se estabelece nos espaços sociais.

Para definirmos campo vamos tomar metaforicamente a idéia do campo de futebol. Nesse caso, teremos um espaço físico com sujeitos em posições diferentes, com funções

específicas, mas com regras e normas definidas, que correm atrás de um objeto (a bola) em busca de um objetivo comum (fazer gol). A metáfora explica com objetividade a definição de campo proposta por Bourdieu como um conjunto de agentes com posições definidas pela sua inserção no espaço social, através de uma composição específica de capital. O campo surge como uma configuração de relações socialmente distribuídas. Os sujeitos que fazem parte do campo são dotados das diversas formas de capital (capital cultural, econômico e simbólico) com capacidades adequadas ao desempenho de suas funções e estão preparados para enfrentar as lutas, conforme afirma Bourdieu:

(...) Esses poderes sociais fundamentais são, de acordo com minhas pesquisas empíricas, o capital econômico, em suas diferentes formas, e o capital cultural, além do capital simbólico, forma de que se revestem as diferentes espécies de capital quando percebidas e reconhecidas como legítimas. Assim, os agentes estão distribuídos no espaço social global, na primeira dimensão de acordo com o volume global de capital que eles possuem sob diferentes espécies e, na segunda dimensão de acordo com a estrutura de seu capital, isto é, de acordo com o peso relativo das diferentes espécies de capital, econômico e cultural no volume total de seu capital. (BOURDIEU, 2004b, p. 154).

É interessante ressaltar que as relações existentes no interior de cada campo definem-se naturalmente, independentemente da consciência humana. O mundo social, portanto, apresenta-se como um sistema simbólico que é organizado pela lógica da diferença, do desvio diferencial. O espaço social tende a funcionar como um espaço simbólico, um espaço de estilos de vida e de grupos de estatuto, caracterizado por diferentes estilos de vida. Essas forças diferentes interagem no espaço social travando lutas, que para Bourdieu são lutas simbólicas, que podem ter duas formas diferentes, através de ações de representação individuais ou coletivas. As lutas individuais são da existência cotidiana, já as coletivas são organizadas pela vida política. O que vemos são forças diferentes interagindo num espaço buscando a construção do mundo real. Segundo Bourdieu, nessas lutas sempre existem conflitos entre poderes simbólicos que visam impor a visão dos grupos. É a partir desses conflitos que se organiza o próprio mundo. Assim, podemos afirmar que os conflitos são inerentes nas relações intersubjetivas e são necessários para provocar reflexões que geram mudanças. Veja o que diz Bourdieu:

De fato, sempre existem, numa sociedade, conflitos entre poderes simbólicos que visam impor a visão das divisões legítimas, isto é, construir grupos. O poder simbólico, nesse sentido, é um poder de worldmaking. Worldmaking, a construção do mundo, consiste segundo Nelson Goodman, “em separar e unir, frequentemente na mesma operação”, em realizar uma decomposição, uma análise, e uma composição, uma síntese, frequentemente graças aos rótulos. (BOURDIEU, 2004b, P. 165)

Podemos dizer que o campo é uma reunião de agentes que seguem leis próprias com certa autonomia em relação aos outros campos e as relações estabelecidas entre os campos operam como sistema de forças baseado nas relações de dominação e conflito. As relações estabelecidas no mesmo campo são de conquista por posições e lugares. O campo não é constituído pelos agentes e sim por posições e lugares e que vão constituir o sistema de forças. No campo de futebol, por exemplo, trocam-se os agentes (jogadores), mas as posições continuam as mesmas. O campo tem regras, normas e leis que legitimam as posições em disputa, assim, os conflitos devem ser legítimos e os ocupantes devem obedecer as regras constituídas.

O conceito de espaço social, utilizado conforme Bourdieu, concebe o sujeito como ocupante de uma posição no campo em constante movimento, esse sujeito faz escolhas e toma posições. É um ser social que tem projeto e luta por ele. A partir do conceito de habitus podemos pensar o sujeito em ação. Bourdieu diz que o habitus é um conjunto de esquemas implantados desde a primeira educação familiar e funciona como uma força conservadora no interior da ordem social, mas que constantemente é reposto e re-atualizado ao longo da trajetória social. Portanto, os sujeitos estão expostos a constantes mudanças. O habitus não é algo que faz do indivíduo simplesmente um reprodutor da sua disposição, essa disposição pode ser mudada nas relações sociais. Essa mudança se dá a partir da mudança de posição no espaço social. Assim, podemos pensar a mudança a partir dos conceitos de Bourdieu e como vimos, ela só pode acontecer no espaço social nas lutas travadas entre posições diferentes no campo em meio aos conflitos e, podemos afirmar que esses conflitos são necessários para que haja reflexão e mudanças.

No campo ao se perceber o objeto parado, não significa que ele esteja necessariamente em repouso, mas que esteja em um equilíbrio dinâmico, ou seja, sobre este objeto estejam agindo inúmeras forças que se anulam, fazendo com que ele esteja parado. Em contrapartida, algo se movimentando neste campo, não significa que alguma força esteja agindo mais que outras, mas sim que não existe resistência ao movimento. No campo de futebol uma bola parada pode ser o instante em que dois jogadores a disputam. No campo da avaliação, diferentes concepções podem provocar a mesma inércia. O silêncio, a inércia pode indicar uma posição de disputa entre forças diferentes ou resistência em relação ao processo avaliativo. É preciso desencadear o conflito, colocar o jogo em ação, colocar as diferentes posições no ataque. A tensão vai ser gerada, o conflito será desencadeado o que possibilita a mudança de habitus, a reconceitualização das

forças conservadoras. A avaliação institucional quando desenvolvida participativamente pode ser o caminho para essa reconceitualização.

3.2 – Estudando o conceito de emancipação para compreender a avaliação participativa.

Foi só o sentido atribuído a emancipação sob condições passadas e não mais presentes que ficou obsoleto – não a tarefa da emancipação em si. Outra coisa está agora em jogo. Há uma nova agenda pública de emancipação ainda à espera de ser ocupada pela teoria crítica. (...). A guerra pela emancipação não acabou (grifo nosso). (BAUMAN, 2001, p. 59 a 62)

As características da sociedade atual são marcadas por grandes transformações sociais, econômicas e culturais provocadas pelo avanço técnico-informacional e que interferem no cotidiano das pessoas, construindo novas formas de ser e de viver e produz novas formas de pensar, moldando as concepções e visões de mundo.

Quando analisamos a sociedade apenas na perspectiva do desenvolvimento tecnológico, podemos dizer que o projeto da modernidade atingiu seu objetivo, mas quando analisamos na perspectiva da libertação do ser humano, da emancipação, podemos dizer que o projeto da modernidade não está concluído, pois não conseguiu desenvolver plenamente a liberdade, igualdade, autonomia e a emancipação dos sujeitos, princípios construídos pela modernidade que, na sua origem, tinha como prioridade a valorização dos sujeitos a partir da razão.

No projeto da modernidade, a emancipação ficou esquecida. Freitas (2005a, p. 36) diz que “A modernidade da libertação foi, na prática, subordinada à modernidade tecnológica”, e, Santos (2000, p. 35), afirma que se a pós-modernidade de oposição significa alguma coisa, é justamente esse desequilíbrio dinâmico ou assimetria a favor da emancipação. Nossa perspectiva aqui é retomar o conceito de emancipação/libertação, construído na modernidade e esquecido nos últimos duzentos anos e mostrar a ascensão da regulação tecnológica. Nesse sentido, com fundamentação em teóricos, propomos a instauração dos princípios de emancipação. Finalmente, sustentaremos a avaliação institucional participativa como uma prática que pode instaurar a emancipação nos espaços da universidade.

3.2.1 - Regulação e Emancipação – A Lógica da Modernidade

O que escolher, então? o peso ou a leveza?

Foi a pergunta que Parmênides fez a si mesmo no século VI a. C. Segundo ele, o universo está dividido em pares de contrários: a luz/a escuridão; o grosso/ o fino; o ser/ o não ser. Ele considerava que um dos pólos da contradição é positivo (o claro, o

quente, o fino, o ser), o outro negativo. Esta contradição pode se aplicar à grande maioria dos conceitos, menos em um dos casos: o que é positivo, o peso ou a leveza? (Kundera, 1999, p. 11)

Seriam a regulação e a emancipação mais uma dupla de contrários construídos na modernidade? Então o que escolher? É interessante observar que a partir dos contrários vão surgindo as transformações sociais, políticas, econômicas, científicas, tecnológicas e culturais, os quais mudam e reconstroem toda a história da humanidade dando lugar a novos paradigmas que provocam profundas mudanças nas relações homem/sociedade.

Analisando a história, observamos que os antigos enveredavam pelo caminho racional a fim de responder a pergunta "O que é a realidade?". Buscavam, em contraposição ao mito e as aparências, encontrar a verdade, o essencialmente real. E chegaram a responder que o real é o ser. A pergunta dos modernos é outra. Ao invés de indagarem sobre o real, querem saber "como é possível o conhecimento?" Caracterizando suas preocupações com as questões do conhecer como possibilidade de produzir uma nova ciência, uma nova forma de sociedade, a fim de atender às novas exigências econômicas, políticas e sociais.

René Descartes, filósofo francês do século XVII, institui na razão a fonte de todo conhecimento. Essa concepção de Descartes foi um divisor de águas na história. O caminho para levar a essência das coisas, o real, seriam as verdades inquestionáveis embasadas na razão. Assim podemos dizer que a modernidade nasceu sob o domínio da razão, porém, tentou ao longo da história romper com essa relação em defesa da liberdade humana. Essa nova maneira de encarar o mundo, colocando o homem como sujeito de sua própria história, inaugura a modernidade que se caracteriza pela capacidade racional de o homem olhar o mundo. Nesse sentido, observamos mais uma contradição, as primeiras ciências a se desenvolverem foram justamente as que tratam do que está mais distante do homem, como por exemplo, a astronomia.

Na modernidade o paradigma da religião é desconsiderado em detrimento do paradigma da subjetivação do mundo. A modernidade pretendia a emancipação do homem como sujeito autônomo, livre e construtor de sua própria história. Para a modernidade conhecer é produzir verdades indubitáveis, que libertassem o homem do apenas sagrado e consagrado. O pensamento na modernidade deriva-se das idéias iluministas de sujeito, razão, totalidade e liberdade.

Na modernidade, os espaços escolares são modificados. Se, para os antigos, a escola era espaço aberto, assistemático; para os modernos é um espaço organizado, normatizado, detalhado, primam pela ordem em busca do progresso da humanidade. A função da escola é, portanto,

formar cidadãos emancipados, livres e autônomos. O discurso científico do conhecimento na modernidade é a matematização do saber, ou seja, quanto mais exato e verdadeiro é o saber, mais caráter de universalidade terá e mais fácil será a manipulação dos sujeitos pelo saber.

Os princípios de eficiência, ordem e desenvolvimento vão sendo priorizados na sociedade e a regulação, o desenvolvimento tecnológico, passam a ser a ordem do mundo. Dessa forma, o conhecimento que pretendia a emancipação e a libertação dos sujeitos vai-se tornando útil para a construção de tecnologias. Podemos afirmar que a técnica ultrapassou os princípios éticos de valorização do ser humano e passamos a priorizar os princípios técnicos de valorização da invenção e da produção.

3.2.2 - Ascensão tecnológica/regulação: A lógica que sobreviveu

Bauman (1999, p. 85), discutindo o cenário atual, mostra que hoje estamos todos em movimento. Muitos mudam de lugar – de casa ou viajando entre locais que não são o da residência. Alguns não precisam sair para viajar: podem se atirar à web, percorrê-la, inserindo e mesclando na tela do computador mensagens provenientes de todos os cantos do globo. Estamos em movimento mesmo estando parados. Da poltrona de nossas casas acessamos canais de TV via satélites ou a cabo, saltando para fora e para dentro de espaços estrangeiros com uma velocidade muito superior a dos jatos supersônicos.

Nessa sociedade tecnológica de grandes descobertas, onde tudo muda rapidamente, não dá para ficar parado. Nas palavras de Bauman (idem, p. 86) “não se pode “ficar parado” em areia movediça”. Vivemos uma sociedade de invenção e produção. As pessoas precisam acompanhar os avanços e os “novos modelos de produção”. É preciso se sentir incluído e para isso, custe o que custar tem que comprar produtos atualizados. O que se compra hoje, em fração de horas já está desatualizado. E, então, é preciso comprar de novo. E a onda é essa, comprar, comprar e comprar. Vivemos a era do consumismo. Somos reconhecidos pelo que temos e não pelo que somos. Freitas (2005a, p. 53), cita Tom Peters, que é apenas um pragmático que tem de ajudar os outros a ganhar dinheiro e competir no mercado, e ele diz que “se você for rápido e mudar constantemente na velocidade em que as coisas mudam você sobrevive. Se não tiver velocidade, o seu vizinho terá e você vai falir”.

A conjuntura atual é marcada por um cenário complexo, contraditório e desafiador. O desenvolvimento tecnológico abriu caminhos para uma sociedade competitiva que constrói

sujeitos individualistas. Estamos sendo regulados pelo mercado. Lewis Carroll, citado por Bauman (1999, p. 64) diz: “é preciso correr o máximo que você puder para permanecer no mesmo lugar. Se quiser ir a algum outro lugar, deve correr pelo menos duas vezes mais depressa do que isso!” Onde está a liberdade dos sujeitos? Se por um lado os avanços tecnológicos nos surpreenderam, por outro, fomos surpreendidos por eles com a perda ainda maior da liberdade e da privacidade.

Não precisamos de muito esforço teórico para afirmar que estamos vivenciando um período de conflitos, incertezas e de ansiedades entre o que existe e o que poderá existir.

Para Freitas (2005a, p. 24 a 27), o cenário atual caracteriza-se pelos fragmentos de incerteza. Para os pobres, a situação é dramática. O desemprego aumenta dia após dia. Favelas ampliam-se e ficam sob controle de grupos de proteção locais. Para a classe média, a situação não é muito mais confortável. A implantação de altas taxas de impostos desmobiliza pequenos produtores e até o funcionalismo público, que com isso pagam as contas geradas pela atenção à extrema pobreza. Os mais ricos, vivem amedrontados pela violência dos empobrecidos e com isso, escondem-se atrás de guaritas com seguranças, mudam-se para condomínios fechados equipados com todos os avanços no campo da vigilância eletrônica.

Para os pobres, a ausência de trabalho os leva à economia informal, para a classe média, que ainda detém algum poder de empregabilidade, está colocada total incerteza em relação à continuidade desse trabalho. A juventude está cada vez mais sem horizontes observando os acontecimentos e é obrigada a formar sua identidade em meio a esse caos. Preparar-se estudando já não é mais garantia de sucesso. Tenta fugir sublimando suas incertezas nas drogas, gangues, assaltos, violência, etc. A corrupção passa a ser uma forma de aumentar a renda. As penitenciárias já não conseguem abrigar todos os infratores. Convivemos a todo instante com tráfico de crianças, de órgãos, de mulheres, seqüestros e outras barbáries que fazem parte do nosso cotidiano.

Com essa descrição dos dias atuais, podemos afirmar que, por um lado estamos diante de uma crise econômica do capital e, por outro, essa crise leva a uma crise existencial. Os sujeitos são produzidos para conviverem e sobreviverem em meio a esse turbilhão de catástrofes, abandonando cada vez mais os princípios humanísticos e éticos em detrimento dos princípios técnicos. É o mundo do “salve-se quem puder”. Perdemos o controle pelas nossas ações. “A regra

tem sido a insegurança, o consumismo, a competição e a virtualização das relações” (Freitas, 2005a, p. 91).

A crise do capitalismo propõe um novo capitalismo pela onda da globalização, que aparece como uma forma mágica para solucionar os problemas. Para Bauman:

A globalização está na ordem do dia; uma palavra da moda que transforma rapidamente em um lema, uma encantação mágica, uma senha capaz de abrir as portas de todos os mistérios presentes e futuros. Para alguns a globalização é o que devemos

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