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Avaliação instrumental da textura

3. Revisão Bibliográfica

3.6 Qualidade do pescado congelado

3.6.2 Avaliação instrumental da textura

A textura é o resultado perceptível da estrutura interna do material, que por sua vez é determinada pelas relações intermoleculares dos seus constituintes; a medição de parâmetros de textura está apoiada em testes mecânicos (Chenet al., 2013).

A par do desenvolvimento da textura sensorial, muitos métodos instrumentais têm sido desenvolvidos para medir as propriedades dos alimentos e em particular do pescado. As diferentes técnicas desenvolvidas baseiam-se em princípios reológicos como a compressão, punção ou força de corte. A maior parte da informação sobre a textura do pescado, para avaliar a qualidade, é baseada em testes mecânicos empíricos ou imitativos (Carecheet al., 2009).

A textura do pescado é influenciada por vários factores: espécie, condição biológica do pescado, métodos de captura ou sacríficio, armazenamento e condições de processamento ou tratamentos culinários. Durante o armazenamento em congelação, o músculo do pescado pode sofrer alterações indesejáveis na textura, especialmente o pescado magro. Estas alterações têm como resultado um produto seco e duro (Sánchez-Alonsoet al., 2011).

Quando as análises são realizadas no músculo do pescado, o tamanho e a forma do pescado tornam muitas vezes a preparação de amostras homogéneas, uma tarefa difícil. A estrutura complexa do pescado em termos de organização, orientação das fibras e de tecido conjuntivo, assim como a fragilidade de toda a estrutura, são factores relevantes nos testes reológicos. Outros aspectos que afectam as medições e que conduzem a erros são a compressão exercida e a temperatura aquando da utilização de amostras submetidas a tratamento térmico. Apesar destas desvantagens, a análise de textura através de métodos mecânicos é muito utilizada na avaliação da qualidade do pescado, uma vez que, em diferentes estudos com diferentes espécies, foi possível encontrar uma boa correlação entre a análise de textura e a análise sensorial (Careche et al., 2009).

3.6.2.1 Punção simples

A punção simples é um método que mede a força requerida para perfurar a amostra, a uma dada distância e com uma determinada velocidade. O parâmetro mais importante a retirar deste tipo de teste é a força máxima registada ao longo do tempo (Alvarengaet al., 2009).

O teste de punção simples é um teste imitativo e destrutivo que compreende um ciclo com o objectivo de imitar a acção da maxila, também conhecido como teste de uma dentada. Este teste é realizado num texturómetro que fornece energia mecânica a velocidade constante. O grau de deformação e/ou resistência oferecida é registada e usada como um índice de textura do alimento. A força necessária para atingir uma determinada profundidade no alimento, ou qual a profundidade atingida para uma determinada força de penetração do alimento é medida (Chenet al., 2013).

A partir da curva, força versus tempo, é possível determinar os parâmetros:

dureza (força máxima registada no ciclo de punção, na maior parte dos casos a dureza está relacionada com a força de ruptura do material); adesividade (trabalho necessário para vencer as forças de atracção entre o alimento e as superfícies com as quais entra em

contacto); fracturabilidade (existe quando são registados dois picos no primeiro ciclo e é dada pela força registada no primeiro pico; é a força necessária à fractura do material) (Sánchez-Alonsoet al., 2011).

Além da força, o declive da curva força versus tempo (gradiente de deslocação entre a força exercida no início do teste e a força exercida no ponto de ruptura) permite distinguir diferenças de textura nas diferentes regiões do músculo de pescado: cauda, barriga e dorso. O valor do declive está relacionado com as propriedades aparentes da elasticidade e é um indice de dureza do músculo (Casaset al., 2006).

O teste de punção e o teste de compressão são os métodos mais utilizados para medir as propriedades texturais dos alimentos, sobretudo nos frutos e nos vegetais (Chenet al., 2013).

No pescado, o teste de punção tem sido essencialmente utilizado na análise das propriedades mecânicas dos géis. Os parâmetros, força máxima de ruptura, deslocamento à ruptura e força do gel (trabalho de punção) são determinados a partir

das curvas força-deslocamento (Campo-Deaño et al., 2011; Cardoso et al., 2010;

Moreno et al., 2009; Ramirez et al., 2007). Este teste também é usado para avaliar as alterações ocorridas na textura durante o armazenamento em refrigeração, associadas ao começo e resolução do rigor mortis (Pacheco-Aguilar et al., 2008), aos métodos de abate ou atordoamento (Roth et al., 2009; Roth et al., 2010), à atividade de proteases (Bahuaudet al., 2010), e à composição química e estrutura física do músculo ao longo do filete de pescado (Casaset al., 2006).

As sondas (punções) utilizadas apresentam diferentes formas e tamanhos: cónicas, cilíndricas e em forma de cunha. O diâmetro da sonda é muitas vezes pequeno, variando dos 11 mm a 2 mm, ou mesmo um milímetro como se fosse uma agulha. No que diz respeito à velocidade de penetração do punção, esta pode ser de alguns milímetros por segundo, por exemplo 4 mm/s. Igualmente, a penetração da sonda pode ser de vários milímetros, dependendo principalmente do tamanho das amostras (Chenet al., 2013).

O tamanho da amostra deve ser superior ao tamanho da sonda. Nas amostras finas, tipo filete de pescado, há um risco de comprimi-las contra o prato de suporte, e

assim, o teste apresenta-se como uma combinação de punção e compressão (Carecheet

3.6.2.2 Força de corte

A força de corte tem sido usado como medida objectiva para avaliar a tenrura da

carne cozida, mediante um texturómetro e expressa em kg-força ou N (Kong et al.,

2007).

A orientação das fibras com respeito à lâmina e também a relação entre o diâmetro e a secção atravessada nas amostras. Um dos problemas deste teste está na dificuldade em realizar o teste com pequenas amostras de músculo de pescado. O corte toma lugar numa área localizada do músculo, causando distorção das fibras musculares. (Sánchez-Alonso et al., 2011).

A tenrura é uma das características sensoriais da carne mais importantes, mas também aquela, que apresenta maior variabilidade (Lagerstedt et al., 2008), podendo definir-se como a facilidade com que esta é mastigada (ISO 5492/1992).

O desenvolvimento da tenrura está dependente da arquitectura e da integridade do esqueleto da célula muscular e dos acontecimentos que modificam essas proteínas e as suas interacções (Lonerganet al., 2010).

Os braços do polvo consistem num arranjo tridimensional, densamente empacotado, de fibras musculares e tecido conjuntivo que rodeiam o cordão nervoso axial, central (Figura 3.7) (Kieret al., 2007).

Figura 3.7Arranjo tridimensional das fibras musculares e fibras do tecido conjuntivo.

(Legenda: AN, Cordão nervoso axial; AR, artéria; CM, camada muscular periférica; CT, tecido conjuntivo; DCT, tecido conjuntivo dérmico; EP, epiderme; IN, nervo intramuscular; LM, fibras musculares longitudinais; OME; camada externa de músculo oblíquo; OMI, camada interna de

músculo oblíquo; OMM, camada muscular mediana oblíqua; SU, ventosas; TM, fibras musculares transversais; TR, trabéculas; V, veia) (Kier et al., 2007)

Os cefalópodes em geral e o polvo em particular, tem uma textura firme e dura, especialmente enquanto fresco. Esta dureza está associada à estrutura do colagénio, conteúdo e agregação nos músculos dos cefalópodes (Katsanidis, 2008).

A avaliação da textura de um alimento deve ser feita próxima da etapa na qual é consumido (Mallikarjunan, 2011). O efeito do calor nas proteínas influência a textura da carne cozida, incluindo a desnaturação, a dissociação de proteínas miofibrilares, o encolhimento transversal e longitudinal das fibras da carne, a agregação e formação de gel de proteínas sarcoplasmáticas e a solubilização de tecido conjuntivo (Kong et al., 2007).

A solubilização do tecido conjuntivo melhora a tenrura da carne, enquanto a desnaturação pelo calor das proteínas miofibrilares geralmente causa endurecimento. A solubilidade e gelatinização do colagénio aumenta significativamente com o tempo de aquecimento e muitas destas alterações ocorrem aproximadamente nos primeiros 20 minutos de aquecimento (T=121ºC). Após aquecimento, a desnaturação e a agregação da miosina e actina causam a contracção do sarcómero e a carne cozida torna-se granulosa. Depois dos 20 minutos de tratamento térmico, os agregados de proteínas sarcoplasmáticas e colagénio podem formar géis que colam as fibras e os feixes de fibras (Konget al., 2008).

Os valores da força de corte, nas amostras cozidas de lula,Todarodes sagittatus, dependem, entre outros factores, das perdas durante o tratamento térmico e da humidade final (Agrafiotiet al., 2012); também os músculos da lula, Photololigo duvaudelii, e do

choco, Sépia aculeata, quando sujeitos a cozedura, ficam mais tenros devido à

degradação das proteínas e alterações na rede das fibras musculares (Tantasuttikulet al. 2011).

A perda de água e a extrema dureza do músculo de polvo são os dois principais problemas tecnológicos durante o seu processamento térmico. As espécies de polvo,

Octopus vulgaris e Octopus insularis, armazenadas em congelação, quando são

submetidas a tratamento térmico, cozedura sob pressão, as forças de corte aumentam após os 20 minutos (Castro e Silva, 2009).

A congelação induz no tecido muscular, compactação ligeira, formando-se maiores espaços intercelulares e tecido conjuntivo envolvente, produzido pela formação de cristais de gelo e posterior descongelação. A congelação de polvo fresco, antes da sua cozedura, favorece positivamente a sua tenrura, porque danifica mais as bandas de

miosina e paramiosina do que propriamente a cozedura (Reyes et al., 2009a e Reyes, 2009b).