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Avaliação/interpretação progressiva desses resultados em função dos objetivos traçados para o processo de intervenção

Desenvolvimento das intervenções e sua reflexão crítica

C) Avaliação/interpretação progressiva desses resultados em função dos objetivos traçados para o processo de intervenção

A avaliação é um processo de reflexão capaz de compreender os resultados, reconhecer os erros, os avanços, retrocessos e desvios para poder corrigi-los no futuro. Não obstante a esta ideia, devemos ter em consideração que formar um leitor, criar hábitos de leitura, é uma tarefa complexa que exige tempo e uma atividade continuada e persistente em torno do livro e da leitura. Além disto, não é de primordial intenção proceder a uma avaliação exaustiva e rigorosa das atividades realizadas, já que os dados recolhidos não permitem que esse modelo de avaliação se realize. Assim, tornou-se mais importante que as intervenções realizadas permitissem criar bases para que práticas como estas possam ter continuidade.

Com estas duas ideias como base, ao pensarmos e analisarmos, de forma mais concreta, os objetivos deste projeto, tal como já foram referidos nos momentos iniciais do presente documento, conseguimos tecer algumas considerações a esse respeito, em contraponto com aquilo que foram as intervenções realizadas.

Consideramos que o álbum narrativo criou, desde a sua primeira mediação em contexto de sala de aula, um ambiente integrador de aprendizagens, e de momentos de prazer aliados à leitura e exploração deste género editorial. Os sorrisos, as verbalizações eufóricas, ou diálogos criados em volta das situações e temáticas proporcionadas nestes momentos, além das dinâmicas do grupo, dos trabalhos realizados e das vontades manifestadas a cada semana por um novo momento como o anterior foram, sem dúvida, fatores de interpretações positivas em função dos objetivos propostos, nomeadamente, no que respeita à aproximação do grupo ao universo da escrita e do álbum narrativo em si mesmo. Para que estes resultados pudessem ter sido observados, também, acreditamos que, quando as obras escolhidas correspondem às temáticas preferidas do grupo com quem vamos trabalhar, aos seus anseios e perplexidades, torna, mediante ainda um contexto de envolvência afetiva, a criança um leitor ativo e participante, mesmo que não tenho aprendido a ler formalmente, como foi o caso.

Como nos refere António Prole (a) o adulto, ao pedir aos alunos que antecipem o fim da história, que a recontem, que identifiquem personagens ou que as coloquem em diálogo, está a contribuir para o desenvolvimento de atividades cognitivas que permitem a construção do sentido. Mais ainda, afirma que estas atividades, devidamente adaptadas, podem e devem começar a ser desenvolvidas mesmo antes da aprendizagem formal da leitura.

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Outro aspeto que consideramos de elevada importância e, também ele, revelador da capacidade inerente a este género editorial que se foi desenvolvendo ao longo das explorações promovidas, e mesmo do contacto final proporcionado com os álbuns, teve a ver com o facto das crianças demonstrarem já uma familiarização inicial com a linguagem visual, uma vez que, mais do que a leitura textual, o álbum apela à apreciação, à interpretação, à crítica e à manipulação das imagens que, ao lado da narrativa verbal, contribuem para a construção de sentidos. Com os diálogos que foram sendo descritos em momentos anteriores, pudemos reparar que foram sendo feitas intervenções no sentido de dar destaque ao valor das ilustrações presentes nos álbuns, além de observar como elas eram capazes de pormenorizar as interpretações realizadas. Estas intenções, em concreto, de atender e especificar o olhar para a qualidade e valor da componente visual, estiveram patentes também nos momentos de criação própria de cada aluno, sendo incentivado, em cada um deles, a atenção aos pormenores, às cores, à importância da produção, à leitura que o outro faria desse mesmo trabalho, etc.

Para além destes factos observados, é importante não esquecer que um outro resultado que obtivemos em torno deste processo relaciona-se com a interiorização, por parte dos alunos, de vocábulos específicos a esta temática, como: “álbum narrativo”, “ilustrações”, “capa, contracapa e lombada”, “autor e editor”, “guardas iniciais e guardas finais”. Alguns eram já conhecidos, ainda que pouco utilizados nos diálogos, e outros foram adquiridos com as explorações e sistematizados ao longo das mesmas.

Ao atendermos às intervenções reveladas e aos diálogos proporcionados pelo grupo, podemos chegar à conclusão que existiram hábitos de leitura em contexto de pré-escolar, encontrando-se desenvolvidas algumas competências manifestadas nos diferentes momentos de leitura.

No que respeita ao processo de avaliação concretamente, e ao modo como esta decorreu, estes teriam de ocorrer, mesmo que de forma qualitativa, quer como forma de avaliação e reflexão do impacto das propostas apresentadas, quer como forma de reconhecer os conhecimentos adquiridos pelo grupo. Assim sendo, e não podendo ocorrer de outra forma, não se tratando este de um amplo projeto de promoção do gosto pela leitura, aliando estratégias de promoção do álbum narrativo a outras de mediação leitora em geral, a avaliação teve essencialmente na sua base os diálogos produzidos pelos alunos em função dos objetivos propostos para as atividades a si relacionadas. Conjuntamente com estes momentos, a participação ao longo das diversas intervenções, a partilha de ideias, a qualidade dos próprios

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diálogos foram objetos de estudo e tidos em consideração para que este projeto pudesse fornecer algumas conclusões e reflexões. Foi com base nestes momentos de diálogo que, para além de permitirem contactar com as conceções, conhecimentos, dificuldades, foi possível também refletir sobre o processo desenvolvido, mais concretamente, perceber, por exemplo, se a exploração do álbum está a ir ao encontro das espectativas do grupo ou se é necessário alterar as estratégias, de forma a manter o entusiasmo pela obra.

Finalizando estas reflexões, gostaria apenas de deixar a ideia de que, com o género editorial em estudo neste trabalho, é, e foi possível, desenvolver competências e estratégias de diferentes índoles, estratégias estas que não foram pensadas para fazer do álbum um instrumento de transmissão de conhecimentos ou de atividades experimentais, mas, antes, um meio promotor de prazer pela leitura, como forma de divulgar objetos literários de qualidade que conseguissem tornar a vivência da leitura mais agradável e fruitiva. Uma delas passou pelo despertar da acuidade visual dos alunos para as ilustrações e a valorização do seu significado, uma vez que, como sabemos, na maioria das vezes, os livros disponibilizados e os que mais contacto oferecem às crianças apresentam as ilustrações como mero acompanhamento do texto verbal, não sendo o caso do álbum, como tem sido referido exaustivamente.

Em suma, a avaliação destes resultados, mesmo não sendo quantitativa, permitiu refletir ou questionar aprendizagens que encaramos como pertinentes e reveladoras de aquisição de conhecimentos, considerando que, com o tempo e recursos disponibilizados, foi possível criar as “bases” que pretendíamos para que, agora, possam ter continuidade com outros mediadores.

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CAPÍTULO 5