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“Se a avaliação formativa seguir em contracorrente, se não estiver inscrita numa pedagogia diferenciada tendo todos os meios que ambiciona, os professores formados neste espírito terão de suportar uma tensão, uma contradição entre a avaliação que gostariam de praticar e o que poderão realmente fazer.” (Perrenoud, 1993, p.168)

A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) n º 9394/96, em seu Artigo 24, inciso V, que trata da verificação do rendimento escolar, diz que esta deverá observar os seguintes critérios:

a) avaliação contínua e cumulativa do desempenho do aluno, com prevalência dos aspectos qualitativos sobre os quantitativos e dos

resultados ao longo do período sobre os de eventuais provas finais;

b) possibilidade de aceleração de estudos para alunos com atraso escolar;

c) possibilidade de avanço nos cursos e nas séries mediante verificação do aprendizado;

d) aproveitamento de estudos concluídos com êxito;

e) obrigatoriedade de estudos de recuperação, de

preferência paralelos ao período letivo, para os casos de baixo rendimento escolar, a serem disciplinados pelas instituições de ensino em seus regimentos.

Observa-se que a LDB, ao estabelecer a necessidade de aspectos quantitativos e qualitativos, lembra que a avaliação das atividades discentes deve contemplar múltiplas formas e procedimentos. Nas alíneas “b” a “e”, as regras forçam a mudança do sentido que se atribuia à avaliação; não mais uma avaliação com vistas a promover ou reter alunos, mas uma avaliação que permita a aceleração dos estudos, avanço nos cursos e nas séries, abrindo possibilidades de ajustar a realidade do fato pedagógico à realidade do aluno.

O Conselho Nacional de Educação, através do Parecer nº 5/97, quando trata da avaliação da aprendizagem, é claro:

A verificação do rendimento escolar permanece, como nem poderia deixar de ser, sob a responsabilidade da escola, por instrumentos previstos no regimento escolar e observadas as diretrizes da lei, que incluem: avaliação contínua e cumulativa, prevalência dos aspectos qualitativos sobre os quantitativos e dos resultados ao longo do

ano sobre os de provas ou exames finais, quando adotados.

Cabe portanto à escola decidir quais serão estas formas e procedimentos a serem utilizados na avaliação da aprendizagem dos alunos, considerando a participação dos docentes para esta definição.

Conforme Falcão Filho (1997), a flexibilidade que a Lei 9394/96, em seu Capítulo II fixa, é uma ótima oportunidade para os educadores usarem de sua criatividade na elaboração dos instrumentos, adequando-os às características de seus docentes e discentes, dos objetivos de sua proposta pedagógica e que sejam capazes de produzir uma aprendizagem de qualidade .

Além desta Lei, há outros documentos das esferas estadual e municipal que estabelecem diretrizes para a avaliação do processo ensino- aprendizagem.

Na legislação estadual, a Indicação do Conselho Estadual de Educação n º 9/97, item 2.5 que trata sobre a verificação do rendimento escolar, esclarece que:

Nunca é demais frisar que a atividade de avaliação, realizada pelo professor, deve permitir a identificação daqueles alunos que não atingiram com proficiência os objetivos do curso e devem ser submetidos a um processo de reorientação da aprendizagem.

O Parecer do Conselho Estadual de Educação n º 67/98, Artigo 40 estabelece que:

A avaliação interna do processo de ensino e de aprendizagem, responsabilidade da escola, será realizada de forma contínua, cumulativa e

sistemática, tendo como um de seus objetivos o diagnóstico da situação de aprendizagem de cada aluno, em relação à programação curricular prevista e desenvolvida em cada nível e etapa da escolaridade.

A perspectiva do processo de avaliação é o aprimoramento da qualidade de ensino e será subsidiado por procedimentos de observações e registros contínuos .

Em seu artigo 41, o mesmo Parecer do CEE nº 67/98 fixa:

A avaliação interna do processo de ensino e de aprendizagem tem por objetivos:

I – diagnósticar e registrar os progressos do aluno e suas dificuldades;

II – possibilitar que os alunos auto-avaliem sua aprendizagem;

III – orientar o aluno quanto aos esforços necessários para superar as dificuldades;

IV – fundamentar as decisões do conselho de classe quanto à necessidade de procedimentos paralelos ou intensivos de reforço e recuperação da aprendizagem, de classificação e reclassificação de alunos;

V – orientar as atividades de planejamento e replanejamento dos conteúdos curriculares.

Observa-se nestas definições que é a avaliação diagnóstica que irá nortear as atividades de planejamento e replanejamento dos conteúdos, que o instrumento observação deverá estar presente em todos os momentos para analisar o progresso individual e coletivo de construção do conhecimento e que a auto- avaliação dos alunos deve sempre ser realizada a fim de relacionar os progressos obtidos e a necessidade de superação das dificuldades apresentadas durante o processo de aprendizagem.

Na Indicação do Conselho Municipal de Educação de São Paulo nº 04/97, que estabelece as diretrizes para que cada estabelecimento elabore o seu próprio Regimento Escolar, a avaliação abordada possibilita ao aluno tomar consciência de seus avanços, dificuldades e possibilidades e ao professor serve como elemento de reflexão contínua sobre sua prática educativa.

A avaliação deve ser considerada como elemento integrador entre a aprendizagem e o ensino.

A seleção e a construção de instrumentos a serem usados na avaliação do desempenho do aluno devem estar contemplados na elaboração do Projeto Pedagógico de cada unidade escolar.

Embora a avaliação seja de caráter formativo, deve-se prever um momento inicial para avaliação diagnóstica, com a finalidade de auxiliar o professor na elaboração e revisão do seu plano de ensino.

A sistemática de avaliação do processo ensino-aprendizagem, bem como os procedimentos que visem à recuperação para os alunos que não apresentem os progressos previstos, devem estar definidos no Regimento Escolar de cada estabelecimento de ensino.

A Indicação 04/97 do CME, item 4.10.5 estabelece que:

A avaliação da aprendizagem será contínua e cumulativa, devendo o professor escolher os

momentos e situações que julgar mais convenientes e utilizando-se dos instrumentos adequados.

Diz a Indicação 04/97, item 4.10.6, que:

A avaliação da aprendizagem deve ser feita em função dos objetivos propostos, procurando estabelecer o grau de progresso do aluno e o levantamento de suas dificuldades, bem como os meios para sua superação.

Observa-se que as definições apresentadas ressaltam não só a relação objetivo/avaliação, mas também a importância do desempenho do aluno desde um momento de diagnóstico até a superação de suas dificuldades.

Na análise do Regimento Escolar das duas escolas envolvidas, a Escola 1 fixa no Artigo 81 que:

A avaliação deve ser considerada como elemento integrador entre a aprendizagem e o ensino. É um conjunto de ações cujo objetivo é a orientação da intervenção pedagógica, no sentido da melhor aprendizagem do aluno. Deve servir ao professor como elemento de reflexão contínua sobre sua prática educativa e possibilitar ao aluno tomar consciência de seus avanços, dificuldades e possibilidades.

No Parágrafo único ainda sobre avaliação na página 23 diz: “Todos os participantes da ação educativa serão avaliados em momentos individuais

e coletivos”.

No Regimento Escolar da Escola 2 encontra-se no Artigo 80:

A avaliação deve ser considerada como elemento integrador entre a aprendizagem e o ensino. É um conjunto de ações cujo objetivo é a orientação da intervenção pedagógica, no sentido da melhor aprendizagem do aluno. Deve servir ao professor como elemento de reflexão contínua sobre sua prática educativa e possibilitar ao aluno tomar consciência de seus avanços, dificuldades e possibilidades.

Observa-se que para as duas escolas os artigos que versam sobre a avaliação são os mesmos. Isto ocorre porque as escolas tinham, desde 1992, um Regimento Comum e a partir de 1998 foram incumbidas de elaborar o seu próprio Regimento. Muitos artigos foram aproveitados, como é o caso deste artigo sobre avaliação e que explicita bem o papel do professor frente ao aluno no momento de ensino-aprendizagem.

No projeto pedagógico da Escola 1:

A concepção de avaliação do processo de ensino- aprendizagem dos alunos busca superar uma visão desarticulada e fragmentada.

O processo e o resultado da avaliação devem ser realizados numa perspectiva capaz de diagnosticar o desempenho alcançado pelos alunos, fornecendo aos professores elementos para uma reflexão sobre o trabalho pedagógico desenvolvido.

Portanto, as práticas avaliativas do processo ensino- aprendizagem devem aferir o trabalho realizados tanto

pelos educadores (avanços e dificuldades do processo de ensino) como pelos educandos (processos de aprendizagem).

A avaliação determina até que ponto vai a capacidade de disposição para usar e comunicar as informações recebidas.

As formas de registros do processo foram definidas pelo coletivo dos professores (fichas, relatos, diários,...) a partir dos quais serão atribuídos os conceitos (P-S-NS) no final de cada bimestre.

Há necessidade de registrar continuamente as ações pedagógicas e seus resultados para, a partir da discussão coletiva, transformar os dados obtidos nos conceitos de avaliação.

Instrumentos e estratégias diversificadas serão utilizadas no decorrer do processo: observação das atividades, trabalhos, provas, relatórios, manifestações espontâneas dos alunos, verificação de exercícios, etc..., pois a avaliação é parte das atividades freqüentes do ensino.

No projeto pedagógico da Escola 2:

Avaliação será entendida como um processo contínuo e paralelo, com base na aquisição ou não, pelo aluno, dos conteúdos conceituais, procedimentais, atitudinais e das habilidades de pensamento.

A U.E. realizará levantamento dos resultados, através

de ficha avaliativa, elaborada no coletivo, onde se registrarão avanços e dificuldades dos educandos,

transformados em conceitos semestrais e finais, nível I e II, reflexos esses do desempenho global dos mesmos, a fim de, conforme os resultados, levarem a mudanças pedagógicas por parte do corpo docente e a busca de aprofundamento de estudos e de possíveis soluções para as dificuldades apresentadas pelos alunos.

Na análise dos planos de ensino dos professores envolvidos encontram-se, no campo referente à avaliação, os seguintes procedimentos.

Tabela 1 – Procedimentos de avaliação no ciclo I (Plano de Ensino)

Escola 1 Escola 2

Prova escrita Prova escrita

Expressão oral Expressão oral Participação Interesse Postura em sala Assiduidade Pontualidade Auto-avaliação Criatividade Exercício Resolução de problema Resolução de problema

Questionário Pesquisa Caderno Relatório Lição de casa

Produção de texto Produção de texto Trabalho individual

Trabalho em grupo Trabalho em grupo Prova oral

Ditado

Observa-se que nos planos de ensino dos professores do ciclo I a avaliação é feita tanto por procedimentos qualitativos quanto por quantitativos, o que não difere das respostas apresentadas no questionário e nem da proposta apresentada no projeto pedagógico das escolas.

Tabela 2 – Procedimentos de avaliação no ciclo II (Plano de Ensino)

Escola 1 Escola 2

Prova escrita Prova escrita

Expressão oral Participação Participação Interesse Postura Assiduidade Pontualidade Auto-avaliação Auto-avaliação Prova oral Exercício Exercício Resolução de problema Resolução de problema

Pesquisa Pesquisa Caderno Trabalho Trabalho Prova individual

Produção de texto Produção de texto

Seminário Entrevista Prova coletiva

Observa-se que também no ciclo II os professores avaliam os alunos em todos os aspectos. A auto-avaliação aparece nos planos de ensino de alguns professores, porém no momento de responder ao questionário em relação à outros tipo de avaliação, somente um professor citou esse instrumento como prática comum. Esse instrumento apareceu nas respostas de alguns alunos quando responderam que alguns professores pedem para que eles digam se estão aprendendo, comparando seu desenvolvimento com o dos colegas de classe.

Observa-se também que os instrumentos utilizados visam atender ao que está explicitado nos documentos das escolas, uma vez que englobam os diferentes aspectos da avaliação, procurando servir tanto ao aluno, verificando seu desenvolvimento, quanto ao professor, levando-o à reflexão, buscando superar a fragmentação, diagnosticando as dificuldades e tentando resolvê-las coletivamente.

No delineamento deste estudo, não se observaram grandes diferenças na forma como é vivenciada a avaliação nas duas escolas. Havia diferenças entre os grupos estudados, no que se refere à clientela atendida, número de profissionais existentes, condições físicas e materiais que não se constituíram em fatores que pudessem determinar variações na prática da avaliação.

Apesar das diferenças apontadas, há uma tendência comum nas posições dos envolvidos, o que leva à conclusão de que não são as condições estruturais apresentadas nas escolas que determinam as práticas avaliativas, mas sim, as concepções de mundo, de educação e de ensino dos diversos profissionais que integram as escolas e que buscam estar em consonância com a legislação vigente.

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