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Dentre todos os métodos de amostragem utilizados, os encontros ocasionais (EO) e as armadilhas de interceptação e queda (AIQ) foram os mais eficientes no registro da abundância e da riqueza. Cerca de 90% das espécies (35) e 73% dos indivíduos (231) foram coletados através da utilização combinada de EO e AIQ (Tabela 2). Apenas a espécie Helicops angulatus, coletada através da PVLT, e as espécies Clelia plumbea, Corallus hortulanus e Lachesis muta, coletadas exclusivamente através da CT, não foram coletadas pela combinação de AIQ e EO. Quatro espécies (Atractus albuquerquei, Chironius multiventris, C. scurrulus, Micrurus lemniscatus) foram registradas exclusivamente por EO. As espécies Dipsas catesbyi e Xenopholis undulatus foram capturadas exclusivamente por AIQ (quando considerado apenas o período em que as armadilhas estiveram abertas).

O método de EO registrou o maior número de espécies (33), cerca de 84,6% da riqueza observada para o total de espécies coletadas pela combinação dos quatro métodos (39 espécies), e cerca de 67% da riqueza registrada para a área de estudo (49 espécies). A riqueza específica, calculada pelo estimador Jacknife de segunda ordem, utilizando-se apenas os dados obtidos pelo método de EO, indicou que há possibilidades de registro de 45 a 63 espécies (Tabela 5). No entanto EO foi o segundo método em capturas, amostrando cerca de 34% dos indivíduos (Fig. 15). A taxa de captura calculada para esse método foi cerca de 0,43 serpente/dia-campo ou 0,09 serpente/hora/homem, ou uma serpente a cada 11 horas/homem (para um total de 250

dias não consecutivos e dois coletores). No estudo realizado por Sawaya (2003), e neste, foram utilizados os mesmos procedimentos para definir EO. Em ambos, o encontro ocasional esteve relacionado à AIQ e às atividades dos amostradores na área estudada (deslocamentos e outras atividades dentro da área), e não incluiu a colaboração de terceiros.

O método de AIQ capturou o maior número de indivíduos (cerca de 39% do total ou 123) (Fig. 13). Por intermédio dele foi registrada a segunda maior riqueza (27 espécies), equivalente a cerca de 69% da riqueza registrada pelo conjunto dos métodos de amostragem empregados, e 56% da riqueza registrada para a área de estudo. A riqueza específica calculada pelo estimador Jacknife de segunda ordem, utilizando-se apenas os dados obtidos pelo método de AIQ, indicou que há possibilidades de registro de 35 a 49 espécies. Uma predição plausível, já que pelo menos oito espécies suscetíveis ao método, não coletadas por ele, foram registradas por intermédio de outros métodos. Neste estudo a taxa de captura calculada para o método de AIQ foi cerca de 0,001 serpente/tambor/hora ou 0,72 serpente/tambor/mês (para um total de 179 dias não consecutivos e 28 tambores). Essa taxa superou, em muito, aquelas registradas para outras regiões amazônicas. Por exemplo, Santos-Costa (2003) registrou 0,11 serpente/tambor/mês em Caxiuanã (PA), e Bernarde (2004) registrou 0,31 serpente/tambor/mês em Espigão do Oeste (RO). Superou também as taxas de captura registradas em áreas abertas. Por exemplo, em Itirapina (SP) foram obtidas 0,29 serpente/tambor/mês (Sawaya 2003), e em Santa Maria (RS) 0,14 serpente/tambor/mês (Cechin e Martins 2000). Somente a taxa registrada para o Rio Pitinga (AM), de 0,87serpente/tambor/mês (Cechin e Martins 2000), superou a taxa registrada no presente estudo. Entretanto, a eficiência das armadilhas utilizadas no Rio Pitinga pode ter sido influenciada pelo deslocamento de serpentes face ao enchimento de um reservatório durante o período de estudo (Cechin e Martins 2000).

AIQ 39% PVLT 13% E O 34% C T 14%

Figura 15 - Contribuição dos métodos de amostragem para a totalização do número de indivíduos coletados na área de estudo, no período de março de 2002 a junho de 2004. AIQ, armadilha de interceptação e queda; CT, contribuição de terceiros; EO, encontros ocasionais; PVLT, procura visual limitada por tempo.

O método de PVLT foi o que registrou o menor número de indivíduos, 41 (cerca de 13% do total) (Fig. 15), e registrou a menor riqueza, 13 espécies, cerca de 33% do total de espécies registradas pela combinação dos métodos e cerca de 26,5% do total registrado para área de estudo. A riqueza, calculada pelo estimador Jacknife de segunda ordem, utilizando-se apenas os dados obtidos pelo método, indicou que há possibilidades de registro de pelo menos mais 5 espécies (Tabela 5). A taxa de captura por este método foi de 0,04 serpente/hora-homem de procura (noite = 0,05 serpente/hora-homem e dia = 0,007 serpente/hora-homem) ou 1,04 serpentes/dia/homem, para um total de 136 dias não consecutivos. Essa taxa é inferior àquela obtida em espigão do Oeste e Caxiuanã (região Amazônica, respectivamente 0,06 e 0,14 serpente/hora-homem), e à registrada para Itirapina (região de Cerrado, 0,09 serpente/hora-homem). A única espécie capturada exclusivamente por PVLT foi Helicops angulatus.

Através do método de CT foram registrados 43 indivíduos (cerca de 14% do total) de 18 espécies, 46,1% do total registrado para todos os métodos e 37,5% das espécies registradas para a área. A colaboração de terceiros apresentou uma taxa de captura de 0,017 serpente/dia/colaborador (um total de 775 dias para três Colaboradores). Mesmo apresentando vícios de amostragem e dificuldades para a quantificação de esforço, a CT tem demonstrado contribuir de forma significativa na compensação das limitações de outros métodos, ampliando os registros de espécies. Porém, no presente estudo a CT não foi tão eficiente quanto os outros métodos,

registrando apenas 13% do total de indivíduos. Em trabalhos semelhantes realizados na região amazônica, esse método contribuiu de maneira mais significativa na totalização dos indivíduos registrados. Por exemplo, 56% dos registros efetuados durante a aplicação concomitante dos métodos de amostragem em Espigão do Oeste (RO), foram creditados à CT (Bernarde 2004).

Os métodos de AIQ e EO foram os que mais contribuíram para a totalização do número de indivíduos registrados (Tabela 2). Juntos eles capturaram cerca de 73% dos indivíduos. Comparando estes dois métodos evidencia-se uma tendência quanto à eficiência de EO para amostrar a riqueza, e de AIQ para amostrar a abundância. Por exemplo, em Claudia e em Itirapina (Sawaya 2003) o encontro ocasional foi o método que registrou a maior riqueza, mas não o maior número de indivíduos. Embora seja eficiente quanto à complementação das informações sobre riqueza e história natural (e.g. este estudo e Sawaya 2003), o método de EO ainda é limitado quanto às comparações, pois carece de padronização. A própria definição do que é ocasional varia dentre os estudos que utilizaram a combinação de AIQ, PVLT, CT e EO, e por vezes é vaga e não fornece dados confiáveis para comparações e quantificação de esforços. Por exemplo, Cechin (1999) e Santos-Costa (2003) incluíram dentre as capturas por EO as contribuições de terceiros (CT); Bernarde (2004) incluiu a atividade de procura (“intencional”) sem limitação de tempo, o que contradiz a própria definição de “ocasional”. Nos moldes deste estudo e do estudo realizado em Itirapina, o método de EO foi o menos limitado quanto ao registro de espécies, devido á inclusão de amostras típicas de AIQ e PVLT, e a amostragem de um maior número de ambientes. Cinco espécies foram capturadas exclusivamente por EO (Atractus albuquerquei, Chironius multiventris, C. scurrulus, Dendrophidion dendrophis e Micrurus lemniscatus). A curva aleatorizada, montada com os dados obtidos no período de junho de 2003 a junho de 2004, apresentou crescimento relativamente rápido, tanto para AIQ quanto para EO, até aproximadamente 50 amostras (50 dias de campo) e 15 espécies (cerca de 57% do total de espécies registradas pela AIQ e cerca de 48% do total de espécies registradas por EO) (Fig. 16A e B). A partir daí, para os dois métodos o acréscimo de espécies foi sendo reduzido de forma lenta e gradual. Porém ao final das amostras de EO (179 dias) a curva encontrou-se mais distante da estabilização do que a curva de AIQ, ao final das suas 162 amostras (3888 tambor-h). Para PVLT a curva aleatorizada, (Fig. 16 C), apresentou crescimento relativamente rápido até aproximadamente 30 amostras (300 horas-homem) e oito espécies (cerca de 61% do total de espécies registradas pelo

método). A partir daí, até o final das 94 amostras (ca. 940 horas-homem), o acréscimo de espécies ocorreu muito lentamente e foi a curva que mais se aproximou da estabilização. A - EO 31 ssp; n = 179 -1 9 19 29 39 1 26 51 76 101 126 151 176 Núm ero de am ostras R iq u e z a B - AIQ 26 spp; n = 167 -1 9 19 29 39 0 25 50 75 100 125 150 175 200 Núm ero de am ostras R iq u e z a C - PVLT spp 13; n = 94 -1 9 19 29 39 0 15 30 45 60 75 90 105 Núm ero de am ostras R iq u e z a

Figura 16: Curvas aleatorizadas de acumulação de espécies para três métodos de amostragem de serpentes utilizados na área de estudo, no período de junho de 2003 a junho de 2004, geradas a partir de 100 aleatorizações na ordem das amostras. Está indicado também o número de indivíduos e de espécies registrados por método. A = Encontros ocasionais (1 amostra = 1 dia de campo); B = Armadilhas de interceptação e queda (AIQ) (1 amostra = 1 tambor-dia; C = Procura limitada por tempo (PVLT) (1 amostra = 10 horas-homem).

Tabela 5 - Riqueza observada, proporção da riqueza observada em relação ao total de espécies coletadas na área e em relação ao total de espécies registradas para o município de Claudia, índice de intensidade de amostragem e completude do inventário, segundo cada método de amostragem, para todo o período (abril de 2002 a junho de 2004). AIQ, armadilha de interceptação e queda; CT, contribuição de terceiros; EO, encontros ocasionais; PVLT, procura visual limitada por tempo.

Métodos de Amostragem

EO AIQ CT PVLT

Riqueza observada 33 27 18 13

% em relação às espécies coletadas 84,6% 69,0% 46,0% 33,0%

% em relação ao total de espécies (Claudia) 67,0% 55,0% 38,0% 26,5%

Estimativa (Jacknife de 2ª ordem) 54(±8,7) 42(±7,3) 30(±6,7) 15(±4,7)

Índice de intensidade amostral 3,27 4,55 2,38 3,15

O maior índice de intensidade amostral foi registrado para AIQ, e o menor foi registrado para CT (Tabela 5), o que confirma a pouca eficiência desse método em relação aos demais. A maior completude do inventário foi registrada para a PVLT (ca. 69%), em seguida para as AIQ (ca. 66%), e na seqüência EO e CT (60% e 55%, respectivamente) (Tabela 5). O desempenho dos métodos PVLT, AIQ e EO inferido a partir da interpretação do formato da curva ao longo da acumulação de amostra, nesse estudo, foi corroborado pelos resultados da completude do inventário.

Os resultados referentes à completude do inventário estão vinculados à riqueza esperada (desde que calculada por estimador não paramétrico que leve em conta o número de singletons) e podem indicar o “rendimento” de um dado método em relação ao total de capturas possíveis por esse método em uma área específica. Por esse viés, é aceita a premissa de que há uma limitação peculiar, um número máximo para cada método no que se refere ao número possível de espécies a serem capturadas. Ou seja, assume-se que nenhum dos métodos é capaz de registrar todas as espécies da comunidade de serpentes de uma área. Nessa linha de raciocínio, conclui-se que para o método de PVLT, seria necessário um incremento de 31% no esforço, seguindo os mesmos procedimentos adotados, para que o máximo de sua potencialidade na área fosse atingido, ou seja, sem que houvesse a adição de novos singletons. Por essa linha de raciocínio também se explica o desempenho desse e dos demais métodos, inferido a partir da interpretação do formato da curva ao longo da acumulação de amostra (Fig 16 A, B e C). Para AIQ seria necessário um incremento de aproximadamente 34%; e para CT, o método com menor rendimento, seria necessário um incremento de aproximadamente 45% de esforço; a performance dos encontros ocasionais (EO) em relação aos outros métodos, neste estudo, não é significante, pois ela está vinculada diretamente ao método de AIQ, já que todas as serpentes encontradas dentro dos tambores, por ocasião de suas aberturas, no início de cada campanha, e as encontradas ao lado da tela durante as verificações das armadilhas, foram consideradas como amostradas por EO. Em síntese, as interpretações dos resultados referentes à riqueza estimada e desempenho dos métodos (através da interpretação da curva de acumulação de espécies ou do cálculo da completude do inventário) devem ter como parâmetro o número possível de espécies que podem ser potencialmente amostradas pelo método analisado e não o número total de espécies registradas pela combinação de todos dos métodos empregados. A riqueza estimada com base nos dados de um único método

(AIQ, EO, PVLT ou CT), diz respeito apenas ao método e não necessariamente deve ser extrapolada como uma estimativa de riqueza da comunidade estudada.

Outros estudos efetuados na região amazônica, semelhantes quanto às dimensões da área amostrada e à metodologia aplicada (e.g. Santos-Costa 2003 em Caxiuanã, PA e Bernarde 2004 em Espigão do Oeste, RO), apontaram a PVLT como o método mais eficiente para amostragem da riqueza e abundância. Nestes estudos a PVLT superou em eficiência a AIQ. Para a região de Claudia, entretanto, a análise da performance de AIQ e PVLT, quando utilizados simultaneamente, revelou justamente o contrário. Por exemplo, as AIQ registraram o maior número de espécies e de indivíduos, e apresentaram maior intensidade amostral (Tabela 6). Porém, o percentual de completude do inventário foi maior para a PVLT. Isto pode significar que, embora a PVLT não tenha registrado o maior número de indivíduos e de espécies, ela se aproximou mais rápido (do que AIQ) do número máximo de espécies passíveis de serem registradas através dela. A comparação das curvas aleatorizadas referentes a PVLT e AIQ ilustra essa suposta maior eficiência da PVLT em relação às AIQ (Fig. 16B e C). A PVLT se aproximou da assíntota utilizando menor número de amostras do que AIQ. Porém, para a área de estudo, o número de espécies suscetíveis a PVLT foi menor do que aquelas suscetíveis a AIQ. Esse fato é evidenciado pela baixa complementaridade percentual entre AIQ e PVLT (35%). Onze espécies foram amostradas pelos dois métodos, enquanto duas foram registradas apenas através da PVLT e 15 através das AIQ. Esses dados reforçam as indicações de outros estudos (Martins 1994; Cechin e Martins 2000, Santos-Costa 2003, Bernarde 2004) da necessidade da utilização concomitante de vários métodos para otimizar a obtenção de dados, em estudos de comunidades de serpentes. Tabela 6 - Performance dos métodos de AIQ e PVLT, no período em que foram utilizados simultaneamente para a coleta de serpentes (junho de 2003 a junho de 2004).

Dados comparativos Métodos

AIQ PVLT

Riqueza observada 26 13

Número de indivíduos 110 41

Esforço em horas 3888 h* 945,2

Índice de intensidade amostral 4,23 3,51

Completude do inventário (em %) 62,96 69,23

Número de singlentons 10 4

Número de doubletons 1 6

Complementaridade percentual entre AIQ e PVLT (%) 35,29

A análise referente às espécies com maior abundância relativa segundo o método de amostragem (Fig. 17) indica a predominância de diferentes espécies para diferentes métodos e evidencia a suscetibilidade de espécies ou grupos de espécies a um determinado método de amostragem. Por exemplo, dentre as espécies mais comuns e as relativamente comuns, as serpentes de hábito fossório Atractus latifrons e Typhlops reticulatus foram registradas exclusivamente por armadilhas de interceptação e queda. As serpentes Tantilla melanocephala e Pseudoboa coronata, com mais de 90% dos indivíduos capturados com auxilio dos tambores, e Drepanoides anomalus, com cerca de 88%, também são exemplos de espécies que demonstraram maior suscetibilidade às AIQ. Os registros obtidos com o emprego de AIQ também foram os que mais contribuíram para a quantificação da espécie mais comum, Oxyrhopus melanogenys (cerca de 77% do total dos indivíduos registrados). Dentre as espécies mais abundantes, a espécie de hábito semi-arborícola Dipsas pavonina foi a que apresentou maior suscetibilidade à PVLT, com cerca de 70% dos indivíduos obtidos por esse método. Outra espécie que teve sua abundância relativa associada a um único método de captura foi Apostolepis flavotorquata, com cerca de 80% dos registros obtidos por EO. Apenas quatro espécies foram registradas pelos quatro métodos empregados, provavelmente em decorrência de sua grande abundância local: Oxyrhopus melanogenys, Leptodeira annulata, Rhinobothryum lentiginosum e Bothrops moojeni (Fig. 17).

0% 20% 40% 60% 80% 100% Om Pc Xr Tm Al Sc Tr La Da Dp Rl Xs Bm Af AIQ EO PVLT CT

Figura 17: Contribuição proporcional de cada método de amostragem para a totalização do número de indivíduos da espécie mais abundante, e das espécies mais comuns e relativamente comuns registradas para a área de estudo. AIQt = Armadilha de Interceptação e Queda (todos indivíduos capturados dentro dos tambores, independente do período de coleta), CT = Colaboração de Terceiros, EOp = Encontros Ocasionais (excluídos os indivíduos encontrados dentro dos tambores por ocasião da abertura das armadilhas), PVLT = Procura Visual Limitada por Tempo. Af = Apostolepis flavotorquata; Al = Atractus latifrons; Bm = Bothrops moojeni; Da = Drepanoides anomalus; Dp = Dipsas pavonina; La =

Leptodeira annulata; Om = Oxyrhopus melanogenys; Pc = Pseudoboa coronata; Rl = Rhinobothryum lentiginosum; Sc = Siphlophis compressus; Tm = Tantilla melanocephala; Tr = Typhlops reticulatus; Xr = Xenodon rabdocephalus; Xs = Xenodon severus.

3.7. Uso do Hábitat e do Substrato e Atividade Diária e Sazonal

As espécies registradas no presente estudo podem ser consideradas como componentes de uma comunidade de hábitat primário. Cerca de 80,5% dos registros (n = 260) foram obtidos em hábitat considerado “primário”, ou seja, com pouca ou nenhuma alteração antrópica. Esses registros são referentes a 37 espécies (ca. de 95% do total). Apenas duas espécies, Clelia plumbea e Boa constrictor, foram registradas exclusivamente em hábitat considerado “alterado”. Dezenove espécies foram encontradas tanto em hábitats primários quanto em hábitats alterados, e 18 exclusivamente em hábitats primários (Tabela 7).

O Hábitat “Floresta Primária” foi o mais intensamente amostrado e, por conseqüência, o mais representativo em termos de informações. Cerca de 76% dos registros (n = 246; 33 espécies), incluindo todos aqueles gerados pelas coletas em AIQ, foram obtidos nesse hábitat. Os hábitats “Mata Ciliar”, com oito registros efetuados para seis espécies e “Área de Inundação”, com seis registros para quatro espécies, contribuíram com apenas 4,5% do total de registros, obtidos principalmente por PVLT e EO.

Nos hábitats “alterados”, os registros foram obtidos através de EO e CT. Para a “Floresta em Recuperação” foram efetuados 21 registros (6%) para sete espécies, e para “Área Antropizada”, 41 registros (13%) para 18 espécies (Tabela 7).

Embora os dados sobre ocupação de hábitat sejam tendenciosos e não possibilitem análises refinadas (e.g. comparações de riqueza, abundância entre diferentes hábitats, preferências, etc.) cabem aqui alguns comentários.

Mesmo com o grande volume de informações obtidas para hábitat primário, não foi registrado nenhum indivíduo de Boa constrictor para a Floresta Primária (Fp), Mata Ciliar (Mc) ou Área de Inundação (Ai), mas dois indivíduos foram registrados em área alterada (Aa). Em outros estudos de comunidades de serpentes de áreas amazônicas, o número de registros de Boa constrictor em ambiente primário também foi baixo (um registro por EO para Caxiuanã (Santos-Costa 2003) e um registro por PVLT para Espigão do Oeste (Bernarde 2004). Ao contrário, Epicrates cenchria foi a espécie mais comum dentre os boídeos na Fp (cinco registros) e na Aa (seis registros). Em espigão do

Oeste esse boídeo também apresentou abundância relativa maior que Boa constrictor em ambiente primário, e menor em ambiente alterado. As serpentes Mastigodryas boddaerti e Apostolepis flavotorquata foram coletadas em maior número em estrada pouco movimentada localizada em área coberta por floresta em recuperação. Sete indivíduos (quatro machos e três fêmeas) de Apostolepis flavotorquata foram encontrados sobre o leito da estrada em dia nublado. Filhotes de Mastigodryas boddaerti foram encontrados em atividade também no período mais quente do dia, forrageando entre folhiço, na borda de clareira, onde havia intensa movimentação de jovens e adultos do lagarto Ameiva ameiva. Dentre as serpentes mais comuns na área, Bothrops moojeni e Leptodeira annulata foram coletada em todos os hábitats e foram também as mais comuns dentre as coletadas por residentes locais. Apesar de abundantes em hábitats primários, Dipsas pavonina, Pseudoboa coronata, Atractus latifrons e Typhlops reticulatus não foram registradas em hábitats alterados. Com exceção de D. pavonina, que apresenta hábito semiarborícola, essas serpentes apresentam hábitos secretivos (criptozóico e/ou fossório) (Tabela 7).

No período de estudo 130 registros, considerados todos os registros da PVLT e parte daqueles obtidos em EO e CT, proveram dados sobre uso do hábitat e atividade. Cinqüenta e dois indivíduos (ca. 40% dos registros) foram encontrados em atividade diurna (forrageando ou em deslocamento), cerca de 45% (58 indivíduos) em atividade noturna, 14% (18 indivíduos) em repouso diurno e 1,5% (dois indivíduos) em repouso noturno. Noventa e quatro indivíduos (ca. 72%), representando 27 espécies, foram encontrados sobre a liteira ou solo desnudo e cerca de 20% (26 indivíduos, 10 espécies) foram encontrados sobre a vegetação. Do total de espécimes encontrados sobre a vegetação (n = 26), cerca de 88% (23 indivíduos) foram encontrados em atividade noturna, 4% (um indivíduo) em atividade diurna e 8% (três indivíduos, duas espécies) em repouso noturno. Nove serpentes (7% dos indivíduos; cinco espécies) foram encontradas debaixo de troncos, em repouso diurno, e apenas um indivíduo (ca. 1%) foi capturado dentro d’água (Tabela 7).

Tabela 7 – Uso do hábitat e do substrato, e atividade diária de serpentes coletadas e/ou observadas no município de Claudia

(MT). A = ativa; Aa = área antropizada; Abr = abrigo sob troncos; Ag = dentro d’água; Ai = área inundável; AIQ =

armadilhas de interceptação e queda; D = período diurno; Fp = floresta primária; EFr = estrada em floresta em recuperação;

Mc = mata ciliar; N = período noturno; R = em repouso. *

n

= número de observações adicionais que não resultaram em

coletas.

Substrato

Hábitat

Solo/Liteira

Vegetação

Ag Abr

AIQ

Primário

Alterado

Espécies A,D A,N R,D A,D A,N R,N A,N R,D D N Fp Mc Ai EFr Aa

Typhlopidae Typhlops reticulatus - - - 7 9 - - - - Boidae Boa constrictor 1 - 1 - - - 1 1 Corallus hortulanus - - - - 2 - - - 1 - - 1 Epicrates cenchria 3 1 - - 1 - - - - 1 7 - - - 4 Colubridae Colubrinae Chironius multiventris 3*3 - - 1 - 0*1 - - - - 4*4 - - - 2 Chironius scurrulus 1 - - - 1 - - - Dendrophidion dendrophis 5*1 - - - 4*1 - - - 1 Drymoluber dichrous 1 - - - 1 - 2 - - - - Mastigodryas boddaerti 4 - - - 1 - 1 - - 4 - Pseustes poecilonotus 2 - - - 2 - 4 - - - 1 Rhinobothryumlentiginosum - 3 - - - 3 6 - - - 2 Tantilla melanocephala - - - 11 - 14 - - - 1 Dipsadinae Atractus latifrons - - - 10 14 - - - - Dipsas catesbyi - - - 2 2 - - - - Dipsas pavonina - 2 - - 10 - - - - 4 17 - - - - Dipsas variegata - - - 1 2 - - - - Imantodes cenchoa - 1 - - 3 - - - 3 - 1 - 1 Leptodeira annulata - 4 - - 1 1 - 3 - 6 10 1 2 - 8

Continua...

Tabela

7

– Continuação

Substrato

Hábitat

Solo/Liteira

Vegetação

Ag Abr

AIQ

Primário

Alterado

Espécies A,D A,N R,D A,D A,N R,N A,N R,D D N Fp Mc Ai EFr Aa

Xenodontinae Apostolepis flavotorquata 8 - - - 1 - 1 - - 8 1 Clelia plumbea - 1 - - - 1 Drepanoides anomalus - 1 - - - 3 8 1 - - - Helicops angulatus - - - 1 - - - 1 - - Liophis oligolepis - - - 1 - 3 - - - - Liophis taeniogaster - - - 1 - - - - Oxyrhopus formosus 1 2 - - - - 1 - 6 11 - - - -

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