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3. Realização da prática profissional

3.7. Resultados da intervenção

3.7.8. Avaliação Qualitativa

Para além dos resultados quantitativos, que oferecem uma informação mais precisa e palpável acerca do efeito da intervenção, é importante ter em conta os dados qualitativos. Não menos importantes, e apesar de mais subjetivos, estes constituem uma fonte de avaliação importante, permitindo descrever a evolução de pequenos aspetos que poderão contribuir para uma melhor perceção da eficácia da intervenção. Sendo assim, ao longo da intervenção, verificou-se uma evolução no grupo em geral, relativamente ao comportamento, na relação entre os participantes e com as técnicas e na expressão de objetivos futuros. Inicialmente, existiam elementos do grupo que, por serem do mesmo bairro, já se conheciam. No entanto, o mesmo não se verificava para a totalidade dos participantes, sendo que alguns jovens desconheciam por completo os restantes elementos, demonstrando-se mais retraídos. Contudo, rapidamente a inibição deu lugar ao conhecimento e ao estabelecimento de relações de confiança entre os elementos do grupo, o que facilitou a coesão no grupo. Isto verificava-se nos períodos antes e maioritariamente após as sessões, em que os participantes permaneciam para além do tempo, fora da sala, a conviver. Também durante as sessões foi possível verificar alguns comportamentos que demonstravam preocupação uns com os outros, e.g. um dos participantes mostrava estar mais em baixo e, no meio da sessão, o jovem ao lado perguntou o que tinha acontecido, e de valorizavam o trabalho uns dos outros, e.g., mais

3,86 3,67 3,75 4 3,33 4 4 2,86 1,63 3,57 3,13 3,5 4 3,6 4,5 0 0,5 1 1,5 2 2,5 3 3,5 4 4,5 5 v a lo r m é d io

do que uma vez, quando era pedido que desenhassem algo ou escrevessem uma frase que diriam a outra pessoa para fazê-la sentir melhor, os participantes eram os primeiros a elogiar o trabalho uns dos outros, quando gostavam verdadeiramente. Também relativamente à relação dos participantes com as técnicas, verificou-se um aumento da confiança e à vontade, havendo respeito mútuo. Isto notou-se quando, progressivamente, foram permitindo que estas (e principalmente a estagiária, visto a maior parte dos participantes já se sentirem à vontade com a outra técnica, por já a conhecerem há mais tempo) participassem, embora mais contidamente e não sempre, nos momentos de convívio. Este vínculo foi também visível fora do contexto do programa, durante uma entrevista realizada pela estagiária a um dos participantes, quando dada por terminada a entrevista, este pediu para continuar pois “estava a gostar de falar”. Outra situação que demonstrou o respeito que tinham pelas técnicas e pelos próprios colegas consistiu num momento em que um dos participantes recusou-se a participar na atividade, e o outro participante tentou persuadi-lo para participar pois, caso contrário, seriam poucos a realizar a atividade. Notou-se também um aumento da participação durante as sessões, apesar das diferenças entre os jovens, demonstrando um maior à vontade e genuinidade, que não apresentavam no início das sessões. Nessas intervenções notou-se também uma maior capacidade de reflexão crítica sobre os temas, não demonstrando medo de partilhar a sua opinião, e um prolongamento da duração do discurso, sendo que inicialmente, de um modo geral, as intervenções eram mais breves e menos refletidas. Relativamente às aspirações para o futuro, inicialmente notou-se uma desmotivação, em geral, perante a sociedade e a falta de oportunidades. No entanto, com os temas abordados nas sessões e tendo em conta que um dos participantes era já empregado e um outro conseguia ter trabalhos temporários, notou-se um crescente interesse por parte dos participantes em ingressar no mercado de trabalho ou em assumir algum tipo de responsabilidade ou compromisso. Isto pôde-se verificar quando um dos participantes referiu, a meio do programa, que gostaria de trabalhar com crianças, sendo que outro chegou mesmo a, deliberadamente, deslocar-se até à Casa de São Bento, depois do convite da assistente social, para brincar com as crianças e fazer voluntariado. No entanto, tal só aconteceu uma vez, visto que o participante vivia longe e, devido a condições financeiras, não tinha como se deslocar mais do que uma vez por semana à Casa de São Bento. Também, quando se apresentou a proposta de realizar uma sessão apenas para atualização/elaboração do currículo, todos os participantes se mostraram disponíveis, interessados e agradecidos.

De maneira a ter outra perspetiva, relativamente à avaliação qualitativa, foi realizada uma entrevista aos técnicos de reinserção social Equipa Lisboa 1 responsáveis pelos participantes, no entanto, apenas um dos técnicos pôde responder, pois o outro técnico já tinha abandonado a equipa. A técnica que respondeu à entrevista era responsável por dois dos participantes. Foi-lhe questionado se tinha notado alguma diferença após a intervenção nos participantes, sendo que esta referiu que num dos casos não, justificando que acompanhava há pouco tempo, mas que no outro caso sim. Referiu neste último caso: Sim, o condenado mostra-se menos defensivo e retraído na

interação pessoal assim como capaz de olhar nos olhos quando estabelece uma conversa. Igualmente verifiquei que é capaz de ser mais assertivo quando pretende alguma coisa ou a manifestar o seu desagrado. Por exemplo, após ter faltado a uma entrevista, contactei telefonicamente a mãe dele (porque o número dele já não era o mesmo) para agendar nova data. No dia seguinte ele apareceu na equipa para me dizer que da próxima vez não ligasse para a mãe mas para ele porque era ele que estava com a pena suspensa. Disse-o de uma forma correta e educada. Surpreendeu-me porque ele sempre foi muito tímido.

Assim sendo, com os dados das avaliações quantitativa e qualitativa, reúne-se a informação necessária para se proceder à discussão de resultados.

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