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Durante os processos de análise de estruturação do ensino, hoje, é comum criticar os alunos, as escolas e os professores, quando estes são na verdade parte de um contexto educativo que deve ser avaliado como um todo. Talvez essa seja a resposta para a não- eficiência desse ‘pacote’ educacional disposto anteriormente. Os gestores querem comandar o dia-a-dia escolar e o fazem por meio de avaliações das instituições dos professores e dos alunos, utilizando prêmios e punições. São avaliações pontuais, realizadas por meio de provas, verificadoras de resultados. Os professores e os alunos acabam muitas vezes sendo penalizados em conseqüência de falhas causadas pelas instituições, inseridas e comandadas por políticas públicas que, por vezes, não colocam como objetivo da Educação o processo ensino/aprendizagem e, nesse sentido, a avaliação como reflexão.

Saul (1994) aponta para preocupação de se estar tomando a avaliação pontual como principal instrumento direcionador da avaliação nas escolas.Para a autora, a avaliação está se tornando no centro da aula, em torno do qual tudo gira, porém não está centralizando a ação nos processos de produção de conhecimento, de ensino-aprendizagem que envolvem as pesquisas e as relações professor-aluno, ou seja, tudo é voltado para a avaliação pontual como verificação de resultados:

Trabalhar com avaliação é importante, no sentido de que a entendamos vinculada a uma prática educacional necessária para que se saiba como se está, enquanto aluno, professor e conjunto da Escola; o que já se conseguiu avançar, como se vai vencer o que não foi superado e como essa prática será mobilizadora para os alunos, para os professores, para os pais. (Saul, 1994, p.67)

Para nós, estudar a formação de professores e perceber como o conceito de avaliação é vivenciado por meio de suas ações foram extremamente significativos, considerando o professor, à luz da formação, a pessoa mais importante dentro do processo ensino- aprendizagem. O uso que ele pode fazer da avaliação, no movimento de reflexão na ação,

reflexão sobre a ação e reflexão sobre a reflexão na ação, proposto inicialmente por Schön, desenvolvido por outros educadores como vimos anteriormente, faz do professor um profissional que busca encontrar, por meio da relação de estudos teóricos e práticos, meios para melhor desenvolver a profissão docente. Destacamos a reflexão sobre a prática a partir da apropriação de teorias como marco para as melhorias das práticas de ensino, em que: “O professor é ajudado a compreender o seu próprio pensamento e a refletir de modo crítico sobre sua prática e, também, a aprimorar seu modo de agir, seu saber-fazer, internalizando também novos instrumentos de ação” (Libâneo, 2002, p.70).

Tomamos ainda a definição de professor como aquela apresentada por Contreras:

A definição de professor como intelectual transformador permite expressar sua tarefa nos termos do compromisso com um conteúdo muito definido: elaborar tanto a crítica das condições de seu trabalho como uma linguagem de possibilidade que se abra à construção de uma sociedade mais democrática e mais justa, educando o seu alunado como cidadãos críticos, ativos e comprometidos na construção de uma vida individual e pública digna de ser vivida, guiada pelos princípios da solidariedade e da esperança. (apud Ghedin, 2002, p.138)

Educar diante desse horizonte é ter coragem de romper consigo mesmo para poder instaurar uma nova compreensão da ação. E isso requer reflexão e mudança da prática docente. Cada classe, cada aluno, cada situação de ensino reflete características únicas e singulares. As ações de ensino são ações significativas; portanto, dependem das intenções e das significações atribuídas por seus protagonistas – professores e alunos. Não é possível conhecer uma situação de ensino até que ela se concretize. Por isso, segundo Stenhouse (1998), é impossível dispor de um conhecimento que nos proporcione os métodos que devam ser seguidos no ensino. Nesse sentido, a metodologia do Clube de Matemática é organizada para que o estagiário não encontre modelos de aulas prontas para desenvolver com seus alunos. Quando mobilizamos os estagiários a elaborar, desenvolver e avaliar atividades de ensino, estamos preocupados em criar nesse espaço de formação práticas que levem a ações reflexivas ao planejar, desenvolver e avaliar as atividades de ensino. No dizer de Schön (2000), os profissionais dedicados à formação de futuros profissionais devem adaptar suas instituições para acomodar o ensino prático reflexivo como um elemento-chave da educação profissional.

A avaliação nesse contexto é uma ação para a reflexão. É o que chamamos de ‘avaliação reflexiva’. Isto é, diante dos resultados de uma avaliação, que ações julgamos necessárias para o desenvolvimento do aluno, do professor ou das instituições? Ao contrário da avaliação que apenas constata problemas, a avaliação reflexiva deve ser um instrumento para o redirecionamento da prática educativa.

Este estudo inicial acerca da formação inicial de professores e da avaliação no contexto atual foi fundamental para a formação da nossa concepção de avaliação.

A seguir, descreveremos sobre a teoria da atividade, pois esta nos faz compreender que só haverá mudanças no campo da Educação se elas forem concebidas a partir das necessidades dos indivíduos que estão envolvidos na ação de educar.

Segundo Vigotski10, a educação é um processo de apropriação de signos

culturais. Estes seriam ‘instrumentos psicológicos’ que ajudariam os indivíduos a organizar seu comportamento e suas ações por meio do processo de internalização (Vigotski, 1984). Para Leontiev, a reflexão mental nos seres humanos está ligada ao processo da atividade orientada para um objetivo e mediada por esse processo. (Libâneo 2002, p75)

Só há aprendizagem quando um sujeito está em atividade e, para isso, ele tem que suprir uma necessidade que seja dele, particular, motivadora de uma busca pela aprendizagem que desencadeia no seu desenvolvimento e na sua transformação.

Capítulo II

Contribuições da psicologia histórico-cultural para Atividade de Ensino e