• Nenhum resultado encontrado

1 ENQUADRAMENTO TEÓRICO

1.2 Epidemiologia das Quedas na População Idosa

1.2.6 Avaliação do Risco de Queda

Apesar de ser difícil, avaliar o risco de queda nos idosos torna-se cada vez mais importante, sendo que à medida que cresce esta evidência cresce também a necessidade de reunir esforços para melhorar a identificação e a avaliação dos diferentes fatores de risco e tornar possível a construção de uma estratégia multidisciplinar de intervenção (WHO, 2007). Esta avaliação deve estar incluída na avaliação global do idoso que, para além de rastrear a saúde física e mental, a capacidade funcional, os recursos sociais e económicos e o ambiente em que o idoso vive (National Institutes of Health, 1987), deve estar particularmente focado no despiste de situações de vulnerabilidade, tal como recomendado no Programa Nacional para a Saúde das Pessoas Idosas (DGS, 2004a).

Nas últimas décadas foram desenvolvidos instrumentos para identificar idosos em risco de cair. Alguns são simples e rápidos de aplicar, outros são mais extensos, mais demorados e complexos, mas permitem obter mais informação. A população a que se dirigem e o contexto onde se aplicam também distinguem estes instrumentos, sendo que no hospital, num lar ou na comunidade a avaliação do risco de queda não pode ser realizado da mesma forma, pois o peso de cada fator de risco e a eficácia de cada intervenção variam de forma significativa (Todd & Skelton, 2004).

No contexto comunitário, alguns instrumentos parecem ser utilizados com maior frequência na prática clínica, como é o caso (Gates et al., 2008; Royal College of Nursing, 2004):

“Escala de Equilíbrio de Berg” (EEB): uma escala de avaliação do equilíbrio funcional, composta por 14 itens que permite identificar idosos fragilizados e défices de equilíbrio (Miyamoto et al., 2004). Os valores de especificidade e sensibilidade encontrados em diferentes estudos são geralmente elevados (Miyamoto et al., 2004). No entanto, o facto de se encontrarem valores de sensibilidade baixos nalguns estudos é interpretado pelos autores como resultado da interação de outros fatores de risco não considerados na escala (Thorbahn & Newton, 1996).

“Elderly Fall Screening Test” (EFST): um instrumento que permite distinguir idosos com risco elevado/reduzido de cair a partir de cinco itens: história anterior de queda, lesões relacionadas com quedas, episódios de quase queda, velocidade e características da marcha (Cwikel et al., 1998). Os valores de especificidade e sensibilidade (0,69 e 0,67) indicam alguma fragilidade nos resultados obtidos (Cwikel et al., 1998), pelo que associar outros fatores de risco poderá ser importante para melhorar a avaliação do risco de queda (Royal College of Nursing, 2004).

“Timed Get Up and Go Test” (TGUGT): adaptado por Podsiadlo e Richardson a partir do original Get Up and Go Test de Mathias e colaboradores, é frequentemente utilizado para avaliar a mobilidade de idosos fragilizados em contexto comunitário. Consiste na medição do tempo que leva um idoso a cumprir uma sequência de instruções desde o levantar de uma cadeira, caminhar, voltar e sentar-se de novo (Hayes & Johnson, 2003). A medição do tempo em substituição de uma avaliação do desempenho do idoso permite controlar os efeitos subjetivos dessa avaliação realizada no instrumento original (Royal College of Nursing, 2004). Perrel e colaboradores (2001) referem que o TGUGT e o Elderly Fall Screening Test (EFST) são específicos e sensíveis a este risco, embora o primeiro exija menor tempo para a sua aplicação. O TGUGT apresenta uma sensibilidade e especificidade elevadas (0.80 e 0,93, respetivamente) na identificação de idosos em risco de cair, embora seja difícil de aplicar a idosos com alterações cognitivas e possa sofrer a influência de outros fatores (idade, género, uso de auxiliar de marcha^) (Hayes & Johnson, 2003).

“Tinnetti Performance-oriented Mobility Assessment” (POMA): permite avaliar o equilíbrio e a marcha de idosos (Hayes & Johnson, 2003). Várias versões deste teste foram criadas, sendo a versão portuguesa constituída por nove itens que avaliam o equilíbrio e 10 dirigidos à marcha (Petiz, 2002). Este instrumento parece ser muito útil na identificação de idosos fragilizados em risco de cair (Hayes & Johnson, 2003).

“Home Falls and Accidents Screening Tool” (HOME FAST): é utilizado para identificar idosos em risco de queda devido a obstáculos do meio envolvente. Apesar desta checklist de 25 itens apresentar uma relação significativa com a ocorrência de quedas nos idosos, não deverá ser utilizada de forma isolada, já que os autores referem que poderá ser imprudente considerar que uma avaliação dos riscos ambientais será por si só suficiente para identificar idosos em risco de cair (Mackenzie et al., 2009).

“Dynamic Gait Index” (DGI): dirige-se a idosos com alterações do equilíbrio e permite “avaliar e documentar a capacidade do paciente de modificar a marcha” (Castro et al., 2006, p. 818) em função de diferentes exigências traduzidas em “oito

tarefas que envolvem a marcha em diferentes contextos sensoriais” (idem). O facto

de apresentar uma lista qualitativa de respostas possíveis (Castro et al., 2006) e a baixa sensibilidade e especificidade (Hayes & Johnson, 2003) são as principais críticas apresentadas a este instrumento.

“Fall Risk Assessment Tool” (FRAT): foi desenvolvido por Nandy e colaboradores (2004) e é constituído por duas partes, sendo a primeira útil para identificar quais os idosos em risco elevado de queda e a segunda um guia para uma avaliação posterior, opções de referenciação e intervenção para idosos com alto riso de queda. O seu valor preditivo é de 0,57 num intervalo de seis meses (Nandy et al., 2004).

“Falls Risk for Older People – Community Setting” (FROP-Com): desenvolvido pelo National Ageing Research Institute (Austrália) com o objetivo de integrar programas de prevenção de quedas multifatoriais. Inclui 13 fatores de risco avaliados numa escala de 0-3 pontos, numa pontuação total de 60 (Russell et al., 2008). Apresenta uma validade preditiva moderada, superior a outros instrumentos, provavelmente pelo facto de incluir mais fatores de risco. No entanto, a avaliação das características psicométricas do instrumento foram analisadas numa amostra de idosos fragilizados, o que pode ter condicionado os resultados obtidos (Russell

et al., 2008).

Na literatura parece evidente que uma avaliação multifatorial só é benéfica quando é seguida de um plano de intervenção adequado aos achados dessa mesma avaliação (Moyer, 2003; Royal College of Nursing, 2004). Porém, a maioria dos instrumentos foca-se em fatores intrínsecos ou extrínsecos mas raramente nos dois em simultâneo (Fabre et al., 2010). Considera-se por isso que o desenvolvimento de um instrumento de avaliação do risco de queda numa perspetiva multifatorial e com base nos achados de revisões da literatura e na opinião de peritos poderá ser uma mais-valia para a prevenção de quedas em idosos no contexto comunitário.

Partindo de artigos de revisão, da informação lançada pelo Royal College of Nursing em 2004 e do algoritmo apresentados pela AGS e BGS em 2011 (quadro 1), verificou-se que nenhum dos instrumentos criados estava de acordo com tais documentos, razão que motivou este trabalho.

Quadro 1: Fatores de risco considerados em diferentes revisões e algoritmo da AGS/BGS. Fatores de risco Algoritmo AGS/BGS (2011) Perrel et al. (2001) Royal College of Nursing (2004) Rubenstein & Josephson (2002)

História anterior de queda X X X

Défice de equilíbrio X X X X Alterações da marcha X X X X Antecedentes médicos X Artrite/ depressão Doenças crónicas Depressão / DM / incontinência Depressão Défices cognitivos X X X X

Declínio funcional X X X (dependência) X

Fraqueza muscular X X X Alterações do batimento e ritmo cardíacos X Hipotensão postural X X Alterações dos pés e calçado inadequado X Obstáculos ambientais X X X Uso de auxiliares de marcha X Alterações visuais X X X Idade =/>80 anos X Limitação da mobilidade X X Medo de cair X Baixo IMC X Medicação X X X (anti-arritmicos, psicotrópicos) X Tonturas e vertigens X Confusão X Sincope X