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DUAS TEORIAS

E) AVALIAÇÃO SOBRE A MIGRAÇAO

Como nos aspectos dos dois itens anteriores, os três tipos definidos de migrantes com os quais estõu trabalhando,re velam unanimidade no aspecto que encerra esta dissertação. A

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avaliaçao da migraçao e sempre positiva . Pois, considerando

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- Exceto, é obvio, para aqueles que retornaram ã comunidade"de origem".

a estrutura original sob a qual viviam (na "praia") e aquela que partilham na comunidade "de destino", os migrantes tendem a perceber-se favorecidos porque passam a usufruir, ao menos, de maior estabilidade (profissional) e conforto: traduzido por facilidades especialmente valorizadas como o credito (que pos­ sibilita a compra de moveis e eletrodomésticos inexistentes na "praia"), e a estrutura viãria e de transportes (aproximando hospitais, escolas, comércio, etc.)» Assim, coerente com

caminhamento da totalidade da analise, deixo na própria

do agente do processo migratorio o encerramento desta disserta ção, comprovando o que afirmei:

"Naquele tempo eu não tinha nada. Hoje tem so~ fã, televisão, algum dia lã (em Ingleses) ía ' poder ter televisão? É hoje tenho duas. Naque­

le "dia" a gente não tinha nada, nada, e era difícil coinnrar. Aqui melhorou porque ele (o marido) trabalhava por conta dele, isso é que dava mais um dinheiro. (...) Eu gosto muito da qui, não é fazer o defeito que eu nasci e me criei lã e ganhei 6 filhos lã (em Ingleses) , mas eu gosto muito daqui, porque se eu quiser trabalhar pra ganhar eu trabalho, né? (De uma esposa de ex-pescador-lavrador de Ingleses, m£ radora de Fpolis desde 1968, onde o marido a- tualmente "encostado" no INPS,trabalhava de car pinteiro, pedreiro, lenhador).'

"(...) eu não me arrependi de ter mudado porque eu não gostava de morar em Ingleses, eu detes tava". (De uma professora aposentada, esposa de um ex-proprietãrio de parelha de Ingleses, moradora de Fpolis desde 1965).

"A vantagem da gente aqui £na cidade) e isso: tem mais recurso de que la pra nos, muito mais. E lã eu sofri muito por causa dessa doença que eu tenho. Agora ê que eu aqui melhorei bastan­ te. Então eu acho que aqui pra alguns "e mais favorãvel que lã. A minha esposa também, pra ela é a mesma coisa. porque se fa lar pra ela ir embora... Vai lã no Sítio visi­ tar, tudo, vai, mas se falar pra ela, convi­ dar ela pra morar lã no Sítio ela diz que não

... pra ir vai, gosta do Sítio^e tudo porque /foi nascida e criada lã, mas so visitar porque

morar lã nao, ela diz que aqui ficou melhor, muito melhor, ela diz". (De um ex-pescador-la-

o en- "voz"

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vrador de Ingleses, morador de Fpolis desde 1968) . ..

Enfim, .confirmando o título escolhido para sintetizar o conteu do desta dissertação:

"E, hoje tô me sentindo ate velho com 31 anos por causa da pescaria, muito pesado, muito frio. E não fiz a minha vi;da com a pescaria.E, pra se viver equilibrado tem que se ficar em terra” . (De um ex-”camarada” em Ingleses, que largou a pesca por serviços urbanos em 1980; a tualmente ê vigilante bapcario em Fpolis).

CONCLUSÃO

Encarada como um processo decorrente de longa e his­ toricamente determinada expansão de relações capitalistas ã "praia” - local "de .origem" - fundamentando a transformação das suas características originais, a migração e a resposta da da a essas transformações por grupos diferenciados na estrutu- ra de produção (classe social).

Assim, para a classe dos grandes proprietários e/ou intermediários, detentores do capital e dos instrumentos para sua reprodução, a migração significa dois aspectos principais:

rio âmbito econômico, significa a natural necessidade de expansão do capital; aquele acumulado na "praia" vai se mui. tiplicar em atividades produtivas que possibilitem uma ainda maior acumulação;

no âmbito sõcio-cultural, a migração dos grandes pro prietãrios e/ou intermediários significa a busca de uma 'eleva­ ção de "status" no setor urbano com o qual sempre conviveram e com o qual contribuem na reprodução e desenvolvimento econônü c o.

Deste modo, concluo, os grandes proprietários e/ou intermediários, em face dos recursos trazidos da comun.idade"de origem" enriquecem a comunidade "de destino". Se já tinham ri­ queza na comunidade "de origem", a migração significa a possi­ bilidade de conseguir um outro valor: o "status". Assim, mi­ gram para introduzir os filhos nas relações sõcio-culturais ur banas sedimentadas por uma educação formal especializada. Como jã têm recursos econômicos que os igualam ã classe, dominante

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urbana, a introdução da geração de descendentes em quadros so­ ciais de maior "status" e bastante fácil, enquanto para eles proprios ê dificultada por serem legítimos representantes de uma comunidade culturalmente distanciada do que é considerado importante nos padrões culturais urbanos.

Por sua vez, o grupo sõcio-econômico por mim generi­ camente denominado de pequenos proprietários, diferencia-se in ternamente em alto e baixo conforme se pode concluir por meio das características explicitadas ao longo dos Capítulos III e IV. Se ora enfatizei aspectos proprios ao nível mais baixo da

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classe (dificuldades de reprodução eronômica, por exemplo) e ora os do nível mais alto (possibilidades da geração de descen dentes, por exemplo), penso que justamente a ambigüidade em d£ finí-la mostra que esta classe social não e homogênea.

A partir disso, então, concluo: os participantes dos níveis mais altos dessa classe "média" migram por motiAros pró­ ximos aqueles dos grandes proprietários e/ou intermediários.Um exemplo e o anseio de proporcionar uma educação melhor para os filhos e com isso elevar seu padrão sõcio-cultural - traduzido por "status". Outro exemplo desta proximidade entre as duas classes referidas ê o daqueles pequenos proprietários que jã detêm algum capital acumulado, pois migram talvez não para ex- pandí-lo, mas -próximo a isto- para c.onseguir uma intensifica­

ção de sua reprodução. '

Do outro lado, os pequenos proprietários que na es­ trutura original ocupam padrões baixos representados pela pro­ priedade de uma ünica parelha de pesca ou uma ou outra rede específica a uma safra (caso dos pescadores-lavradores, que

estabilidade dada por seguranças e garantias - tanto no nível previdenciãrio como também e principalmente econômico. Ou se­ ja, migram para fugir à instabilidade própria a uma atividade extrativa (como a pesca) ou dependente das condições da natu­ reza (como a lavoura). Quando se intensifica a penetração das relações capitalistas na atividade original, a instabilidade que lhe é prõpria aumenta ainda mais, estimulando, portanto, a migração

Finalmente, o grupo sõcio-econômico constituído por não-proprietãrios migra, sem outras possibilidades que as ofere cidas pelo "grupo primãrio". Assim, ficam extremamente dificul^ tados os seus anseios: sejam os de dar uma educação para os filhos que os possibilite mudar para uma classe social mais a^L ta,sejam os. anseios de estabilidade, garantia, segurançaveconô mica e profissional.

Porque migram sem recursos, premidos por razões es - truturais próprias à posição que originalmente ocupam na ativ_i dade produtiva, intensificadas (essas razões) em seu carater expoliativo e expropriativo pelas transformações advindas da expansão capitalista,.os não-proprietãrios migrantes, quando na comunidade "de destino", passam a ocupar posições margi - hais representadas pela habitação periférica à cidade^ e pela

Para aqueles que se deslocaram antes da criação de uma rede viária.e 'de transportes competente, donde conclui-se que a urbanização - em suas manifestações -, pode contribuir para retrair uma "migração física" (espacial), enquanto .estimula

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participação em subempregos ou situação de desemprego.

Para encerrar, então, por ser um processo social pro vocado por razões de classe diferenciadas conforme sejam essas classes, a migração tambem vai ser diferenciada internamente , em seus aspectos sôcio-econõmico e/ou espacial. Vai ser di­ ferenciada, mas vai ocorrer porque "ficar enterra".

Cont,

uma "migração funcional" (pela proximimidade com as facili­ dades que a cidade representa).

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