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3.5 A PRESERVAÇÃO E A GESTÃO DA INFORMAÇÃO AUDIOVISUAL

3.5.2 Avaliação técnica dos documentos audiovisuais

Do ponto de vista da conservação, a avaliação77 técnica é uma etapa importante para a

gestão de um arquivo audiovisual. Além disso, ela possibilita o reconhecimento de

características específicas de cada substrato; define qual documento será tratado primeiro; fornece, em detalhes, o estado de conservação do documento; direciona os procedimentos de conservação adequados aos danos detectados e contribui para enriquecer e problematizar as propostas de preservação e conservação dos documentos audiovisuais.

De acordo com Spinelli Júnior; Brandão; França (2011, p.28), “cada situação requer uma análise e depende diretamente das condições em que se apresenta o documento.” Nesse contexto, os autores que se deve avaliar: a. natureza do documento; b. o tipo do suporte; c. o manuseio; d. a guarda; e. o estado de conservação, formando o Ciclo de Avaliação de Documentos, conforme é demostrado na Figura 6:

Figura 6 – Esquema do ciclo de avaliação de documentos

Fonte: Adaptação de (SPINELLI JÚNIOR; BRANDÃO; FRANÇA, 2011, p.28).

76(MÁRIO VERA, 2018, 143, tradução nossa)

77 Processo pelo qual se determina o prazo de conservação de documentos de arquivo. (ISAD-G, 2002, p.13) Natureza do documento Tipo do suporte Manuseio Guarda Estado de conservação

No que se refere à documentação audiovisual, a primeira característica a ser abordada, seja em bibliotecas, museus ou arquivos, é o seu suporte e formato. (LIMA, 2016, p. 4). Nesse contexto, para o tratamento de conservação dos documentos audiovisuais, o primeiro passo, a ser dado, é o exame do suporte visando entre outros aspectos, principalmente, avaliar o estado de conservação dos documentos audiovisuais.

Para recomendar os tratamentos de menor intervenção, que permitam melhorar as condições do bem e retardar a deterioração, os documentos em seus formatos originais devem ser examinados e avaliados, tanto as condições quanto os materiais que os compõem. Além disso, as avaliações do estado de conservação, os procedimentos do tratamento recomendado e os materiais utilizados na operação devem ser devidamente registrados em um documento, por que, esta documentação vai prover a informação futura sobre os tipos de materiais utilizados nos tratamentos. (CASSARES, 2008, p.35)

A avalição técnica é muito importante que se identifique o estado dos documentos, e se adote as medidas iniciais de tratamento de conservação com intuito de não deixar que os suportes entrem em processos avançados de degradação. Nesta perspectiva, Magalhães (2007, p.2) recomenda algumas ações básicas que podem ser facilmente desempenhadas por não especialistas: a. verificar o estado das bobinas, cassetes ou caixas que contem os filmes; b. verificar a existência de manchas ou flocos pretos e castanhos, principalmente, o odor que os substratos exalam; c. analisar as superfícies e margens das fitas (vídeo ou filme).

Na prática, Wschebor; et al (2014, p.99-100, grifo nosso) afirma que a descrição da documentação é uma ferramenta fundamental para se definir as ações posteriores e para que se tomem as medidas adequadas na hora de intervir nos documentos, por que, durante a inspeção é possível observar os danos advindos de diferentes agentes externos ou internos, tais como:

 Danos de origem mecânica: Aqueles que, embora não produzam alterações na conformação molecular do material, causam danos à sua integridade. Exemplos: rasuras, perda de fotogramas, rugas, queimaduras por exposição ao calor gerado na proteção da película, arranhões presentes tanto no suporte como na emulsão, buracos ou orelhas, sujidades aderidas, deformação da fita (ondulamento), encolhimento etc.

 Outras avarias: Comprometem a estrutura molecular do filme e se refletem nas qualidades físicas da película. Exemplos: imagem e cor esmaecidos, “espelho de prata”, manchas presentes causadas por um processo original incorreto, perdas da emulsão do filme, manchas ou desvanecimento da imagem pela utilização de fitas adesivas etc.

 Agentes de deterioração: De origem animal ou fungo, ação do ser humano na manipulação e acondicionamento inadequados dos materiais.

Nesse contexto, Magalhães (2007, p.2) aponta que por meio da análise simples das superfícies e margens das fitas (vídeo ou filme), ao se avaliar cuidadosamente cada

documento pode-se detectar facilmente sinais de degradação, como:

o  O pó branco ou resíduos cristalinos nas margens das fitas e películas são prova de deterioração;

o  Os resíduos pegajosos nas superfícies das fitas magnéticas significam perda dos aglutinantes das partículas magnéticas;

o  A descoloração pode indicar perda de pigmento magnético do suporte;

o  Fitas onduladas, riscadas e quebradas denunciam obras em mau estado;

o  Se as bobinas, os cassetes ou as caixas que contêm os filmes estão danificados, provavelmente os filmes ou vídeos também estão prejudicados;

o  Os flocos pretos e castanhos, largados pelos contentores das obras, revelam que estas se encontram já em processo de degradação;

o  As manchas revelam umidade, o que origina não só a que a fita cole, mas a existência, ou forte probabilidade de existência, de fungos;

o  Através do odor libertado percebe-se se os filmes ou vídeos estão em processo de degradação, pois, os cheiros fortes podem significar contaminação com fungos ou avançada degradação química.

Geralmente quando há deterioração fita magnética ela se alastra por toda uma região do arquivo. E um dos meios recomendados para controle desses acervos é a medição

sistemática do fator PH das fitas a distâncias regulares nas prateleiras: “através de um pedaço de papel de medição colocado junto a uma das fitas, controla-se a cor que ele adquire após 24hs de contato com o documento. Os tons dos papéis de medição vão se tornando mais amarelados ao redor dos setores contaminados.” (MANNIS, 2005, p.1).

Com a finalidade de garantir a integridade dos suportes e conteúdos do material audiovisual destinado à intervenção, é fundamental estabelecer uma cadeia de custódia do material78. Nesse sentido, “a informação profissional deve abranger todo o espectro, desde as

técnicas básicas até os conhecimentos de preservação especializados” (UNESCO, 2002, p. 15, OLIVEIRA, 2016, p.469-471).