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Para seguir a evolução da ave e adaptar os exercícios às suas necessidades é necessário anotar o seu desempenho em todas as sessões. Esta avaliação deverá incluir a mecânica de voo, a sua força e resistência e os estilos de voo (Arent, 2001).

Mecânica de voo

A mecânica do voo pode ser definida como a função de cada parte anatómica interveniente no voo e o modo como interagem entre si (Arent, 2001). A mecânica é avaliada através da observação das asas, membros posteriores, cauda e penas, sendo esta avaliação facilitada se o treinador se colocar directamente atrás da ave no momento em que esta levanta voo (Arent, 2001). Para avaliar todos os componentes de modo adequado será necessário observar a ave durante vários voos.

Asas: Para avaliar a mecânica da ave relativamente ao posicionamento e uso das asas, dever-se-á avaliar o modo como esta estica as asas (se horizontalmente e de igual modo), verificar se, existindo uma extensão reduzida, essa ocorre ao nível do ombro, cotovelo ou pulso, observar se ambas as asas apresentam igual frequência de batimento (usualmente ocorrem diferenças após fracturas no úmero ou no coracóide) e observar se as duas asas efectuam um arco de igual diâmetro ou se alguma não apresenta a capacidade de rodar correctamente (esta situação verifica- se normalmente após fractura no úmero ou coracóide ou devido a trauma no ombro) (Arent, 2001).

Membros posteriores: Existem duas posições dos membros posteriores normais para uma ave a ser exercitada pela técnica de Creance: membros dobrados ou, se voar uma distância curta ou estiver equipado com um equipamento mais pesado, esticadas para baixo (Arent, 2001). Membros desviados para um dos lados (normalmente a compensar uma asa magoada no lado oposto) ou um membro dobrado e o outro pendente são exemplos de posições anormais a ter em consideração.

Cauda: Quando uma ave voa em linha recta, com pouco vento, a sua cauda deverá permanecer completamente na horizontal mas se uma ave se encontrar a recuperar de uma asa fracturada, a sua cauda poderá apontar para o lado oposto (Arent, 2001). À medida que a condição muscular melhora, este desvio será reduzido e provavelmente eliminado (o mesmo ocorrerá no caso dos membros posteriores).

Penas: Como parte essencial na mecânica do voo, as penas deverão ser atentamente observadas: verificar se alguma das penas de voo se encontra fora da posição correcta ou se se verifica um espaçamento invulgar entre elas. Por vezes, se uma fractura exposta não cicatriza correctamente, as alulas ficarão fora do local correcto e levantar-se-ão durante o voo (Arent, 2001). Neste caso, em que a deslocalização das penas deriva do posicionamento dos ossos, não será possível resolvê-la e a ave terá que se adaptar a esta condição. As alulas são penas extremamente importantes na capacidade de manobra da ave e algumas aves, como as águias-de-asa-redonda, outras águias e a maioria das corujas e mochos, aprendem a ajustar-se a esta deslocalização através de treinos intensivos (Arent,

2001). Outras espécies, como os falcões e accipiters, que necessitam possuir a capacidade de realizar voltas apertadas rapidamente, apresentarão maiores dificuldades e poderão não se conseguir adaptar ao ponto de poderem ser libertados (Arent, 2001). Espaçamento invulgar entre as penas poder-se-á dever a lesões nos tecidos moles dos folículos das penas e estes necessitam muito tempo para se regenerar, podendo mesmo nunca o conseguir (Arent, 2001).

Força e resistência

Se uma ave não apresentar uma boa condição física ou estiver a treinar para corrigir ou melhorar a sua mecânica de voo poderá não apresentar um voo forte (Arent, 2001). Uma ave nestas circunstâncias parecerá cambaleante e desajeitada, poderá bater com as pontas das asas no solo, o seu bater de asas será intenso e a exigir demasiado esforço para ganhar altitude e cansar-se-á com facilidade – respirará com o bico aberto, rapidamente, e recusar-se-á a voar (ter em atenção que estes comportamentos também se poderão dever a stress por aquecimento, não se relacionando com a força da ave) (Arent, 2001). Na verdade, no início dos treinos é a ave quem determina a sua duração ao recusar-se a continuar. Neste caso, a ave nunca deverá ser pressionada.

A resistência no voo é descrita como o período de tempo que a ave consegue manter um voo com bater de asas enérgico (Arent, 2001). Espécies diferentes apresentam resistências distintas, adequadas aos seus estilos de voo e de caça. Por exemplo, os accipiters são aves muito rápidas que mantêm um voo enérgico durante curtos períodos de tempo comparativamente com o falcão-peregrino (Falco peregrinus), que consegue manter um voo enérgico durante um período superior e, assim, a resistência necessária para o falcão é superior à de um accipiter (Arent, 2001).

Estilos de voo

Cada espécie de ave de rapina apresenta um estilo de voo. Quando treinada em

Creance, a ave pode alterar esse estilo ligeiramente mas se se apresentar em boas condições físicas irá demonstrar o seu estilo específico (Arent, 2001

)

. Também se verificam diferenças nos estilos de voo dentro de cada espécie associadas à idade e ao sexo (os machos são normalmente mais aerodinâmicos pois apresentam menores dimensões).

Considerações para a avaliação do voo

de asas mais rápido e forte do que as fêmeas (Arent, 2001);

Espécies mais pequenas voarão mais alto em Creance do que espécies maiores

(Arent, 2001);

Aves com peso a mais demorarão mais tempo a ganhar altitude e voarão com

alguma dificuldade. Aves nestas condições devem ser sujeitas a um plano de redução de peso até adquirirem o peso adequado (Arent, 2001);

 O comportamento das aves quando treinadas em Creance pode variar: algumas

aves recusam-se a voar após um voo ou dois, outras irão aterrar sempre no mesmo local após cada exercício e outras recusar-se-ão a sair do solo efectivamente;

 As aves que se recusam efectivamente a voar são, normalmente, novas nos

planos de treinos pelo que terão a tendência de permanecer no solo e manter uma posição defensiva. Por exemplo, os falcões avolumam as penas, esticam as asas e apoiam-se sobre a cauda de modo a poder atacar com os membros posteriores (Arent, 2001). Algumas espécies de rapinas nocturnas tentarão intimidar o treinador inchando o corpo (avolumam as penas e curvam as asas) de modo a parecer o maior possível, assobiando, fazendo estalidos e saltando em direcção ao treinador se este se aproximar demasiado. É necessário ser extremamente paciente com estas aves, dando-lhes algum espaço e aguardando que se sintam seguras. Normalmente, depois de observar o que a rodeia durante uns instantes, a ave não se sentirá confortável no solo e levantará voo (Arent, 2001).

Ficha de avaliação do voo (anexo I):

Após cada sessão de exercícios, dever-se-á preencher uma ficha com todos os dados recolhidos de modo a se poder realizar um acompanhamento completo do progresso da ave e adequar os planos de treino às suas necessidades. Estes impressos facilitarão também o acesso a qualquer dado, permitirão transmitir informações entre os vários treinadores, comparar treinos passados e futuros e avaliar o programa de exercícios utilizado.

Estas fichas deverão conter informações referentes a distância, altitude e estilo de voo, extensão das asas, posição dos membros posteriores, todos os dados recolhidos antes, durante e após o exercício bem como todos os comentários que o treinador achar apropriados.

Objectivos

Este estudo teve como principais objectivos:

Melhorar a preparação de aves de rapina em recuperação para a devolução ao seu habitat natural;

Determinar o estado físico da ave aquando da libertação e se será adequado a uma maior possibilidade de sobrevivência no seu habitat natural;

Avaliar a eficácia dos planos de treino em Creance;

Tentar estabelecer um padrão nas variações verificadas para cada parâmetro fisiológico, durante cada sessão de exercícios e ao longo do plano de treinos, e verificar de que modo os planos de treino em Creance podem contribuir para essa variação/melhoria;

Avaliar e estabelecer critérios de decisão de libertação de aves de rapina recuperadas adequados a uma maior probabilidade de sobrevivência na natureza;

Criar um manual de treino de voo em Creance para aves de rapina em recuperação.