2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
4.1 Avaliações biométricas em diferentes faixas etárias de touros da raça Crioula
4.1.1 Circunferência escrotal (CE)
A CE nas diferentes idades de touros da raça Crioula Lageana (TABELA 1) foi similar a
aquelas propostas pela Sociedade Americana de Teriogenologia para Bos taurus taurus com
medidas de CE variando de 32 a 38cm para touros com idade entre 21 e 30 meses (ROBERTS,
1986 apud GOTTSCHALL e MATTOS, 1997).
TABELA 1 – Medidas de circunferência escrotal (CE) de touros da raça Crioula Lageana com idades de 18 meses (Tratamento I), entre 24 e 36 meses (Tratamento II), entre 48 e 60 meses (Tratamento III) e com 72 ou mais meses (Tratamento IV).
Tratamento CE média (cm) Desvio padrão (cm)
I 29,50a 2,94
II 33,68 b 2,52
III 35,16 bc 2,83
IV 36,62c 3,19
O acentuado aumento de CE verificado entre os 18 e 24 meses de idade (FIGURA 3)
sugere que os touros da raça Crioula Lageana atingem a maturidade sexual neste período, uma vez
que segundo França e Russell (1998), o crescimento testicular é rápido à medida que os animais
amadurecem sexualmente, continuando o crescimento de forma mais lenta após a maturidade
sexual. 0 5 10 15 20 25 30 35 40 18 24 e 36 48 e 60 72 ou + Idade (meses) CE (cm)
FIGURA 3 – Aumento da circunferência escrotal (CE) de touros da raça Crioula Lageana aos 18 meses (Tratamento I), 24 a 36 meses (Tratamento II), 48 a 60 meses (Tratamento III) e 72 ou mais meses (Tratamento IV).
As medidas de CE na raça Crioula Lageana foram superiores às encontradas por Unanian
et al. (2000) em touros da raça Nelore aos 18 meses, que apresentavam média de CE de 24,38 +
1,62cm. Porém, os resultados encontrados neste estudo foram similares aos encontrados por Peña,
Queiroz e Fries (2001) e Dias, El Faro e Albuquerque (2003) em touros Nelore de 18 meses, que
apresentaram CE de 25,71 + 3,54cm e 26,33cm, respectivamente. Bergmann et al. (1997),
estudando a CE em touros da raça Nelore encontraram medidas de 31,3 ± 0,6cm; 32,9 ± 0,7cm e
34,4 ± 1,0cm, respectivamente para as idades de 24, 36 e 48 meses. Também, Guimarães et al.
meses, obtiveram medidas de CE similares às encontradas na raça Crioula Lageana nesta faixa
etária.
Ainda referente à raça Nelore, diversos autores citam que medidas de CE em touros aos
sete, 12, 18, 28, 30, 36, 42 e 48 meses são de 18,30; 22,29; 27,54; 33,26; 33,17; 33,67; 36,33 e
37,36cm; respectivamente (ANDRADE et al., 2001; FONSECA, SANTOS e MALINSKI, 1997;
PINEDA, FONSECA e ALBUQUERQUE, 2000; SALVADOR et al., 2001 e 2002; SILVA et al.,
2002; VALE FILHO et al., 1997).
Estudos realizados nas raças Canchim, Guzerá, Sindi, Tabapuã, Caracu, Limousin,
Brangus e Brahma, as medidas da CE apresentaram resultados semelhantes aos encontrados nos
touros da raça Crioula Lageana, nas diferentes idades, exceto animais das raças Tabapuã e Brahma
que apresentaram-se inferiores aos 18 meses, com CE de 22,3 + 2,8 e 22,63 + 3,3cm (CARTAXO
et al., 2001; KASTELIC, 1997; PEÑA-ALFARO et al., 2001; PINEDA, FONSECA e
PROENÇA, 1997; PINEDA, LEMOS e FONSECA, 1997; RABESQUINE et al., 2003; SILVA et
al., 2004(a,b,c); TORRES-JÚNIOR e HENRY, 2003; VALE FILHO et al., 2001 e 2003).
Outros autores estudando as raças Marchigiana (musculatura simples), Brangus, Pardo
Suíço, Devon e Aberdeen Angus, determinaram medidas de CE maiores que as encontradas nos
touros da raça Crioula Lageana neste trabalho (BARROS et al. 1999; OLIVEIRA et al., 2002;
QUIRINO et al, 2004; ZERBINATTI et al., 2005).
A diferença de resultados encontrada entre as raças citadas e a Crioula Lageana pode em
partes ser explicada pelo processo de seleção natural que caracterizou esses animais, não devendo,
no entanto, ser comparada a seleção induzida realizada nas demais raças, que visam alta
produtividade.
A CE na raça Crioula Lageana foi similar às determinadas nas raças zebuínas e
4.1.2 Volume Testicular
O comprimento e a largura dos testículos direito e esquerdo foram similares nas mesmas
faixas etárias, porém entre as categorias de idade: Tratamento I –18 meses, Tratamento II – entre
24 e 36 meses, Tratamento III – entre 48 e 60 meses e Tratamento IV – 72 ou mais meses;
verificou-se aumento significativo no CT e LT na medida em que aumentava a idade. No entanto,
o aumento observado nos mesmos parâmetros entre as categorias de idade Tratamento III (entre
48 e 60 meses) e Tratamento IV (72 ou mais meses) não foi significativo (P > 0,05) (TABELA 2 e
3). O mesmo comportamento foi observado em relação ao volume testicular (TABELA 4).
TABELA 2 – Comprimento testicular de touros da raça Crioula Lageana nas idades de 18 meses (Tratamento I), entre 24 e 36 meses (Tratamento II), entre 48 e 60 meses (Tratamento III) e 72 ou mais meses (Tratamento IV).
As médias seguidas com letras diferentes nas colunas diferem entre si pelo teste “t de Student” (P< 0.05). CT – Comprimento testicular considerando testículo direito e esquerdo, CTD – Comprimento testicular direito, CTE – Comprimento testicular esquerdo, DP – Desvio padrão.
Tratamento CT + DP (cm) CTD + DP (cm) CTE + DP (cm) I 9,49 a + 0,85 9,49 a + 0,93 9,49 a + 0,81 II 10,79 b + 1,00 10,75 b + 1,04 10,82 b + 0,99 III 11,70 c + 1,58 11,52 bc+ 1,64 11,88 c + 1,57 IV 12,13 c + 1,91 12,00 c + 2,00 12,27 c + 1,85
As médias seguidas com letras diferentes nas colunas diferem entre si pelo teste “t de Student” (P< 0.05). LT – Largura testicular considerando testículo direito e esquerdo, LTD – Largura testicular direita, LTE – Largura testicular esquerda, DP – Desvio Padrão.
TABELA 4 – Volume testicular de touros da raça Crioula Lageana nas idades de 18 meses (Tratamento I), entre 24 e 36 meses (Tratamento II), entre 48 e 60 meses (Tratamento III) e 72 ou mais meses (Tratamento IV).
Tratamento VT + DP (cm³) VTD + DP (cm³) VTE + DP (cm³) I 510,05 a + 147,86 523,29 a + 165,04 497,76 a + 136,22 II 720,96 b + 181,82 743,52 b + 190,59 698,40 b + 174,29 III 957,43 c + 315,45 967,89 c + 333,57 946,98 c + 312,18 IV 992,09 c + 262,64 1017,19 c + 278,46 966,99 c + 251,29
As médias seguidas com letras diferentes nas colunas diferem entre si pelo teste “t de Student” (P< 0.05). VT – Volume testicular considerando testículo direito e esquerdo, VTD – Volume testicular direito, VTE – Volume testicular esquerdo, DP – Desvio Padrão.
TABELA 3 – Largura testicular de touros da raça Crioula Lageana nas idades de 18 meses (Tratamento I), entre 24 e 36 meses (Tratamento II), entre 48 e 60 meses (Tratamento III) e 72 ou mais meses (Tratamento IV).
Tratamento LT + DP (cm) LTD + DP (cm) LTE + DP (cm)
I 5,80 a + 0,70 5,86 a + 0,77 5,73 a + 0,65
II 6,47 b + 0,58 6,58 b + 0,59 6,36 b + 0,56
III 7,12 c + 0,74 7,21 c + 0,79 7,03 c + 0,72
Os resultados obtidos neste estudo indicam que na raça Crioula Lageana, o
comprimento, largura e o volume dos testículos apresentam crescimento mais intenso até os 5
anos de idade (FIGURA 4). Após essa idade o crescimento é menor.
0 2 4 6 8 10 12 14 18 24 e 36 48 e 60 72 ou + Idade (m eses) CT (c m) 0 2 4 6 8 18 24 e 36 48 e 60 72 ou + Idade (m eses) LT (c m) 0 200 400 600 800 1000 1200 18 24 e 36 48 e 60 72 ou + Idade (meses) VT (cm³)
FIGURA 4 – Representação gráfica do crescimento testicular em touros da raça Crioula Lageana. A – Comprimento testicular (CT), B – Largura testicular (LT) e C – Volume testicular (VT).
Os testículos dos touros da raça Crioula Lageana foram semelhantes em comprimento e
maiores em largura quando comparados com os dados encontrados por Unanian et al. (2000)
estudando touros da raça Nelore aos 18 meses, nos quais o comprimento testicular foi de 8,01 +
0,91cm e a largura 4,27 + 0,47cm. Caldas et al. (1999) e Pinho et al. (2001) estudando CT e LT
em touros também da raça Nelore, aos 18 meses de idade, encontraram CT de 10,56cm e LT de
5,45cm, valores similares aos observados nos touros da raça Crioula Lageana em estudo.
A
B
Os parâmetros de CT e LT encontrados nos touros da raça Crioula Lageana, a partir dos
24 meses, foram similares aos descritos em touros da raça Nelore por Bergmann et al. (1997) e
maiores que os descritos por Welter et al. (2005).
Freneau, Vale Filho e Cardoso (1999) em estudo biométrico de testículos obtidos
cirurgicamente através de orquiectomia em touros Nelore de 30 meses, observaram medidas de
CT de 11,76 + 5,1cm e LT de 6,00 + 3,1cm, valores semelhantes aos encontrados em touros da
raça Crioula Lageana. Em touros da raça Tabapuã com idade de 18 e 24 meses, Vale Filho et al.
(2001), determinaram as medidas de CTE de 8,2 + 1,0cm e 10,9 + 1,3cm; CTD de 8,2 + 1,0cm e
10,8 + 1,2cm; LTE de 6,3 + 0,7cm e 7,1 + 0,7cm e LTD de 6,3 + 0,7cm e 7,3 + 0,8cm,
respectivamente para touros aos 18 e 24 meses de idade. O mesmo ocorreu em touros Guzerá, nos
quais Torres-Júnior e Henry (2003) determinaram CT de 10,07 + 1,49cm e 13,58 + 1,65cm, LT de
5.60 + 0,85cm e 7,23 + 0,64cm, respectivamente para as idades de 19 a 26 e acima de 60 meses.
As diferenças paramétricas encontradas intra-raciais e inter-raciais, podem ser
explicadas pelas condições em que foram realizados os experimentos (manejo, clima), como
também por uma característica que confere aspectos morfofisiológicos próprios de cada raça ou
subespécie.
Oliveira et al. (2002), ao estudarem touros jovens (14 a 24 meses) das raças Pardo Suíço,
Canchim e Limousin, encontraram dimensões de CTD iguais a 11,17; 9,18 e 9,27cm; CTE 11,32;
9,14 e 9,37 cm; LTD 7,65; 6,60 e 6,44cm; e LTE 7,63; 6,58 e 6,78cm, respectivamente às raças.
As dimensões testiculares encontradas pelos autores anteriores foram similares às obtidas neste
estudo em touros da raça Crioula Lageana.
Brito et al. (2004), observaram médias de CT de 9,4 + 0,5; 10,5 + 0,8 e 12,2 + 0,4cm e
para LT de 5,4 + 0,5; 6,6 + 0,5 e 7,3 + 0,3cm, respectivamente para Bos taurus indicus com idade
Bos taurus taurus aos 14,8 + 0,6 meses. Os touros da raça Crioula Lageana apresentam valores semelhantes aos animais cruzados Bos taurus indicus x Bos taurus taurus, moderadamente
inferiores aos Bos taurus taurus e superiores aos Bos taurus indicus.
O VT determinado na raça Crioula Lageana foi similar ao descrito por Torres-Júnior e
Henry (2003) na raça Guzerá, que apresentavam VT de 520,3 + 194,1 cm³ na idade entre 19 e 26
meses e de 1129,3 + 275,6 cm³ em animais acima de 60 meses.
Em touros Nelore aos 18 meses, Unanian et al. (2000), encontraram VT de 241,33 + 7,43
cm³, valor inferior aos encontrados na raça Crioula Lageana.
Os touros da raça Crioula Lageana, visto as condições de criação com grande déficit
alimentar nas épocas frias, histórico de seleção e adaptação às regiões dos Campos de Cima da
Serra do Rio Grande do Sul e Santa Catarina, apresentam bom desenvolvimento reprodutivo,
adquirindo a maturidade sexual com idade semelhante às raças comerciais modernas.
4.1.3 Formato testicular
Na classificação do formato testicular nos animais estudados, prevaleceram os testículos
longos-moderados (LM) seguidos pelo formato moderado-oval (MO), longo (LO) e oval-esférico
(OE), respectivamente com 60,83%; 30%; 7,5% e 1,67% (TABELA 5).
Moura, Rodrigues e Martins Filho (2002) citam que em touros PO da raça Nelore, o
formato dos testículos torna-se menos alongado na medida em que avança a idade, o que também
TABELA 5 - Formato testicular de touros da raça Crioula Lageana nas idades de 18 meses (Tratamento I), entre 24 e 36 meses (Tratamento II), entre 48 e 60 meses (Tratamento III) e 72 ou mais meses (Tratamento IV).
Tratamento N° Observações LO LM MO OE I 20 10,00% 50,00% 40,00% 0% II 42 2,38% 78,57% 19,05% 0% III 22 0% 59,09% 40,91% 0% IV 36 16,67% 47,22% 30,56% 5,56% Total 120 7,50% 60,83% 30,00% 1,67%
LO – Longo, LM – Longo moderado, MO – Moderado oval, OE – Oval esférico.
Os touros da raça Crioula Lageana apresentam dominância de testículos de formato
longo moderado em todas as faixas etárias estudadas. Resultados semelhantes observados por
Torres-Júnior e Henry (2003), ao avaliarem o formato testicular de touros da raça Guzerá, que
apresentaram maior freqüência do formato testicular longo moderado em todas as idades. Em
touros Nelore de 18 meses prevaleceu formas intermediarias ao longo e esférico com 70,3%
(CALDAS et al., 1999; PINHO et al. 2001).
Guimarães et al. (2003) avaliando o formato testicular em touros da raça Nelore dos 20
aos 22 meses, constataram que os formatos testiculares longo e longo-moderado representavam
91,36% dos animais avaliados. Nos touros da raça Crioula Lageana os formatos longo-moderado e
moderado-oval foram os mais freqüentes (90,83%).
Considerando a pouca quantidade de literatura disponível sobre os parâmetros
parâmetros morfológicos, afim de melhor entender a fisiologia dos animais pertencentes a esse
grupamento genético, nos permite sugerir a continuidade das avaliações morfológicas desses
5 CONCLUSÕES
A partir dos resultados obtidos e das condições em que foi realizado este estudo,
permite-se concluir que:
1 – O período de maior aumento de CE ocorre entre 18 e 24 meses de idade, sugerindo
que na raça Crioula Lageana os touros atingem a maturidade sexual nesta faixa etária;
2 – O comprimento, largura e volume testicular em touros da raça Crioula Lageana
aumentam até os cinco anos de idade;
3 – O formato testicular longo-moderado é predominante em touros da raça Crioula
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