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6.1 A Psicologia Cognitiva e seus métodos na Toxicologia Ocupacional

Através da reflexão dos antecedentes filosóficos da psicologia e dos psicológicos da Psicologia Cognitiva, Stenberg (2010) define o Cognitivismo como sendo a crença de que grande parte do comportamento humano pode ser compreendida a partir de como as pessoas pensam. Além disso, o Cognitivismo é, em parte, uma síntese das ideias do Behaviorismo e do Gestaltismo, sendo que este é semelhante na análise quantitativa precisa para estudar como as pessoas aprendem e pensam.

Paiva (2007) apresenta quatro sentidos da Psicologia Cognitiva que são: o estudo dos processos mentais, como representação e memória; a terapia cognitivo- comportamental; o estudo da inteligência segundo modelos computacionais e o estudo das condições neurofisiológicas da cognição.

Essa possibilidade de avaliar aspectos neurocognitivos como a memória e a atenção vem sendo utilizada com maior regularidade em pesquisas internacionais de toxicologia ocupacional.

A literatura apresenta estudos que utilizam testes neurocognitivos como indicadores da saúde mental de indivíduos expostos a solventes orgânicos. Um exemplo é a pesquisa de Milanovic et al. (1990) em que foi realizado um estudo na Iugoslávia envolvendo o desempenho cognitivo de indivíduos expostos a mistura de solventes orgânicos (n = 27). Um aspecto interessante nessa pesquisa é que os indivíduos foram agrupados pelo grau de escolaridade. Foram utilizados os testes: Visual retention, Verbal fluency, Digit span, Figura complexa de Rey e CETM (contextual effects upon

textual memory). O estudo apresentou deficiências nos desempenhos do grupo exposto

nos testes Digit Span, Cópia da Figura complexa de Rey, e memória semântica.

Chen et al. (1999) demonstraram preocupações na utilização de solventes e perdas neurocognitivas em chineses que trabalhavam em estaleiros. Nesse estudo utilizou-se

um questionário para avaliar sintomas neuropsicológicos e de personalidade, já aplicado no Reino Unido, que verificava aspectos como a memória, grau de irritabilidade, concentração, cefaléia, insônia, coordenação e outros aspectos fisiológicos. Foi constatado significativo excesso de sintomas sugestivos de disfunção neuropsicológica devido à exposição a solventes.

Morrow, Seinhauer, Condray e Hodgson (1997) avaliaram o desempenho neuropsicológico de pintores de jornais expostos a solventes e compararam com um grupo controle. A avaliação ocorreu após o término de uma atividade de pintura, ou seja, considerando a exposição crônica e a aguda (durante a atividade). O nível de exposição foi estimado por um questionário envolvendo as condições de trabalho. Os testes neuropsicológicos estavam ligados a aprendizagem e memória, habilidades visuais-espaciais, velocidade psicomotora, destreza manual, atenção e flexibilidade mental e inteligência geral. Os resultados encontraram déficits significativos para sujeitos expostos, principalmente com maior tempo de serviço. Os autores concluem que tanto a exposição crônica quando a aguda a solventes podem influenciar no desempenho neuropsicológico dos indivíduos expostos.

Dick et al. (2004) realizaram um estudo com pintores navais com o intuito de contribuir nas pesquisas referentes aos efeitos neurocognitivos que possam ocorrem dentro dos limites legais para exposição ocupacional. O objetivo principal dos autores foi verificar se essa exposição a solventes poderia estar associada com deficiências neuropsicológicas. Foram estudados antigos trabalhadores expostos dos quais avaliaram a exposição respiratória bem como a exposição dérmica. Para a investigação na percepção de cores foi utilizado o teste D15-d e na verificação cognitiva utilizou-se o Benton visual retention test, Trail making test (TMT) A e B. Utilizou-se ainda o National Adult Reading Teste para estimar o Pre-morbid IQ. Os resultados dos

indivíduos que passaram pela triagem (n = 78) demonstraram significativa associação entre a média do ICC e três testes de implicações cognitivas: Benton visual retention test, TMT-A, e TMT-B, após ajustes dos efeitos da idade, álcool e uso de cigarro.

Wood e Liossi (2005) realizaram uma avaliação neurocognitiva em 10 indivíduos expostos a mistura de solventes orgânicos (tetracloroetileno, hidrocarbonetos alifáticos e outros) após um acidente em uma empresa. O estudo utilizou a seguinte bateria de testes: National Adult Reading Test, Wechsler Adult Intelligence Scale; Wechsler Memory Scale; Trail Making Test; Controlled Oral Word Association; Figura complexa de Rey–Osterrieth; Speed and Capacity of Language-Processing Test e Hayling and Brixton Tests. Os resultados apresentaram déficits na velocidade de processamento da informação, memória, atenção e fluência verbal. Os testes mais significativos no estudo foram TMT A e B.

Na Tabela 6 estão presentes, segundo Meyer-Baron et al. (2008), os testes mais eficientes para detectar efeitos significantes nas funções neurocognitivas de indivíduos expostos a solventes orgânicos.

Tabela 6

Principais testes neurocognitivos para exposição a solventes

Área Testes

Atenção Simple reaction time

Digit Span sum Digit Symbol

TMT- A TMT- B Cancellation errors Switch attention time Construção, formação de conceitos e raciocínio. Block design

Desempenho motor Simple reaction time right Tapping nom-dom

Memória Benton Visual Retention

Nota: Adaptado de ―The impact of solvent mixtures on neurobehavioral performance Conclusions from epidemiological data‖, por M. Meyer-Baron et al., 2008, NeuroToxicology, 29, p. 351.

Realizando uma análise dos resultados de 53 pesquisas envolvendo a exposição de trabalhadores a vapores orgânicos e consequências neurocognitivas, Meyer-Baron et al. (2008) apontam para maiores déficits relacionados a atenção. Para eles, as pesquisas com solventes orgânicos evidenciam baixo desempenho dos indivíduos expostos quando comparados com o grupo controle. As consequências para os indivíduos expostos estão principalmente dentro do domínio cognitivo da atenção. Os resultados sugerem que a velocidade de processamento é diminuída em sujeitos expostos a solventes orgânicos.

Ainda serão necessários muitos estudos para elucidar a relação do desempenho da visão de cores com déficits neurocognitivos em sujeitos expostos a solventes orgânicos (Dick et al., 2004).