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4 Apresentação dos dados históricos

4.2 Segundo Marco final de 1999 a

4.2.2.1 Avanços e Benefícios com a presença dos pais e familiares.

O início desse período coincidiu com a conquista do título da Iniciativa Hospital Amigo da Criança (IHAC) da UNN do HC e com a transformação do berçário em UNN (UTI e UCI Neonatais). Então já havia uma abertura maior para o acesso da mãe à UTI, porém para o pai, o acesso ainda era restrito aos horários de visita, uma das preocupações era a prevenção de infecção:

Mudou muito essa questão de acesso aos pais. Antigamente a gente tinha normas muito rígidas no berçário, como eu fui responsável pela Unidade por muitos anos e eu gostava das coisas muito rígidas, muito certinhas, então durante muitos anos, a gente não permitia... Até para entrar no berçário, a gente colocava máscaras, propés e batas, então era muito rígido. Em relação à dificuldade para entrada dos pais era principalmente por conta de prevenção de infecção para o recém-nascido (E08).

Aos poucos, o pai também era liberado para entrada livre, pois ainda havia resistência da portaria principal e dos profissionais em liberar a entrada do pai fora do horário de visita. Algumas vezes, a portaria entrava em contato com o setor para autorizar a entrada do pai no hospital. Na UNN, não havia resistência pela maioria dos profissionais. Os que ainda resistiam justificavam principalmente pela falta de segurança do hospital. Com as políticas de humanização que surgiam na época, foram começando as mudanças:

Quando começaram a surgir às políticas de humanização, mais ou menos nesse período de 2000, ou antes um pouco, foi quando que começou a se abrir mais a entrada dos pais. Só depois foi aberto para outros familiares, o irmãozinho que poderia olhar do vidro, as vovós... Começou se abrir com as políticas de humanização, sem a política a coisa não existia, foi preciso a política vir para poder mudar as atitudes em relação à aceitação da família dentro da unidade neonatal (E07).

De acordo com E05, admitida em 2003, a visita naquele período existia, mas era restrita:

Era mais restrita, não era como é hoje! Hoje agente percebe que há uma liberdade maior, é o pôr em prática realmente aquilo do familiar, do pai está entrando, está junto com a mãe, até na hora da amamentação! Então a gente vê que ele está mais presente, todo mundo está mais consciente! A gente pode dizer que todos estão mais conscientes (E05)!

Conforme livro de reuniões, desde Janeiro de 2003, com uma ação em prol da família dos bebês, foi liberada a visita também para os avós dos RNs, apenas no horário de visita. Nesse período, as mães já tinham acesso livre ao berçário. Para essa atitude ocorrer, foi necessário a sensibilização própria de E01 e, posteriormente, o apoio das chefias para auxiliar na mudança de rotina e sensibilização da equipe:

A vó não entrava, a vó ficava na janela, olhando. Até que um dia eu fui passando e tinha uma vó, aí ela olhando a filha dela com o bebê, eu disse: quanto tempo o bebê está aqui? Ela disse: 30 dias. Você já viu o bebê? Daí ela disse: É o maior desejo da minha vida! Eu disse: Você quer agora? Ela disse: Quero! Eu chamei a enfermeira, ela disse; Não pode, não dá. Vai deixar para uma, tem deixar para outras. Eu disse: Olhe, hoje eu me responsabilizo por ela, mas ela vai entrar! Aí ela entrou, pegou o neto dela, ficou um pouquinho com a filha, depois ela saiu e eu fui embora pegar o bebê, quando eu voltei, que ela me viu, ela me deu um abraço e me deu tanto do beijo! Tão feliz da vida, porque tinha pego pela 1ª vez o netinho dela! (E01).

E isso me marcou muito, porque lá no IMIP, também tinha essa coisa de proibir avós de entrar, então morreu um bebezinho e a (nome da médica do

IMIP) foi fazer a visita domiciliar, e mulher não quis recebê-la porque: “Você proibiu de eu ter a única oportunidade de pegar meu neto nos braços! Ele morreu e eu não peguei nele!” Então ela chegou contando, e isso me marcou tanto e eu disse: não, essa coisa tem que modificar! Então foi quando eu conversei com (a coordenadora), que estava também na época, e o (chefe do setor) e daí agente começou a abrir a visita (no HC) para os avós (E01). A abertura para outras pessoas da família, como madrinhas, irmãos, tias, ainda era restrita. Essa conquista só veio mais adiante com a admissão e envolvimento de novos profissionais como psicólogo e assistente social na equipe.

Importante frisar que todos os entrevistados nessa pesquisa são unânimes na percepção de que o acesso e presença dos pais mudaram a partir da conscientização e capacitação da equipe. Toda equipe reconhece que a presença e participação da família são benéficas para o recém-nascido que é mais vigiado, sofre menos de infecção hospitalar, recupera-se melhor, fica mais estimulado, mama mais rápido e inclusive sofre menos violência. Experiências ‘horríveis’ como à relatada a seguir não ocorreram mais, a partir desses trabalhos de conscientização da equipe:

Eu já vivi aqui coisas horríveis, do bebê ir a óbito, não se falar para mãe, inclusive a mãe entrar procurando o filho, quando via, já tinha outro bebê no lugar do filho dela. Claro que hoje não acontece mais (E01).

Contudo, não é só a mãe estar presente, é importante que ela participe dos cuidados de fazer o contato pele a pele com o bebê, colocá-lo no colo e criar esse vínculo afetivo, emponderando-se no cuidado ao seu filho de forma integral.