O PNE, atinente ao decênio 2001-2010, discorre acerca da necessidade da expansão das universidades públicas para atender à demanda crescente dos alunos, sobretudo os carentes, além da promoção da renovação do ensino universitário brasileiro. Esse Plano já sinalizava que o crescimento de matrícula no ensino médio deveria se dirigir aos alunos das camadas sociais mais pobres da população, fazendo com que a demanda por educação superior fosse requisitada por esses estudantes.
O PNE considera também que se deve promover a renovação do ensino universitário por meio da reformulação do rígido sistema de controles burocráticos, flexibilizar e diversificar os programas de estudos, objetivando melhor atender às necessidades de seu público e à adequação das peculiaridades de cada região, bem como se adaptando às mudanças pelas quais passa a sociedade brasileira (BRASIL, 2001, p. 33).
No tocante à ampliação de vagas nas universidades, o PNE 2001-2010, estabeleceu, dentre suas metas, o provimento de oferta de educação superior para no mínimo 30%, da faixa etária de 18 a 24, até o final da década (BRASIL, 2001). O PDE, ano 2007, apresentou, dentre suas ações, a necessidade de duplicação das vagas nas universidades federais, bem como de ampliação e de abertura de cursos noturnos, além do combate à evasão.
A Lei nº 13.005/2014, que aprovou o PNE do decênio 2014-2024, instituiu como uma de suas metas: elevar, de forma qualificada, a taxa bruta de matrícula na educação superior para 50% e a taxa líquida para 33% da população na faixa etária de 18 a 24 anos (BRASIL, 2014). Esses dados corroboram com a necessidade da criação de programas e políticas educacionais com a finalidade de ampliar e democratizar o acesso ao ensino superior público de qualidade, além da realização de avaliações das metas estabelecidas nos Planos.
Sobre esses dados, Dias Sobrinho (2013) afirma que a meta de alcançar a taxa de 30% de matrícula em educação superior, não foi alcançada, mas apenas a metade da meta. O autor alerta que cerca de 85% dos jovens entre 18 e 24 anos se encontram fora da educação superior
no Brasil:
[...] o aumento de matrículas que vem ocorrendo mais notadamente nos últimos quinze anos ainda está muito abaixo da meta estabelecida pelo Plano Nacional de Educação (PNE) para o final da década passada. A meta era atingir, até 2010, a taxa de matrícula em educação superior de 30% dos jovens entre 18 e 24 anos. Apenas a metade dessa meta foi alcançada. Houve, nesse período, grande expansão de instituições, algumas públicas e a maioria, privadas, foram criados vários programas de ações afirmativas visando a acolher e/ou beneficiar contingentes de jovens pertencentes a grupos sociais tradicionalmente desfavorecidos, mas, por várias razões, sobretudo econômicas, ainda estão fora da educação superior cerca de 85% dos jovens da faixa etária adequada (DIAS SOBRINHO, 2013, p. 15).
Foi observado que durante os anos que antecederam ao Programa Interiorização e REUNI, as universidades públicas federais sofreram um processo de estagnação, pois além de não possuírem orçamento suficiente, o número de contratações do quadro de servidores era insuficiente para atender as demandas laborativas (AMARAL; LOPES, 2014).
No ano de 2002, no Programa de Governo apresentado por Lula, o documento “Uma Escola do Tamanho do Brasil” reconhece que o sistema educacional brasileiro precisa de medidas urgentes, ao ressaltar que os mais pobres frequentam escolas públicas despreparadas e faculdades e universidades privadas de baixo nível, conforme a afirmação no referido documento:
aos mais pobres estão reservadas as vagas em escolas públicas despreparadas, durante a educação básica, e o acesso a faculdades e universidades pagas de baixo nível, enquanto à elite destinam-se as escolas privadas de qualidade, capazes de preparar alunos aptos a ganhar, nos vestibulares, as melhores vagas na Universidade pública brasileira, onde se concentra o ensino superior de mais alto nível (SILVA, 2002, p. 4).
No ano de 2003, foi instituído o Grupo de Trabalho Interministerial (GTI), o qual objetivava analisar a situação atual e apresentar um plano de ação que visasse à reestruturação, desenvolvimento e democratização das Instituições Federais de Ensino Superior (IFES). O GTI deu início ao processo de elaboração de normas referentes à reforma universitária no Governo Lula. Nesse contexto, diversas políticas e instrumentos normativos educacionais foram implementadas na gestão de Lula, conforme podemos verificar no Quadro 1:
Quadro 1 – Políticas educacionais implantadas no Governo Lula
Programa Norma/Ano Objetivo
Programa de Expansão Fase I das Universidades
Federais (Interiorização) -/2003
Construir campi de universidades e institutos já existentes no interior dos estados brasileiros, além da criação de novas universidades e institutos.
Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior (SINAES)
Lei nº 10.861/2004
Analisar as instituições, os cursos e o desempenho dos estudantes.
Lei de Inovação Tecnológica Lei nº 10.973/2004
Dispor sobre incentivos à inovação e à pesquisa científica e tecnológica.
Universidade para Todos (PROUNI) Lei nº 11.096/2005
Conceder bolsas parciais ou totais aos alunos de graduação em instituições privadas. Universidade Aberta do Brasil (UAB) Decreto nº
5.800/2006
Criar um sistema de educação superior a distância.
Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE) -/2007
Prever ações que visam identificar e solucionar os problemas que afetam diretamente a Educação brasileira.
Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (REUNI)
Decreto nº 6.096/2007
Criar condições para a ampliação do acesso e permanência na educação superior, no nível de graduação, pelo melhor aproveitamento da estrutura física e de recursos humanos existentes nas universidades federais.
Planos Nacional de Assistência Estudantil (PNAES)
Decreto nº 7.234/2010
Ampliar as condições de permanência dos jovens na educação superior pública federal. Fonte: LIMA et al (2011).
A proposta de uma reforma universitária no Brasil deu origem à proposta de outra concepção de universidade pública, denominada Universidade Nova, a qual influenciou a transformação da infraestrutura acadêmica das universidades, inspirado em um modelo europeu de educação: o Processo de Bolonha – o qual se configura como uma política de unificação da educação superior que se estendeu aos Estados-Membros da União Europeia; bem como, inspirada também em um modelo educacional norte-americano (AZEVEDO et al., 2008).
Acerca das políticas educacionais realizadas no Governo Lula, tomaremos como marco inicial neste capítulo, o Programa de Expansão Fase I das universidades federais, mais conhecido como Programa Interiorização, criado pelo MEC por meio da SESu, no ano de 2003 (MEC, 2007). Esse Programa possibilitou que diversos municípios fossem contemplados com a ampliação do número de universidades e institutos tecnológicos.
Salientamos que a gestão petista, apesar de criar políticas de reestruturação e expansão de vagas nas universidades públicas, não rompeu com as políticas privatistas de educação superior; como exemplo, citamos a criação do Programa Universidade para Todos (PROUNI), por meio da Lei nº 11.096/2005, o qual possibilita a concessão de bolsas integrais e parciais em cursos de graduação em instituições privadas de ensino superior mediante o
recebimento de incentivos fiscais por essas instituições (BRASIL, 2005).