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Bônus sociorracial e características sociodemográficas

avaliação do acesso pelo vestibular, 2008, 2009 e

3. Estratégia de análise 1 Fonte de dados

4.1. Bônus sociorracial e características sociodemográficas

A Tabela 1 demonstra a distribuição dos estudantes inscritos e aprovados nos vestibulares da uFMG de 2009 e 2010 por categorias do bônus socior- racial. Entre os estudantes inscritos, mais de 70% não obtiveram o bônus sociorracial em 2009 e 2010. Observa-se que por volta de 10% e 17% dos estudantes se inscreveram na categoria de 10% e 15% do bônus, respectiva- mente, nos dois anos. Em relação aos aprovados, quase 65% não obtiveram o bônus sociorracial. O percentual dos estudantes aprovados com 10% de bônus está próximo do percentual dos inscritos na mesma categoria. Por fim, os estudantes aprovados com 15% de bônus ficou próximo de 25%, nos dois anos analisados, o que é um aumento em relação aos inscritos nessa categoria (por volta de 17%).

Tabela 1

Distribuição percentual dos estudantes inscritos e aprovados nos vestibulares da uFMG por categorias do bônus sociorracial, 2009 e 2010.

Categoria do bônus sociorracial

2009 2010

Inscritos Aprovados Inscritos Aprovados

0% de bônus 72,24 64,18 73,25 64,96

10% de bônus 10,85 11,60 9,92 9,20

15% de bônus 16,91 24,22 16,83 25,84

Total absoluto 60.914 5.372 62.032 6.045

Fonte: COPEVE (2009; 2010).

Quanto ao perfil dos estudantes aprovados no vestibular, é apresentado o cruzamento das variáveis sociodemográficas com a variável que informa as categorias da política de bônus, aplicadas na nota do vestibular. A Tabela 2 mostra os resultados desses cruzamentos em números absolutos e em por- centagem para 2010, resultados que são similares aos de 2009, ano em que a política de bônus foi aplicada pela primeira vez.

Tabela 2

Distribuição dos estudantes aprovados no vestibular da uFMG por catego- rias de variáveis sociodemográficas e categorias do bônus sociorracial, 2010

Variáveis

Categoria do bônus sociorracial

Total 0% de bônus 10% de bônus 15% de bônus

Freq. % Freq. % Freq. % Freq %

Grupo etário 16 a 17 anos 843 21,47 68 12,23 167 10,69 1.078 17,83 18 anos 1.140 29,03 112 20,14 295 18,89 1.547 25,59 19 anos 690 17,57 97 17,45 276 17,67 1.063 17,58 20 a 22 anos 634 16,14 118 21,22 392 25,10 1.144 18,92 23 a 29 anos 352 8,96 103 18,53 303 19,40 758 12,54 30 a 39 anos 149 3,79 41 7,37 112 7,17 302 5,00 40 anos ou mais 119 3,03 17 3,06 17 1,09 153 2,53 Sexo Feminino 2.093 53,30 321 57,73 910 58,26 3.324 54,99 Masculino 1.834 46,70 235 42,27 652 41,74 2.721 45,01 Cor/Raça Não-brancos 1.378 35,09 95 17,09 1.551 99,30 3.024 50,02 Brancos 2.549 64,91 461 82,91 11 0,70 3.021 49,98 Trabalha Não 3.196 81,39 346 62,23 1.011 64,72 4.553 75,32 Sim 731 18,61 210 37,77 551 35,28 1.492 24,68 Renda mensal (em salários mínimos)

Menos de 1 23 0,59 8 1,44 18 1,15 49 0,81 1 a 2 195 4,97 97 17,45 351 22,47 643 10,64 2 a 5 971 24,73 303 54,50 828 53,01 2.102 34,77 5 a 10 1.083 27,58 101 18,17 287 18,37 1.471 24,33 10 a 15 705 17,95 31 5,58 66 4,23 802 13,27 15 a 20 406 10,34 12 2,16 9 0,58 427 7,06 20 a 40 392 9,98 3 0,54 3 0,19 398 6,58

Variáveis

Categoria do bônus sociorracial

Total 0% de bônus 10% de bônus 15% de bônus

Freq. % Freq. % Freq. % Freq %

40 a 60 101 2,57 1 0,18 0 0,00 102 1,69 Acima de 60 51 1,30 0 0,00 0 0,00 51 0,84 Escolaridade da mãe Não concluiu o ensino fundamental 261 6,65 169 30,40 502 32,14 932 15,42 Concluiu o ensino fundamental 261 6,65 85 15,29 281 17,99 627 10,37 Concluiu o ensino médio 1.237 31,50 208 37,41 538 34,44 1.983 32,80 Concluiu o ensino superior 2.130 54,24 90 16,19 218 13,96 2.438 40,33 Não sabe 38 0,97 4 0,72 23 1,47 65 1,08 Tipo de escola no ensino médio

Escola pública federal 249 6,34 87 15,65 247 15,81 583 9,64 Escola pública estadual 358 9,12 397 71,40 1.128 72,22 1.883 31,15 Escola pública municipal 78 1,99 72 12,95 187 11,97 337 5,57 Escola particular 3.231 82,28 0 0,00 0 0,00 3.231 53,45 Curso livre 11 0,28 0 0,00 0 0,00 11 0,18 Turno Noturno 210 5,35 102 18,35 296 18,95 608 10,06 Diurno 3.717 94,65 454 81,65 1.266 81,05 5.437 89,94 No. de observações 3.927 ––– 556 ––– 1.562 ––– 6.045 ––– Fonte: COPEVE (2010).

No que se referem à idade, os estudantes bonistas são, em sua maioria, aqueles com 20 anos ou mais. Nas colunas de percentuais de bônus, as faixas etárias que apresentaram mais bonistas foram as faixas de 20 a 22 anos e de 23 a 29 anos. isso mostra que a política de bônus provavelmente possibili-

tou a entrada de pessoas mais velhas do que aquelas em idade regular de ingresso na uFMG.

A variável sexo não apresentou nenhuma tendência que pudesse esta- belecer o perfil do bonista por categorias desta variável. A variável cor/raça, por sua vez, não tem sentido analisar, uma vez que é a própria cor/raça que determina a categoria de 15% da variável bônus.

No que se refere à situação de trabalho, percebe-se que, tanto entre os bonistas e os não bonistas, a maioria dos estudantes não trabalha. Entretanto, há mais estudantes que trabalham entre os bonistas. Na categoria de 10%, os estudantes que trabalham representam 37,24% em 2009 e 37,77% em 2010. Na categoria de 15%, os mesmos representam 39,89% em 2009 e 35,28% em 2010. Entre os não bonistas, os que trabalham representam apenas 17,49% em 2009 e 18,61% em 2010.

Em relação à renda, a maioria dos bonistas são aqueles em que a renda familiar era de até cinco salários mínimos. Essa faixa de renda representou, em 2010, mais de 72% dos bonistas de 10% e mais de 75% dos bonistas de 15%. isso é indício de que a política de bônus está realmente realizando a inclusão de estudantes oriundos de famílias de menor renda. Esta faixa de renda de até cinco salários mínimos representou, na categoria dos não bonistas, pouco mais que 30%. Esse resultado se relaciona, certamente, com o fato de que os estudantes que trabalham (muitos por necessitarem contribuir com as despesas familiares) são sobrerrepresentados nas faixas de menor renda.

Em relação à escolaridade da mãe, os bonistas, em sua maioria, são aqueles em que a mãe não tem curso superior. Em 2009, entre os bonistas de 10%, 83,30% das mães não estão nesse nível de escolaridade. Entre os bonistas de 15%, esse percentual é de 83,86%. Em 2010, o resultado é muito parecido: 83,10% na categoria de 10% e 84,57% na categoria de 15%. isso mos- tra que a política de bônus está, aparentemente, beneficiando estudantes de famílias com menor capital cultural e social, indicando que, além do apoio financeiro, possivelmente os oriundos dessas famílias necessitem de canais diferenciados de inserção no ensino superior.

Quanto ao tipo de escola no ensino médio, observa-se que os estudantes bonistas são, em sua grande maioria, alunos de escolas estaduais. Em 2010, esses mesmos estudantes representaram 71,40% dos bonistas de 10% e 72,22

dos bonistas de 15%. uma das grandes críticas à política de bônus é a de que esta atenderia, em sua maioria, alunos de escolas públicas federais, consi- deradas de melhor qualidade que outros tipos de escolas públicas, apesar da menor quantidade de escolas públicas federais em relação às estaduais. Porém, os resultados indicam que, mesmo que isso tenha acontecido em termos proporcionais, em termos absolutos isso não ocorre.

Por fim, em relação ao turno em que o aprovado cursou o ensino médio, os dados mostram que a política de bônus está beneficiando mais alunos oriundos do turno noturno, apesar destes serem apenas 10% dos aprovados em 2010. Nas duas categorias de bônus, há mais alunos do turno noturno do que na categoria dos estudantes sem bônus. Porém, em ambas as cate- gorias do bônus, os alunos não chegam a 20%. Estes são indicativos de que há problemas no ensino médio noturno que trazem consequências para o vestibular. Pode ser que haja falta de incentivo aos alunos em prestar o vestibular da uFMG, além de falta de preparação adequada desses alunos para enfrentar o processo de seleção dessa universidade.