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CAPÍTULO 7 : DETERMINAÇÃO E AVALIAÇÃO À PREDISPOSIÇÃO AO

7.1. A Bacia do rio Formoso

A bacia hidrográfica do rio do Formoso, inserida totalmente no Bioma Cerrado, vem sendo utilizada, com a chegada dos grandes grupos capitalistas agrícolas, na década de 60, por imensos latifúndios que introduziram a monocultura de pinus e eucaliptos. Para dar lugar a estes grandes empreendimentos, o cerrado foi praticamente extinto, e quase toda sua fitomassa foi substituída, num primeiro momento, pelas florestas energéticas de pinus e eucalipto e, num segundo momento, pela monocultura de soja, milho, feijão, café e algodão, além da pecuária.

Geologicamente, a área pesquisada encontra-se localizada na borda meridional da Bacia Sanfranciscana, dentro dos limites do Cráton do São Francisco – mais especificamente na Bacia Cretácea do Oeste Mineiro. O substrato rochoso é composto por litologias do Grupo Bambuí, Grupos Areado e Mata da Corda e pelas coberturas terciárias do Cenozóico. Do ponto de vista hidrogeológico, a bacia do Formoso é muito bem servida, contando com duas unidades hidrogeológicas de grande espacialização geográfica: a dos aqüíferos cretáceos formados pelos litotipos areníticos da Formação Três Barras do Cretáceo Inferior, com porosidade em torno de 5 a 30% e significativa permeabilidade; e a dos aqüíferos fraturados do Bambuí, representados pela Formação Três Marias.

A bacia foi compartimentada em três unidades principais: (i) Unidades de Chapadas; (ii) Unidades de Colinas do Cretáceo e do Neoproterozóico; e (iii) Unidades de Vales e Terraços Fluviais. Estas unidades apresentam características morfológicas, morfodinâmicas, hidrológicas, biogeográficas e de uso e ocupação dos solos diferenciados.

A pressão exercida sobre os recursos naturais e ambientais da bacia tem provocado uma sucessão negativa de impactos ambientais. Torna-se necessária a imediata intervenção, através de medidas que possam evitar e minimizar esses impactos impostos ao meio natural.

Os levantamentos gerados a partir deste trabalho para a bacia disponibilizaram mapas temáticos do quadro natural, que foram utilizados como ferramentas de apoio para a interpretação geoambiental da área. Essa integração espacial, que representa associações de processos naturais e socioeconômicos, foi alocada às percepções sobre a predisposição ao

162 risco dos ambientes envolvidos. A análise da paisagem encontra sua conclusão lógica na representação cartográfica. As cartas elaboradas (geomorfologia, unidades litoestratigráficas, hidrografia, classes de solos e uso dos solos), permitiram, de maneira objetiva, proceder-se à interpretação do meio natural.

A partir da elaboração e da interpretação das cartas do meio natural, avaliou-se as condições de fragilidade dos ambientes naturais identificados na bacia, seguindo os conceitos de Unidades Ecodinâmicas Estáveis e Unidades Ecodinâmicas Instáveis, formulados por Tricard (1997).

A integração lógica dos dados levantados, juntamente com o conhecimento prévio do meio físico, natural, biótico, ambiental e socioeconômico, foram integrados para gerar e armazenar uma base de dados georeferenciados software Spring 4.3.3; possibilitando com isso uma análise sistemática de cada elemento envolvido (Anexo VII). Desta forma, as informações foram disponibilizadas e tratadas para dar início ao cruzamento estatístico o que, resultou na elaboração e confecção do mapa de predisposição ao risco de contaminação para metais pesados e da matriz de susceptibilidade ambiental, apresentados na Figura 67 e na Tabela 10.

Apresenta-se, a seguir, a matriz de susceptibilidade ambiental proposta para a Bacia do Rio do Formoso. Observou-se que os inputs gerados pelas intervenções antropogênicas desencadearam uma série de processos de degradação ambiental – alguns de caráter irreversível; elevando, assim, o potencial de vulnerabilidade.

As classes de predisposição ao risco de contaminação para os metais pesados detectados na bacia do Rio do Formoso, poderá auxiliar os gestores municipais na elaboração de um plano de gerenciamento e monitoramento dos recursos hídricos.

TABELA 10: MATRIZ DE SUSCEPTIBILIDADE AMBIENTAL  Classes de Declividades Categorias % Compartimentos Geomórficos Classe de Dissecação Litologia Classes de Fragilidade dos Tipos de Solos

Uso dos Solos Graus de Proteção por tipo de

cobertura Vegetal Problemática Ambiental

Vulnera bilidade M F > 30 Rebordos Escarpados (MF 51 a 55) Unidades de Colinas Neoproterozóica s Arenitos Grupo Areado e Mata da Corda Arcóseos, siltitos e argilitos da Fm Três Marias Neossolos (MF) Neossolos (MF); Sem usos significativos

Formações arbustivas naturais do bioma cerrado

(A)

Solo exposto em estradas vicinais, queimadas, terraplenagens (MB)

Queimadas,

Extrativismo vegetal. Baixa

Forte a Média 20 a 30% e 12 a 20% Unidades de Colinas (F a M 45 a 23) Arenitos Cretáceos Latossolos Vermelho- Amarelo textura argilosa (MB*); Gleissolos (B) Culturas comerciais de café, soja, milho e algodão;

Pecuária extensiva com exposição de solos

Culturas irrigadas de ciclo curto com solo exposto (B); Fragmentos de vegetação nativa, veredas (A); culturas irrigadas de ciclo curto sem práticas conservacionistas, áreas desmatadas e queimadas recentes, solo exposto ao longo de caminhos e estradas (MB)

Queimadas, desmatamentos desordenados em áreas de veredas e matas nativas para a produção de carvão;

Contaminações por metais pesados em águas superficiais e sedimentos de corrente; processos erosivos acelerados;

Barramentos; Assoreamento de corpos hídricos;

Agressões a fauna e flora.

Alta Muito Fraca até 6% Unidades de Chapadas Coberturas Terciárias Latossolos Vermelho- Amarelo textura argilosa (MB) Culturas de ciclo longo de baixa densidade (café, algodão) como solo exposto entre ruas, culturas de ciclo curto (café, milho, feijão) com cultivos em curva de nível.

Culturas irrigadas de ciclo curto com solo exposto (B); culturas irrigadas de ciclo curto sem práticas conservacionistas, áreas desmatadas e queimadas recentes, solo exposto ao longo de caminhos e estradas (MB).

Uso intensivo de agroquímicos; contaminações por metais pesados em águas superficiais e sedimentos de corrente; processos erosivos acelerados;

Barramentos; Assoreamento de corpos hídricos;

Agressões a fauna e flora.

Muito Alta

Forte a Média 20 a 30% e 12 a 20% Muito Fraca até 6% Unidades de colinas Cretáceas (F a M 45 a 23) Áreas de Depressões Arenitos Cretáceos Sedimentos Fluviais; seixos, matriz areno/argilosa Latossolos Vermelho- Amarelo textura argilosa (MB*); Gleissolos (B) Neossolos Quartzarênicos (F) Latossolo Vermelho- Amarelo, Podzólico textura média argilosa (M) Culturas comerciais de café, soja, milho e algodão; Pecuária extensiva com exposição de solos. Pecuária extensiva com exposição de solos

Culturas irrigadas de ciclo curto com solo exposto (B); Fragmentos de vegetação nativa, veredas (A); culturas irrigadas de ciclo curto sem práticas conservacionistas, áreas desmatadas e queimadas recentes, solo exposto ao longo de caminhos e estradas (MB)

Queimadas, desmatamentos desordenados em áreas de veredas e matas nativas para a produção de carvão;

Contaminações por metais pesados em águas superficiais e sedimentos de corrente; processos erosivos acelerados;

Barramentos;

Assoreamento de corpos hídricos; Agressões a fauna e flora.

Alta

 

165 450000 455000 460000 465000 470000 475000 480000 485000 490000 495000 500000 8020000 8025000 8030000 8035000 8040000 8045000 8050000 8055000 8060000 8065000 8070000 0 10000 20000 30000

MAPA DE PREDISPOSIÇÃO AO RISCO PARA METAIS PESADOS NA BACIA

DO RIO DO FORMOSO

Classes de predisposição Legenda RIO DO F ORM OSO Muito Alta Alta Baixa Fe Al Mn Cd Cr

Metais Águas Superficiais e sedimentos Cu Pb Ni Zn NE SW

Figura 67: O Mapa apresenta a distribuição das classes com o maior potencial de predisposição ao risco de contaminação para os metais pesados detectados na bacia do Rio do Formoso.

Com base na análise da Figura 67 e da Tabela 10, pôde-se perceber uma forte relação entre as variáveis que compõem as classes de predisposição ao risco ambiental. As áreas com as menores pressões antrópicas compreendem as porções de menor predisposição ao risco ambiental. Essas áreas coincidem com as bordas de escapas, ocupando uma área de aproximadamente de 194,3 km2, como apresentado na (Tabela 10). As áreas de predisposição ao risco ambiental alta são representadas pelas que sofreram pressão antrópica e econômica relativa – ocupando uma área de 399,32 km2, estas aparecem distribuídas nos compartimentos geomorfológicos Unidades de Colinas e Unidades de Vales e Terraços Aluviais. Como era de se esperar, as regiões com predisposição ao risco ambiental muito alta foram representadas por aquelas áreas sob intensa influência antropogênica, localizadas, em sua totalidade, no compartimento Unidades de Chapadas. Esse compartimento tem alta sensibilidade geoambiental, com risco constate de impactos ambientais negativos decorrentes de atividades agrícolas, apresentando concentrações significativas de metais pesados nas águas superficiais e, principalmente, nos sedimentos de corrente. Esta classe exerce maior pressão sobre os geoambientes identificados para esse compartimento e, no conjunto engloba uma área aproximada de 226 km2.

As análises mostraram que, salvo os compartimentos de borda de escarpas e o de Unidades de Colinas Neoproterozóica, todos os outros estão sofrendo uma alta pressão antrópica. Esses tipos de intervenções, associados à fragilidade ambiental dos geoambientes naturais, influenciam diretamente na dinâmica das vertentes, na dinâmica hidrológica e na dos processos naturais. Essas áreas devem ser utilizadas com prudência: a fragilidade do meio natural, associada ao manejo inadequado dos recursos naturais da bacia é, sem dúvida alguma a principal causa da degradação ambiental.

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